VBCOAP 155mm SR – As primeiras propostas foram entregues

No dia de ontem, 06 de fevereiro, o Exército Brasileiro (EB), por meio do Comando Logístico/Chefia de Material (CoLog/Ch Mat), recebeu as últimas respostas à solicitação do pedido de proposta / pedido de licitação (“request for proposal” – RFP / “request for tender” – RFT),  lançado em 03 de agosto de 2023, visando a aquisição 36 viaturas blindadas de combate obuseiro autopropulsado 155mm sobre rodas (VBCOAP 155 SR), dentro do Programa Estratégico do Exército Forças Blindadas (Prg EE F BId).

Segundo apurado por T&D, sete empresas apresentaram propostas (*), sendo estas (em ordem alfabética):

  • Denel Land Systems, da África do Sul;
  • Elbit Systems, de Israel, e suas subsidiárias brasileiras Ares Aeroespacial e Defesa e AEL Sistemas;
  • Excalibur International, da Rep. Tcheca, representando a Konštrukta Defence, da Eslováquia;
  • Makina ve Kimya Endüstrisi (MKE), da Turquia;
  • Nexter, integrante do grupo KNDS, da França;
  • North Industries Corporation (NORINCO), da China; e
  • Yugoimport SDPR, da Sérvia.

 

ATMOS (Imagem: Elbit)

A Elbit está oferecendo o sistema ATMOS, com a plataforma 6X6 ou 8X8. Este sistema foi apresentado em 2001, exclusivamente para exportação, e está em uso em cinco países, sendo que foi recentemente encomendado pela Dinamarca (um país membro da OTAN e em substituição aos CAESAR doados a Ucrânia), e Colômbia. Atualmente se encontra em sua quinta geração.

CAESAR (Imagem: Nexter)

A Nexter vai com o já conhecido CAESAR. Apresentado em 1994, sua versão 6X6 está em uso no Exército Francês desde 2002 e foi exportado para mais quatro países, incluindo a Ucrânia, onde esta com combate contra as forças da Federação Russa. Em 2015 foi apresentada uma versão mais pesada e sofisticada, 8X8, que foi adquirida pela Dinamarca

(posteriormente doados para a Ucrânia) e República Tcheca. Em 2022 foi apresentada a versão MkII, muito mais moderna com diversas inovações (como o uso de inteligência artificial), que já foi adquirida pela Bélgica e pelo Exército Francês para substituir seus obuseiros mais antigos. A versão ofertada ao EB é a MKI, com opção de plataforma Arquus Sherpa 6X6 ou Tatra 815 8X8, já com utilização operacional comprovada (conforme determinação do EB), mas com possibilidade de evolução até a versão MkII.

A Excalibur informou que entraria na disputa com dois produtos: o Zuzana 2 8X8 e o Bia 6X6, ambos com chassi Tatra 815 e fabricados pela empresa eslovaca  Konštrukta. O Zuzana 2 é a versão mais moderna e com tubo de 52 calibres do Zuzana, que já é uma evolução do antigo obuseiro Dana, de 152mm, estando em operação na Eslováquia, Chipre e Ucrânia (onde participa dos combates). Já o Bia é uma derivado do Eva (um 8X8 idealizado para ser o sucessor do Zuzana 2, mas sem encomendas até o momento), porém é um projeto muito recente (sua apresentação ocorreu na DSEI 2023) e que ainda está na fase de protótipo.

SH15 (Imagem: Norinco)

A NORINCO está oferecendo o SH15, um projeto que nasceu como uma evolução do SH1. Possui um chassi Shaanxi 6X6, teve suas primeiras entregas para o Exército Chinês realizadas em 2017 (com o nome de PCL-181), sendo exportado para Paquistão e Etiópia. De acordo com seu fabricante possui uma produção de quase 1.300 viaturas (entre entregues e a entregar). Em 2021 foi realizada uma grande evolução tecnológica, com a integração de diversos sistemas de ponta e a capacidade de operar em rede com outros sistemas de armas de veículos aéreos não tripulados (VANT) de forma orgânica e resultando no aumento da consciência operacional. Em 2023 uma delegação do EB foi a China ver uma demonstração de suas capacidades.

Nora-B52 M21 (Imagem: Yugoimport)

Já a Yugoimport esta ofertando o Nora-B52 M21, uma das mais recentes versões da família Nora, cujo desenvolvimento teve inicio em 1984. Contando com uma plataforma MAN TGS 8X8 e possuindo uma completa automação do módulo de disparo, que é controlado a partir da cabine, por uma tripulação de quatro pessoas. Já versão M21 possui uma tripulação de cinco militares e um carregador semiautomático (como é o interesse do EB), com 12 projéteis para pronto uso e mais 24 no veículo, e que permite a utilização de munição mais antiga, como a M107. Já possui mais de 120 viaturas entregues e estão em operação em cinco países.

T&D não conseguiu contatar as empresas Denel e MKE, ou seus representantes no Brasil, mas seus sistemas, o T5-52 e o Yavuz, respectivamente, não possuem “produção seriada” comprovada, fator determinante na escolha do sistema a ser adquirido pela Força Terrestre e que, com isso, devem ser desclassificados, juntamente com o Bia.

Todos os sistemas propostos possuem um obuseiro de 155mm padrão OTAN, com 52 calibres e capacidade de utilização de modernas munições de alcance estendida e guiadas.

(*) Caso mais alguma empresa e/ou sistema seja confirmado a posteriori, faremos uma atualização.  

 

 

PRÓXIMOS PASSOS

De acordo com o cronograma informado pela Ch Mat, as próximas etapas do programa serão as seguintes:

  • Período de análise das propostas: entre 19 de fevereiro e 01 de março;
  • Notificação das empresas desclassificadas na Fase 1A: 23 de fevereiro;
  • Divulgação da “shortlist”: entre 04 e 08 de março;
  • Notificação das empresas desclassificadas na Fase 1B: entre 04 e 08 de março;
  • Chamada para negociação: entre 04 e 08 de março;
  • Período de negociação: entre 18 de março e 04 de abril;
  • Recebimento da proposta final (BAFO): entre 15 e 19 de abril;
  • Apresentação do resultado: até 03 de maio;
  • Assinatura do contrato: 07 de maio (previsão).

 

 

PARA SABER MAIS SOBRE O ASSUNTO

VBCOAP 155mm SR – Uma análise do mercado

 

 

N. da R:

Tecnologia & Defesa agradece as empresas Elbit, Excalibur, Nexter/KNDS,  NORINCO e Yugoimport, ou seus representantes, pelo auxilio com informações para a elaboração deste artigo.

 

 

Copyright (c) 2024 Raffer Editorial / Tecnologia & Defesa
Todos os direitos reservados

Todos os textos, imagens, gráficos, vídeos e outros materiais são protegidos por direitos autorais e outros direitos de propriedade intelectual pertencentes à Raffer Editorial e seus respectivos autores.

Artigos Relacionados

Formulação Conceitual dos Meios Blindados do Exército Brasileiro ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO-PORTARIA Nº 162-EME, DE 12 DE JUNHO DE 2019 Documento...

Pela primeira vez no Brasil, foi realizado o reabastecimento em voo (REVO) por helicóptero, foi a chamada Operação MANGA. Na...

A empresa grega EODH, em parceria com a belga-espanhola DUMA e a alemã KNDS Deutschland (antiga Krauss-Maffei Wegmann), apresentou um novo...

No dia 08 de maio de 2024 acontecerá Helipark, em Carapicuíba, na Região Metropolitana de São Paulo (SP), a Conferência de Aviação Policial –...

Os anos pioneiros da era do jato na Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira foram marcados pela operação de...

A Comissão do Exército Brasileiro em Washington (CEBW) publicou, na última sexta-feira, dia 19 de abril, um pedido de cotação...

Comentários

30 respostas

  1. Como sempre uma super matéria Paulo. Parabéns.
    Aparte da vantagem económica (imagino) do Caesar MKI (com possibilidade de evolução) por que o interesse por ele é não diretamente e exclusivamente pelo MKII, se é uma compra de prateleira? Obrigado mais uma vez Paulo pela matéria.

    1. Porque o MKII ainda não está em linha de produção (há apenas os contratos e protótipos ) e/ou porque deve ser bem mais caro.

  2. obrigado! Paulo Bastos. que continua assim dando noticias otimas do Brasil para a população brasileira fica orgulho do exército brasileiro

  3. mesmo sendo um protótipo, acredito que a melhor opção seja a BIA, pois é o único com recarga automática que possivelmente pode caber no kc-390

  4. Tenho um pressentimento que a Norinco é que está em vantagem . Tanto nos fatores politicos – pela proximidade da atual administração com liderança chinesa – e nos econômicos – pela dependência do Agronegócio da boa vontade das autoridades chinesas . Nao vejo como um problema a integração com os sistemas de comunicação já usados pelo EB .
    Alguns devem lembrar o barulho feito por lideranças do Partido dos Trabalhadores na assinatura do contrato para os Centauro . Se os chineses forem favorecidos , isto não irá ocorrer !

    1. O mais importante para o país é a transferência de tecnologia do armamento, de preferencia um 155/52. Mas mais importante ainda é a possibilidade de uma “joint venture” que permita utilizar o transportador Astros com chassi Tatra que figurou no projeto do ubuseiro autopropulsado “Tupã” da Avibras.
      Criariamos uma família de transportadores para o Exército Brasileiro, inclusive para exportação.

  5. Bom ver que o Atmos continua mesmo depois de todo desentendimento com Israel,espero que esse seja o escolhido e o Caesar acho uma boa para o batalhão de artilharia do CFN.

  6. Eu creio q ficará entre o Bia e o SH-15, o qual vejo como favorito. Mais de 1000 unidades e já em versão mais moderna e deve ter um valor bem interessante tbm.

    1. Eu já penso que está entre o Caesar e o ATMOS. Nossas Forças Armadas não utilizam nenhum armamento ou sistema de fabricação chinesa, sequer uma pistola. Não acredito que vão começar a utilizar justamente em um equipamento tão complexo como esse.

    1. O termo “calibre” na artilharia se refere a relação entre o comprimento do tubo e seu diâmetro, ou o chamado quociente.
      Ele foi criado na disciplina “balística”, que estuda o comportamento de um projétil quando inicia seu movimento (em função do disparo), sendo dividida em “interna” (dentro do tubo tubo), externa (fora do tubo) e terminal (quando atinge alvo).
      Por exemplo, no caso dos obuseiros M109 do EB: seu tubo de 155mm tem 39 calibres, o que significa que o seu comprimento (excluindo a culatra e o “freio de boca”) é de cerca de 6 metros, já que 39 x 155mm é igual a 6.045mm.
      Já um tudo de 155mm e 52 calibres, como os do VBCOAP 155 SR, é de aproximadamente, 8 metros.
      O comprimento do tubo de um obuseiro é uma das variáveis que determina a pressão para deslocar o projétil (através do tempo de ignição e quantidade de energia), determinado assim sua velocidade “de boca” e, consequentemente, seu alcance.
      Esta mesma regra também é utilizada em outras peças de artilharia, como canhões.

      Isso é um resumão, mas só serve para quem gosta de matemática 😉

      1. Poxa, não sabia disso,valeu pela explicação Paulo! Manda pro Caiafa aprender também!!! rsrsrsrs

      2. Excelente, é uma relação bem diferente da que estamos acostumados na balística “comum”, só nos mostra como a matéria é ampla. Obrigado pela pronta resposta! Selva!

      3. Isso aí. O número de calibres significa o comprimento do tubo do canhão. Resulta da multiplicação do número dado de calibres pelo calibre (em mm) do canhão. 52 x 155 = 8.060 milímetros, ou 8,060 metros. Paulo, tu que é o engenheiro, eu só quis colaborar, hehehe.

  7. Foi uma boa surpresa ver os sérvios na disputa. Torço pela Koňstrukta ou pela Yugimport. Precisamos diversificar fornecedores, os submarinos e boa parte dos helis das Forças são franceses e a avionica já é toda israelense. Entretanto qualquer um desses sistemas seria ótimo. Os chineses considero que levariam a melhor na questão preço mas primeiro temos que concluir a tecnologia nacional de comunicações.

    último adendo: bom saber que a Denel ainda está viva rs

  8. Um erro grave e injustificável o não aceite de modelos que não estejam em produção seriada.
    Há obuseiros SR que mesmo ainda em fase de desenvolvimento e protótipo atendem a todos ou quase todos os requisitos emanados pelo RFI\RFQ.
    E deixa de fora propostas que poderiam ser tão interessantes quanto, ou até mais, que as recebidas até agora. E pior, deixa o EB mais restrito em suas escolhas.
    O critério para deixar de fora modelos não seriados é no mínimo equivocado e contraditório, principalmente para um país que costumeiramente não investe em Defesa.

    1. Se o produto ainda é um protótipo não há garantia de que cumprirá os requisitos e, muito menos, de que será entregue no prazo e no preço contratado.
      Contratar um protótipo somente se justifica se for uma compra de longo prazo e um produto que será produzido no Brasil para que seja justificável a assunção do risco do produto não sair do papel.
      Prefiro a opção do Exército para os obuseiros, posto que é uma encomenda pequena então que seja uma compra de um produto em produção.

    2. Flavio, você compraria um carro em fase de protótipo, arcando depois com tudo que é problema que aparecerá, quanto mais de um produto em que a Defesa nacional depende?

  9. Tenho quase certeza que a briga permanecerá entre o ATMOS e o CAESAR, na área das capacidades todos são semelhantes, por isso creio que o que pesará será o preço médio e a confiabilidade política, industrial e logística.

  10. Caro Paulo Bastos

    Dessas opções, saberia dizer quais estão inclusa o acesso/fabricação de munições inteligentes e se isso é um fator desejável ou obrigatório para nosso exercito?

    1. Essa questão, e outras (como transferência de tecnologia, versões autorebocadas, simuladores, suporte e nacionalização de componentes), serão discutidas e estarão no BAFO das empresas.
      Voltaremos a este assunto quando houverem informações concretas.

  11. O CAESAR tem alguma vantagem por estar sendo usado em combate real ?

    Ou vai pesar mesmo os requisitos do EB ?

  12. Pelo que foi apresentado, a short list será formada pelo Caesar, Atmos e o da Norinco, este último, com poucas chances. Estranho não ter concorrente indiano.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

DISPONÍVEL