Nova Família de Blindados – O substituto do Leopard toma forma

Visando seguir o mesmo caminho da Cavalaria mecanizada, o Exército inicia de fato o projeto de substituição do Leopard 1A5 e M113, a espinha dorsal de sua força blindada.

 O Leopard 1A5BR, o mais moderno e numeroso carro de combate do Exército Brasileiro (EB), com uma frota de 220 unidades em carga, é ultima versão de um consagrado e eficiente projeto alemão, mas que teve sua produção iniciada em meados dos anos 50, e encerrada nos anos 80 com a versão 1A4 (1A5 é uma modernização de versões anteriores). Isso faz com que muitos de seus componentes essenciais já deixaram de ser produzidos, sendo que até algumas fábricas sequer existissem quando eles foram adotados pela Força Terrestre, o que está impactando muito em sua operacionalidade.

Diferentes do que ocorreu na aquisição dos Leopard 1BE e M60A3, adquiridos no final dos anos 90, os Leopard 1A5, adquiridos duas décadas depois, tiveram um grande planejamento para garantir seu pleno ciclo de vida, que na época foi pensado para até o final da década de 2030, incluindo a implantação de uma unidade de manutenção da alemã Krauss-Maffei Wegmann (KMW) no Sul do país, responsável por sua logística e que teria a sua disposição um grande estoque de peças dos depósitos da Alemanha e outros países da Europa. Naquela época, o objetivo foi preparar a força blindada para os desafios futuros, para que, a partir da década de 20 pudesse adquirir os carros de Leopard 2, bem mais modernos (e complexos), que imaginariam estar disponíveis em grandes números, devido ao processo (na época) de diminuição das frotas dos exércitos europeus.

Infelizmente essa disponibilidade não ocorreu como previsto e, principalmente devido o conflito russo-ucraniano, os componentes logísticos do Leopard 1 tornaram-se extremamente escassos no mercado (e com preços elevados), o que diminuiu a disponibilidade da frota do EB.

PROBLEMAS E SOLUÇÕES

Diante destas dificuldades, e visando dar continuidade ao processo de modernização da força blindada e mecanizada, iniciada com o projeto Guarani, em 2019 o Estado-Maior do Exército (EME) determinou a criação de um grupo de trabalho multidisciplinar, chamado GT NOVA COURAÇA, cujo objetivo era apresentar soluções para o curto, médio e longo prazos, alinhadas com as diretrizes de modernização da Força, que atendessem suas demandas e adaptadas à realidade nacional.

A partir destes estudos ocorreram os processos de aquisição das viaturas Guaicurus e Centauro II BR, o projeto de modernização do Cascavel e outras medidas que trouxeram mais modernidade à Cavalaria mecanizada, e agora busca fazer o mesmo com a Cavalaria blindada com a aquisição de novas viaturas blindadas de combate carro de combate (VBC CC) e viaturas blindadas de combate de Fuzileiros (VBC Fuz), sendo essa última a sucessora dos M113.

Em dezembro de 2022, foi publica a Portaria Nº 877, aprovando a diretriz para a prospecção para aquisição inicial de 65 VBC CC e 78 VBC Fuz, e em agosto de 2024, o Escritório de Projetos do Exército (EPEx), lançou o edital da consulta pública (request for information”/ “request for quote”  – RFI/RFQ) 02/2024 para sondar o mercado nacional e internacional sobre a possibilidade deste  fornecimento, já dentro do Programa Estratégico do Exército Forças Blindadas (Prg EE F Bld).

De acordo com o EPEx, ao ser questionado por T&D, “11 empresas, de 10 países diferentes”, responderam RFI/RFQ .

Aproveitando o inicio da LAAD Defence & Security 2025, o maior e mais importante encontro das indústrias de defesa e segurança da América Latina, apresentaremos um pequeno panorama dos principais concorrentes até o momento, sendo que alguns estarão presentes no evento.

BAE Systems CV90

A imagem de divulgação do CV90120, já no Rio de Janeiro (Foto: BAE Systems)

O CV90, ou “Combat Vehicle 90”, é uma família de veículos de combate blindados suecos projetados pela Administração de Material de Defesa da Suécia (Försvarets Materielverk – FMV) em conjunto com as empresas Hägglunds e Bofors, em meados da década de 80, e que entrou em serviço na Suécia em meados da década seguinte com o nome de Stridsfordon 90, sendo este o de projeto mais maduro dentre os apresentados.

Atualmente o veículo é ofertado pela BAE Systems Hägglunds e se encontra em sua 5ª geração, possuindo mais de 15 variantes em operação em diversas nações, incluindo algumas da OTAN, e está integrando o Exército da Ucrânia em sua Guerra contra a Rússia.

A viatura possui peso na faixa das 35 a 37 toneladas e possui versões de combate com armamentos que vão desde o canhão Bushmaster II, de 30×173mm, ao Ruag CTG, de 120mm e 50 calibres. Foi estudada a possibilidade de equipá-lo com a com a torre HITFACK Mk2, da Leonardo (a mesma que equipa o Centauro II) para ser ofertado ao Exército Italiano, porém, de acordo com a empresa Leonardo, com a opção deste pelo LYNX, o projeto foi paralisado.

A versão proposta pela BAE Systems do Brasil é a MkIV, a atual geração da viatura, com um peso máximo aumentado para 37 toneladas e equipada com um motor Scania de 1.000 HP e a transmissão X300, com relação peso-potência para 18,0 KW/T.

A VBC Fuz CV90 em testes no CAEx (Foto: BAE Systems)

A empresa promove este sistema de armas no EB desde a publicação dos estudos do GT NOVA COURAÇA, com diversas palestras e apresentações, levando militares da Força Terrestre para conhecer as viaturas da família na Suécia e trazendo uma VBC Fuz CV90 MkIIIb para demonstrações no CAEx, em 2023, e em 2025, na LAAD,  VBC CC CV90120 MKIIIb.

Apesar de ser um excelente sistema, comprovado em combate, há uma certa preocupação, o que é algo comum neste mercado tão sofisticado, que é a utilização de componentes produzidos em outros países, devido à existência de mecanismos internacionais como a necessidade de “end-user” e agências governamentais, como a International Traffic in Arms Regulations (ITAR), dos Estados Unidos, e a Bundesamt für Wirtschaft und Ausfuhrkontrolle (BAFA), da Alemanha.

FNSS KAPLAN

A empresa turca FNSS Savunma Sistemleri (uma ex-“joint venture” da Nurol Holding com a BAE Systems, mas atualmente 100% Nurol) e a belga John Cockerill Defense ofereceram a família Kaplan.

a VBC CC KAPLAN MT com torre Cockerill 3105 (Foto: FNSS)

A VBC CC KAPLAN MT (“Medium Tank”) foi desenvolvida a partir de uma parceria entre a FNSS e a empresa PT Pindad, da indonésia, onde está em serviço com o nome de HARIMAU (ambos os nomes significam “TIGRE” em seus respectivos idiomas). Um diferencial desta versão é possuir o conjunto de força (“powertrain”) localizado em sua parte traseira.

Pesando cerca de 30 toneladas, é equipado com uma torre Cockerill 3105, com proteção STANAG 4569 level 5 e armada com um canhão de 105mm e 53 calibres, de alta pressão (HP), sistema de carregamento automático (“autoloader”) e com uma elevação de tiro entre -10º e + 42º. Possui ainda uma metralhadora coaxial de 7,62x51mm e pode receber uma metralhadora de 12,7x99mm (.50 BMG), ou lançador de granadas de 40mm, em reparo manual ou em sistema de armas remotamente controlado (SARC), sistema de lançamento de granadas fumígenas, com oito cargas para pronto emprego.

Já a versão VBC Fuz é o KAPLAN 30 NG, com peso de 30 a 35 toneladas, dependendo da configuração, e pode ser equipado com uma torre Cockerill 3030, armada com um canhão Bushmaster II, de 30×173 mm, com opções de mísseis anticarro.

A VBC Fuz KAPLAN 30 NG, equipado com um canhão de 30x173mm (Foto: FNSS)

Em 2024, a plataforma sem a torre (que estava a caminho, vindo da Bélgica) chegou a desembarcar no Porto do Rio Grande, no Rio Grande do Sul, para da participar da Festa da Cavalaria, em Tramandaí (RS), e fazer demonstrações para o EB no Centro de Instrução de Blindados (CI Bld), porém a tragédia ambiental que se abateu sobre o Sul do Brasil naquele ano impediu que isso ocorresse.

GDELS ASCOD

O ASCOD (acrônimo para “Austrian Spanish COoperation Development”) é uma família de veículos desenvolvida a cooperação entre os governos da Espanha e Áustria, através das empresas Santa Bárbara Sistemas e Steyr-Daimler-Puch, que atualmente fazem parte do grupo General Dynamics European Land Systems (GDELS), iniciada nos anos 90, para substituir as variantes do M113 em seus exércitos.

O ASCOD 2 com torre HITFACT MkI (VBC CC) e MT30MK2 (VBC Fuz), a versão tripulada da UT30MK2 (Foto: GDELS)

A Espanha encomendou 212 viaturas em 2004, onde recebeu o nome de “PIZARRO”, e a Áustria 112 em 2005, com o nome de “ULAN”, ambos em várias versões diferentes, sendo o principal a VBC Fuz, armada com um canhão Mauser Mk30, de 30x173mm, e capacidade para transportar até oito militares completamente equipados.

Sua versão atual, conhecida como ASCOD 2, de acordo com a empresa, é uma plataforma modular, que oferece  adaptabilidade e escalabilidade aos mais exigentes requisitos, com diferentes capacidades de carga útil e potencial de crescimento, mas mantendo um baixo custo de operação e manutenção.

As viaturas podem ser equipadas com vários opções de “powertrains”, sendo os principais o motor MTU 199 com transmissão Renk HSWL 256B e o Scania 8V  com transmissão Renk HSWL 256B2,  e possui versões de VBC CC médio, equipado com canhões de 105 ou 120mm, VBC Fuz, VBTP, artilharia autopropulsada (sistema DONAR), posto de comando, observador avançado, recuperador, engenharia, lançador de pontes, etc…

Sua plataforma serviu de base para a família AJAX britânica, o M10 BOOKER, do US Army, e o Sabra Light, da Elbit Systems, que está em operação no Exército das Filipinas.

A VBC CC SABRA LIGHT, com torre Elbit, foi apresentada na Eurosatory 2022 (Foto: Paulo Bastos)

A versão VBC CC oferecida ao EB tem peso bruto de 45 toneladas e está equipada com a torre Leonardo HITFACT MkII, com canhão de 120mm, de carregamento manual, proteção balística STANAG 4569 level 4. Já a VBC Fuz possui 38 toneladas, possuindo uma guarnição de três militares e capacidade para transportar até oito fuzileiros blindados, sendo equipada com um SARC ARES UT30MK2BR, com canhão Bushmaster II de 30x173mm.

Como o CV90, possui componentes de diferentes nacionalidades e alguns sobre o controle do ITAR e BAFA.

Otokar TULPAR

O TULPAR é uma plataforma multipropósito, com grande modularidade, projetado integralmente pela empresa turca Otokar Otomotiv ve Savunma Sanayi  para atender uma ampla gama de requisitos definidos pelo usuário e utilizar todas as tecnologias disponíveis no mercado atualmente, além de possuir grande potencial de crescimento.

A VBC CC TULPAR, com torre HITFACT MkII (Foto: Otokar)

Seu desenvolvimento é recente, tendo sido apresentado para o publico em 2013, durante a 11ª International Defence Industry Fair (IDEF), sendo pensado, desde sua concepção, para ter baixos custos operacionais e logísticos, utilizando o máximo de subsistemas e componentes comuns em todas as suas variantes, como a VBC CC, VBC Fuz e outras viaturas especializadas.

Sua proteção balística é variável, indo da versão básica com a STANAG 4569 level 2 (equivalente as VBTP 6X6 Guarani com blindagem adicional) até o level 6 (capaz de resistir a impactos de munições 30mm APSFDF), com a utilização de placas de proteção balística adicional (“add-on”) que podem ser rapidamente substituídas após serem atingidas. Além disso, possui kit proteção contra minas até o level 4b, suportando uma explosão de até 10kg sob suas esteiras ou no centro da viatura.

A arquitetura eletrônica é aberta, o que permite utilizar os sistemas e optrônicos a escolha do cliente, além de facilitar a integração de componentes dispositivos em uso e de produção nacional para o cliente, ou seja, seu desenho foi feito já visando à utilização de quaisquer sistemas disponível na atualidade ou em desenvolvimento.

Seu “powertrain”, que também podem variar com a versão e os requisitos do cliente, pode utilizar motores Caterpillar, MTU ou Scania, com transmissão Allison ou RENK, variando a potência de 700 a 1100 HP. A suspensão é do tipo barra de torção, com sete rodas de apoio duplas de cada lado. Atualmente está em testes no Cazaquistão (que adquiriu três viaturas para avaliação), foi selecionado para participar de uma grande concorrência na Polônia (que visa à aquisição de até 700 unidades a serem produzidas no país), e está negociações com Bangladesh e outras nações.

A versão VBC CC oferecida ao EB esta equipada com a torre HITFACT MkII, com canhão de 120mm, de carregamento manual, proteção balística STANAG 4569 level 4 e sistema de proteção ativa Iron Fist APS. O processo de integração da torre com a plataforma já este em sua fase final, sendo prevista a primeira série de tiros reais seja realizada no inicio do próximo semestre.

Já a VBC Fuz, tem uma guarnição de três militares e capacidade de transporte de até nove fuzileiros, sendo equipada com uma SARC de calibre 30x173mm, com capacidade de disparar mísseis anticarro, podendo ser a ARES UT30MK2BR.

Sua versão VBC Fuz, com SARC MIZRAK, no campo de teste da empresa (Foto: Paulo Bastos)

Ambas as versões podem receber a SARC REMAX 4, possuem um peso bruto de cerca de 35 toneladas e são equipadas com um motor Catterpilar C13, de 6 cilindros, com 720 HP a 2300 rpm, e transmissão Alisson 3040 MX, que de acordo com a Otokar, estão fora do controle da ITAR e cujas empresas produtoras possuem plantas de fabricação no Brasil.

Essa ultima questão é muito importante, pois a ideia da empresa é de não só produzir os veículos no Brasil, mas garantir uma total transferência de tecnologia, utilização de componentes nacionais e passar a propriedade intelectual das versões brasileiras para o EB, e o fato de ser ITAR free” e “BAFA free”, que garante total independência logística da Força Terrestre, possibilidade que não ocorre com a maioria dos concorrentes e sendo totalmente desenvolvido e financiado pela Otokar, uma empresa 100% privada, permitem uma maior independência para modificar a viatura e ceder seus direitos de uso e fabricação, sem se preocupar com interferências governamentais, garantindo uma maior flexibilidade nas negociações.

Rheinmetal LYNX

O LYNX é um  blindado de combate de última geração, desenvolvido integralmente pela empresa alemã Rheinmetall Landsysteme (RLS) visando o mercado internacional, foi concebido como uma família de veículos modulares de ultima geração para atender os requisitos os conflitos atuais e futuros.

A VBC CC LYNX com torre HITFACT MkII, em sua apresentação, na Eurosatory 2024 (Foto: Leonardo)

É outro projeto recente, tendo sua primeira versão, a KF31, apresentada ao público na Eurosatory de 2016 e, na feira seguinte, de 2018, foi apresentada uma versão mais pesada, a KF41, que teve como prioridade a integração de subsistemas comprovados, com alto nível de atualização tecnológica, que reduziram seu tempo de desenvolvimento, o custo e os riscos técnicos. Seu peso varia de 35 a 50 toneladas, possuindo versões VBC CC médio, VBC Fuz, posto de comando, recuperador, engenharia, suporte de fogo, ambulância, etc…

Seu “powertrain” é composto por um motor Liebherr D976 com transmissão automática Allison X300 (KF31) ou Renk HSWL 256 (KF41), gerando uma potência que varia de 750 a 1.140 HP, com um sistema de suspensão do tipo barras de torção convencionais, junto com amortecedores SupaShock, sustentadas por com seis rodas de apoio duplas de cada lado, em uma configuração tida como confiável e econômica.

A versão oferecida ao EB é a KF41, que na versão VBC CC possui peso de 50 toneladas e está equipada com a torre HITFACT MkII, com canhão de 120mm, de carregamento manual, e a VBC Fuz possui 44 toneladas, com três tripulantes e capacidade para oito fuzileiros e está sendo oferecida em três versões diferentes de armamento: a torre LANCE, armada com canhão Bushmaster II ou Rheinmetall MK30-2/ABM (o mesmo da TORC-30); ou torre Rheinmetall Skyranger 30 KCE, com capacidade antiaérea, todos para munição 30x173mm.

A VBC Fuz LYNX, com torre LANCE, operada pelo Exército Húngaro (Foto: Rheinmetall)

É tido como um dos mais modernos de sua categoria no mundo, sendo operado pela Hungria e Ucrânia, foi selecionado pela Itália (programa AICS) e está participando de avaliações na Grécia, Romênia, Polônia e Estados Unidos, neste último, participa do programa OMFV, que busca o sucessor da família Bradley. Porém ele padece do mesmo problema de outras viaturas européias, que é estar sobre o controle do ITAR e da BAFA, sendo que neste caso é ainda agravado por se tratar de uma empresa alemã.

ST Enginering HUNTER

O HUNTER Armored Fighting Vehicle (AFV) é uma viatura produzida pela empresa ST (Singapore Technologies) Enginering, de Singapura, e apresentado como “uma das mais avançadas plataformas de combate totalmente digitalizadas, projetada para atender aos requisitos operacionais do futuro campo de batalha”.

VBC Fuz HUNTER AFV, com SARC Samson MkII, com canhão de 30 mm (Foto: ST Engineering)

Foi desenvolvido em conjunto pela empresa com a Agência de Ciência e Tecnologia de Defesa (Defence Science and Technology Agency – DSTA) e o Exército de Singapura para substituir os antigos M113 Ultra (uma versão de combate do VTP M113), onde a ST utilizou toda sua experiência no desenvolvimento da família BIONIX (com cerca de 800 produzidos) Teve seu primeiro exemplar entregue em 2019 e sendo considerado plenamente operacional em 2022.

A VBC Fuz ofertada para o EB pela ST Enginering Latin America (ex-Technicae), e que está em operação atualmente, é equipada com um canhão Bushmaster II, de 30×173mm, e dois mísseis anticarro Spike LR2 (o mesmo utilizado pelo EB), e a versão a VBC CC com a torre HITFACT MkII, com um canhão de 120mm (que ainda está em desenvolvimento) ou com a torre Cockerill 3105, equipada com um canhão de 105mm e 53 calibres (a mesma do KAPLAN), sendo que esta ultima participou da concorrência do programa MPF do US Army.

O HUNTER Light Tank, com torre Cockerill 3105, com canhão de 105 mm, que participou do programa MPF do US Army (Foto: ST Engineering)

NORINCO VT5 e VT4

De acordo com o representante no Brasil da chinesa North Industries Corporation (NORINCO), devido a questões internas, a empresa não respondeu ao edital 02/2024, mas confirmou o interesse em participar do processo quando este for efetivado de fato e, dentro do seu enorme portfólio, as viaturas da família TIPO 15 são as que mais se encaixam nos requisitos apresentados.

O VT5 é a versão de exportação do carro de combate leve, de 3ª geração, ZTQ-15 (também conhecido como “TIPO 15”) teve seu projeto começado no inicio da década de 2010, com sua produção iniciando poucos anos depois, e é utilizado pelo exército, fuzileiros navais e corpo aerostransportado chinês. Foi concebido para atender os requisitos para uma viatura de combate moderna, leve e de alta mobilidade, mas com grande mobilidade e poder de fogo, para operar em regiões de montanha e florestas pantanosas chinesas, ambientes os carros de combate pesado possuem dificuldades, e em forças de deslocamento rápido. São muito vistos no Tibete e nas regiões montanhosas de complicada fronteira com a Índia. Além da China, o Exército de Bangladesh utiliza uma versão chamada de VT5BD, com algumas modificações.

ZTQ-15, do Exército Popular da China, equipado com canhão de 105mm (Foto: NORINCO)

Com um peso de 33 toneladas, seu armamento principal é um canhão de alma raiada de 105 mm, similar ao utilizado no ST1 ofertado no programa VBC Cav, estabilizado, de carregamento automático e capaz de utilizar modernas munições de alta velocidade, como as chinesas DTW-2 e BTA2, do tipo APFSDS, e DTP1A, do tipo HEAT ou o míssil GP2.

Sua versão VBC Fuz é o VN17, que foi apresentado em 2018. Tem um peso de 30 toneladas, com três tripulantes e capacidade para sete fuzileiros, e está equipada com um canhão ZPT99, de 30×165 mm, e dois mísseis anticarro HJ-12E.

VBC Fuz VN17 (Foto: NORINCO)

Porém, em entrevista a T&D na LAAD 2023, revelou que também poderá oferecer a VBC CC VT4 e a VBC Fuz VN20 para o programa do EB, mesmo estes ultrapassando os requisitos de peso e armamento definidos no programa.

O VT4 é carro de combate tradicional de 3ª geração, e não um MMBT (“medium main battle tank) como os demais, desenvolvido e fabricado pela NORINCO para ser oferecido ao mercado de exportação, com recursos avançados, para oferecer maior poder de fogo e proteção no campo de batalha. Uma maquete em escala foi apresentada na feira de defesa Eurosatory de 2012, em Paris, França, com o nome de MBT-3000, porém seu primeiro protótipo só foi revelado dois anos depois, na China International Aviation & Aerospace Exhibition de 2014,em Zhuhai. De acordo com a empresa, está em uso na China, Tailândia, Bangladesh e Nigéria, além de servir de base para a VBC CC HAIDER, do Paquistão.

Trata-se de uma viatura com peso de combate da ordem de 53 toneladas (acima das 50 toneladas estipulado nos requisitos do programa), equipado com um motor diesel turbo de 1.200 HP (instalado na parte traseira, como o VT5), com um sistema de suspensão com barra de torção. Seu armamento principal é o canhão de alma lisa ZPT-98A, de 125mm e 50 calibres, com sistema de carregamento automático e capacidade de disparar projéteis cinéticos (APFSDS), explosivos (HEAT, HESH e HE) e mísseis anticarro GP125.

VBC CC VT4 (Foto: NORINCO)

Já o VN20 é sua versão VBC Fuz, porém se enquadra em uma classe mais pesada, conhecida como “heavy-duty infantry fighting vehicle”, com peso de batalha da ordem de 55 toneladas. Sua tripulação é composta por três tripulantes e possui capacidade de transportar oito fuzileiros, protegidos por uma blindagem equivalente a de uma VBC CC e pode ser equipado com dos mesmos sistemas de defesa (ativas e passivas) da VBC CC VT4. Até o momento, foram apresentadas duas opções de armamento: um SARC equipado com um canhão automático de 30x165mm e uma metralhadora 7,62mm; e com um sistema de armas similar ao do blindado russo BMP-3, equipado com um canhão de 100mm, um de 30×165mm e mísseis anticarro HJ-12E.

VBC Fuz VN20 com torre baseada no BMP-3 (Foto: NORINCO)

Durante a entrevista, a NORINCO informou que pode integrar, caso seja desejável, a torre HITFACT MkII em suas VBC CC, seja a VT5 ou VT4, e a UT30BR2 em suas VBC Fuz, ou quaisquer outras modificações solicitadas pelo EB, afirmando que “está aberta para negociar quaisquer adaptações, bem como a transferência de tecnologia da viatura ou partes dela para o Brasil, pois possui a propriedade intelectual completa do sistema”.

Porém, mesmo as viaturas da NORINCO sendo ITAR free” e “BAFA free”, como as da Otokar, eles possuem um problema que parece ser intransponível: o provável requisito de “Possuir meios de comunicações adotados no SC2FTer”, já implicaria na obrigatoriedade integração com os rádios Harris RF-7800-VS560, padronizados na Força Terrestre. Esses sistemas são controlados pelo ITAR e os norte-americanos se recusaram a permitir sua integração em quaisquer sistemas chineses, fazendo com que seus modelos ficassem na última colocação no final dos projetos VBC Cav e VBCOAP 155 SR.

CONCLUSÃO

Os problemas logísticos da frota de VBC CC Leopard 1A5BR do EB deverão acelerar o programa da Nova Família de blindados, cujo pedido de proposta / pedido de licitação (“request for proposal” – RFP / “request for tender” – RFT) poderá ser lançado ainda este ano, com o mercado internacional já se movimentando para apresentar suas soluções, como será mostrado nesta edição da LAAD.

Todavia, as constantes mudanças na geopolítica global, onde alianças tidas como sólidas se desfazem com a aplicação descuidada de algumas palavras ou por atitudes inesperadas de alguns atores, obrigará o Estado-Maior do Exército a não só analisar as propostas por suas capacidades técnicas e custos operacionais, como ocorreu nos recentes programas VBC Cav e o VBCOPA 155 SR, mas também com base nas capacidades de operar estes sistemas com garantias de independência. Com isso, expressões como “transferência de tecnologia”, “propriedade intelectual”, ITAR free” e “BAFA free” se tornarão cada vez mais corriqueiras nas discussões.

Tecnologia & Defesa continuará acompanhando este programa e analises técnicas mais detalhadas destes, e de outros modelos, serão apresentadas na revista e no website.

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Respostas de 17

  1. Só uma leve correção: no início do texto diz que os Leopards 1a5 foram adquiridos duas décadas depois dos M60 e Leo 1B, mas na verdade essa aquisição foi em 2009, cerca de 10 anos depois.

  2. Será que essa licitação vai entrar aquela restrição para equipamentos americanos, como nos drones? Lembrando também que tem gente que não gosta dos israelenses. Daqui a pouco vai sobrar apenas os chineses.

    1. Eu entendo a restrição, mas acho mais inteligente estudar clausula que escalone e penalize na classificação o nível de potencial interferência de países estrangeiros na cadeia de suprimentos por necessidade de autorizações ou possibilidade de sanções e como no fim a escolha é discricionário do chefe da força a gente evita comprar produto que depois talvez nem seja entregue por conta de sanções sem ser tão óbvio e tbm abrangendo outras nações que vivem arrumando problemas pra nossas compras e vendas como a alemã, e o componente geopolítico de qualquer compra militar já vai ser avaliado

    2. Não creio que você não entenda que o EB quer garantia de independência na operação de seus Sistemas de Armas. Uma Força de Defesa de um País Soberano tem como obrigação pensar nisso e o EB ao colocar como premissa que seus Sistemas Estratégicos sejam ITAR e BAFA Free visa isso. Estão de parabéns!

    3. Os chineses ao meu ver são melhores. e forçará o Brasil a desenvolver tecnologias próprias. além de fortalecer sua soberania. Ex : Dinamarca é membro da Otan tem bases dos EUA. E mesmo assim pode perder seu território autônomo da Groelândia. Traição ? !

  3. Acredito que os francos favoritos sejam o ASCOD II, e cv90-120mm, com o Lynx correndo por fora, afinal Rheinmetall não pode ser subestimada, os outros são azorões.

  4. o exército amarrados no pé e mãos como sempre de produtos de origem americana,agora dependente de rádio, que piada.
    Só pode comprar blindado de origem americana ou européia por causa do rádio.
    Avisa ao exército brasileiro que a Groelândia e o Canadá manda lembranças (nosso aliado americano não é confiável).

  5. Se o rádio faz um país estrangeiro ter tanto poder de veto numa compra NOSSA deviam estudar mudar o sistema de comunicação por mais complicado que isso possa ser.

  6. Na torcida pela Otokar com o Tulpar e a Itar e Bafa free, q creio eu, devem pesar bastante na hora da escolha na atual conjuntura global.

  7. Excelente matéria Bastos

    Não tinha noção o quanto o ITAR e BAFA afetam em um programa e pelo visto também na disponibilidade do meio (peças de reposição/sobressalentes), por termos características pacificas é um erro achar que basta ter dinheiro para comprar que teremos acesso a tudo, operar limitadamente um meio de arquitetura fechada da forma como o governo dominante da tecnologia “impõe” não é uma boa escolha…abraço

  8. A Turquia rompeu relações com Israel (depois desse projeto inicial começar lá atrás), então pode ser que o Iron Fist seja bloqueado. Não seria bloqueado pra gente, seria bloqueado pra eles. Mas também poderia ser vetado por ser israelense como já aconteceu, de qualquer forma, então não adianta.
    O Brasil se colocou numa posição muito difícil com certos alinhamentos indo de encontro às decisões que tinha tomado anteriormente. A Alemanha não barrou nada “sem motivo”, barrou por pressão política e como sanção. E vai acontecer muitas vezes mais.
    A república tcheca tem empresas que vendem t-72 reformados de excedente já com os sistemas adaptados ao padrão OTAN (inclusive de comunicação). Tem a proteção melhor que qualquer um desses aí (ainda acho absurdo partir pra light tank), mas fica de fora por ser 125mm. Mais em cima do muro (apesar de eu ser contra) que isso, impossível.

  9. Uma pena os riscos de sanções que podemos sofrer porque o Lynx 120 é, disparado, o melhor concorrente. Já que não podemos ter um MBT, que escolhamos o MMBT que chegue mais perto possível de um no quesito blindagem.
    Escolher um carro de combate com 35 toneladas me parece um erro enorme, mesmo com a possibilidade de colocação de placas de proteção balística adicional, já que na hora do “vamo ver”, lá no meio dos cafundós onde Judas perdeu as botas, elas podem não estar disponíveis para reposição. Enfim, minha opinião não fará diferença. Segue o jogo!

  10. Salve senhores camaradas do do Tecnodefesa.
    Inicialmente parabéns Paulo pela matéria muito bem escrita e informativa sem detalhes técnicos muito chatos (nem sempre importante).
    Minha torcida vai para o VT4. Em segundo lugar o cavalo alado turco o Tulpar.

    Sgt Moreno

  11. Os únicos MMBT puro sangue aí são o kaplan MT e o Type 15 pois ambos foram pensado nisso e o CV90 tem origem na substituição do IKV91 o que o torna também uma boa base para um MMBT (muito provavelmente desde o 1° protótipo foi pesando em origina um tanque leve)…

    Então se a ideia for tem um MMBT mais proximo de MBT convencional (sinueta baixa) só fica esses 3…. desses só o CV90 tem opção 120mm….e o sobre peso do VT4 ainda é abaixo de 10%…cadê o japoneses, coreano e isrealenses (se bem que esses últimos terão dificuldades por culpa dos 3 líderes)

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