T&D entrevista: cinco perguntas ao comandante da AMI

Em recente viagem a Itália, T&D conversou com o “generale di squadra aerea” Luca Goretti, chefe do Estado-Maior e comandante da Aeronautica Militare Italiana (AMI).

Tecnologia & Defesa -O senhor poderia nos dar uma visão geral da atual Força Aérea Italiana (AMI) e quais são as perspectivas para o futuro?

General Luca GorettiNosso objetivo é ter uma Força Aérea claramente tecnológica, ainda mais enxuta, mais ágil, reativa, capaz, cada vez mais coesa e mais útil ao país. Hoje, as Forças Armadas estão vivendo um processo de forte e contínua transformação que leva em conta o fato de que o futuro é incerto e difícil de prever. Isso requer que disponhamos de uma ferramenta flexível, capaz de acompanhar o rápido e inevitável progresso tecnológico assim como as mudanças cada vez mais rápidas. É um processo longo, complexo e que envolve tempo, esforço e determinação, mas o caminho a seguir é claro e aparente. Estamos explorando novos horizontes tecnológicos e científicos para utilizar tecnologias facilitadoras cada vez mais inovadoras e que nos permitam olhar para a frente, para o futuro, e estar prontos para permanecer relevantes e úteis para o país quando os riscos e as ameaças mudarem. É o desafio que nos espera e que enfrentamos com força e orgulho das nossas capacidades, qualidades, valores, profissionalismo e da competência do nosso pessoal que, em 100 anos de história, mostrou que sabe atuar com paixão, generosidade e profundo amor e espírito de serviço ao nosso país e ao nosso povo.
Em síntese, as novas tendências evolutivas exigem que a Força Aérea pense e planeje hoje os desafios de amanhã, de modo a operar com eficácia quando necessário, podendo contar com capacidades operacionais com forte integração interforças, dimensionadas adequadamente e sempre em sintonia com a mais avançada evolução tecnológica.

T&D – A AMI utiliza atualmente dois modelos de caças, o Eurofighter Typhoon e o Lockheed Martin F-35 Lightning II. Como é a preparação e formação dos pilotos?

Gen LucaA preparação e formação dos nossos pilotos é uma parte fundamental da atividade da Força Aérea. O período em que vivemos é caracterizado por uma rápida mudança nos contextos culturais, sociais, políticos e econômicos e para acompanhar essas mudanças e antecipá-las de forma flexível e rápida, temos de nos concentrar no pessoal. A formação é o resultado de um processo cuidadoso e contínuo de atualização dos conteúdos dos nossos cursos de formação militar e técnico-profissional, de modo a que estejam alinhados a nível nacional e internacional. Um itinerário formativo articulado e complexo que exige o envolvimento dos diversos atores das Forças Armadas e do mundo acadêmico para a definição dos conteúdos didáticos de todos os níveis. Particularmente no que tange à formação em voo, a entrada em serviço das aeronaves de 5ª geração tem levado à expressão das nossas capacidades em contextos até então não contemplados (operações multi-domínio em contextos de “Anti-Access/Area Denial”) e com métodos inovadores (troca de dados em tempo real entre aeronaves interligadas, novos paradigmas de comando e controle). A necessidade de educar e formar uma nova geração de pilotos que necessitam de competências e capacidades adicionais surgiu da evolução tecnológica dos sistemas de armas.
Para suprir essa lacuna, as Forças Armadas inovaram na Fase 4 (“Lead In to Fighter Training”) dos pilotos destinados à linha aerotática, introduzindo um novo sistema de treinamento baseado na aeronave T-346. Esta fase permite que seja exposto aos conceitos de fusão de sensores, utilização de sistemas aviónicos avançados e gestão de sensores ativos e passivos. O treinamento é baseado em um sistema integrado que associa um componente terrestre à aeronave T-346A (“Ground Based Training System”); graças ao uso do “Embedded Tactical Training System” e da inovadora tecnologia “Live Virtual Constructive”, é possível integrar aeronave , simuladores e entidades geradas por computador em um único cenário. Isso permite que o simulador e a aeronave interajam dentro da mesma missão, abordando cenários complexos que dificilmente podem ser reproduzidos a baixo custo. Graças a essas capacidades inovadoras e a qualidade do programa de formação associado, a AMI é procurada por inúmeras Forças Aéreas para prestar a formação de voo.
Para contribuir ativamente para a promoção do “sistema do país italiano”, a ideia de uma escola de voo internacional foi implementada através de uma parceria entre a AMI e a Leonardo no contexto da Fase 4 da formação de voo. Assim nasceu a International Flight Training School (IFTS) na base de Decimomannu, na Sardenha. Um centro de formação avançado para pilotos militares de Forças Aéreas de todo o mundo. Um novo modelo, já escolhido por vários países como Áustria, Canadá, Alemanha, Japão, Qatar e Cingapura, que aproveita os muitos anos de experiência da AMI neste campo (75 anos na Base Aérea de Galatina) e a excelência tecnológica da Leonardo no domínio do “Live Virtual Constructive”.

Lockheed Martin F-35 Lightning II e Eurofighter Typhoon (Foto:AMI)

T&D – Qual a importância do novo M-346 Master para o desenvolvimento dessas capacidades?

Gen LucaO sistema integrado, denominado T-346 “Integrated Training System (ITS)”, composto pela aeronave (T-346A) e por uma série de sistemas de simulação complexos, permite combinar os “mundos real e virtual” de uma forma particularmente eficaz, utilizando a tecnologia futurista “Live Virtual Constructive” (LVC)). Esta tecnologia permite ” conectar ” uma ou mais aeronaves, efetivamente em voo e os simuladores em terra, bem como ter aeronaves virtuais geradas por computador participando das missões. As possibilidades oferecidas são praticamente infinitas e permitem recriar, com um número reduzido de aviões efetivamente em ação, cenários complexos indispensáveis à formação dos pilotos mas que são muito complicados ou caros de reproduzir na realidade. Trata-se de um curso com qualidade excepcional e custo acessível, especialmente concebido para os pilotos de caças de 4ª e 5ª gerações.

T&D – A AMI pretende utilizar o M-346 em missões operacionais?

Gen LucaA AMI possui exclusivamente a versão de treinamento da aeronave, utilizada na fase avançada de treinamento de voo para aeronaves de 4ª e 5ª gerações (ou seja, antes de serem enviados aos Grupos de Conversão Operacional).

T&D – Se a Força Aérea Brasileira (FAB) viesse a adotar o M-346, quais seriam as possibilidades de parceria entre as duas Forças?

Gen LucaAtualmente, teríamos certamente as seguintes possibilidades:
Colaboração com a AMI no setor da formação de pilotos, com o envio de participantes e instrutores para a Itália, de modo a criar uma sólida troca de experiências e know-how; e
Entrada da FAB no grupo de utilizadores do T-346, com o objetivo de expandir a troca de informações e experiências com outras Forças Aéreas que utilizam o sistema ITS T-346.

T-346A Master (Foto: AMI)

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Comentários

6 respostas

  1. Se a FAB adquirisse o M-346 onde ele seria adotado? Ainda com os cadetes na AFA, ou num estágio mais avançado, já com aspirantes em alguma outra unidade?

    1. SE adotar um LIFT, o que acho que não está nos planos do EMAER, seria em Natal, no 2/5 Gav, complementando os A-29. Só não sei como seria, já que os pilotos seguem depois para os Terceiros, que voam A-29. Só se retonariam para Natal para voarem no M-346. Sei lá, acho que seria mais uma linha logistica e os simuladores de Gripen já estão aí, além dos F-39F. Prefiro investir em mais F-39.

  2. Volta e meia esse assunto de M346 ou outros LIFT volta à discussão. Existem ao menos duas filosofias de ascenção operacional, a que preconiza o uso de jatos de treinamento avançado e com capacidade operacional e outra que considera o uso de turboélices de desempenho elevado nessa progressão da vida operacional dos pilotos. A FAB optou pela segunda, assim como também a França e a Espanha, entre outras Forças Aéreas. Segundo a FAB, os cadetes egressos da AFA continuarão seguindo para o esquadrão Joker, em Natal, depois para um dos 3 esquadrões do 3⁰ GAV, todos equipados com A-29, e depois para a primeira linha. Isso já acontece há muitos anos. E com o Gripen, não vai mudar, só se o EMAER mudar de ideia e conceito.

    1. Não há uma escola de pensamento nas forças aéreas mais avançadas, os treinadores avançados devem ser a jato, no entanto, mesmo os básicos e têm sido por muitos anos, não só por uma questão de custo-benefício, mas maior eficiência no treinamento mais semelhante a aeronaves de 4 e 5 gerações. A França e a Espanha ainda não escolheram nem a nível industrial nem operacional, e por esta razão a Airbus fez um acordo comercial com a Leonardo para o 346!!

  3. Acho que o A-29 apesar de ser muito bom, ainda não foi o suficiente para substituir o xavante como caça leve que daria a força aérea volume de caças assim como o xavante deu. quantidade tem uma qualidade única no teatro de operações.

  4. Esse debate de LIFT vem e volta, de tempos em tempos, na FAB também. Muitos acreditam que, com a capacidade de simulação que temos, pode não ser necessário um LIFT, e sim mais aviões operacionais. Os A29 fornecem essa consciência aos pilotos, faltando o componente velocidade, que a 1a linha fornece.
    Acho que antes de um LIFT, seria mais útil ampliar a frota de F39. Até porque num cenário de crise não se constrói um avião desses de uma hora para outra.

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