Formulação Conceitual dos
Meios Blindados do Exército Brasileiro
ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO-PORTARIA Nº 162-EME, DE 12 DE JUNHO DE 2019
Documento que determina a formação de um Grupo Tarefa (GT) encarregado de realizar a “Formulação Conceitual dos Meios Blindados do Exército Brasileiro” foi publicado em boletim (BE nº 26, de 28 de junho de 2019) apresentando um raciocínio bem “pé no chão”.
Após uma atenta leitura e consultas a fontes da Arma de Cavalaria (da ativa), destacamos os principais pontos do documento, como se segue.
Na parte que trata das “INFORMAÇÕES RELEVANTES PARA A CONFECÇÃO DO ESTUDO DE VIABILIDADE”, algumas considerações são a tradução da realidade, e ela não é favorável ás forças blindadas:
- Insuficiência de recursos para modernizar e completar a frota de blindados do Exército.
- Defasagem tecnológica de grande parte dos blindados do Exército, particularmente da proteção blindada, dos sistemas de armamento, aquisição de alvos, observação, direção tiro e Comando e Controle.
- Grande diversidade na Força Terrestre de tipos e famílias de blindados de diferentes origens, nacionais e estrangeiras.
- Necessidade de se buscar o equilíbrio entre a Estratégia da Dissuasão, representada pela prioridade a ser reservada às Forças de Emprego Estratégico, e a Estratégia da Presença, complementada por meio das demais Grandes Unidades do Exército.
- Dificuldade de adestrar os quadros no estado da arte.
A parte que detalha as ações, por sistema/veículo, é bem específica e deixa CLARA a linha de ação a ser adotada, como se segue:
- ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS Viaturas Blindadas de Combate
1) Viatura Blindada de Combate Carro de Combate M60 A3TTS
Estudar a viabilidade da sua modernização parcial pela indústria nacional.
A modernização parcial visualizada abrangeria, principalmente, o sistema de controle de tiro (SCT), a troca para um giro elétrico da torre e o sistema de intercomunicação, além da inclusão do Gerenciador de Campo de Batalha, dentre outros.
Caso fique comprovada a inviabilidade de sua modernização, as VBC CC M60 A3TTS serão manutenidas com os meios e recursos disponíveis, até serem descartadas, podendo ser substituídas pela VBC CC Leopard 1 A5.
2) Viatura Blindada de Combate Carro de Combate Leopard 1 A5
Realizar estudo preliminar sobre a possibilidade de modernização pela indústria nacional e estudo sobre a nacionalização de parte de seus componentes principais, para minimizar a dependência logística de empresas estrangeiras.
Os estudos deverão focar, principalmente, alguns de seus componentes optrônicos e o giro da torre.
Paralelamente, iniciar o planejamento da obtenção de um carro de combate médio nacional, seja por projeto original, seja por fabricação sob licença de um modelo estrangeiro.
3) Viatura Blindada de Combate de Fuzileiros
Realizar estudo preliminar para a aquisição de uma VBC Fuz, visando à substituição da viatura blindada de transporte de pessoal VBTP M113 nos BIB e nos RCB.
4) Viatura Blindada de Combate Obuseiro Autopropulsado M109 (A3, A5 e A5+ BR)
Estudar as restrições existentes, propor prioridades e medidas para a adoção progressiva de um sistema computadorizado de direção de tiro de fabricação nacional, para as unidades de artilharia blindada, bem como prosseguir nos projetos em andamento.
5) Viatura Blindada de Combate Antiaéreo Gepard
Prosseguir no projeto em andamento.
6) Viatura Blindada de Combate de Apoio de Fogo
Realizar estudo preliminar para a adoção de uma Viatura Blindada de Combate Apoio de Fogo para dotar os pelotões de apoio dos BI Mec, considerando o aproveitamento das plataformas existentes no Exército, ou a serem desenvolvidas em uma nova família de blindados.
7) Viatura Blindada de Combate Morteiro
Realizar estudo preliminar para padronizar em uma plataforma única os morteiros médios e pesados (com tiro embarcado).
Propor a adoção de uma viatura especializada (não blindada) para cada morteiro, para a utilização no adestramento.
- Viatura Blindada de Reconhecimento (denominação atual da futura Viatura Blindada de Combate Cavalaria).
1) Viatura Blindada de Reconhecimento EE-9 Cascavel
Realizar estudo preliminar para a modernização do Cascavel de modo a ampliar sua capacidade operativa, bem como torná-la uma viatura eficaz para o adestramento e para o treinamento das guarnições.
Considerar: – um sistema de controle de tiro computadorizado com seus optrônicos e um eficiente sistema de intercomunicação da guarnição, acoplado a um sistema de comunicações táticas; – a manutenção do atual armamento (canhão de 90 mm) e melhoria da capacidade anticarro; – o emprego prioritário de recursos nos mecanismos e eletrônicos ligados ao tiro e à aquisição de alvos; e – a comparação (com custos estimados) entre investir em um novo sistema de motorização e suspensão e a revitalização desses sistemas existentes.
2) Adotar nova nomenclatura para a atual Viatura Blindada de Reconhecimento (VBR) de modo a adequá-la à sua missão principal nas operações de segurança: Viatura Blindada de Combate de Cavalaria – VBC Cav.
3) Realizar estudo preliminar para a aquisição de uma VBC Cav, para substituir parcialmente a VBR Cascavel, bem como propor linhas de ação para a sua distribuição inicial para as Bda C Mec e apresentar uma solução para os problemas logísticos decorrentes.
4) Iniciar o planejamento da obtenção de uma VBC Cav nacional, seja por projeto original seja por fabricação sob licença de um modelo estrangeiro, aproveitando todos os estudos já realizados pelo Exército de uma nova família de blindados.
- Viatura Blindada – Leve sobre Rodas
1) Viatura Blindada Multitarefa – Leve sobre Rodas
- a) Propor ou manter a padronização de uma viatura de transporte não especializada (VTNE) adaptada, para a utilização no adestramento e/ou emprego dos pelotões de exploradores e dos pelotões de cavalaria mecanizada.
- b) Prosseguir na obtenção de uma Viatura Blindada Multitarefa – Leve sobre Rodas nacional por fabricação sob licença de um modelo estrangeiro, aproveitando todos os estudos já realizados pelo Exército e por empresas nacionais.
2) Viatura Blindada de Reconhecimento – Leve sobre Rodas
Estudar a possibilidade de integrar meios de inteligência, reconhecimento, vigilância e aquisição de alvos (IRVA) na Viatura Blindada de Reconhecimento – Leve sobre Rodas, transformando-a em uma Viatura Blindada Multitarefa – Leve sobre Rodas.
Considerando o prazo de recebimento das mesmas, sugerir linhas de ação para a sua distribuição inicial para os Pel Expl e Pel C Mec, de modo que possam ser reunidas nas situações de emprego de curto prazo.
- Viatura Blindada de Transporte de Pessoal
1) Viatura Blindada de Transporte de Pessoal M113
Prosseguir nos estudos para a modernização das Viaturas Blindadas de Transporte de Pessoal M113 (inserindo a modernização de C2, blindagem adicional e sistema de armas).
Caso fique comprovada a inviabilidade da aquisição a curto prazo de uma VBC Fuz, incluir, no pacote de modernização das VBTP M113, equipamento de visão noturna passivo para o motorista e instalação de torreta automática em substituição à torreta manual, permitindo assim que os atiradores desse tipo de viatura se adestrem nas técnicas de tiro com um armamento estabilizado.
2) Viatura Blindada de Transporte de Pessoal EE-11 Urutu (EE-11 Urutu)
Estudar a revitalização, considerando uma distribuição futura para as OM de Eng Mec, Com Mec e logística, bem como a sua utilização como VBE PC e outras aplicações.
- Viaturas Blindadas Especiais
Estudar as necessidades de completamento das Viaturas Blindadas Especiais, a seguir listadas, ou de aquisição de similares, para operacionalizar as Bda Bld ou garantir um mínimo de MEM para o adestramento:
– Viatura Blindada Especial Socorro Leopard (VBE Soc Leopard);
– Viatura Blindada Especial Engenharia Leopard (VBE Eng Leopard);
– Viatura Blindada Especial Lança Ponte Leopard (VBE L Pnt Leopard);
– Viatura Blindada Especial Posto de Comando M577 (VBE PC M577).
Aqui entram as considerações, após troca de informações com militares que atuam nestes meios de emprego militar, e muitas são consenso com este articulista.
A primeira delas é que o Exército deverá adotar, na totalidade ou em pacotes, a modernização da Equitrom (o chamado CascaTurbo), a segunda é que o sistema TORC 30 deverá ser abandonado.
O Guarani não deverá ir além da versão VBTP-MR (e as versões engenharia que são, basicamente, equipamentos instaláveis na versão VBTP-MR).
A REMAX será integrada aos blindados M-113, aos moldes do que a Marinha do Brasil fez para as viaturas do Corpo de Fuzileiros Navais.
Como fica claro no documento, os M-60 A3 TTS serão usados até virar trator.
Quanto aos Leopard 1A 5BR, o consenso entre os debatedores apontou como imprescindíveis a instalação de uma unidade auxiliar de energia (APU) e de um sistema de ar condicionado; a substituição do periscópio do comandante do carro (do tipo TRP) por um sistema de câmeras, nos mesmos moldes do carro de combate TAM 2C do Exército Argentino (EA); a volta do diesel S-500 ao invés do S-10 como combustível destes carros.
Essa foi uma medida (a troca dos combustíveis) tomada pelo viés econômico, já que o combustível S-500 é o que podemos classificar de “diesel antigo”, ele tem 500 partes por milhão de enxofre (é mais poluente e caro), mas os motores dos Leopard 1A 5BR foram projetados na década de 1960 do século passado, quando esse era o padrão do diesel.
Já o bio diesel ou S-10 tem 10 partes por milhão de enxofre, é mais correto do ponto de vista da sustentabilidade ecológica mas traz como óbice uma performance inferior e o efeito colateral de gerar maior acúmulo de água no sistema de alimentação de combustível dos motores dos Leopard, destruindo a bomba injetora de combustível ou diminuindo significativamente a sua vida útil.
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Pensei que o EB poderia desistir da UT-30BR e não da Torc-30…
Bravo belíssima matéria isso foi uma aula
Se as FFAA não reativar uma indústria nacional de viaturas militares, seja ela para qq destino, inclusive brindadas, passará a vida com dependência e despesas enormes com manutenção. Eu trabalhei por mais de vinte anos com viatura, inclusive brindadas, as dificuldades de hoje são as mesmas de anos atrás. As FFAA só teve um período super econômico com relação a viaturas: quando a ENGESA existia. Parece q ninguém lembra disso.
Quando a espinha dorsal de uma nação, democrática, espirituosa, conceituada por suas magníficas riquezas e maravilhas se pauta numa mínima defesa da sua soberania, nada mais plausível que um up grade no que temos, dentro de um padrão de quinta geração. Há de se levar em conta, como e quem vai fazer! Creio que uma parceria internacional seria o melhor caminho, pois a diversidade é que constrói uma grande nação, assim como no caso supra citado. Quanto à dificuldade em treinamento, basta escolher pessoas certas. Quanto ao valor, que se invista em empresas nacionais com cooperação e no How a ser adquirido pelas parcerias. Valores em segurança não são gastos, mas investimentos. Desde que não tenha a coordenação de políticos e que tenha uma cláusula especifica: Ao desvio de R$1,00, pena inafiançável de 10 anos de cadeia, sem direito algum. Acho que estou sendo utópico demais, mas quem sabe chegaremos lá?!
Os políticos brasileiros realmente não imaginam o país precisando de FAAs modernas e aparelhadas. Acham que nossas riquezas se defenderão por si sós.
Interessante o post, o assunto me deu inspiração para um projeto que estamos desenvolvendo. Gostei!
Acabar com a TORC-30 era esperado já que não há grana ou motivos que justifique termos 2 sistemas similares.
O guarani não indo alem das viaturas especializadas que basicamente são a viatura básico com equipamentos especificos, significa o fim da versão 8×8 de reconhecimento com canhão de 105mm. A mudança de nomeclatura dos cascaveis retrata a realidade desse tipo de veiculo no mundo qie nunca ou quase nunca foi usado para reconhecimento anti-tanque e sim como apoio de fogo a infantária.
Quero aqui agradecer á toda equipe extraordinária do Tecnodefesa. O trabalho de vocês é simplesmente excelente!
Bom, tenho que confessar, li essa matéria com o coração apertado e por um momento, me veio aquela vontade de chorar – por que nossas forças armadas, nossos irmãos de farda, não merece estar passando por essa situação que mais se parece uma história inimaginável dramática. Eu realmente fico muito triste em ver o estado que estão mas ao mesmo tempo me alegro em saber que eles, são pessoas honradas, que respeita o povo brasileiro e acima de tudo, nossa nação. É incrível… mesmo com tão pouco, conseguem fazer maravilhas.
Nossa nação foi saqueada e durante décadas, já nos roubaram 5 Dubais. É difícil de acreditar mas é verdade. Políticos nos roubando e tirando dinheiro daqueles que estão prontos 24 horas por dia para defender á nação do inimigo externo e interno. É lamentável que isso está ocorrendo e vemos certos ”representantes” do povo, mais preocupado com Lagosta do que com nossa Defesa. Rezo á Deus que nossas forças armadas saia de uma vez por todas dessa humilhação que vêm sofrendo e comece a crescer como de fato têm que acontecer.
O BRASIL SÓ EXISTE POR QUE TEMOS FORÇAS ARMADAS!
nooossaaa, discordo. existimos apesar da FFAA
Com os cortes orçamentários sofridos pela defesa, (falo cortes porque contingenciamento não vai ser pois para o corrente ano de 2019, já perdemos o timming), é o que resta ao EB.
Por outro lado a iniciativa de envolver mais empresas nacionais é um alento pois no futuro essas empresas poderão participar de um projeto inteiramente nacional ou em parceria internacional de um projeto já existente dos blindados que o EB visa adquirir.
Se é o que dá para fazer no momento, que seja assim. Pelo menos a modernização desses meios alenta a nossa tropa blindada dando a ela um sopro de modernidade a espera de um futuro melhor.
Sinceramente não entendo o porquê de se uma boa grana, tempo e neurônios para gerar um produto promissor (TOR-30 mm) e depois abandonar o projeto para gerar mais dependência com a adoção da UT-30BR da Elbit Sistema e seu “espelho” nacional AEL sistemas.
Não vejo onde a END, PND está sendo atendida com essa medida.
Com as explicações as autoridades competentes !
Como sempre Doutor Bastos, uma reportagem extremamente relevante e informativa. Sabia da defasagem de nossos meios terrestres, mas não imaginava, que a situação fosse tão precária. Dada a sanha imoral, de certos organismos internacionais, que querem solapar a nossa independência e soberania, faz -se urgente, que invistamos em nossa capacidade dissuasória. As décadas de descaso, dos governos anteriores cobra o seu preço. Aos militares cabe nos dizer do que precisam, é a nós civis proporcionar a eles, tais recursos. Enquanto o país ” investir no guardanapo e economizar no banquete” teremos tempos difíceis.
parabéns pela reportagem do blindado cavalaria mecanizada. que continua assim….Jefferson sampaio
Paulo, nós vemos a Turquia mantendo seus M60 operacionais e inclusive modernizando-os com sua própria indústria. Por que essa ideia de que para ele só resta ser descartado quando a realidade de falta de peças é justamente do Leopard ?
na minha opinião….não investiria um centavo no cascavel. Hoje no mercado há “kit de modernização” tanto para os M60 quanto para o Leo 1A1. Ou venderiamos os M60, modernizariamos os Leo 1A1 e os 1A5. Outra ipotse é vender os M60 e o Leo 1A1, modernizar os Leo 1A5 e comprar um blindado de calibre 120mm aí pode ser os Suecos ou Chineses.
Bastos, uma correção na matéria:
Todo o diesel possui bio diesel na sua composição, seja S 10 (10 partes por milhão de enxofre), ou S 500, ( 500 partes por milhão de enxofre).
Lembrando que o percentual de adição de bio diesel subiu de 10% para 12% recentemente.
A opção do uso do S 500 se dá tão somente pelo melhor poder lubricidade destes ao atuar nos componentes móveis da bomba Injetora do motor MTU.