T&D entrevista – Patrick de La Revelière da MBDA

Criada em 2001 como resultado da fusão de várias empresas europeias a partir da segunda metade dos anos 1990, a MBDA é uma joint-venture multinacional formada por três líderes da indústria aeroespacial e de defesa da Europa –  a Airbus com 37,5%, a BAE Systems com 37,5% e a Leonardo com 25%.

Com produtos que suprem a demanda de superioridade marítima, o domínio do espaço aéreo, a defesa antiaérea e o engajamento terrestre no campo de batalha, a MBDA possui mais de 15 mil funcionários e está presente na França, Alemanha, Itália, Espanha, Reino Unido além de vários escritório no mundo.

Os resultados financeiros de 2023 apontam para 9,9 bilhões de euros em pedido, 4,5 bilhões de euros em receitas e 28 bilhões de euros em carteira de pedidos.

Apesar de não representar a maior fatia de mercado da empresa, a MBDA tem expandido a sua presença na América Latina com a abertura de um escritório no Rio de Janeiro (Brasil).

Nesta conversa com Patrick de La Revelière, vice-presidente de Vendas para América Latina e Canadá, exploramos os detalhes dos planos da companhia para a América Latina.

Tencologia & Defesa – Como a MBDA enxerga hoje o mercado de defesa da América Latina?

Patrick de La Revelière – Comparado com o resto do Mundo, a América Latina está afastada das tensões que existem na Europa, na Ásia e no Oriente Médio. Apesar de alguns problemas territoriais e de fronteiras, é um continente em paz e por isso os orçamentos de defesa de todos os países são mais limitados. A defesa não é a primeira prioridade em face de outras demandas, porém é consenso que todos reconhecem a necessidade de se investir em defesa.

Mas foi levando em consideração a importância deste continente e dos seus países, que a empresa decidiu abrir a MBDA no Brasil, num escritório que tem sede no Rio de Janeiro e que de onde, usando essa base, vamos expandir as operações para toda a região.

Para você ter uma ideia dessa importância e do que isso significa, além do Brasil, a MBDA está abrindo escritórios na Grécia e na Polônia, países que tradicionalmente possuem  os seus pontos de tensão por conta da sua posição geopolítica.

Com o escritório no Brasil, nós queremos desenvolver acordos e cooperações com a indústria nacional brasileira e, a partir dessa sede, trabalhar com toda a América Latina. Além do time de vendas, teremos um núcleo de engenheiros brasileiros e estrangeiros, criando binômios para que possamos tratar de forma conjunta dos temas que vamos conduzir no país.

TD – Quais são os principais segmentos e programas que a empresa está atuando na região?

PR – Em termos de Brasil, e falando de programas com volumes mais expressivos de verbas, temos a defesa antiaérea de média altura. Trata-se de um programa estruturante para o Brasil, eu diria no mesmo nível que o Programa de Submarinos (PROSUB), F-X2 e H-XBR, por exemplo.

Sobre defesa antiaérea estamos falando há muitos anos, desde 2011.*

Nas fragatas da Classe Tamandaré, já estamos com o CAMM Sea-Ceptor.

TD – A MBDA já trabalha com algum programa para ser direcionado para a indústria nacional?

PR – Um exemplo claro é a integração do míssil Enforcer nos drones Nauru 1000c, e isso é um exemplo de uma iniciativa da indústria brasileira e europeia. Já havia um interesse por parte das autoridades em usar os drones como plataforma de reconhecimento do campo de batalha, mas partiu da MBDA e da XMobots a intenção de apresentar um projeto de viabilidade de um drone armado nacional. O Enforcer é o melhor e menor míssil de combate terrestre que a MBDA possui, e nós estamos apostando, com investimentos próprios, nessa solução para apresentar às forças armadas um demonstrador de conceitos. Com essa iniciativa, o Exército Brasileiro está se interessando principalmente pelo fato de já terem comprado o Nauru 1000c, ou seja, não haverá a necessidade de comprar um outro vetor caso decidam pelo armamento.

O projeto do Nauru 1000c armado está em estágio avançado de desenvolvimento da parte conceitual. E esse projeto tem potencial para exportação para a América Latina e é um exemplo da forma que queremos atingir os nossos objetivos com a MBDA do Brasil.

TD – A MBDA já tem algum planejamento de qual será a estrutura e o tamanho da equipe a ser sediada no Brasil?

PR – Por enquanto, vai depender de uma série de motivos, incluindo a celeridade dos programas, o desenvolvimento dos negócios e outros. Mas o interesse e a disposição é clara.

Na América Latina estamos presentes em quase todos os países, como Colômbia, México, Equador, Peru, Argentina, Chile e Uruguai. Mas naqueles que não estamos, como Paraguai e Bolívia, queremos iniciar essa parceria.

* Nota do editor:

Com a Avibras, a MBDA participava das propostas com o AV-MMA, utilizando o ASTROS 2020 para desenvolver o ASTROS AV-MMA. A primeira versão foi apresentada na LAAD 2013, em associação com a MBDA, usando o MICA VL. Na época, o Dassault Rafale era um dos três finalistas do programa FX-2 e aquele míssil fazia parte de seu sistema de armas. Logo após (2014), foi anunciado um novo desenvolvimento conjunto, novamente com a MBDA, utilizando o CAMM, tendo em vista a escolha desse sistema para equipar a Classe Tamandaré, demostrando a capacidade de integrar mísseis diferentes ao seu sistema.

Além disso, a empresa participava com a sua própria solução, o CAMM (Common Anti-air Modular Missile). Seu conceito se baseia na utilização de um vetor que atenda as demandas de defesa antiaérea em solo (Sky Sabre) ou proteção de ponto para navios (Sea Ceptor), com elevada comunalidade entre as versões, o que significa uma redução dos custos de aquisição, operação e complexidade logística.

O Sea Ceptor, escolhido pela Marinha do Brasil para o programa Classe Tamandaré, pode engajar mísseis convencionais com elevado ângulo de ataque na trajetória final ou aqueles navegando a baixíssima altura, menos de 50 metros. Ou, ainda, ser utilizado contra navios de pequenas dimensões provendo capacidade superfície-superfície.

Na variante terrestre, o Sky Sabre atinge velocidade supersônica (Mach 3), é all-weather e com alcance que varia de 1 a 25 mil metros e altura de 10 mil metros, possibilitando a função de curta e média altura em um mesmo sistema. Em voo, o míssil pode receber, informações via datalink antes que o buscador de radar ativo retorne para a aproximação final.

O Exército Britânico começou a utilizá-lo em 2018, com uma composição de um TEL (Transporter Erector Launcher, ou veículo de transporte e lançador vertical), sobre um caminhão MAN SV HX60 8X8, com guindaste para autocarregamento, que pode transportar em até 12 mísseis, e um veículo radar, sobre o mesmo chassi, com o Saab Defence 3D Giraffe AMB. Substituiu os antigos Rapier.

O disparo inicial acontece por gás até que o míssil saia por completo da cápsula. Somente então o motor é acionado, o que resulta em economia do combustível ampliando o raio de ação. Por fim, está em desenvolvimento uma versão com 45 mil metros de alcance, denominada ER.

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