Processo de tomada de decisão em incidente crítico – Final

Conclusão

Por Valmor Saraiva Racorti e Wellington Reis*

Voltando ao primeiro evento descrito neste artigo, fica claro que o repertório encontrado pelo respondedor/tomador de decisão naquele momento era vago em relação ao “suicídio por policial”, mas amplo nas ameaças contra os policiais. Dessa forma, o Sistema 1 agiu de forma rápida e intuitiva, moldando ao incidente presente as emoções e conhecimentos de eventos passados (ataques e mortes de policiais) tomando um COA que significou a sobrevivência do policial.

Talvez, se o mesmo incidente tivesse ocorrido com operadores do GATE, por exemplo, o desfecho poderia ser diferente, pois, intuitivamente, poderiam estranhar a situação de alguém, sozinho invadindo um Batalhão de Operações Especiais armado, dessa forma. Possuindo um repertório de “suicídio por policial”, poderia ter buscado outro COA, obtendo um resultado diverso do apresentado. Claro, que essa afirmação está baseada nas informações deste artigo, não sendo possível ter certeza de seus resultados.

O conhecimento do processo de formação de pensamento e formação da decisão permite a conjectura acima e permite compreender a ação tomada pelo respondedor na situação real. O processo de decisão em um momento de caos é tomado pelo Sistema 1, baseado no conhecimento de eventos passados existentes. Agindo de forma rápida, automática e quase sem esforço (KAHNEMAN, 2012).

As ferramentas utilizadas para tomada de decisão tradicionais, tais como aquelas descritas no início do artigo, tem sua eficácia comprovada em situações onde a compressão de tempo e ameaça à vida não estão presentes, sendo possível acessar o Sistema 2 do cérebro, buscando diversas alternativas baseadas em informações confiáveis ou pelo menos em grande quantidade (brainstorming), criando caminhos e COA diversos de acordo com cada ação que poderia ser tomada (Teoria dos Jogos), mas são ineficientes para um momento decisivo.

Os procedimentos padrões e protocolos são importantes para os momentos ordinários, mas não podem ser utilizados para definir métricas para incidentes críticos, principalmente nos instantes em que apenas o julgamento do respondedor/tomador de decisão deve agir. Nesses casos, os procedimentos padrões perdem a validade.

Apenas a educação e o treinamento dos respondedores (policiais, socorristas, etc.) é capaz de reduzir o tempo necessário para aquisição de um repertório suficiente que permita julgar de forma intuitiva, da maneira correta, uma ação e decidir pelo melhor COA. Fora dessas condições, apenas o tempo e experiência adquirida pode atuar.

Assim sendo, as instituições que trabalham com a função de resolver e decidir na eclosão de um incidente, ou de uma crise, deve investir maior tempo para educação e treinamento na sua formação, com foco na tomada de decisão, do que, verdadeiramente, na tentativa inábil de decorar uma série de protocolos e regulamentos, que em um momento decisivo serão deixados de lado.

Parte 1 do artigo

Processo de tomada de decisão em incidente crítico – Parte 1

Parte 2 do artigo

Processo de tomada de decisão em incidente crítico – Parte 2

Parte 3 do artigo

Processo de tomada de decisão em incidente crítico – Parte 3

(*) Os autores

Valmor Saraiva Racorti, tenente-coronel da PMESP, realizou o Curso Preparatório de Formação de Oficiais em 1990-1991. Graduado em Direito pela UNISUL, é bacharel em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública e possui mestrados em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública e Ciências Policiais e Segurança Pública pelo Centro de Altos Estudos de Segurança “Cel PM Nelson Freire Terra”. Foi comandante de Pelotão ROTA no 1º BPChq de 1994 a 2006, Chefe Operações do COPOM em 2006, Oficial de Segurança e Ajudante de Ordens do Governador do Estado de 2007 a 2014, Comandante de Companhia ROTA no 1º BPChq de 2014 a 2016 e Comandante do GATE de 2016 a 2019. Com atuação em mais de 500 incidentes críticos, atualmente comanda o Batalhão de Operações Especiais, que compreende o GATE e o COE.

Wellington Reis é capitão da Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP), atuou nas rebeliões ocorridas em 2006 no Estado de São Paulo, pelo 3º Batalhão de Polícia de Choque, atuou no Grupo de Ações Táticas Especiais (G.A.T.E.) em ações de retomada de reféns e contrabombas e, atualmente, lotado no Centro de Material Bélico da PMESP. Bacharel em direito e pós graduado em Administração pelo Insper. Pesquisador acerca de gerenciamento de incidentes, ações táticas especiais e armamento e tiro.

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