Informação e inteligência aplicadas aos processos decisórios em incidentes críticos – Parte 4/4

Por Valmor Saraiva Racorti (*)

5 – AS SETE CARACTERÍSTICAS DA BOA INTELIGÊNCIA

Embora existam muitos fatores para a verificação de informações, sete predominam.

Objetividade. A inteligência objetiva é a mais livre possível de preconceitos, distorções, sentimentos ou interpretações pessoais. Como a informação quase sempre pode ser interpretada de mais de uma maneira, é difícil fatorar predileções humanas com absoluta certeza. Até a escolha das palavras em um relatório pode distorcer o entendimento. Por exemplo, considere as diferenças sutis, mas significativas, entre raiva, fúria e ira. É fundamental que as informações destinadas a informar um tomador de decisão transmitam precisamente o significado sem viés.

A segunda característica é a completude. Ser completa não significa exaurida, apenas que as informações sejam suficientes para permitir que um tomador de decisão tire conclusões confiáveis. De fato, é impossível remover completamente a incerteza em situações táticas, no entanto, devem ser feitas tentativas para reduzi-la, a insistência em “todos os fatos” condena a resposta a uma reação, porque a situação muda mais rapidamente do que pode ser exaustivamente avaliada.

A terceira característica é a precisão. As informações devem estar factualmente corretas, pois é necessário tomar decisões sobre qualquer informação disponível.

A quarta característica é a pontualidade. Essa é tão crítica para a boa inteligência que o ditado “atrasado é o mesmo que ausente” é frequentemente citado para enfatizar esse aspecto. Alguns tipos de informações são tão sensíveis ao tempo que são repassadas imediatamente aos tomadores de decisão sem serem minuciosamente examinadas. Por exemplo, relatórios de um suspeito fora de um confinamento podem ser transmitidos diretamente ao comandante do incidente antes de qualquer investimento adicional em tempo e esforço. No mínimo, isso significa que os formatos padrão para relatórios e resumos de inteligência devem ser obrigatórios e, idealmente, o texto é aumentado com gráficos, mapas, fotografias, diagramas e gráficos.

A quinta característica é a relevância. Embora seja fácil pensar em relevância em termos absolutos, não é tão simples quando relacionadas às operações grandes e prolongadas. Nem toda inteligência é igualmente significativa para todas as funções ou componentes organizacionais. Além disso, diferentes escalões da organização de respostas precisarão de diferentes graus de detalhe. Como um atributo intrínseco da informação é o fato de ser um consumidor (na medida em que consome a atenção humana), sobrecarregar um tomador de decisão com informações supérfluas ou imateriais não é apenas uma distração, mas é contraproducente.

A sexta característica é a disponibilidade. Deve estar acessível e num formato utilizável para fornecer entendimento aos tomadores de decisão. Alguma inteligência é tão sensível que deve ser mantida em segredo; mas o segredo é a antítese da disponibilidade. Consequentemente, o aparato de inteligência deve ser projetado para fornecer proteção as informações confidenciais sem negar o acesso aos tomadores de decisão que delas necessitam.

A sétima característica é que ela deve ser utilizável. Embora isso possa parecer evidente, está se tornando cada vez mais complicado à medida que dependemos cada vez mais dos dados eletrônicos. Além da variedade de dispositivos de armazenamento portáteis, o número de aplicativos de software incompatíveis é prolífico. Usável também significa que fornece ao tomador de decisão um entendimento claro e conciso, sem qualquer investimento adicional de tempo e esforço.

Em maior ou menor grau, cada uma dessas características é necessária para uma boa inteligência, mas nem todas são iguais o tempo todo. Por exemplo, em algumas circunstâncias, a importância da pontualidade pode superar a necessidade de ser objetiva e completa. 

6 – CONCLUSÃO

Os incidentes críticos podem ultrapassar rapidamente diversas áreas e entre instituições enquanto se expande para vários domínios e continuará a desafiar os nossos processos e estruturas tradicionais e lineares de resposta às crises. Em geral, eles foram projetados para uma atuação da Era Industrial em escala e moldados por suposições anteriores sobre comunicações, massa, territorialidade e alcance.

Para lidar com ambientes operacionais complexos, incertos e em rápida mudança, necessitamos de informações ágeis e em tempo real, que de fato aperfeiçoem os nossos mecanismos operacionais, permitindo uma melhor estratégia pelo tomador de decisão subsidiada pela inteligência conectada a ações táticas, em todos os domínios.

O uso de informações atualizadas permite que o gestor do incidente entenda os fatos e reconheça o seu significado tendo uma visão mais ampla do problema. Aplicando julgamento a esse insight, geramos compreensão e uma consciência compartilhada com todos que atuam na solução do incidente, como um sistema sociotécnico com pessoas, processos, estruturas, tecnologia e inteligência, para se adequar à Era da Informação e ser capaz de explorar as vantagens cognitivas tanto humanas quanto da máquina, visando a preservação da vida e a otimização de recursos.

(*) Tenente-coronel da Polícia Militar do Estado de São Paulo, trabalhando atualmente como Comandante do Batalhão de Operações Especiais da PMESP (COE/GATE) / Doutor em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública pelo Centro de Altos Estudos da Polícia Militar. Bacharel em Direito pela Universidade Cruzeiro do Sul.

 

Veja também

 

Informação e inteligência aplicadas aos processos decisórios em incidentes críticos – Parte 1/4

Informação e inteligência aplicadas aos processos decisórios em incidentes críticos – Parte 2/4

Informação e inteligência aplicadas aos processos decisórios em incidentes críticos – Parte 3/4

 

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