Viatura Blindada de Combate Morteiro (VBC Mrt), a próxima versão do Guarani

Dentro do Programa Estratégico do Exército (Pgr EE) Guarani, do Escritório de Projetos do Exército (EPEx), que visa transformar as unidades militares (OM) de infantaria motorizada em mecanizada e modernizar as de cavalaria mecanizada, segue seu cronograma de modernização da Força Terrestre, apesar da crise causada pela pandemia do coronavírus (COVID-19), e está perto de abrir processo licitatório para a escolha do morteiro de 120mm com a capacidade de recuo atenuado para a Viatura Blindada de Combate – Morteiro, Média Sobre Rodas (VBC Mrt-MSR) Guarani, do subprograma Projeto Viatura 6×6.

É importante destacar que o impacto da atual crise causou nos programas do EB: a VBTP 6×6 com implementos de Engenharia, cujas duas primeiras já estavam sendo modificadas no Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP), tiveram os trabalhos interrompidos, devido os engenheiros da Pearson Engineering Ltd voltarem a Inglaterra às pressas, adiando todo o processo para o próximo semestre.

No período de 21 a 23 de novembro de 2018, o Centro Tecnológico do Exército (CTEx) sediou a 3ª Reunião do Grupo de Trabalho (GT) para Formulação Conceitual do Projeto de Obtenção da VBC Mrt-MSR, pertencente à Nova Família de Blindados (NFBR) do Pgr EE Guarani. A nova versão da viatura da Família será equipada com sistema de morteiro embarcado e destinada a dotar os Pelotões e Esquadrões de Morteiro Pesado orgânicos dos Batalhões e Regimentos das Brigadas de Infantaria e Cavalaria Mecanizadas, respectivamente, com a previsão de 4 VBC Mrt-MSR por Pelotão, que da uma demanda de, pelo menos, cerca de 60 veículos.

Como resultado desses trabalhos foram criados os Requisitos Operacionais (RO) e Técnicos, Logísticos e Industriais (RTLI), lançados pelo Estado Maior do Exército (EME), em agosto de 2019, e cujo início do processo de seleção do armamento principal deverá ocorrer no próximo semestre deste ano. As principais características estipuladas no RO são:

  • Será um “morteiro pesado de calibre 120 mm (cento e vinte milímetros) no padrão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Padrão OTAN), com sistema automático de posicionamento em elevação e azimute, alcance mínimo de 500 m (quinhentos metros) e alcance máximo, de no mínimo 6.500 m (seis mil e quinhentos metros) empregando, pelo menos, munição Auto Explosiva (AE)” [EXÉRCITO, 2020a];
  • Deverá possuir uma cadência máxima de, pelo menos, 10 tiros por minuto (TPM);
  • Sistema de pontaria automática, após receber coordenadas do alvo pela integração do sistema de comando e controle e sistema de gerenciamento e direção de tiro ou pós inserção manual das coordenadas do alvo no computador balístico, mas podendo fazer pontaria em modo manual;
  • Executar o primeiro tiro, estando o morteiro inicialmente em posição de transporte e a viatura parada, com as escotilhas fechadas, em um alvo designado, em até 60 segundos;
  • Possuir a guarnição de 4 militares (motorista, comandante, atirador e auxiliar) e capacidade de transportar, no mínimo, 40 tiros de morteiro em campanha, armazenados no interior da viatura, sendo 6 para pronto emprego.

 

AS OPÇÕES DO MERCADO

Apesar da concorrência para a escolha do armamento ainda não ter sido liberado, vários fabricantes internacionais do segmento já ofereceram seus produtos, alguns procurando parcerias nacionais.

A ARES Aeroespacial e Defesa, empresa do grupo israelense Elbit Systems, está oferecendo o morteiro CARDOM, um sistema autônomo e informatizado, para montagem em blindados leves e médios, com um peso de 1.150 kg, com alcance máximo com munição convencional de 7.000 metros e capacidade de executar o primeiro disparo em 30 segundos. A versão manual possui uma cadência máxima, com uma equipe bem treinada, de 16 TPM por um período curto, e 4 TPM para tiros sustentados, porem ela apresentou uma versão semiautomática com uma cadência sustentada de 10 TPM.

A ARES apresentou o CARDOM na LAAD 2013 (Foto Roberto Caiafa)

Uma das vantagens desse sistema é a possibilidade de ser montado no Brasil, através de processos CKD (Completely Knock-Down), que seria a montagem através de kits da fábrica, utilizando alguns componentes do mercado nacional, e garantindo uma maior independência em relação da capacidade logística de manutenção dessas peças.

Na LAAD 2017 a ARES apresentou a versão CARDOM com um sistema de carregamento semiautomático (Roberto Caiafa)

Esse sistema é utilizado pelo Exército dos EUA, nos blindados 8×8 M1129 da família Stryker, e pelas forças de defesa de Israel, países da OTAN e diversos outros.

A Technicae Projetos e Serviços Automotivos, subsidiária da ST Engineering, de Singapura, está oferecendo o SRAM MKII. É um sistema semiautomático, com o peso de 1.200 kg, uma cadência de 10 TPM, alcance máximo com munição convencional de 9.000 metros e capacidade de executar o primeiro disparo em 60 segundos. Esse sistema foi instalado nos blindados 4×4 RG31 Mk5 e Mk6E do Exército dos Emirados Árabes Unidos.

Uma maquete do VBC Mrt Guarani mostrando o sistema SRAMS MKII no estande da ST Engineering, na LAAD 2019 (Roberto Caiafa)

A empresa já procurou o Arsenal de Guerra do Rio (AGR) para propor a transferência de tecnologia, para que esse morteiro seja fabricado nessa OM.

O AGR, situado no bairro do Caju, no Rio de Janeiro/RJ, possui um amplo parque fabril e total domínio da tecnologia de construção de morteiros convencionais, já fazendo isso há décadas, e atualmente fabricando as peças de 120mm (raiado), 81mm e 60mm, todos já em uso pelo EB. É importante destacar que, caso o AGR seja o fabricante do sistema de morteiro de recuo atenuado adotado nos veículos da Família Guarani, ele poderá, no futuro fazer o mesmo nas VBTP M113, ou no veículo que o substituirá, atendendo a uma antiga demanda dos quatro  Regimentos Infantaria Blindados do EB.

A francesa TDA Armements, do Grupo Thales, está oferecendo o 2R2M (Rifled Recoiled Mounted Mortar), um sistema com peso de 1.500 kg, pode ser instalado no compartimento traseiro de veículos blindados sobre rodas ou sobre rodas de 10 a 15 toneladas que, graças ao seu sistema de recuo, absorve até 75% da força. Seu sistema computadorizado tiro, juntamente com um sistema de navegação, permite que o primeiro tiro seja disparado menos de um minuto após a parada do veículo. O carregamento semiautomático garante a velocidade de disparo de 10 tiros por minuto, com um alcance máximo de que varia de 7.700 metros, para munição convencional, a 13.000 metros com assistida e há a opção de uma munição assistida, guiada a laser, com o alcance de 15.000 metros.

Thales 120mm 2R2M System (Thales Group)

O 2R2M foi adotada pelo Exército Italiano e instalada no chassi Freccia 8×8, pelo Exército da Malásia e instalado no ACV-19, e nos VAB 6×6 dos Exércitos de Omã e Arábia Saudita. Esse sistema também foi selecionado para seja instalado em uma novos 54 blindados Griffon 6×6 MEPAC do Exército Francês, dentro do Projeto Skorpion.

A suíça RUAG MRO Switzerland apresentou em 2015 o COBRA Mortar System, uma evolução de seu sistema Bighorn, em uso desde 1998. É um sistema semiautomático, com peso de 1.350 kg, com uma cadência de 8 a 12 TPM, mas que, de acordo com a empresa, permite disparar 4 tiros em menos de 20 segundos, e capaz de executar o primeiro disparo em cerca de 30 segundos. Possui um alcance, com munição convencional de 9.000 metros, mas podendo chegar a 16.000 metros com munição assistida.

O Mörser 16: sistema RUAG COBRA 120mm Mortar System montado em um GDELS Piranha V 8×8 (RUAG)

Recentemente o Exército Suíço aprovou o sistema de armas chamado de Mörser 16, que é o sistema RUAG COBRA montado em blindado GDELS Piranha V 8×8. De acordo com o planejamento, serão adquiridos 32 desses sistemas que deverá entrar em serviço em 2024.

Outro sistema interessante é o ALAKRAN, da espanhola New Technologies Global Systems (NTGS), fundada em 2002, cujo marketing do produto o chama de “o sistema de morteiro autopropulsado mais leve do mundo”.

Trata-se de um sistema realmente inovador, que é montado em um módulo onde toda a peça é colocada fora do veículo e utilizando o solo para absorver toda a energia do recuo, como um morteiro tradicional. Esse método permite que todo o sistema de 120mm pese em torno de 300 kg, o que permite que ele seja instalado em veículos muito leves, como foi nas Land Rover 110, Jeep J8 e Agrale Marruá AM-21, utilizados pela empresa para demonstrar seu produto.

O sistema é possui uma cadência máxima de 12 TPM, por um período curto, e 4 TPM para tiros sustentados, têm alcance máximo com munição convencional de 9.000 metros e capacidade de executar o primeiro disparo em cerca 35 segundos e, de acordo com a empresa, entrar em posição, disparar dois tiros em alvos diferentes e sair da posição em pouco mais de um minuto.

Esse sistema já foi instalado em no blindado ucraniano Bogdan Bars 8 MMS 4×4, já estando em operação no Exército Ucraniano, e no KSSB Buraq 4×4 malaio.

Com a previsão que a demanda de produtos militares seja reduzida pela crise econômica prevista, devido a pandemia do coronavírus, provavelmente diversos outros fabricantes devem se manifestar, como a S&T Dynamics sul-coreana e a NORINCO (North Industries Group Corporation) chinesa, que dará oportunidade ao EB a chance de conseguir um bom sistema, com algum tipo transferência de tecnologia que nos dará mais independência logística, a um preço melhor. E vamos esperar, e acompanhar, os próximos passos desse processo.

 

REFERÊNCIAS

BASTOS, Paulo Roberto Jr. Exército: O futuro das forças blindadas. São Paulo, Brasil: Revista Tecnologia & Defesa nº 160, 2020.

EXÉRCITO. PORTARIA Nº 238-EME, EB20-RO-04.055 – Requisitos Operacionais Viatura Blindada de Combate Morteiro – Média Sobre Rodas (VBC Mrt – MSR). Brasília, Brasil: Estado Maior do Exército, 2019.

________. PORTARIA Nº 248-EME, EB20-RTLI.04.057 – Requisitos Técnicos, Logísticos e Industriais Viatura Blindada de Combate Morteiro – Média Sobre Rodas (VBC Mrt – MSR). Brasília, Brasil: Estado Maior do Exército, 2019.

ARES. CARDOM. Disponível em http://www.ares.ind.br/new/pt/sistemas-terrestres/cardom.php

NTGS. Mortar Mounted in Light Vehicle – ALAKRAN. Disponível em http://www.ntgs.es/en/morteroembarcado.htm

RUAG. COBRA Mortar System. Disponível em https://www.ruag.com/en/products-services/land/vehicles-weapon-systems/indirect-fire-artillery/ruag-cobra-mortar-system

ST ENGINEERING. 120mm Super Rapid Advanced Mortar System (SRAMS). Disponível em https://www.stengg.com/en/products-solutions/120-srams

THALES GROUP. Weapon systems & munitions. Disponível em https://www.thalesgroup.com/en/global/activities/defence/air-forces/weapon-systems-munitions

 

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Comentários

9 respostas

  1. Acredito que deva ficar entre o Cardom ,o Ruag Cobra e o SRAM MKII (cuja proposta de transferencia de tecnologia para construção no AGR é tentadora).

  2. Achei bem interessante proposta do espanhol Alakran. Deve ter preço competitivo, entrega o que se propõe. Se for fabricado aqui dara uma grande capacidade e versatilidade de varias plataformas devido seu baixo peso. EB tem que testar todos. Pelo escrito acima, sistema israelense e usuários do mesmo são uma credencial de respeito do mesmo.

    1. Apoio de Fogo nos Batalhões de Infantaria Mecanizada e Regimentos de Cavalaria Mecanizada, das Brigadas Guarani.

  3. O sistema ALAKRAN é melhor para a realidade brasileira. Com certeza devido ao peso deve exigir menores alterações na viatura. Seria interessante a viabilidade nas viaturas m113 e nos marruá.

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