Projeto Joya, a opção colombiana para Artilharia AP SR

Por Erich Saumeth (*)

 Dentro dos processos de modernização e atualização realizados pelas Forças Armadas Colombianas, que reforçou as capacidades (limitadas) existentes e aumentou o valor estratégico da arma de Artilharia, foram adquiridos vários sistemas, incluindo os obuseiros espanhóis APU-SBT de 155/52, de 155 mm, os franceses LG-1 MK-III, de 105 mm, e morteiros turcos HY-12, de 120 mm, implantados principalmente em unidades localizadas na fronteira.

No entanto, e apesar de alguns importantes projetos não terem sido concluídos, o alguns protótipos foram concluídos, visando criar soluções que complementem as capacidades operacionais da Força.

Um exemplo disso foi,no ano de 2017, a apresentação  de um sistema de artilharia autopropulsado sobre rodas que se tornou uma alternativa, o JOYA SAA-1.

Desenvolvimento

O Projeto Joya consistiu no desenvolvimento e fabricação de uma viatura blindada de combate obuseiro autopropulsado sobre rodas, equipado com um obuseiro Nexter LG-1 MK-III, de  105 mm e 33 calibres, sobre um caminhão M923A2 BMY, 5 Ton, 6X6, Cargo Truck. Após uma concorrência por menor valor, foram escolhidas as empresas colombianas Multiservicios Mecanic Center SAS e Farmaq SAS, para a realização destes trabalhos.

Os custos para o desenvolvimento do protótipo foram de aproximadamente US$ 27 mil e o objetivo do projeto era dotar o Exército de um sistema de artilharia autopropulsada para fogo indireto, desenvolvido localmente.

O Joya é composto por dois subsistemas: o sistema de disparo, que vem com o obus LG-1, e pelo sistema hidráulico, que deve garantir que os cilindros de estabilização o peso de todo o sistema. Este é referente a soma da massa do caminhão (9.000 Kgf), munição armazenada (1.000 Kgf), obus (1.000 Kgf), blindagem, armamento de apoio, sistemas de comunicação, servidores do sistema (1.000 Kgf), e o recuo do disparo (calculado em 2.000 Kfg), totalizando 14.000 Kgf, distribuídos nos dois atuadores de 15.000 Kgf, obtendo,segundo o Exército, um fator de segurança em projeto de 2,1.

O processo de engenharia foi realizado com uma adaptação mecânica ao veículo M923A2, para disparar o obus de 105 mm de sua estrutura. O desenvolvimento envolveu o reforço do chassis, a instalação de um sistema hidráulico, a construção de uma base para obus e uma cobertura com contentores na carroceria e no chassi do veículo.

Em relação à plataforma, o motor do veículo tem capacidade para transportar uma carga de até cinco toneladas, mais o peso próprio do caminhão (nove toneladas), atendendo assim aos requisitos para a efetiva transferência do obus, além e graças a seu acionamento 6X6, possue tração e torque adequados para o tipo de manobras que seriam necessárias para percorrer determinados tipos de terreno e como pôde ser visto na demonstração realizada.

O Exército apoiou este desenvolvimento tecnológico o justificando na atual transformação daquela força, segundo a qual está a evoluir o conceito operacional multimissão, potenciando o uso conjunto de armas combinadas, dotadas de elevada mobilidade, com tecnologias modernas e sustentáveis . Os recursos destinados a este programa materializaram-se no desenvolvimento industrial do primeiro protótipo, um orçamento que foi executado através de um contrato de aquisição de materiais.

A construção foi baseada em um trabalho de projeto de engenharia que incluiu cálculos de tensão, projeto mecânico de cada um dos componentes e validação funcional com ferramentas de desenho assistido por computador (CAD).

A fabricação do protótipo, com base no projeto detalhado, ficou a cargo de um grupo de oficiais e suboficiais do Batalhão de Manutenção No. 1 “José María Rosillo”, aproveitando a infraestrutura industrial ali instalada e a formação profissional dos membros da aquela instituição, liderada na época pelo então diretor do projeto, coronel Norberto Salgado, o engenheiro de projeto e construção (em mecatrônica), o primeiro subsargento Jhon Castillo, e o segundo sargento Jorge Rodríguez e o terceiro cabo Cristian García, os dois últimos em responsável pela montagem física do sistema.

Parte do desenvolvimento tecnológico do projeto consistiu na execução de testes de campo do sistema, cujas primeiras ocorreram no forte militar de Tolemaida, sendo a primeira em 2016 e a segunda em 2017, onde 40 projéteis foram disparados à distâncias escalonadas de 2, 7,12 e 16 quilômetros, atingindo todos os alvos e garantindo a estabilidade de seu sistema hidráulico.

Imagens: Erich Saumeth Cadavid ©

O SAA-1 possui um navegador inercial, dois contêineres para munição, uma metralhadora Browning M-2HB-QCB, de 12,7×99 mm (localizada acima da cabine), um software de cálculo de dados de disparo e um de comando e controle e um sistema de comunicação criptografada.

De acordo com o Exército, os altos custos de sistemas similares dificultam não apenas sua aquisição, mas também sua manutenção e geram dependência tecnológica e de peças de reposição, porém, uma das uma das desvantagens táticas do SAA-1 é a perda de mobilidade aerotransportada, devido ao aumento do peso do veículo, justificando o projeto então no fato de poder ser implantado em terrenos onde o uso de tratores ou reboque não é o mais ideal para a transferência dessas peças. Adicionalmente, consideram que este tipo de sistema tem maior probabilidade de sobrevivência devido à sua mobilidade e rápido tempo de resposta.

Com base no exposto, o Exército Colombiano solicitou a formação de uma bateria com quatro  unidades do JOYA SAA-1, otimizando os recursos existentes e evitando a compra de sistemas similares, alcançando também um aumento nas capacidades estratégicas de defesa, alinhando-o  com a visão multimissão e contando com o apoio dos fabricantes, muito interessados no desenvolvimento do projeto, patenteado pelo Exército.

Em dezembro de 2021, o JOYA SAA-1 foi colocado em ações de fogo real, cumprindo os objetivos de sua missão e levantando um novo pedido do Exército para aquisição de mais unidades deste sistema, que estão sendo construídos nas instalações da Escola de Artilharia “General Carlos Julio Gil Colorado” (ESART).

Testes de tiro realizados em dezembro e 2021 (Erich Saumeth Cadavid ©)

 

Características técnicas

  • Tubo: 105 mm / L33;
  • Alcance: munição US M1 de 1,6 a 11,4 Km / munição Nexter HE-ER G2 de 7,3 a 18,5 quilômetros;
  • Cadência de disparos: 12 TPM;
  • Tipo de disparo: Bloco deslizante vertical com mecanismo de acionamento elétrico, com recuo hidropneumático, velocidade máxima de 708 m/s;
  • Quantidade de servomotores: cinco, mas pode operar com apenas três;
  • Comprimento: 7,8 metros;
  • Altura: 3,0 metros;
  • Largura: 2,48 metros;
  • Peso total: entre 10,5 e 11 toneladas.

(*) Erich saumeth Cadavid é analista e pesquisador colombiano em assuntos de defesa, segurança e geopolítica, e colaborador da revista Tecnologia & Defesa na Colômbia.

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