“Pra que outros possam viver”

Esta frase impactante, que é o lema de várias unidades de resgate pelo mundo, foi dita por um oficial do Exército Brasileiro quando indagado sobre o motivo de sua presença no Rio Grande do Sul (*)

O Estado do Rio Grande do Sul passa pela pior tragédia ambiental de sua história, com chuvas e ventos por mais de uma semana, que ocasionou um completo desastre humanitário, com a perda de muitas vidas e a retiradas de milhares de pessoas de suas casas. Além disso, o rompimento de barragens, destruição de pontes e estradas tem dificultado muito o socorro aos necessitados.

Para termos uma noção da dimensão desta calamidade, até o momento da confecção deste artigo, dos 497 municípios gaúchos, mais de 340 sofreram alguma conseqüência dos temporais, sendo que muitos ainda estão isolados ou mesmo submersos, com um saldo de 78 mortos, 105 desaparecidos e centenas de feridos, além de mais de 100.000 pessoas desalojadas, mas esses números sobem o tempo todo, demonstrando a gravidade da situação.

Imediatamente o socorro veio por meio das forças estaduais, principalmente pela defesa civil e Brigada Militar do Rio Grande do Sul, assim como o Exército Brasileiro (EB), que imediatamente deu inicio à Operação Sempre Prontos, acionando todas as unidades do Comando Militar do Sul (CMS), porém a dimensão desta tragédia exigia um esforço ainda maior, sendo rapidamente acionada a Operação TAQUARI II.

OPERAÇÃO TAQUARI II

Em resposta à crise, o Ministério da Defesa (MD) ativou o Comando Operacional Conjunto Taquari II, para atuar nos municípios em situação de calamidade pública, tendo sido designado para seu comando o general de exército Hertz Pires do Nascimento, o comandante militar do Sul, coordenando das tropas das Forças Armadas, policiais, defesa civil e demais órgãos Federais, Estaduais e Municipais.

A primeira fase da Operação Taquari ocorreu em setembro de 2023, em resposta às fortes chuvas que atingiram o Estado do Rio Grande do Sul. Na época, militares das Forças Armadas foram mobilizados para atender aos municípios afetados e desempenharam atividades de busca e resgate, distribuição de suprimentos e reconstrução. A experiência prévia da Taquari I subsidiou a Taquari II, facilitando a resposta das Forças Armadas nesta emergência.

De acordo com o ultimo balanço da Operação Taquari II, disponibilizado hoje no meio do dia, estão sendo empregados 13.600 militares, com 951 viaturas, 30 aeronaves e 182 embarcações, atendendo 265 municípios e resgatando mais de 8.000 pessoas.

No dia 02, um KC-390 Millennium da Força Aérea Brasileira (FAB), o FAB 2858, pertencente ao 1º Grupo de Transporte de Tropa (1º GTT), “Esquadrão Zeus”, pousou na Base Aérea de Canoas (BACO), carregando a estrutura do Hospital de Campanha (HCAMP) do EB, com 40 leitos de enfermaria e suporte para o socorro às vítimas, que foi instalado no município de Lajeado, no Vale do Taquari. Outro foi instalado no município de Estrela.

As ações imediatas foram o resgate das pessoas, muitas ilhadas e estando em locais de difícil acesso, devido às condição do clima e da infraestrutura destruída, sendo comum o emprego dos botes táticos das unidades de Engenharia do EB e embarcações da Capitania dos Portos do Rio Grande do Sul. Também se deve dar destaque ao sistema de portada IRB (“Improved Ribbon Bridge”), pertencente ao 12º Batalhão de Engenharia de Combate (12º BE Cmb Bld), ”Batalhão Marechal Enéas Galvão”, de Alegrete (RS), que esta utilizando seus potentes empurradores para conseguir chegar as pessoas ilhadas no bairro Arquipélago, em Porto Alegre, um conjunto de 16 ilhas que foi literalmente “varrido” pela inundação.

Alem de caminhões pesados (5 Ton) e meios de engenharia, o Exército também está operando diversas viaturas blindadas na região, como a VBE Soc Bergepanzer 2 (da família Leopard), pertencente ao 4º Balatão Logístico (4º BLog) , que atua no apoio aos bombeiros os bairros alagados de Santa Maria, e de dezenas de viaturas blindadas de transporte de pessoal (VBTP) 6X6 Guarani, que estão atuando em todo o Estado, com destaque para as pertencentes ao 6º Esquadrão de Cavalaria Mecanizado (6º Esqd C Mec), que, junto com militares do 1º Regimento de Carros de Combate (1º RCC), realizaram um complicadíssimo resgate na cidade de Itaara, utilizando o blindado como ambulância.

Militares do da 11ª Companhia de Comunicações Mecanizada (11ª Cia Com Mec), da cidade de Santiago, também estão utilizando suas VBTP 6X6 Guarani em apoio a companhia CPFL no restabelecimento da energia elétrica nos municípios de Mata e São Pedro do Sul, na Região Central Estado.

O Guarani vai onde outras viaturas não vão

Mas a atitude mais inusitada de todas ocorreu no dia 03 de maio, com o envio de quatro VBTP-SL M113BR, que estavam no 8º Regimento de Cavalaria Mecanizado (8º RC Mec), “Regimento Conde de Porto Alegre”, para a tentativa desesperada de impedir o rompimento da comporta de segurança do Guaíba localizada na zona norte de Porto Alegre, o Portão 14. A ideia era posicionar os blindados de forma que seu peso ajudasse a escorá-la, para que as águas que estavam se acumulando não invadissem a cidade. Infelizmente a comporta se rompeu antes que os blindados chegassem, mas mostra a coragem dos militares de não medir esforços para auxiliar a população, usando todos os meios disponíveis.

AJUDA QUE VEM DOS CÉUS

Sem dúvida a parte mais midiática destes resgates ficou por conta dos inúmeros salvamentos aéreos realizados pelos helicópteros das Forças Armadas e Paramilitares que estão atuando na região.

O resgate que emocionou o mundo

Talvez, o mais emblemático tenha sido o resgate de família que estava com um bebê em um telhado, em uma localidade entre Bom Retiro do Sul e Cruzeiro do Sul, por um HM-1A Pantera pertencente ao 2º Batalhão de Aviação do Exército (2º BAvEx). O segundo-sargento Andrwis Victor Nunes, que pegou a criança e que deixou uma filha de quase mesma idade em Taubaté (SP), relatou “segurando aqui aquele bebê como uma joia rara”, mostrando o lado humano destes militares.

Apesar das inúmeras restrições de vôo, causadas pelas terríveis condições atmosféricas e baixa disponibilidade de combustível e suprimentos, as Forças Armadas e de Segurança Pública conseguiram colocar no ar diversas aeronaves para socorrer a população gaúcha o mais rápido possível, tendo em linha de voo no dia de ontem (ou em deslocamento):

O Exército foi a Força que disponibilizou o maior numero de Helicópteros

Marinha do Brasil:

  • Um UH-15 (H225M Caracal) matrícula N-7203;
  • Um UH-12 Esquilo (HB-350BA), matricula N-7050;

Exército Brasileiro:

  • Um HM-4 Jaguar (H225M Caracal), matrícula EB5008;
  • Três HM-1A Pantera (AS-365K2), matrículas EB2013 e EB2019;
  • Dois HA-1A Falcão (AS-550A2 Fennec), matrículas EB1020 e EB1027;

Força Aérea Brasileira:

  • Dois H-60L Black Hawk  (Sikorsky S-70L);
Apesar de apenas dois, os Black Hawk da FAB desempenharam ações cruciais, como a evacuação aeromédica de uma menina de 13 anos, internada em um hospital de Cachoeira do Sul, com sangramento cerebral e necessitando de ventilação mecânica, para o Hospital Universitário de Santa Maria.

Polícia Rodoviária Federal:

  • Um Leonardo AW119Kx Koala, prefixo PR-FKG (“Patrulha 17”);

Polícia Militar do Estado de São Paulo:

  • Dois H125 Esquilo, prefixos PS-GER (“Águia 12”) e PR-PUB (“Águia 24”);
  • Um H135, prefixo PR-UBI (“Águia 33”);

Polícia Militar de Santa Catarina:

  • Um H125 Esquilo, prefixo PR-HGH;

Polícia Militar do Paraná:

  • Um H130, prefixo PR-CBH (“Falcão 08”);

Polícia Militar de Minas Gerais:

  • Um H125 Esquilo, prefixo PP-EJS (“Pégasus 22”)

Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais:

  • Um H125 Esquilo, prefixo PP-SAV (“Arcanjo 06”); e

Corpo de Bombeiros Militares do Estado do Rio de Janeiro:

  • Um Leonardo AW169, prefixo PP-UBM (“Bombeiro 07”).
O UH-15 N-7203, um dos dois helicópteros da Marinha presentes

Além destes está prevista a chegada de mais helicópteros do Exército, de diversas Forças Policiais e um Bell 212 Twin Huey, da Força Aérea Uruguaia.

OPINIÃO – E O FUTURO?

As ações emergenciais feitas até o momento são apenas a “ponta do iceberg” de um problema que se arrastará por anos: a reconstrução do Estado do Rio Grande do Sul.

Várias unidades de Engenharia do Exército já começaram a tentar instalar pontes em regiões isoladas onde as chuvas já baixaram, mas isso é só um paliativo, e milhões de reais serão necessários para colocar o Estado novamente em condições de existir como uma unidade federativa ativa e atuante.

Apesar de heróicas demonstrações de força de homens e mulheres, militares e civis, muitos que deixaram suas famílias, sendo que algumas também foram impactadas por este terrível desastre, é impossível ficar impassível a falta de meios adequados para o cumprimento de diversas missões.

É lógico que em um desastre dessa magnitude ninguém estaria 100% preparado, mas a baixa disponibilidade de alguns equipamentos cobrou um alto preço nesse momento, o que nos deixa uma importante reflexão: o que a sociedade realmente esperamos de nossas Forças Armadas?

Na constituição está “defender a honra, a integridade e a soberania da Pátria contra agressões externas e garantir a ordem e a segurança internas, as leis e o exercício dos poderes constitucionais”, mas antes disso, as Forças Armadas devem defender sua população, principalmente em situações como a que ocorreu no Sul (e que deve ocorrer com mais freqüência em diversos outros locais de nosso território), porém não poderão executar essa tarefa, com a eficiência desejada, com seus constantes cortes de recursos.

As Forças Armadas precisam ter seus planejamentos de substituição (e manutenção) de meios respeitados para que continuem cuidado de nosso povo, pois se tivéssemos mais aeronaves em condições operacionais, mais pessoas seriam salvas.

Ademais, só podemos dizer OBRIGADO a esses bravos heróis e heroínas que sempre cuidam de nós.

(*) O titulo do texto é referência a uma musica cristã da banda “Livres para Adorar”, citada pelo oficial do EB, por isso o uso de “Pra” e não “Para”, utilizado no lema do PARA-SAR.

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Respostas de 5

  1. Bravo zulu a todos os militares , bombeiros equipes da defesa Civil envolvidos nessa tragédia humanitária!
    Nosso maior reconhecimento para todos eles !
    Deus lhes de forças para o cumprimento da missão!

  2. Quem fez a diferença no início foram os pilotos voluntários que chegaram rápido e de imediato iniciaram as operações. Os BHs e os Pantera do EB carregaram o pino também no início.
    Fica a pergunta:
    Porque a demora em mobilizar todas as forças, principalmente o apoio Aéreo no início do problema.
    Aonde está o Pelicano que não deu as caras por aqui aí da????

  3. Pelicano em Novo Hamburgo as 17:39 pelo flight radar…
    Pedido atendido…
    Desejo uma boa missão para a tripulação…
    Deus voe com eles!

  4. PROVADO (mais uma vez): Precisamos de helicópteros pesados como o Chinook.
    Não é mais cabível não ter estes meios no Brasil.

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