Opinião – Projeto VCBR, pontos-chave sobre o futuro

Por Carlos Borda Bettolli, do portal Zona Militar, da Argentina (*)

A seleção e aquisição de um veículo blindado de combate sobre rodas, o Programa VCBR, é um dos muitos projetos que o Exército Argentino mantém há muito tempo e que até o momento não conseguiu se concretizar, apesar das diferentes ofertas e intenções dos últimos anos.

A partir deste espaço, pudemos relatar as últimas notícias, bem como detalhes sobre os vários modelos de viaturas que foram levados em consideração, desta vez abordaremos considerações adicionais como requisitos e aspectos relacionados a este último.

Como se sabe, a compra de uma família VCBR é um dos projetos centrais do EA, não apenas por causa do escopo de um potencial contrato de aquisição, mas também porque a plataforma selecionada se tornará o núcleo blindado da Força de Desdobramento Rápido, operando dentro das unidades que atualmente compõem a 10ª Brigada Mecanizada (Br Mec X).

A história do VCBR já percorreu seus bons anos (e porque não, quilômetros), tendo avaliado vários candidatos nas configurações 6X6 e 8X8 neste período. Desde o Iveco VBTP-MR 6X6 Guaraní, passando pelo Norinco VN-1 8X8 e GDLS Stryker M1126 ICV, o interesse por cada modelo tem variado de acordo com os tempos políticos da Argentina. Atualmente, é o veículo blindado brasileiro que se apresenta como candidato a ocupar o nicho do VCBR argentino, modelo que foi avaliado em terras argentinas não uma, mas duas vezes na última década, o que revela os atrasos sofridos pelo projeto e a falta de decisão política diante de um programa de magnitude …

O Ano de 2021 trouxe algumas novidades, como uma nova apresentação e avaliação no campo Guarani, tendo transferido para território argentino uma unidade pertencente ao Exército Brasileiro para que pudesse demonstrar suas capacidades em diferentes pontos da geografia argentina. Um grande diferencial em relação à demonstração realizada anteriormente, foi o grande tempo entre elas, que favoreceu ao Guarani amadurecesse e refinasse detalhes como o VCBR.

Cerimônia de apresentação do Guarani na Argentina, B Ars 602, em 04/06/2021 (Foto: Mariano Gonzalez Lacroix)

Uma das últimas notícias recolhidas pelo portal Zona Militar a respeito do programa VCBR veio da entrevista que realiza pelo portal Zona-Militar com o ministro da Defesa Jorge Taiana, que confirmou que a compra de veículos blindados de combate sobre rodas é um dos programas de relevância para 2022. Em similar veia, o EA também publicou um interessante artigo a respeito do futuro da força, mostrando que a VCBR continua sendo um de seus programas centrais.

Esta última frase não é um detalhe menor visto que os requisitos do projeto são ambiciosos, pois não se trata de uma compra única, mas sim que se pretende adquirir uma quantidade de VCBR que permita equipar os Regimentos que integram a Br Mec X, oferecendo uma ampla gama de soluções em termos de suas versões.

De acordo com as informações que conseguimos acessar a algum tempo, a exigência original ultrapassava 200 veículos, a saber:

  • 120 VCBR na versão de transporte de pessoal;
  • 27 VCBR na versão de veículo de combate de infantaria;
  • 14 VCBR na versão de caça-tanque (torre de 105 mm);
  • 12 VCBR na versão de transporte de morteiro de 120 mm;
  • 9 VCBR na versão do posto de comando;
  • 9 VCBR na versão de ambulância;
  • 4 VCBR na versão de engenharia.

Essas viaturas seriam complementadas por veículos especializados, como recuperadores (8) e lançadores de pontes (6), caso suas versões VCBR não existam.

Provavelmente não passará despercebido ao leitor que a exigência de uma família VCBR não está de acordo com o que o Guarani pode oferecer atualmente, situação que deixaria uma porta aberta para o Stryker e o VN-1, ambos modelos oportunamente disponibilizados para compra .

GDLS Stryker M1126 (Foto: GDLS)

No caso da VCBR norte-americana, a oferta foi feita na modalidade FMS, contando como ponto positivo a compatibilidade logística com os caminhões blindados Oshkosk MTV M1083A1P2, atualmente fornecidos pela Br Mec X. No entanto, o Stryker foi descontinuado com uma versão de caça tanque devido ao descomissionamento prematuro do M1128 MGS pelo Exército dos EUA, decisão orientada por questões de disponibilidade e logística. Esta situação poderia ser mitigada com a versão M1134 ATGM armada com mísseis TOW ou com o reforço do número de viaturas de combate de infantaria.

Por sua vez, a Norinco não só soube desenvolver uma prolífica família de variantes VN-1, mas também adaptou a configuração de seu transporte de pessoal VCBR às exigências devidamente formuladas pelo EA, situação que sem dúvida fortalece sua posição como candidato.

O Norinco VN-1 em uso pela Marinha Venezuelana (Foto: Infantaria de Marina Bolivariana)

Mesmo sem definições sobre o modelo a selecionar, a decisão certamente não passará despercebida, pois não dependerá apenas das facilidades de financiamento que podem ser oferecidas e da “nacionalização” de alguns aspectos (montagem, produção de alguns componentes, etc.), mas questões geopolíticas também entram em jogo quando países como Brasil, China e Estados Unidos são considerados.

 

Nota do Editor: Apesar do planejamento original do EA, que pretendia que o Programa VCBR englobasse uma grande quantidade de viaturas 8X8, com diversas versões diferentes, a readequação de seus programas, devido às restrições orçamentárias impostas, limitou-o consideravelmente, colocando a proposta brasileira como uma das mais atraentes exatamente por se adequar melhor a realidade presente na Força.

 (P.R.B.J.)

 

Matéria publicada originalmente no portal Zona Militar com o título “Puntos centrales sobre el futuro del proyecto VCBR”, e traduzido e adaptado por Paulo Roberto Bastos Jr.

 (*) Zona Militar é uma publicação argentina de defesa, segurança e geopolítica, criada em 2015, e parceira de Tecnologia & Defesa no intercâmbio de informações, para manter os leitores atualizados das notícias importantes que ocorrem entre os dois países.

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Comentários

4 respostas

  1. VCBR na versão de caça ao tanque (torre de 105 mm)…… poderíamos ver uma versão 6×6 de um Guaranivel , similar ao sucesso de vendas uruvel kkkkk. Por favor que seja com torre ARES

    VCBR na versão do posto de comando, este nem o EB se mexeu ainda a ter e creio que nem vai fazer pois ja temos batalhões de Guarani já completos sem nenhuma viatura comando protos ainda

    1. Acho a versão porta-morteiros mas importante no momento do que comando, pois temos os M997, apesar de seram mais organicos aos RCC e não aos RC Meq. O EB está estudando a utilização de morteiros 120mm no Guarani.

    2. Sabe aquela viatura de Comando e Controle, conhecido como sistema C2? Então, é exatamente o posto de comando da atualidade. Vale lembrar que em meados dos anos 2000, no EB, não existe uma padronização de rádios. Somente agora, na atualidade, é que o EB está sanando esse problema.

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