Operação Yanomami – O estratégico aeródromo de Surucucu

O aeródromo de Surucucu está localizado localizado estrategicamente na fronteira com a Venezuela,  a 270 km de Boa Vista (RR), sendo parte integrante (e principal meio de acesso) do 4º Pelotão Especial de Fronteira (4º PEF), em Surucucu (RR), unidade integrante do Comando de Fronteira de Roraima do 7° Batalhão de Infantaria de Selva (CFRR/7º BIS), subordinado à 1ª Brigada de Infantaria de Selva (1ª Bda Inf Sl), e da comunidade indígena Yanomami, já que o único modal de acesso é o aéreo.

É uma base de fundamental importância na missão humanitária em socorro e enfrentamento à crise social e sanitária da população indígena, pois o acesso à região é difícil e possível somente por avião, após longos sobrevoos sobre florestas, serras e montanhas.

Imagem: 6º BEC

História

A origem do 4º PEF remonta ao inicio dos anos 60, quando a Força Aérea Brasileira (FAB), estava abrindo algumas pistas de pouso no antigo território de Roraima. Com o objetivo de facilitar a comunicação com os indígenas da região, os militares convidaram os missionários da Missão Cruzada de Evangelização (MEVA), e estes foram direcionados para duas regiões específicas: Parima B e Surucucu.

Contudo, Parima B estava dentro dos limites do território venezuelano, sendo necessária
sua retirada, com continuação da missão apenas na região de Surucucu até meados do ano de 1976, quando foi interrompida por causa de ausência de pessoal e dos constantes conflitos entre os indígenas locais.

A saída da missão e dos militares do local contribuiu para o aumento do garimpo ilegal, mesmo a FUNAI colocando um posto de atração na região, porem, em 1985, com a criação do Projeto Calha Norte, fortaleceram-se as ações governamentais na região e, no ano seguinte, o local da construção do pelotão foi escolhido, e concluído junto com sua pequena pista de pouso e decolagem, no ano de 1988 na região de Surucucu [GOMES DA SILVA FILHO, 2021].

Nos anos 2000 iniciaram estudos e conversações para a ampliação da estrutura de apoio e da pista, aumentando sua capacidade, porém diversos problemas atrasaram o processo, pois, era necessária a realização de um estudo prévio pelo IBAMA, já que na região, na época, viviam cerca de 1780 Yanomami em 83 malocas, sendo seis delas num raio de 1500 metros da pista [COMISSÃO PRÓ-YANOMAMI, 2005].

Somente em 2018, a Comissão de Aeroportos da Região Amazônica (COMARA) concluiu o projeto, aumentando a capacidade operacional da pista, que passou a poder operar aeronaves C-105 Amazonas e realizar missões de transporte tático, logístico e evacuação aeromédica.

Todavia, a falta de recursos para sua manutenção tornou inviável a operação de aeronaves de asa fixa de maior porte, obrigando o 6º Batalhão de Engenharia de Construção (6º BEC), do Exército Brasileiro, a realizar trabalhos de manutenção emergenciais, que foram iniciadas em 16 de janeiro.

Os trabalhos incluem a execução de capa selante, remendo profundo e tapa-buraco, com aplicação de massa asfáltica, no intuito de disponibilizar novamente a pista de pouso e decolagem para as operações aéreas com aeronaves de asa fixa.

Imagens: Comando Militar da Amazônia

Ponto de abastecimento de aeronaves provisório

Devido à crescente necessidade do envio de materiais pessoas da missão de ajuda humanitária às comunidades indígenas Yanomami, FAB implantou, nessa terça-feira, dia 24, um tanque flexível de combustível com capacidade de 10 mil litros, para viabilizará o abastecimento das aeronaves.

Além disso, foram transportadas na região, por meio de uma aeronave C-98 Caravan, duas motobombas para viabilização de abastecimento plotter, que é o processo de transferir combustível de um reservatório externo para a aeronave, garantido assim, mais segurança.

Para abastecer o reservatório de 10 mil litros, foram utilizados 28 tanques flexíveis, de 200 litros (totalizando uma capacidade 5.600 litros), que serão utilizados para transportar o combustível de Boa Vista para Surucucu.

Na manhã seguinte foram transportados 1.800 litros de querosene de aviação (QAV) para a região.

Inicialmente, a missão contava apenas com um ponto de abastecimento, em Boa Vista, sendo assim, as aeronaves abasteciam na Capital e transportavam o tanque flexível para o reabastecimento durante as missões. Com o surgimento de novas aldeias necessitadas de atendimento, a demanda aumentou, sendo necessária a implantação do ponto de abastecimento.

Imagem: FAB

A ajuda humanitária

No dia 20 de janeiro, quando foi estabelecido o Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento à Desassistência Sanitária das Populações em Território Yanomami, oficializado pelo Decreto nº 11.384, publicado no Diário Oficial da União, foram iniciadas as ações interministeriais para combater a situação de emergência de saúde pública na região.

Imagem: Ministério da Defesa

As rápidas ações do Exército e da Força Aérea, coordenadas pelo Ministério da Defesa, já garantiram a entrega de mais de 32,6 toneladas de mantimentos e remédios, cerca de duas mil cestas básicas, além de 36 evacuações aeromédicas, todas utilizando a base de Surucucu.

Toda esta tragédia humanitária serviu para mostrar a presteza de nossas Forças Armadas, assim como a importância do Aeródromo de Surucucu, não só no apoio as comunidades yanomami, mas em sua estratégica posição na fronteira com a Venezuela, que não deve ser mais negligenciado, mas sim ampliado, permitindo a utilização de aeronaves KC-390 Millennium.

 

 

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA FORÇA AÉREA. FAB implanta ponto de abastecimento de aeronaves provisório em Surucucu. Disponível em https://www.fab.mil.br/noticias/mostra/40288/AJUDA%20HUMANIT%C3%81RIA%20-%20FAB%20implanta%20ponto%20de%20abastecimento%20de%20aeronaves%20provis%C3%B3rio%20em%20Surucucu, 2023

COMISSÃO PRÓ-YANOMAMI. Yanomami querem aprofundar debate sobre a ampliação da pista de pouso de Surucucu. Disponível em http://www.proyanomami.org.br/v0904/index.asp?pag=noticia&id=4000, 2005.

COMUNICAÇÃO SOCIAL DO COMANDO MILITAR DA AMAZÔNIA. 6º BEC executa manutenção emergencial da pista de pouso e decolagem de Surucucu. Disponível em https://cma.eb.mil.br/index.php/mais-noticias/6-bec-executa-manutencao-emergencial-da-pista-de-pouso-e-decolagem-de-surucucu, 2023.

GOMES DA SILVA FILHO, Eduardo. Atuação do Exército no espaço transfronteiriço em Roraima: Açõs dos Pelotões Especiais de Fronteira na Operação Acolhida. ANPUH-Brasil: 31º Simpósio Nacional de História, 2021.

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Comentários

5 respostas

  1. Bacana o governo e as forças armadas auxiliarem os brasileiros vulneráveis (indios). Uma base, quartel e ou posto militar muito perto de fronteiras e ou faixas litorâneas, praias, será perigoso por ser os primeiros lugares visados por comandos em casos de guerras ou conflitos, e também por ataques de guerrilhas e grupos maus intencionados?!…, poderiam desenvolver mais esta base e auxiliar na proteção, defesa e policiamento da região. Esta pista de pouso poderia também ser usado por alunos e pesquisadores de universidade, p estuda e catalogar o bioma. Abraços.

  2. Será que não seria hora de se iniciar um estudo pra aquisição de um helicóptero de grande porte?

  3. Eu realmente não tinha a menor noção da existência de tal aeródromo e agora, com a operação descrita, sua importância vital para o futuro dos povos indígenas no entorno, e mesmo defesa de território.

  4. Triste situação do aeródromo que atende nossos batalhões de fronteira junto Venezuela e população vulnerável, bem como suporte ao combate garimpo ilegal. O discurso engana trouxa versus realidade da nossa estrutura de defesa em nossas fronteiras.

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