Mercado da aviação geral e regional são alvo da brasileira DESAER

O Brasil conta com mais de mil aeródromos certificados pela Agência Nacional de Aviação Civil, mas somente em torno de 60 são utilizados por empresas aéreas. Num país de dimensões continentais, com centenas de milhares de quilômetros de regiões isoladas, sem rede de ferrovias e com várias estradas em situações precárias de conservação, a aviação leve é a responsável por integrar essas áreas levando assistência médica, odontológica, remédios, urnas eletrônicas, vacinas e evacuando enfermos. Em outras situações, faz a ligação de pessoas entre esses locais e centros urbanos mais desenvolvidos e com melhor infraestrutura. Se por terra essas conexões levariam dias para acontecer, em voo são feitas em questão de poucas horas.

Com foco nesse mercado estratégico para qualquer sociedade e economia, mas que há anos não dispõe de novos modelos de aviões, desenvolvidos especificamente para atender esse segmento, a brasileira Desaer está projetando o ATL-100, um turboélice bimotor com rampa traseira e capaz de transportar até 19 passageiros ou 2,5 toneladas de cargas.

Localizada na Incubaero, do Departamento da Fundação Casimiro Montenegro Filho no ITA, em São José dos Campos (SP), a empresa foi criada em 2017.

“O ATL-100 vem para um mercado que é atendido por modelos mais antigos, como o EMB-110 Bandeirante, Casa 212, Dornier 228, Twin Otter e Y-12. Nós identificamos que em torno de cinco mil aeronaves dessa categoria estão em operação no mundo, sendo que aproximadamente duas mil terão que ser substituídas no prazo de até 10 anos, pelo fato de estarem atingindo o limite da fadiga estrutural”, explicou Evandro Fileno, Diretor Presidente da Desaer.

O ATL-100 está sendo pensado para ser uma aeronave robusta, fácil de manter, com baixo custo e proporcionando flexibilidade operacional para o cliente.

“O trem de pouso fixo, apesar do arrasto aerodinâmico, demanda menor manutenção e reduz os custos. Em solo, o ATL-100 não vai precisar de infraestrutura para apoiar a sua operação, uma vez que, pela da rampa traseira, será possível fazer o embarque e desembarque de passageiros, excluindo a necessidade de uma escada externa. Para pessoas portadoras de necessidades especiais, como cadeirantes ou com restrição de mobilidade, a rampa é uma excelente solução. As bagagens de mão serão acomodadas sob os assentos e as demais na própria rampa. Após o pouso, o passageiro pode retirar as suas malas com praticidade”, revela.

O ATL-100 deverá atender ao regulamento FAR-23, ou seja, poderá ser voado por um único piloto e dispensará o serviço de comissário de bordo.

A sua estrutura é em metal, predominando o alumínio, cerca de 80% do total, facilitando a manutenção. Com velocidade de cruzeiro estimada entre 350 a 380km/h, o ATL-100 não será pressurizado e poderá pousar em pistas não preparadas.

“Estamos escolhendo a motorização. Com hélices de cinco pás, o nosso estudo é do Pratt & Whitney PT6A-65, General Electric Catalyst e Honeywell TPE331, na faixa de 1.000shp de potência. Serão necessários 700m para decolagem e em torno de 750m para pouso. Internamente, a aeronave vai dispor de um guincho para apoiar a operação de carga e descarga de volumes, sendo possível embarcar até três contêineres LD3. Além disso, o operador poderá reconfigurar o interior para transporte de passageiros e de carga, num processo que leva em torno de uma hora para ser realizado. Assim, de dia, a aeronave pode atender ao transporte de passageiros, enquanto de noite realiza voos de carga. Trata-se de uma excelente flexibilidade operacional”, completa.

Com 16m de comprimento, 6m de altura e 20m de envergadura, o ATL-100 será homologado para transportar 12 paraquedistas mais dois passageiros e fazer o lançamento de cargas. O teto de serviço será de 25 mil pés. Em termos de aviônica, a Desaer está avaliando as opções oferecidas pela Garmin, Honeywell, Collins e outros.

Recentemente a empresa fez dois anúncios muito importantes. O primeiro foi a formação de uma joint-venture com o Centro de Engenharia e Desenvolvimento (CEIIA), em Ponte de Sor, Portugal. A empresa vai colaborar na parte de desenvolvimento, projeto, na construção e voo do primeiro protótipo.

A segunda novidade foi a escolha da cidade de Araxá, em Minas Gerais, a 366km de Belo Horizonte, para receber a futura planta industrial, com capacidade de produzir até quatro aeronaves por mês.

Contando com apoio do governo municipal e estadual, através do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, as obras do complexo serão iniciadas ainda em 2021, numa área do Aeroporto Romeu Zema, que conta com pista asfaltada.

O terreno possui 278 mil m² e as instalações vão ocupar 96 mil m² com investimentos previstos em US$ 80 milhões, podendo chegar a US$ 120 milhões em 2023, gerando até 1.250 empregos diretos e indiretos.

“Em Portugal vamos fazer o roll-out do primeiro protótipo, que deve acontecer no final de 2023. O primeiro voo está estimado para 2024.

Esse projeto está sendo financiado com recursos próprios, não contamos com verbas governamentais.

Em termos de clientes, estamos conversando com algumas empresas no Brasil e no exterior.

Por outro lado, já apresentamos o projeto para as Forças Armadas e para a Polícia Rodoviária Federal e todos demonstraram interesse” finaliza.

 

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Comentários

3 respostas

  1. Parafraseando Dassaut ou Sir Geoffrey De Haviland, se é bonito voa bem. Bonito ele é e vai voar bem. Possuímos um bela e eficiente engenharia aeronáltica.

  2. Para além das Forças Armadas e da PRF, essa aeronave seria de toda utilidade paras as forças de segurança dos Estados. Suas características são muito atrativas para a atuação meso e micro-regionais, seja para movimentação de equipes especiais, seja para o deslocamento de cargas sensíveis, vide as vacinas da Covid19.
    Show de bola essa notícia.
    Abraço

  3. Mais uma ótima notícia da nossa indústria aeronáutica. Será que poderá a vir concorrer no nicho ou substituir o C-23 Sherpa?

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