Governo nega exportação do Guarani ambulância para a Ucrânia

Em meados do mês de maio, o Departamento de Assuntos Estratégicos, de Defesa e de Desarmamento do Itamaraty deu parecer contrario a solicitação de compra de até 450 viaturas blindadas de transporte especializadas – ambulância (VBTE Amb) 6X6 Guarani, feita pelo Governo da Ucrânia, e, nesta semana, a empresa IDV foi informada da negativa de sua solicitação de autorização para iniciar as negociações.

A solicitação de compra foi enviada no dia 27 de abril, através do Gabinete de Adidância da Defesa junto à Embaixada da Ucrânia, ao Ministério da Defesa do Brasil, informava que as viaturas se destinavam a atuações em emergências humanitárias, com as identificações externas compatíveis com a atividade (de acordo com as Convenções de Genebra), e não para combate.

Devido as suas capacidades de mobilidade anfíbia e proteção balística, os Guaranis poderiam ser utilizados, por exemplo, no resgate de civis (que são atacados indiscriminadamente pelas forças da Federação Russa que invadiu o território ucraniano) atingidos pelas inundações após a criminosa destruição da barragem de Kakhovka.

A notícia da solicitação, que foi dada com exclusividade por T&D e repercutida amplamente pela imprensa nacional e internacional, foi chamada pelo presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, de “fakenews”, mas desmentida “diplomaticamente” pelo primeiro-ministro dos Países Baixos, Mark Rutte, durante uma coletiva de imprensa em Brasília.

Esta negativa coloca o governo brasileiro em uma situação complicada perante a comunidade internacional, principalmente da União Europeia, que poderá começar a impor dificuldades para a importação e exportação de produtos nacionais, como, por exemplo, na demora da assinatura da venda das aeronaves Embraer KC-390 Millennium aos Países Baixos.

Durante uma coletiva de imprensa, realizada em 09 de maio, o presidente Lula fala que a solicitação ucraniana era uma “fakenews”, informação contestada pelo premier holandês (imagem: reprodução da TV Brasil)

 

Aprovado os requisitos da versão ambulância do Exército

Coincidentemente, durante toda esta cadeia de eventos, foi publicada a portaria Nº 287 COTER/C Ex, de 30 de maio de 2023, aprovando os requisitos operacionais da VBTE Amb 6X6 Guarani (EB70-RO-10.001) para o Exército Brasileiro, que possui uma demanda de 80 unidades.

Os principais requisitos aprovados são para manter a proteção balística e mobilidade, com peso de combate, compatível com as viaturas da mesma família, nas diversas situações de emprego operacional previstas, com uma guarnição de quatro militares (motorista, chefe de viatura, médico/auxiliar de saúde e atendente) e configuração, como ambulância básica ou avançada, transportando dois pacientes deitados e três sentados, além da guarnição e do equipamento de saúde.

Deverá possuir, no compartimento de transporte, estrutura para a fixação com travas de duas macas, tipo OTAN, removíveis, para transporte de dois pacientes deitados, em um mesmo lado, com fixação em, no mínimo quatro pontos, com sistema de oxigenoterapia, que possibilitem aos militares de saúde a realização dos trabalhos de atendimento previstos para serem realizados no interior da viatura, provendo suporte básico e avançado de vida, e barraca de atendimento retrátil, a ser disposta na parte externa, devidamente protegida por estrutura metálica, assim como as armações necessárias para sua montagem, e capacidade para abrigar trabalho de triagem e atendimento médico para até quatro pacientes.

Também deverá possuir capacidade de fornecimento de energia elétrica, a partir da própria viatura, para alimentar os equipamentos classe VIII internos e da barraca, e capacidade de utilização de fonte externa.

Os trabalhos de desenvolvimento continuarão a cargo do Escritório de Projetos do Exército (EPEx), da Comissão de Absorção de Conhecimentos e de Transferência de Tecnologia na Iveco (CACTTIV), da Diretoria de Fabricação (DF) e da empresa IDV, mas lembrando que os custos de seu desenvolvimento, assim como das outras versões, poderiam ser amortizados com os royalties da venda para a Ucrânia.

O Exército conta atualmente com seis viaturas blindadas ambulância, todas EE-11 Urutu das versões M2 e M6, e pretende adquirir até 80 Guarani desta nova versão (Foto: AGSP)

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Comentários

41 respostas

  1. o agronegócio mostrando que tem muito poder nas decisões do governo. quem não entendeu pesquise sobre a questão dos fertilizantes

    1. Os representantes do próprio agronegócio tem dito em nacionalizar a oferta de fertilizantes já que eles viram a dificuldade durante a pandemia…sim, não vai ser do dia para a noite. Não acho eu que seja só o agronegócio, mas talvez seja um movimento de algo maior.

    2. mais de 480 dias de guerra e sujeito ainda tá na fanfic do festilizantes… quem não entende que fertilizante pode ser comprado de qualquer país e que a Rússia nunca teve, e agora, nunca deverá ter participação relevante no mercado brasileiro nem deveria tá opinando.

      1. quase 30 % dos fertilizantes que o brasil compra vem da Rússia e Belarus. o brasil poderia comprar de outros? outros fornecedores teriam disponibilidade pra vender ? já que eles já tem clientes cativos como nós somos clientes tradicionais da Rússia e Belarus. pensa nisso

    3. estamos comprando fertilizantes russos com um desconto absurdo no preço !!!
      entao pode esquecer que o governo nao vai arrumar confusão com os russos por causa desses blindados !!!

  2. Infelizmente a falta de pragmatismo e uma ideologia impregnada conceitos no mínimo ultrapassados, para não dizer outra coisa, fazem o Brasil isolado no mundo real, nossa diplomacia é míope, muito devido as visões pessoais dos governantes, não só este, mas o anterior. O atual presidente precisa entender que ele não é mais “o cara” longe disso, seria uma venda importante, caso fosse feita, até para ajudar a desenvolver novos modelos que são importantes ao EB.

    1. Penso um pouco diferente. Que deveriamos ser independentes na questão dos fertilizantes. O máximo possivel. Mas quando vendemos as usinas, fizemos por merecer situações como essa da matéria acima. Perdemos um “bom” (será?) contrato em indústria de alto valor agregado em troca de não arriscar uma das bases mais importantes da nossa economia, o agro. Dessa vez não tinha alternativa, mas que sirva de lição.

    2. Que sirva de lição pra quem acha que tudo pode ser privativado ou deixar que se perca, em especial industria militar, como a Engesa no passado, a Avibrás de hoje. As usinas de fertilizantes da petrobas, a Eletrobras. Tudo isso nos coloca a mercê de quem as comprou ou as fechou.

  3. Agiu certo, concerteza a Ucrânia iria aprontar alguma juntamente com o EUA para envolver o Brasil no conflito.

    1. “concerteza” foi demais! Com toda certeza! kkkkkkkkkk Desculpe, mas e os interesses nacionais? Nosso país sofreu com desindustrialização e ainda hoje sofre. Ignorar uma venda de tal volume é no mínimo miopia estratégica. Quantos empregos estariam garantidos com essa compra? Nosso exército precisa de 80, já a venda seriam de 450! Não sei quais as condições dessa compra, mas se fosse bancado pela União Europeia ou OTAN seria uma ótima oportunidade para nosso país. Nosso grande problema é não ter planos de estado, sempre estamos reféns do governo e suas ideologias fajutas.

  4. Bastos mas não tem essa viatura equivalente na Iveco Italia, pq comprar de nós? E não tem outras equivalentes de outros fornecedores, pq comprar daqui?

    1. simplesmente porque o Guarani é mais barato do que qualquer outra viatura do seu tipo, o SuperAV italiano por exemplo tem um custo de 3,5 á 4,5 milhões de dólares comparados com os 1,5 milhão do Guarani.

    2. Os EUA devem ter 6×6 equivalentes às centenas estocados no deserto. A custo zero. Esse negócio “da China” nada mais era do que forçar o Brasil a tomar um lado. Nosso governo agiu certo nesse ponto especifico.

      1. Djalma, a atual versão 8×8 é o Freccia, projeto antigo e caro. a versão futura é o SuperAv, que pelo que parece é bastante caro. Nenhum dos dois serve como Guarani 8×8 naquele conceito de blindado barato.

  5. agiu corretamente, pra que se indispor com a Rússia se infelizmente dependemos em grande parte de seus fertilizantes, no mais não temos nada a ver com essa guerra.

  6. Homens vão a Guerra…
    Se não investir no preparo de um Exército será atropelado…nossos filhos mortos, nossas mulheres violentadas, nossos lares destruídos!
    Não espere o caos para começar a se preparar…
    As vezes pode ser tarde demais!

  7. O Brasil tem 450 viaturas dessas, no padrão ambulância, para fornecer a tempo em pronta entrega para atender ao desastre da represa? Se não, a comparação feita na matéria é jornalismo de péssima qualidade, intimamente ligado à ideologia e não aos fatos.

    Qualquer um sabe que o uso dessas viaturas com propósitos humanitários ou bélicos é puramente questão de intenção de quem está na direção do veículo. A viatura blindada que retirar feridos facilmente pode ser convertida para transportar tropas armadas.

    Isso era uma tentativa esdrúxula de envolver o Brasil no conflito e decidiu bem o Estado Brasileiro (não o governo) em nós manter fora disso.

    Qualquer outra opinião diferente é mera ideologia político-partidária de ocasião. O que não tem problema nenhum em uma democracia, desde que o opinante deixe isso claro.

    1. Pois é, nem nós, conforme a própria matéria mostra, temos ainda esta versão , então ……excelenta decisão a de não efetuar a venda e assim nos manter ainda fora das questões desta guerra com a qual não temos nada a ver.

  8. Excelente notícia, a propósito sobre este trecho;
    …” civis (que são atacados indiscriminadamente pelas forças da Federação Russa que invadiu o território ucraniano)”,é intrigante pois se vê vídeos de ucranianos arregimentando ucranianos, que não querem ir pra batalha, com muito “amor e carinho”, tropas ucranianas atacando áreas civis e etc(afinal é uma guerra) mas os russos são os malvadões , quem fez de tudo pra rolar esta treta(com golpe de estado na Ucrania retirando governo pró russo onde havia paz e colocou o Zé no governo,o qual prometeu manter a paz e nisso foi eleito) e ta ganhando rios de dindin e aquecendo sua indústria bélica(e agora vende recursos energéticos pra europa no lugar dos russos) e continua fazendo de tudo pra que o conflito continue tá de boas né .

  9. A questão da versão “ambulância” é só para inglês ver. Os ucranianos sabem que o Brasil não quer tomar lado no conflito e por isso nós não forneceremos armas para nenhum dos lados.
    Ai resolveram usar esse argumento de “versão ambulância”. É óbvio que o blindado, caso fosse vendido, seria usado para o transporte de tropas.
    Porque a Ucrânia quer blindados brasileiros? Simples, eles precisam de quantidade e velocidade na entrega. Então estão comprando de tudo e de todos que puderem. E também seria uma forma de isolar mais a Rússia, colocando um grande país como o Brasil do lado deles.

  10. Gente, o Brasil já escolheu o lado, ele apoia a Russia e a China, acabou! Que aguente as consequências!!! Pode ser que sim e pode ser que não, que comecemos a sofrer embargos aos Projetos mais estratégicos tipo Sub Nuclear e a trapalhar nas vendas do KC-390. Não sabe brincar , não desce para o Play!!!

  11. Com ou sem o agronegócio o Lula continuaria não permitido esse tipo de venda para o Ucrânia.

    O Lula é um esquerdista nato, ele não perderia a chance de beneficiar um “companheiro”.

    Já ao contrário do Lula que preferi mentir dizendo que era “fake news”, o Bolsonaro optou por falar inúmeras vezes que o agronegócio era mais importante, e mesmo a despeito de ser de direita, ele manteve uma posição favorável a negociações com o Putin.

    Ambos os dois erraram, o Lula por motivos ideológicos/incompetência, e o Bolsonaro por falta de pragmatismo/competência.

    O Bolsonaro errou feio em não notar duas coisas: o gigantismo do Brasil; a grave situação econômica que a Rússia se meteu.

    O Lula errou feio em duas coisas: colocar a ideologia acima de tudo; colocar a ideologia acima de tudo outra vez.

    Se o Brasil realmente quisesse, ele conseguiria perfeitamente barganhar tanto com Rússia quanto com a OTAN/Ucrânia.

    >> Rússia precisando URGENTEMENTE de dinheiro = a Brasil comprando combustíveis e fertilizantes da Rússia.

    Beneficiando nosso agronegócio e também a população com o preço mais acessível dos combustíveis.

    >> Ucrânia precisando URGENTEMENTE de ARMAS e outras coisas = a Brasil vendendo armas e várias outras coisas para Ucrânia.

    Beneficiando nossa indústria no geral (já que estaríamos vendendo de tudo para os ucranianos; de uma simples farda para o soldado ucraniano até um sofisticado sistema de mísseis e foguetes que nem o ASTROS).

    A princípio os russos reclamariam, mas pela urgência da situação (guerra + pesados embargos feitos pelo ocidente) muito provavelmente continuariam vendendo para o Brasil.

    E os países da OTAN e também a Rússia não ficariam enchendo tanto o nosso saco, já que ambas estariam se beneficiando muito com o Brasil.

    É amigos… pelo jeito o Brasil não perde a oportunidade de perder uma oportunidade.

    1. Nem Bolsonaro antes e menos ainda u Lula agora, são quem “realmente”(só governam até certo ponto) governam o Brasil. Ambos são os as árvores a serem apedrejadas até o ponto que desagradem os líderes e sejam removidos do “poder”.

  12. “também deverá possuir capacidade de fornecimento de energia elétrica, a partir da própria viatura, para alimentar os equipamentos classe VIII internos e da barraca, e capacidade de utilização de fonte externa”

    Caro Paulo Bastos, essa solução seria reaproveitável para uma futura versão de Posto de Comando?

    1. No Requisito Operacional Absoluto (ROA) de número 48, do RO da VBE-PC 6X6 Guarani está “Possibilitar a alimentação elétrica da plataforma automotiva e dos subsistemas integrados a partir de rede elétrica externa”.

  13. Sinto muito que tanto Bolsonaro como Lula tenham impedido a venda de armas para a Ucrânia, pois em breve a Rússia vai precisar de comprar também e quero ver a resposta.
    A nossa Indústria de Alta Tecnologia de Defesa precisa dessas vendas pra sobreviver e investir em novas tecnologias. Apoio a Rússia nessa operação militar, mas recusar vender pra Ucrânia é um absurdo!!! Ambos Lula e Bolsonaro erraram e trouxeram atraso a Industria Aeroespacial, Aeronáutica e Bélica nacional com essa atitude.

  14. Com noticias de que até o Paquistão está vendendo munição para a Ucrânia, deixar de vender 450 viaturas Guaranis com a desculpa dos fertilizantes ou de não envolver o Brasil nessa invasão russa, é uma falta de pragmatismo e compreensão da situação sem tamanho.

    Deixamos de fomentar a indústria nacional e vamos chorar quando não vendermos mais o C-390 para países da Otan. Se quer manter a imagem de neutro, que seja feita uma oferta igual à Russia, exatamente como foi feito durante a Guerra das Malvinas.

  15. Erro crasso! Perde-se várias oportunidades de tomar decisões inteligentes e de real interesse para o Brasil.

  16. Uma grande comparação pensador ! Paquistão inimigo mortal da Rússia há séculos ! Explorada e sustentada pela Rússia ! Está doido para se livrar de pagamentos de juros e dívidas para Russia !
    Torcendo para que a mesma não saia mais forte e vencedora da Guerra.

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