Unidade, inteiramente fabricada no Brasil, integra o Programa Fragatas Classe Tamandaré e impulsiona a indústria naval brasileira
O caminho para o futuro da Esquadra Brasileira ganhou mais um capítulo na manhã desta sexta-feira, dia 08 de agosto, com o lançamento da Fragata Jerônimo de Albuquerque (F201), no TKMS Estaleiro Brasil Sul, em Itajaí (SC).
Batizada de “Jerônimo de Albuquerque”, a unidade é a segunda prevista no Programa Fragatas Classe Tamandaré (PFCT) e homenageia o primeiro comandante de uma frota naval da Marinha nascido em território brasileiro.
A cerimônia de lançamento, realizada em parceria entre a Marinha do Brasil (MB), a Sociedade de Propósito Específico (SPE) Águas Azuis e a Empresa Gerencial de Projetos Navais (EMGEPRON), contou com a presença de autoridades militares e civis, como o Ministro da Defesa, José Mucio Monteiro Filho; o Comandante da Marinha, Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen; representantes do Almirantado e colaboradores da TKMS. Também esteve presente o vice-presidente do Brasil e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, acompanhado da esposa, Lu Alckmin.
Foi pelas mãos dela que a Jerônimo de Albuquerque recebeu o batismo. No papel de madrinha, Lu Alckmin quebrou uma garrafa de espumante no casco da embarcação, gesto que, segundo a tradição naval, simboliza votos de proteção ao navio e à sua tripulação. Na ocasião, a madrinha recebeu a Medalha Mérito Tamandaré, distinção destinada a agraciar autoridades e instituições civis e militares, brasileiras ou estrangeiras, em reconhecimento à divulgação e ao fortalecimento das tradições da MB.

Emocionada, Lu Alckmin afirmou: “Hoje foi um dia muito importante para mim. Recebi a Medalha Mérito Tamandaré e tive a oportunidade de, através de Deus, abençoar este navio. Desejo a todos os marinheiros que estarão navegando nesta Fragata que Deus acompanhe suas vidas e os proteja”.
Em discurso durante a cerimônia, o vice-presidente Geraldo Alckmin destacou que os lançamentos representam potencial de projeção internacional. “Navios construídos em território nacional posicionam o Brasil como fornecedor de soluções integradas em construção, capacitação e suporte tecnológico, abrindo caminhos para novas parcerias e para uma pauta exportadora de maior valor agregado”.
Inteiramente fabricada no Brasil, a nova fragata possui alto poder de combate para proteger os mais de 5,7 milhões de km² da Amazônia Azul. O navio também é capaz de realizar operações de busca e salvamento, monitorar e coibir ações de poluição, pirataria e pesca ilegal, entre outras ameaças, além de cumprir compromissos internacionais.O navio tem deslocamento aproximado de 3.500 toneladas, valor que corresponde ao peso determinado pelo volume de água deslocado quando está flutuando. Além disso, a fragata é dotada de convoo, hangar para helicóptero, radares, sensores e armamentos de última geração.
Trata-se de um navio-escolta, assim como os demais da Classe Tamandaré, voltado para a atuação em ambientes de guerra, sejam eles de superfície, aéreos ou submarinos. A construção da F201 teve início em novembro de 2023, com o corte da primeira chapa de aço, e passou pela cerimônia de batimento de quilha em junho de 2024.
A evolução da engenharia e o aperfeiçoamento nos processos de produção naval permitiram que, nos projetos modernos, como o das Fragatas da Classe “Tamandaré”, a construção seja realizada por meio de blocos. Essas estruturas são montadas separadamente e, posteriormente, unidas, dando forma ao navio.
O ministro da Defesa, José Mucio Monteiro Filho, destacou que as fragatas elevam o Brasil ao patamar da inovação. “Sinto-me particularmente recompensado em poder testemunhar essa obra de engenharia naval, que tanto significa para a defesa do País e para a segurança da Amazônia Azul. Este lançamento é especial, pois representa um passo significativo rumo à modernização do poder naval brasileiro”.Em agosto de 2024, foi lançada a Fragata Tamandaré (F200), que dá nome à Classe. Ela foi a primeira das fragatas previstas no Programa e foi visitada pelas autoridades após a cerimônia da Jerônimo de Albuquerque.

PFCT amplia a transferência de tecnologia no Brasil
A F201 faz parte do Programa Fragatas Classe Tamandaré (PFCT), um dos mais inovadores projetos navais desenvolvidos no Brasil. Incluído no Novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC), do Governo Federal, no eixo de inovação para a indústria de Defesa, o PFCT é uma parceria entre a MB e a SPE Águas Azuis, formada pela TKMS, pela Embraer Defesa e Segurança e pela Atech, e gerenciado pela EMGEPRON.
O comandante da Marinha, almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen, reforça a importância dos navios que compõem o PFCT: “É a materialização da capacidade do País em conceber, produzir e operar meios navais de elevado desempenho e expressivo valor estratégico. A incorporação à Esquadra vai conferir à Marinha navios robustos para a proteção efetiva do vasto patrimônio marítimo em águas jurisdicionais brasileiras”.

Um dos pilares do PFCT é a nacionalização de tecnologias e a capacitação da indústria de Defesa brasileira. Essa diretriz estratégica é implementada pela EMGEPRON por meio de mecanismos que assegurem a transferência de tecnologia, o fortalecimento da Base Industrial de Defesa e a qualificação técnica de recursos humanos nacionais.
De acordo com o gerente executivo do PFCT, capitão de mar e guerra (Reserva) Roberto Moura, a empresa conduz a nacionalização de tecnologias com uma abordagem estruturada, sistêmica e voltada à geração de capacidades permanentes para o Brasil.“Um dos principais instrumentos utilizados é o Acordo de Compensação, firmado com a SPE Águas Azuis, que viabiliza a transferência de “know-how” de sistemas críticos para empresas e instituições nacionais. Entre os destaques estão a nacionalização dos sistemas de gerenciamento de combate (“Combat Management System” – CMS) e do sistema integrado de gerenciamento da plataforma (“Integrated Platform Management System” – IPMS), por meio do treinamento intensivo de técnicos da MB e de engenheiros da empresa brasileira Atech, absorvendo conhecimentos estratégicos diretamente de parceiros internacionais líderes em tecnologia naval”, afirma. Segundo o representante da EMGEPRON, a empresa realiza o monitoramento contínuo do Índice de Conteúdo Local em toda a cadeia de suprimentos. Essa ação garante que a fabricação, integração e fornecimento de equipamentos envolvam empresas brasileiras, promovendo o adensamento da indústria nacional e o desenvolvimento tecnológico.

De acordo com o diretor-presidente da Águas Azuis, Fernando Queiroz, esse movimento contribui diretamente para a capacitação da indústria naval brasileira, gerando empregos qualificados, fortalecendo a Base Industrial de Defesa e criando um legado tecnológico que pode ser aproveitado em futuros projetos navais civis ou militares. “Estamos alcançando os índices de nacionalização acordados em contrato e, com isso, temos uma cadeia de suprimentos ativa, com mais de mil fornecedores no Brasil, gerando mais de R$ 4,8 bilhões em conteúdo local”, afirma.
As fragatas são construídas com inovação e sustentabilidade. A TKMS Estaleiro Brasil Sul utiliza gêmeos digitais para simulações de montagem, monitoramento de estruturas em 3D e previsões em tempo real.
Com isso, é possível identificar e corrigir interferências, otimizar a sequência de trabalhos e antecipar riscos, reduzindo retrabalho e desperdícios. Essas ferramentas também aumentam a precisão na fabricação, permitindo decisões baseadas em dados em tempo real, o que contribui diretamente para o cumprimento dos prazos e o controle de custos ao longo do projeto.

Texto: primeiro-tenente (RM2-T) Thaís Cerqueira e primeiro-tenente (RM2-T) Milena