Em detalhes, a produção das aeroestruturas do Gripen no Brasil

Marcelo Lima, diretor-geral da Saab Aeronáutica Montagens, conversou conosco sobre os detalhes da produção das aeroestruturas para o Gripen E/F. A entrevista completa sai na edição 161 da revista Tecnologia&Defesa.

 

Qual é a missão da Saab Aeronáutica Montagens no programa do Gripen brasileiro?

O objetivo geral deste projeto é garantir a capacidade de montagem de aeroestruturas complexas para aeronaves militares supersônicas e comerciais no Brasil, transferido conhecimento em produção da Saab na Suécia, de forma sustentável.

O foco inicial é a produção das aeroestruturas para o pedido de 36 caças Gripen da Força Aérea Brasileira (FAB). No entanto, a fábrica estará pronta para a possibilidade de novas aquisições do Gripen pela FAB ou por outras forças aéreas no futuro e terá capacidade de crescimento para novos mercados tanto no setor militar e como no de aviação comercial.

 

É possível comentar, brevemente, como é o processo de produção de uma aeroestrutura, incluindo os desafios envolvidos nesse processo fabril?

A indústria aeronáutica tem características peculiares quando falamos em manufatura. Fabricar e posteriormente montar milhares de componentes de uma fuselagem, asa ou superfície de controle com critérios dimensionais rigorosos não é uma atividade simples. Essas peculiaridades começam ainda na fase de projeto, onde os direcionadores são, entre outros, a segurança e a performance – o que está intimamente ligado ao peso das aeroestruturas e a geometrias complexas. Por isso, temos demandas por métodos e processos fabris de alta precisão e tecnologia.

Podemos dividir a produção de aeroestruturas em fabricação de componentes, montagem dos segmentos e junção final.

Na Saab Aeronáutica Montagens estamos executando os processos de montagem dos segmentos aeroestruturais com componentes obtidos da cadeia de suprimentos da Saab, na Suécia. A junção final dessas aeroestruturas será feita na planta da Embraer em Gavião Peixoto (interior de São Paulo) e na sede da Saab Aeronautics, em Linköping, Suécia.  Para estes processos, são necessárias ferramentas de precisão, muitas vezes exclusivas da indústria aeronáutica ou mesmo exclusivas para um determinado tipo de aeronave.

Além dessas ferramentas, gabaritos de posicionamento com alta precisão dimensional são utilizados durante a montagem da aeronave.

Mesmo se tratando de um processo altamente tecnológico, a automatização não é a melhor opção para algumas montagens e trabalhos minuciosos, portanto, é necessário ter uma mão de obra altamente qualificada e especializada.

A produção de aeroestruturas exige elevado nível de qualidade para que as peças sejam intercambiáveis entre as aeronaves. De que forma a Saab Aeronáutica Montagens trabalhou para atingir altos níveis de qualidade?

Para garantir altos níveis de qualidade não só em seus produtos, mas em todo o negócio, foi implementado um Sistema de Gestão robusto baseado na AS9100 (norma de um sistema de gestão de qualidade), de forma a fundamentar os processos do negócio. Falando especificamente do produto, a Saab tem tradição, know-how e experiência que garantem a maturidade e robustez dos processos.

O processo de industrialização empregado para transferir e implementar requisitos técnicos de produto foi conduzido de forma estruturada, levando em consideração aspectos como riscos, ambiente de trabalho, mão de obra, competência, processos e verificações de qualidade. Ao final desta etapa, todos os processos são simulados e qualificados antes do início da produção, seguindo a seguinte sequência:

  1. Planejamento de processos
  2. Qualificação de processos
  3. 3. Aprovação de ferramentais específicos
  4. Aprovação do primeiro artigo (First Article Inspection – FAI)
  5. Produção em regime normal

 

Qual é a aeroestrutura mais complexa que será produzida na Saab Aeronáutica Montagens? É possível mencionar o seu tempo de produção e qual é a quantidade de peças usadas na sua construção?

Deve-se levar em conta diferentes aspectos quando analisamos a complexidade na produção de uma estrutura aeronáutica. Se levarmos em consideração o grau de precisão e sofisticação, a asa seria a aeroestrutura mais complexa feita aqui, por ser fabricada de material composto. Se levarmos em consideração o tempo de produção e a quantidade de peças, a fuselagem dianteira, com aproximadamente 2.000 horas distribuídas em nove meses e 1.200 peças, seria a estrutura mais complexa.

É possível comentar sobre uma previsão do início da produção das demais aeroestruturas (freios aerodinâmicos, fuselagem traseira, caixão das asas e fuselagem dianteira do Gripen F)?

A produção do cone de cauda e de partes da aeroestrutura da fuselagem dianteira já foram iniciadas em junho. No último trimestre de 2020 daremos início à produção dos freios aerodinâmicos. Já a produção da fuselagem traseira, do caixão das asas e da fuselagem dianteira do Gripen F terá início de forma sequenciada ao longo de 2021.

 

As aeroestruturas produzidas pela Saab Aeronáutica Montagens serão usadas nos caças encomendados pela Força Aérea da Suécia e em encomendas futuras de outros países?

O contrato atual contempla a produção de aeroestruturas para as aeronaves Gripen E/F brasileiras, além da produção do cone de cauda e freios aerodinâmicos para as aeronaves Gripen E a serem entregues para a Força Aérea Sueca. A Saab Aeronáutica Montagens faz parte da cadeia global de fornecimento da Saab, podendo ser usada para a produção de aeroestruturas de qualquer novo contrato da Saab.

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