Editorial – O declínio do Poder Naval brasileiro

Uma ameaça à sobrevivência nacional

Os oceanos exercem um papel fundamental na globalização econômica e na política internacional, sendo que nos últimos anos as massas oceânicas têm tido sua importância cada vez mais destacada em função de relevantes  riquezas e um dos principais meios de locomoção e conexão entre redes comerciais e países, além de permitir que as nações mais desenvolvidas projetem seu poder econômico e militar seja em âmbito regional ou global. Os estados nacionais mais poderosos dedicam-se à construção e manutenção de Poder Naval.

O Brasil apesar de integrar o grupo de países mais ricos do planeta devido à exportação de “commodities”, acaba por ser associado às nações ainda em desenvolvimento, por possuir um Poder Nacional incompatível com suas dimensões e importância, resultado da debilidade política, psicossocial, cientifico-tecnológica e militar. A falta de um projeto nacional de grandeza que possa levar o País a ser, em si mesmo, um centro de poder independente, limita a oportunidade de ser uma liderança regional. E mesmo esta liderança poderá ser questionada no futuro próximo no caso de a Argentina ou a Venezuela tiverem franca recuperação econômica.

A debilidade política, psicossocial e cientifico-tecnológica do Poder Nacional se reflete diretamente no Poder Militar brasileiro que e subdimensionado e incompatível com o nível de riquezas e da população que deve proteger e defender. Neste contexto o Poder Naval é o que tem sofrido o maior nível de degradação nos últimos anos. A falta de prioridade de sucessivos governos e o alto nível de investimentos para obtenção, operação, manutenção e modernização de meios contribuiu para uma diminuição gradativa e constante da Marinha do Brasil (MB), com o agravante da obsolescência de navios em bloco, que levará a uma redução da atual frota em cerca de 40 % até o ano de 2028, segundo o seu atual comandante o almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen.

São de inquestionável importância os programas de construção de submarinos e fragatas, além dos primeiros passos na construção de um submarino de propulsão nuclear, que será equipado com sistemas de armas convencionais, que deverá ser incorporado em 2037 à Força de Submarinos (ForSub). No dia 04 deste mês, aconteceu o corte da primeira chapa da seção de qualificação do Álvaro Alberto, uma boa notícia, claro, mas não oculta o fato de que, em 2023, a MB perdeu a metade de seus submarinos.

Desses três submarinos, o Tamoio, por apresentar uma grave avaria técnica nos tubos de torpedos e de alto custo para sua solução, dificilmente teria sua baixa postergada. Entretanto, o Timbira e o Tapajó com apenas 27 e 24 anos de idade, respectivamente, poderiam, havendo recursos suficientes, continuar em serviço por mais alguns anos até serem substituídos por um eventual segundo lote de novos submarinos. Como se sabe, os submarinos alemães Type 209, quando submetidos a manutenções tecnicamente acuradas, possuem longa vida operacional. Um exemplo é o colombiano Pijao, comissionado em 1975, que em setembro passado se deslocou para os Estados Unidos para participar do programa DESI (“Diesel Electric Submarine Iniciative” – Iniciativa Submarino Diesel Elétrica) junto à US Navy.

 

Escrito por Paulo Maia, da equipe de Tecnologia & Defesa

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Comentários

23 respostas

  1. Me desculpem, mas essa aí dá pra botar na conta da Marinha também. Incorporar o São Paulo e uma aviação de asa fixa é como querer competir contra os que correm a cavalo quando não se consegue competir com os que vão a pé. Até hoje ela torra dinheiro nos A4, sendo que está mais do que claro que a aviação naval de asa fixa não vai ter um futuro no nosso país. Quantos navios patrulha não poderiam ter sido comprados com o que se gastou nessa modernização?
    Mais uma questão: são 20 bilhões de dólares por ano de orçamento pra defesa. Muitos países do mundo se defendem melhor com um orçamento menor. Agora, gastar quase 80% disso com pessoal é uma questão de gestão também. Do jeito que está, podem aumentar o orçamento pra 30 bilhões que ainda vai ser pouco. Cortar na carne mesmo ninguém quer. A FAB reativou um monte de unidades que haviam sido desativadas, A MB mantém Escolas de Aprendizes em lugares onde não há um meio naval sequer. Eu mesmo moro perto da ESAM de Florianópolis e vejo todo ano a Marinha trazendo recruta do Rio pra cá. Pra que afinal?
    Enquanto imperar essa mentalidade de funcionário público que só quer o seu “direito garantido”, a defesa nacional vai continuar definhando

    1. A FAB tem um programa de utilizar , cada vez mais, oficiais temporários em atividades meio e deixar os oficiais de carreira nas atividades fins da força. E não reativou unidade que foram fechadas, as Bases Aéreas dos Afonsos, Fortaleza e Salvador, são Bases de deslocamento somente, sem unidades aéreas. A MB fechou uma ESAM esse ano, acho que Recife, se não me engano. O EB, por sua presença nacional , cortar OMs é mais complicado. Mas concordo que podemos sim racionalizar o efetivo mas isso não pode ser realizado de uma hora pra outra. Há problemas jurídicos a resolver. Eu acho que poderíamos diminuir o número de municípios. 5.500 e blau é muito e tem muitos que não tem como se manter. São 5.500 Câmaras de Vereadores. Quer um exemplo, olha a sede do TSE em Brasília. Temos eleições de 2 em 2 anos, os ministros do TSE são compostos por membros do STJ, STF, MP. Que só se reunem em época de eleição. Olha o tamanho da sede. E por ai vai. 27 Assembleias Legislativas, 513 Deputados e 81 Senadores mais um monte de assessores, etc. Poder Judiciário nem vou falar……

      1. Concordo com os argumentos que se amparam no tema da gestão. De fato das três forças a FAB foi a primeira a pensar a gestão de maneira global (pessoal, instalações, cadeia de custeio, logística, missão, equipamentos). O EB ao que parece também caminha para o esforço semelhante. A MB parece que, dado a complexidade da missão
        (frota de superficie, componente aereo, fuzileiros, dimensão maritima e fluvial, submersiveis), tem uma tarefa muito árdua. Parte do editorial é interessnate mas acho que cabe a reflexão do custo da mudança de paradigma da força de submarinos, saindo dos 209 para o Scorpene em função da possibilidade de amparo francês o submarino nuclear. Isso é muito custoso creio eu e certamente tem impacto nos investimentos da forca. Escrevo apenas como um curioso do tema.

  2. É difícil opinar, mas creio que o Brasil deve repensar e reforçar as forças armadas. Evidente que se gasta recursos com isso. Mas pelo que vi em últimas reportagens, a Marinha vem sofrendo mais. Tomara que não se vire as costas para esse problema que chega a ser de soberania nacional.

  3. O único problema que eu vejo é que todo mundo quer ver as FA cortando na carne (por muitas vezes, eu inclusive), mas não vê a quantidade de benefícios pessoais que a alta coorte recebe. O Legislativo e, principalmente, o judiciário (com o 4° poder – MPF), recebem inúmeros benefícios que não entram no portal da transparência e são pagos diretamente das verbas dos TJ’s.
    Sim, é preciso melhorar a gestão. Mas antes, o brasileiro precisa fiscalizar melhor outras coisas.
    Concordo com o Marcelo Andrade.

  4. A marinha já deveria ter assinado esse segundo lote dos submarinos Riachuelo a tempos e aproveitar o estaleiro para construir patrulhas distritais e navios varredores para substituir a classe Aratu em Salvador e também ampliar o estaleiro em Itajaí para além de mais fragatas Tamandaré também construir corvetas e contratorpedeiros como oferecido o MEKO A-400.

  5. Discordo veementemente com o texto do articulista, o que vemos é uma oportunidade ímpar de mudarmos o modus operante na construção e operação de meios por parte das forças armadas, em especial a MB. Os submarinos em questão ainda têm uma vida útil relevantes para venda a países amigos. Isso pode possibilitar recursos para mais submarinos da classe Riachuelo, além de liberar recursos humanos para esses novos submarinos que estão sendo aprontados.
    Outro ponto com a venda, é começar a ganhar relevância no fornecimento de meios e serviços no mercado internacional, além do fator de influência geopolítica atrelado ao fato.
    Querer manter esses submarinos classe Tupi em operação, é manter a mesma visão tacanha de sermos de usar até o osso esses meios, mantendo a cultura viralatice de ser meros país operador, cultura arraigada nas nossas elites intelectuais, midiáticas, política e militar.
    Já passou da hora de virar a página disso.

    1. Não vão operar pelos 20 anos que teriam de vida e não vão ser comprados por ninguem. Vão pra sucata. Isso não depende de desejo. É a realidade. É o unico recurso real de dissuasão sendo desperdiçado por má administração e sonhos.

      1. E não serão comprados por ninguém?! A certeza disso seria?!?! Fiquei curioso por tamanha convicção…

  6. A MB desperdiça muito dinheiro com seus 2 delírios de grandeza. Primeiro o São Paulo, os A-4 e a ideia de manter aviação naval de asas fixas: o Brasil está longe de ter verba para construir um porta-aviões e comprar aeronaves decentes para equipá-lo, e isso sem falar no custo enorme de operação desse tipo de navio. Além disso, convenhamos, o Brasil não tem a menor necessidade de um meio que serve basicamente para projeção de poder. Já passou da hora de aposentar os A4 e focar no que realmente importa.
    O outro delírio é o submarino nuclear. Esse eu até acho que se tornará realidade, mas a um custo totalmente desproporcional ao benefício. Quantas escoltas e submarinos convencionais poderiam ser adquiridos com esse valor? Qual o benefício de um submarino de propulsão nuclear para uma força defensiva? Creio que seria muito mais eficaz termos uma quantidade razoável de escoltas e submarinos convencionais modernos e capazes, do que 4 escoltas e 5 submarinos, sendo 1 nuclear, porque do jeito que está essa é a previsão para daqui a 20 anos.

  7. 80.000 efetivos sendo 75% no RJ.
    Mesmo quando se olha serviços de cartografia, saude, segurança de navegação, sinalização, salvamento, policia maritima, pesquisa etc…a conta nao bate. É a maior ” marinha de terra do mundo”.
    03 submarinos que vao pra sucata em meia vida.
    Se não conseguem manter mais que 04 convencionais operando imagina com o nuclear como será…..um devaneio que talvez seja realidade daqui 15 anos e que vai sugar todos os recursos.
    Vamos chegar em 2027 com 05 ou 06 escoltas. 1/ 3 praticamente do que tinham9s em 2009.
    Um réles navio patrulha de 500 ton demora anos pra ser construido.
    Aliás logo serão.os navios patrulha sendo desativados em bloco. Nem o básico consegue ser provido com mínima eficiência.
    Isso é má administração. A marinha tem a pior gestão e a maior concentração.
    A FAB e o EB crescem nas suas capacidades. A marinha caminha pra um melancólico purgatório.

    1. Que eu saiba a MB pretende desativar 1 U209 para cada 1 Riachuelo que entre em serviço. No fim ficará somente o Tikuna ainda operacional junto com os 4 subs franceses e o foco será no submarino nuclear. Preocupa muito mais a frota de superfície com apenas 4 Tamandaré contratadas , e 8 escoltas ativas , sendo que já tivemos 14 escoltas no passado.

  8. Desde que me conheço por gente, ouço falar do desenvolvimento deste tal submarino nuclear, a impressão que fica, é que o interesse é apenas nas verbas que consome, uma geração inteira está sendo sustentada, e muito bem sustentada com este “esquisito projeto”, e só agora estão cortando a primeira “chapa”, enquanto que em muito menos tempo a Índia já pousou um foguete na Lua, estão de sacanagem néh, o que vocês fazem aí, além de festas suntuosas e tramar Golpe de Estado?

  9. a questão é primeiro elaborar uma doutrina militar genuinamente brasileira adequada a nossa realidade reativar a indústria armamentista brasileira ou caso contrário seremos espoliado em nossas riauezas

  10. O Grande problemas das FA do Brasil não é de agora, lembro que na Guerra das Malvinas o Almirante Chefe disse que nossa marinha não tinha a mínima chance de se envolver por 1 semana num conflito como aquele. Outra coisa os gastos com as FA do Brasil são altíssimos e um dos maiores entre os países em desenvolvimento o problema é que mais de 70% é só folha de pagamento aí fica difícil.

  11. Realmente, a MB precisa evoluir. Uso de porta-aviões nunca fez sentido para o Brasil. Já os navios de patrulha e, principalmente, os submarinos são fundamentais para a segurança. É preciso cortar gastos mas precisamos é da Reforma tributaria e política. Sem essas mudanças, continuará faltando recursos para questões fundamentais como educação, saúde, segurança.e transportes.

  12. Apenas uma pergunta do povo brasileiro se faz necessária :
    A quem interessa a degradação das forças armadas brasileiras?

  13. não adianta falar que precisa cortar as pensões das filhas dos generais, altos salários, etc. Nunca que vai acontecer, tem que separar orcamento de encargos/pessoal do orçamento de investimentos, isso tem que ser feito pelo congresso, mas quem pauta o legislativo hoje em dia? Os bancos, os ruralistas, bancada evangélica, ciência e tecnologia/defesa não tem voz alguma, pior de tudo é que defesa foi se ideologizar e sgora está presa numa armadilha ideológica que é uma perda de tempo total.

  14. Ter estes meios bélicos é necessário, mas como?
    Ter navios modernos nos ajuda a desenvolver indústrias, projetos e equipamentos. A tecnologia nuclear, está anos luz na frente da convencional e é um leque de desenvolvimento, desde que tenhamos poder próprio de desenvolvimento.
    Inimigos em potencial temos: Costa Oeste.
    É de lá onde vem o financiamento de destruição através da ação do poderoso narcotráfico,que não tem ideologia política
    a não ser se fortalecer e dominar toda sociedade.
    Fab, nesta região de fronteira está muito distante de ser atuante, não há baterias de interceptação e aeronaves operantes o suficientes.
    EB, até vê este problema, mas está sempre com o pires na mão, sempre a espera de uma boa ação política. Eu vi depois do desfile militar de 07/09, veículos a espera de socorro para voltar à caserna,isto dentro da cidade.
    Pergunto: como estariam estes equipamentos lá na região fronteiriça?
    O inimigo mora ao lado o vejo, ele ri prá mim.

  15. o Brasil precisa de uma marinha com pessoal e equipamentos que sejam adequados e atendam os aspectos de segurança na paz ou conflito atualizados com as exigências atuais do tamanho do país, modelos antigos e formações inchadas e falta de navios frustram os próprios marinheiros que são lotados em quartéis sem aprimorar experiências e conhecimentos a bordo de uma embarcação que forma verdadeiramente os marinheiros.

  16. As FFAA são como tudo no Brasil, inchadas.., o orçamento não é pequeno. Vejam o resto do Brasil, temos inúmeras carências. Para falar de uma é só ver a segurança.
    Nao só do tipo que fala, migalhas as FFAA que não fazem nada. Mas como dito acima, os A4 são aviões desenhados nós anos 50. Desperdício total continuar insistindo nisso.
    Sobre os submarinos idem….
    Como tudo público , gastasse muito em.pessoal e o resto fica com o que sobra.

  17. Equipamentos bélicos são caros, meios navais modernos então…
    Mas, realmente a conta não fecha. Quer pela concentração de pessoal em um estado (RJ), quer pela pela disparidade na previdência militar (ao passarem à reserva, além de subirem um patamar salarial – como se fosse uma promoção – recebem cerca de 08 soldos, tipo um FGTS que só eles como funcionários públicos tem. Há ampla cobertura de saúde familiar e pensões integrais, fora penduricalhos deixados as filhas. H, ainda, as famosas “fundações” que acolhem o “andar de cima” e de contabilidade fechada.
    Orçamento de 70% para pessoal, com essas benesses (que só deveriam existir em tempo de guerra), tornam inviável construir e manter FFAA modernas. Isto, em um país que tem sempre que ir ao bolso da sociedade (impostos), cada vez com mais voracidade, sem equalizar tantos problemas sociais.
    Evidente que militares tem que receber soldos consistentes com sua formação e dedicação, que estimulem cada vez mais o aperfeiçoamento e uma aposentadoria digna. Mas houve excessos, excessos mesmo.
    A conta nunca irá fechar.

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