Como a FAB se prepara para o Gripen – Entrevista com Ten Brig Ar Luiz Fernando de Aguiar

Parte 1

Está cada vez mais perto o dia em que o Gripen chegará para assumir as missões de defesa do espaço aéreo brasileiro. É inegável que esse caça vai agregar um salto qualitativo e operacional talvez inédito para a Força Aérea Brasileira (FAB). Suas capacidades táticas, os equipamentos de guerra eletrônica, de armas, de comunicação em rede, além da elevada disponibilidade e flexibilidade operacional será um elemento dissuasório fundamental na geopolítica regional.

Entrevistamos o Ten Brig Ar Luiz Fernando de Aguiar, que desde o dia 2 de fevereiro assumiu o cargo de Comandante de Preparo (COMPREP) da FAB. A missão deste grande comando é a de liderar todas as atividades relativas ao planejamento e preparo da Força Aérea, uma tarefa desafiadora e que exige um time de profissionais extremamente qualificados e comprometidos.

O Ten Brig Ar Aguiar é natural da cidade do Rio de Janeiro (RJ). Foi declarado Aspirante a Oficial Aviador em 9 de dezembro de 1982 e promovido ao atual posto em 25 de novembro de 2018. Possui todos os cursos acadêmicos e operacionais de carreira e, ainda: Curso de Guerra Eletrônica; de Administração de Recursos Humanos; de Gestão da Informação; e de Capacitação em Gestão Integrada de Processos, Projetos, Resultados e Mudança; e MBA em Gestão Estratégica.

Dentre as principais funções exercidas estão: Comandante do Grupo de Serviço de Base da Base Aérea de Anápolis; Assessor Militar para Assuntos de Aeronáutica do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República; Comandante da Base Aérea de Natal; Adido Aeronáutico junto à Embaixada do Brasil no Chile; Chefe do Estado-Maior do Sétimo Comando Aéreo Regional; Comandante da Terceira Força Aérea; Chefe do Estado-Maior do COMGAR; Comandante do Segundo Comando Aéreo Regional; Presidente da Comissão de Implantação de Sistemas Espaciais; e Diretor-Geral do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA). Possui cerca de 4.900 horas de voo em 12 tipos diferentes de aeronaves. Já recebeu 16 condecorações nacionais.

 

Dadas as capacidades do Gripen de operar a partir de pistas extremamente curtas, a FAB prevê a sua em aeródromos ou pistas destacadas na região de fronteira do Brasil?

A FAB fez um levantamento bastante completo para identificar todas as pistas em que será possível operar o Gripen E/F, o que resultou na identificação de mais de 300 aeródromos em que a aeronave pode pousar. São pistas de pouso, aeroportos e bases militares que cobrem todo o território nacional.

Além disso, vários órgãos da FAB estão realizando um estudo em conjunto para determinar as necessidades e possibilidades de operação em rodopista no Brasil. Nesse caso, trata-se da interdição de um trecho comum de rodovia por um breve período de tempo de modo a possibilitar o pouso, reabastecimento e remuniciamento das aeronaves. Depois desse reposicionamento, o avião estará pronto para realizar uma nova decolagem logo em seguida ou então pode ficar em alerta, às margens da rodovia, para eventuais acionamentos. Sabendo-se que o Gripen C/D (versão anterior das aeronaves que estamos adquirindo) consegue operar em trechos de rodovias que chegam a 800m de comprimento e 16m de largura, estimamos que o Gripen E/F terá capacidades similares.

Essa capacidade permitirá complementar qualquer lacuna do território nacional que, porventura, não conte com aeródromos suficientes para a condução de operações aéreas. Além de contribuir com a furtividade das operações, já que, dessa forma, torna-se bastante difícil para um eventual oponente localizar e neutralizar a base de operações.

 

Quando está prevista a obtenção da capacidade operacional plena (Full Operational Capability) do Gripen na FAB? Como deve funcionar e o que envolve esse processo?

A capacidade completa (Full Capability – FC) do Gripen será entregue para a FAB no início de 2025. Isso significa que, na FC, teremos todos os sistemas integrados e testados, prontos para serem empregados no combate. Para entender melhor esse conceito, é bom enxergarmos o Gripen não só como um avião, e sim como uma plataforma de combate que possui vários sensores, equipamentos e armamentos.

Todos esses sistemas devem funcionar de maneira integrada para cumprir uma determinada missão. Essa integração, seja no Gripen ou na maioria dos projetos modernos de aeronaves de combate, é feita de forma paulatina. É costumeiro que os sistemas essenciais de voo e os sistemas básicos de combate sejam entregues logo nas primeiras aeronaves, o que permite realizar testes de recebimento, o treinamento inicial dos pilotos e mantenedores e, até certo grau, o emprego operacional. Na medida em que as próximas aeronaves vão sendo entregues, elas vêm com novos equipamentos e funcionalidades incorporados e a frota já recebida também é atualizada para a última versão.

Entende-se que tal método de desenvolvimento seja benéfico para os dois lados, seja para a FAB como cliente, seja para a SAAB como empresa contratada. Isso porque a FAB conseguirá iniciar logo os seus treinamentos e conseguirá testar o conceito operacional da plataforma antes do “pacote de desenvolvimento” estar fechado. Isso dá a oportunidade para que a FAB e SAAB trabalhem em conjunto para que o produto final seja refinado com foco na eficiência operacional testada e comprovada pelo operador, garantindo assim que o Gripen atenderá plenamente aos anseios da nossa Força e, por consequência, se torne um Caça bastante competitivo no cenário mundial. Acrescento que a versão inicial do Gripen será denominada “Basic Capability – BC”, a ser entregue já em 2021, sendo requisito essencial da FAB que a aeronave já esteja pronta para missões de Defesa Aérea desde então.

 

Qual é expectativa da Força Aérea em relação a distribuição do Gripen pelas localidades?

Inicialmente, todos os Gripens brasileiros ficarão sediados na Ala 2, em Anápolis – GO. Estão sendo feitos estudos para uma distribuição em outras localidades

 

Quando os primeiros pilotos devem ser enviados para a Suécia para receber o treinamento no Gripen E? Como vai funcionar esse processo e quantos pilotos devem passar por esse treinamento?

A escolha dos primeiros pilotos de Gripen foi resultado de um rigoroso processo de seleção onde foi avaliado todo o desempenho operacional dos Pilotos de Caça. Interessante comentar que, naturalmente, a formação do Oficial Aviador na Academia da Força Aérea (AFA) e, em seguida, a formação de Pilotos de Caça e Líderes de Esquadrilha de Caça já constituem processos seletivos extremamente rigorosos, que forjam pilotos do mais alto gabarito. Com isso, destacar alguns poucos dentre um grupo de profissionais que já é bastante seleto não é tarefa fácil. Foram detalhes mínimos que levaram à escolha dos 12 Oficiais Aviadores que serão os primeiros pilotos de Gripen.

Esses pilotos seguirão para a Suécia em três turmas com quatro pilotos cada uma, sendo que a primeira turma já partirá em janeiro de 2021. Ficarão na Suécia por um período aproximado de 5 meses e lá farão o curso do Gripen C/D (versão anterior ao Gripen brasileiro, sendo o C mono-posto e o D bi-posto). Ao regressarem ao Brasil, farão o curso teórico e de simulador para então poderem voar o Gripen E (mono-posto).

Interessante notar também que, nesse momento inicial, ainda não teremos o Gripen F (bi-posto), o qual permite o voo “duplo-comando” para instrução. Este irá entrar em operação na FAB somente no final de 2023. Por conta disso é que se faz necessária uma adaptação ao Gripen C/D na Suécia, cuja pilotagem é bastante parecida com a do Gripen E/F e, dessa forma, os habilitará a realizar o primeiro voo no Gripen E já solo. Ressalta-se que esse será o modelo de treinamento definitivo a ser adotado pela Força Aérea da Suécia já que, diferente da FAB, aquela Força Aérea não optou pela aquisição do Gripen F, apesar de estarem migrando também para o Gripen E.

 

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Comentários

2 respostas

  1. pelo descrito , entendi que o Gripen operacional, voando nos céus do Brasil “Basic Capability – BC”, Setembro de 2021… 5 meses para treinar 4 pilotos no C/D em 2021 e no simulador do Gripen E no Brasil , +/- 1 mês … e o inícios dos voos do Gripen E … se nada de anormal ocorrer

    Full Capability – FC Completamente Operacional Inicio de 2025

    Contaremos com os F5M até 2025 e com a nossa maior arma; A Sorte!

    1. A versão básica já vira com a capacidade de defesa aérea (Ar-Ar) como requisito. O FC será a homologação dos demais modos de combate.

      “Acrescento que a versão inicial do Gripen será denominada “Basic Capability – BC”, a ser entregue já em 2021, sendo requisito essencial da FAB que a aeronave já esteja pronta para missões de Defesa Aérea desde então.” – Ten Brig Ar Luiz Fernando de Aguiar

      De qualquer forma, os F-5EM/FM continuarão até terminar ou próximo do recebimento de todos os 36 F-39.

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