A modernização do Marder alemão está dentro do cronograma

Por Aurelio GiansiracusaAres Osservatorio Difesa (*)

A modernização das 78 viaturas de combate de infantaria (“infantry fighting vehicle” – IFV) Marder do Exército Alemão está de acordo com o cronograma estabelecido.  Muito do trabalho foi realizado e a maioria dos novos sistemas encomendados foram entregues pelas empresas envolvidas.

A modernização é substancial e afeta praticamente todos (ou quase todos) os aspectos da viatura que acaba de completar 50 anos de serviço ininterrupto nas fileiras do Bundeswehr.

Até o surgimento dos diversos IFV da atualidade (Bradley, Warrior, CV90…), o Marder representava a “somatória” deste tipo de sistema de armas no ocidente, pelos níveis de proteção, mobilidade e poder de fogo a sua disposição. Sendo armado com a torre equipada com metralhadora de 20 mm e o míssil antitanque guiado (ATGM) Milan, entrou em serviço entre o final dos anos setenta e o início dos anos oitenta do século passado.

O Marder adotou a maioria dos componentes desenvolvidos e produzidos para o carro de combate Leopard 1, com os quais, até a introdução em larga escala do posterior Leopard 2, constituía uma excelente combinação em termos de potência, proteção e capacidade de combate que tinha poucas comparações na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

Porém até o Marder envelheceu e, apesar da entrada em serviço do moderno Puma (que apresentou diversos problemas em sua introdução), o Exército Alemão continua a se concentrar em seu “velho cavalo de batalha”, porém se lançou um amplo programa de modernização para tornar-lo adequado para enfrentar o campo de batalha moderno, considerando que as ameaças a serem enfrentadas são muito diferentes das de 1971, ano de entrada em serviço.

De fato, na época os tanques de batalha mais modernos do Pacto de Varsóvia eram os T-62, armado com um canhão de 115 mm, e o T-64, de 125 mm, porem este último estando em serviço apenas para as divisões blindadas da União Soviética. Como IFV, seu principal adversário era o BPM-1, armado com um canhão de baixa pressão de 73 mm e o míssil AT-3 Sagger, que os israelenses “conheceram” alguns anos depois, devido a enfrentar durante os duros confrontos que ocorreram por ocasião da Guerra do Yom Kippur.

Hoje, além da ameaça de novos tipos de blindados e das novas gerações de VCI, sobre esteiras e rodas, cada vez mais fortemente armados e blindados, as principais ameaças vêm dos novos tipos de mísseis e de lançadores de foguetes, cada vez mais eficientes, e do ar, com drones que lançam munições explosivas e/ou perfurantes ou as munições autônomas (“loitering munitions”), que na verdade são “drones suicidas” que, uma vez que o alvo foi identificado, o atacam de cima (o lado fraco de qualquer blindado, sem esquecer minas e artefatos explosivos improvisados (“improvised explosive device” – IED), cada vez mais difundidos e capazes de causar danos e vítimas na ausência de contramedidas e proteções destinadas a conter os efeitos mortais da explosão.

Portanto, tendo em vista o compromisso alemão estrito na Força-Tarefa Conjunta de Alta Prontidão (“Very High Readiness Joint Task Force” – VJTF) da OTAN, para a qual a Bundeswehr será chamada para fornecer as unidades principais, foi lançado o programa de modernização IFV Marder 1A5, que apoiarão os IFV Puma.

Os 78 Marder escolhidos receberão um novo motor, de 550 kW ou 750 cv, enquanto a caixa de câmbio permanecerá a original, embora atualizada com um nível mínimo de digitalização. O novo motor, sendo mais potente do que o originalmente montado, exigia a adoção de um sistema de refrigeração diferente com modificações substanciais. Receberão as esteiras de borracha utilizadas pelo Puma, que possuem um menor desgaste e menos impacto na superfície da estrada, diminuindo o impacto sobre seus componentes eletrônicos e o ruído do veículo de forma significativa.

Serão equipados com o sistema de observação Spectus, fornecido pela HENSOLDT, composto por sistemas ópticos e câmeras de imagem térmica de nova geração para operações noturnas ou com pouca ou nenhuma visibilidade, e o apontador termográfico Saphir 2.6 MK, da Rheinmetall, dos quais 260 foram encomendados em 2020, com entregas para 2022 e 2023 (alguns dos quais não serão montados, mas servirão como estoque para reposição). Novos sistemas de rádio integrados ao sistema de gerenciamento operacional de campo de batalha do Exército Alemão também estão instalados.

Para facilitar a condução do veículo e suas manobras de reversão, uma câmera será instalada na parte traseira, que também pode ser usada para aumentar a vigilância de seu “lado cego”. Além disso, para aumentar a capacidade de sobrevivência, receberão um novo sistema de alarme e extinção de incêndio, derivado do modelo instalado nos Puma, desenvolvido pela empresa Kidde Deugra.

Por fim, no que se refere ao armamento, todos os 78 blindados receberão o míssil anticarro MELLS, nome alemão do míssil israelense Rafael Spike LR (“Long Range”), produzido pelo consórcio EuroSpike, uma joint venture entre Diehl BGT Defense (40 %), Rheinmetall Defense Electronics (40%) e Rafael Advanced Defense Systems (20%).

(*) Ares Osservatorio Difesa é uma Associação Cultural italiana, fundada em 12 de abril de 2019, em Roma, para a análise e estudo de questões nacionais e internacionais relacionadas as áreas de defesa e segurança, e parceira de Tecnologia & Defesa no intercâmbio de informações, para manter os leitores atualizados das notícias importantes que ocorrem entre os dois países.

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