A difícil renovação da aviação de combate naval da Argentina

Por Hélio Higuchi e Paulo Roberto Bastos Jr.

A Aviación Naval Argentina é uma das poucas forças aéreas de marinhas latino-americanas a operar aviões de combate, e a única à opera-los em situação real, que ocorreu durante o conflito das Falklands/Malvinas, em 1982. Nele, seus caças Super Étendard foram destaque no mundo todo, pelo afundamento do destróier HMS Sheffield (D80) e o cargueiro mercante SS Atlantic Conveyor com a utilização, pela primeira vez em combate, dos mísseis ar-superfície AM39 Exocet.

Os caças franceses Dassault-Breguet Super Étendard, ao contrário da grande maioria das caças da Fuerza Aérea Argentina (FAA), foram adquiridos novos, porem, apenas cinco deles chegaram a tempo para participar no conflito, sendo o restante entregue após o fim do conflito, chegando sua frota a um total de 14 aeronaves, e estes foram utilizados com muito zelo, mas após três décadas a sua substituição se tornou inevitável.

Com cinco aeronaves perdidas em acidentes e as restantes estocadas com restrições de voo e sem nenhum programa de upgrade efetuado, a Aviación Naval procurou por um substituto, mas além da escassez de recursos, provocada pela grave crise financeira que o país atravessava, deparou com o bloqueio de fornecimento de produtos e componentes ingleses em material militar.

Dentro das limitações impostas, em 2018 recebeu uma proposta que parecia atraente: uma oferta da França para venda de um lote de Super Étendard Modernisé (SEM), com a instalação de vários equipamentos atualizados, mas desativados há dois anos, entretanto na modalidade “as is, where is”, isto é, nas condições que estavam, e despesas de transporte por conta do comprador.

Acabaram por adquirir cinco deles, por um valor aproximado de U$15 milhões, incluindo frete, peças de reposição e um simulador de voo, tendo a autorização de compra, durante o governo Mauricio Macri, despertando “ciúmes” por parte da FAA, que já não dispunha mais de caças Mirage em atividade e que acabaram por lançar um insólito pedido para incorporar esses Super Étendard ao invés de entregar para a Aviación Naval. No final prevaleceu a legitimidade de destinar os aviões à Armada.

Os aviões desembarcaram, por via naval, na Argentina em maio de 2019, mas a operacionalização deles ainda está longe de iniciar, pois, após a realização de testes de motores e aviônicos embarcados, foi constatado que os cartuchos que acionam os assentos ejetáveis estavam vencidos, e aí eles tinham um problema grave…

Como estes assentos são fabricados pela Martin Baker, uma indústria britânica, sua aquisição de componentes originais estava totalmente fora de questão devido ao embargo levantado pelo Reino Unido após o guerra de 1982, o que os obrigou-os procurar um fornecedor alternativo. A solução encontrada foi contactar a SECAM, uma indústria francesa que atende a indústria aeronáutica daquele país.

O preço da revisão do sistema de ignição e troca dos cartuchos para disparar o assento ejetável Safran/Martin Baker Mk6 custará U$ 1 milhão, por assento, valor considerável se compararmos a troca completa de assentos ejetáveis, por modelos novos, realizado pela Martin Baker em 2017 para o Uruguai, em seis aviões de ataque Cessna A-37B Dragonfly, a um custo de U$800 mil por avião, lembrando que cada um deles possui dois assentos. Ironicamente a troca desses assentos foi realizada pela MBA SA, subsidiaria da Martin Baker com sede na Argentina.

Espera-se que a verba para a manutenção dos assentos ejetáveis esteja disponível a partir do ano que vem.

 

Caças A-37 Fuerza aerea Uruguaya na Base Aérea Tte. 2° Mario W. Paralladaem, Durazno, em 2009 (Foto: Hélio Higuchi)

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Comentários

2 respostas

  1. Mais um presente de grego dos franceses. Com certeza sabiam da situação dos assentos e provavelmente não passaram a informação, porém foi uma falta de profissionalismo por parte dos militares que avaliaram as aeronaves não terem verificado a situação dos assentos sabendo que os mesmos são de origem inglesa.

  2. Tenho cá sérias dúvidas de que estes caças cheguem um dia a voar novamente dada a pura e simples ausência de caças efetivos na FAA.
    Seria um delírio, e dos grandes, a ARA possuir caças operacionais enquanto a força aérea do país morre à míngua.
    Se não houvesse tanta desídia por parte dos políticos argentinos, e de grande parte da sociedade também, em relação aos militares, talvez eles não estivessem na situação em que estão. Mas, Defesa na Argentina é um assunto para poucos, bem poucos mesmo.

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