Por Valmor Saraiva Racorti (*)
4 – O PARADOXO DA INTELIGÊNCIA E O AXIOMA DA INTELIGÊNCIA
Duas características pouco conhecidas da função de inteligência são o “paradoxo da inteligência” e o “axioma da inteligência”. Um paradoxo é uma afirmação que exibe aspectos aparentemente inexplicáveis ou contraditórios.
Em se tratando de gestão de incidentes, isso acontece porque os ambientes táticos não são apenas dinâmicos, mas as resoluções satisfatórias são inerentemente sobrecarregadas com restrições de tempo, e obter informações de qualidade e completas geralmente é um processo intenso e demorado.
No entanto, “esperar” pela inteligência exige que as decisões sejam adiadas, o que pode se tornar ineficaz porque a situação terá mudado. Essa é uma questão fundamental que confronta todos os gestores de incidentes. É evidente, então, que quanto mais rápida e fácil a informação relevante puder ser incorporada ao processo de tomada de decisão, maior será o seu valor e impacto na resolução final.
Sid (2008) em artigo publicado na revista “the tactical” explica que a capacidade de obter e avaliar rapidamente as informações para fornecer inteligência oportuna, precisa e confiável para a tomada de decisão oferece uma vantagem substancial, e muitas vezes decisiva, aos comandantes táticos.
Num incidente, inicialmente, qualquer informação é útil porque permite a tomada de decisões enquanto o esforço para obtê-las é mínimo. Mais tarde, à medida que um tomador de decisão se torna mais consciente dos fatores e influências situacionais, informações adicionais fornecem cada vez menos conhecimento e compreensão, enquanto o esforço para obtê-lo se torna cada vez mais difícil.
Em algum momento, o esforço para obter informações mais úteis excede seu valor e outras tentativas não são apenas improdutivas, mas até contraproducentes, e o esforço que poderia ser mais bem utilizado em outros lugares é desperdiçado. Assim, pode-se observar que qualquer coisa que reduza o esforço aumenta automaticamente o valor, porque mesmo informações de valor marginal podem ser rapidamente identificadas e descartadas.
O esforço para se obter informações úteis pode ser bastante reduzido, capturando-as e armazenando-as para uso posterior, usando uma equipe treinada com habilidades e conhecimentos especializados para buscá-las e avaliá-las, e tecnologia para aferir, exibir e comparar dados, utilizando ferramentas para obter insight e compreensão.
Conforme explica Sid Heal (2012) em seu livro Field Command, existem quatro métodos predominantes usados para diminuir esse esforço: acelerar o acesso, que geralmente é realizado organizando as informações que foram disponíveis, um processo que pode ser tão simples quanto compilar uma lista telefônica com todos os números relevantes fornecidos num modo facilmente compreensível. Outra possibilidade inclui a pré-identificação de pontos de contato com especialistas no assunto ou a indexação de relatórios pós-ação de incidentes críticos para a referência.
O segundo método é a incorporação de habilidades e conhecimentos especializados, que exige uma equipe treinada e que entenda a necessidade crítica de certos tipos de informação e o modo mais hábil e eficiente de obtê-la, evitando duplicação de esforços e improdutividades. Essa equipe também tende a ser mais intuitiva ao buscar e discernir a relevância de uma mistura de dados aleatórios.
O terceiro método é com uso da tecnologia, sendo o uso de computadores para coletar, armazenar, analisar e exibir dados o mais conhecido. Um benefício especial para operações prolongadas ou situações com precedentes é o uso de bancos de dados e planilhas para rastrear, analisar, comparar e exibir informações de várias maneiras.
Outros avanços tecnológicos fornecem habilidades para ver no escuro (visores noturnos) para evitar a detecção, comunicar-se silenciosamente e até verificar o posicionamento de pessoas atrás das paredes (Figura 2).
O quarto método é usando ferramentas de análise. Elas fornecem uma capacidade aprimorada de discernir e exibir rapidamente informações relevantes de uma mistura de dados soltos, que não precisam ser complicadas ou sofisticadas. Por exemplo, o uso de um formato padrão é um dos métodos mais eficientes para reduzir o esforço, porque organiza automaticamente as informações em categorias.
Isso é especialmente importante nos relatórios de campo de observadores não treinados, pois fornece uma lista de verificação mental para garantir que nada de significativo seja esquecido. Também fornece um arranjo fácil de relatórios para permitir que os analistas revisem rapidamente um grande número de dados para uma informação específica, sem ter que ler documentos inteiros. Matrizes, listas de verificação, planilhas, bancos de dados, mapas, diagramas, tabelas e gráficos são outros exemplos de ferramentas de análise para determinar a relevância e integrar informações em formulários utilizáveis.
(*) Tenente-coronel da Polícia Militar do Estado de São Paulo, trabalhando atualmente como Comandante do Batalhão de Operações Especiais da PMESP (COE/GATE) / Doutor em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública pelo Centro de Altos Estudos da Polícia Militar. Bacharel em Direito pela Universidade Cruzeiro do Sul.
Veja Também
Informação e inteligência aplicadas aos processos decisórios em incidentes críticos – Parte 1/4
Informação e inteligência aplicadas aos processos decisórios em incidentes críticos – Parte 2/4