Blindados para emprego policial no Rio de Janeiro – Oportunidades perdidas

A repercussão havida em torno da divulgação de imagens de viaturas Agrale Marruá modificadas com adição de chapas de blindagem, de forma a aumentar a proteção da tripulação e da tropa embarcada, merece por parte da revista Tecnologia & Defesa uma reflexão direcionada a seus leitores.

Por Paulo Roberto Bastos Jr e Roberto Caiafa

Em 2012, portanto há SEIS ANOS atrás, T&D publicou matéria exclusiva onde era detalhadamente exposta em todas as suas características a viatura M27 Marruá LAPV  (Light Armor Patrol Vehicle) ou VBPL (Viatura Blindada de Policiamento Leve), uma parceria entre a brasileira Agrale e a sul-africana OTT Blindados.

O protótipo, baseado inicialmente no M27 4×4 (AM 200 CD), foi desenvolvido na África do Sul.

Imagem: Roberto Caiafa

A industrialização dessa versão blindada deveria ser feita no Brasil, de acordo com as expectativas de mercado apuradas a época pela reportagem.

O M27 Marruá LAPV/VBPL se prestaria tanto ao trabalho de patrulhamento de fronteiras (leia-se Operação Acolhida, por exemplo), quanto a participação em missões de paz internacionais (ONU), além de permitir seu emprego como posto de comando e controle avançado, base para sensores de vigilância ou como transporte blindado de frações de tropa.

Equipado com motor MWM Sprint 4.07 TCE/Euro 5: Cummins ISF 2.8, o M27 Marruá LAPV/VBPL blindado também se apresentava a época como uma excelente opção para emprego policial.

O modelo já apresentava em 2012 características como robustez ampliada, durabilidade e disponibilidade de peças de reposição, com ampla rede de assistência técnica já existente para os Agrale Marruá adotados pelo Exército, com o qual apresenta boa comunalidade de peças e manutenção.

A blindagem de nível três (STANAG III), prevista para o modelo, oferece proteção contra disparos calibre até 7,62 mm, explosões laterais (IED) e detonação de granada sob o piso.

O habitáculo blindado, dependendo da versão encomendada, poderia levar até seis pessoas (com a customização da caçamba, mais quatro lugares poderiam ser adicionados).

Na maquete a versão com caçamba extendida blindada, para mais quatro ocupantes. (Imagem: Roberto Caiafa).

Com um baixo peso para um veículo blindado da sua categoria (4,3 toneladas), e bastante ágil, o M27 Marruá LAPV/VBPL  se apresentava em 2012 como uma excelente opção custo x benefício para as forças de segurança nacionais, além de apresentar baixo fator de risco, já que seria baseado em um veículo militar homologado pelas forças armadas brasileiras.

Tanto esse veículo, infelizmente, quanto outras iniciativas da indústria nacional, como os blindados Guara 4WS, da Avibras Indústria Aeroespacial S/A, o Gladiador II, do Grupo Inbra Filtro, ou mesmo o novo AC-1, uma parceira da Ares Aeroespacial e a Columbus Internacional, para citar os mais bem posicionados em perspectiva, ainda estão em fases desenvolvimento, sendo que somente o Guará 4WS chegou de fato a criar um protótipo plenamente funcional, devido principalmente a falta de apoio, ou mesmo desinteresse, por parte do Estado.

O protótipo do Avibras Guará 4WS.
Vista computadorizada do protótipo do Gladiador II, do Grupo Inbrafiltro.
O estande da Ares Espacial reservou uma das maiores novidades da LAAD Security 2018, um novo veículo blindado 4×4 desponta no mercado, o AC-1.

Lamentavelmente, os fabricantes nacionais não possuem perspectivas concretas que seus produtos serão colocados em produção, apesar dos esforços e dinheiro investidos em seus projetos.

Um círculo vicioso que não se fecha

Desse modo, os grandes eventos Copa de Mundo FIFA 2014 (alguns jogos e a partida final) e os Jogos Olímpicos de 2016 aconteceram na cidade do Rio de Janeiro, ao custo de bilhões de reais, e mesmo assim as Forças de Segurança Federais, Estaduais e Municipais continuam apresentando graves deficiências estruturais, de planejamento e logística, apesar de todo o investimento feito no período.

Outra coisa que deve ser destacada aqui é a rapidez do Exército Brasileiro em apresentar uma solução, mesmo que paliativa e emergencial, para a proteção de seus militares, após os incidentes que custaram a vida de três militares e ferimentos graves em outro (possibilidade de ficar tetraplégico).

Policiais do BOPE avançam para o combate em pick-ups adaptadas: zero proteção balística (Foto: Internet).

Já a Secretaria de Estado de Segurança do Estado do Rio de Janeiro (SESEG), que já computa 70 (setenta) policiais mortos somente no primeiro semestre de 2018, continua obrigando seus policiais, civis e militares, a combater o crime lançando mão de veículos sem qualquer tipo de proteção, em um total desrespeito a esses valorosos profissionais, que deveriam ser a ultima linha de defesa do Estado contra a criminalidade.

A SESEG, e por extensão as secretarias de segurança de outros Estados, deveriam ter mais respeito pelos seus policiais e entender que os blindados para uso policial já deixaram de ser apenas uma ferramenta de combate ao crime, para se tornarem Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC), desses profissionais.

Que os 16 Iveco Lince adquiridos cheguem logo!

 

O Iveco LMV na configuração definida pelo Exército Brasileiro, sendo guiado na pista de testes da Iveco pelo especialista em blindados de T&D, Paulo Bastos.

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