O que a FAB diz sobre o programa do Gripen E/F

Na noite de 27 de outubro de 2020, na Ala 1 em Brasília, foi organizado o workshop da Comissão Coordenadora do Projeto Aeronave de Combate (COPAC), órgão da FAB subordinado ao Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) e cujo o tema foi o programa do Gripen.

O evento contou com a participação do Presidente da República, Jair Bolsonaro, do Vice-Presidente da República, Hamilton Mourão; pelo Ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva; pelo Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Antonio Carlos Moretti Bermudez, pelo Comandante da Marinha do Brasil, Almirante de Esquadra Ilques Barbosa Junior; e pelo Comandante do Exército, General de Exército Edson Leal Pujol.

Também estiveram presentes o Presidente e CEO da Saab, Micael Johansson, e o Presidente da Embraer Defesa e Segurança, Jackson Schneider.

Neste sentido, o atual chefe da COPAC, Major-Brigadeiro do Ar Malta, fez uma série de comentários que servem de alento especialmente na sensível conjuntura deste ano de 2020. Em diversos aspectos, é uma sensação de alívio e de orgulho.

A COPAC foi criada nos anos 1980 para gerenciar, especificamente, o programa binacional do caça AMX. Com o passar dos anos, o órgão ganhou importância estratégica passando a assumir outros projetos.

Com sede em Brasília, em linhas gerais, a sua missão é a de fazer a gestão do processo de seleção de aviões, helicópteros ou qualquer outro sistema da FAB, atuando também em programas conjuntos com as demais forças.  A COPAC participa da escolha, da negociação, da elaboração do contrato e, por fim, e não menos importante, acompanha se os itens contratualmente estabelecidos estão sendo cumpridos – incluindo a transferência de tecnologia.

O relatório técnico que apontou o Gripen E/F como a aeronave mais apropriada para equipar a linha de frente da Defesa Aérea Brasileira, elaborado pela COPAC, possui aproximadamente 37 mil páginas, resultado de centenas de milhares de horas de trabalho, viagens, testes e análises de uma força-tarefa de profissionais que não mediram esforços para escolher o melhor produto para o Brasil. Todo o processo foi conduzido de maneira independente e técnica.

 

Primeiros exemplares

O Major-Brigadeiro Malta confirmou que em 2021 serão entregues as quatro primeiras aeronaves de produção F-39E (designação da FAB para o Gripen E), no caso para o 1º Grupo de Defesa Aérea, iniciando o processo de desativação dos caças Northrop F-5EM que em 2020 completaram 45 anos de operação. O Gripen 4100, que chegou ao Brasil em setembro passado, permanecerá na campanha de ensaios em voo em Gavião Peixoto (SP) e será entregue ao final dos testes, até 2025.

Em 2024 os Embraer A-1 começarão a sair de serviço e por fim, em 2026, é prevista a entrega dos últimos exemplares, da encomenda de 36 unidades, do Gripen. A expectativa é que o número de encomendas dobre ao longo dos anos, mas por enquanto, ainda mais levando em conta o contexto econômico mundial por conta da pandemia do COVID-19, é cedo para afirmar quando novas aquisições serão realizadas.

 

Transferência de tecnologia

Este, talvez, seja um dos temas mais difíceis de entender na prática. A transferência de tecnologia, de conhecimentos, é um bem estratégico e de alto valor agregado. Dessa forma, como é possível transferir conhecimentos?

A Saab provou, na prática, que isso é possível.

O programa do Gripen Brasileiro possui 62 projetos de transferência de tecnologia nas áreas de sistemas de comunicação, integração de armamentos, ensaios em voo, aviônicos, produção, montagem de componentes estruturais dentre muitos outros segmentos. Mais da metade dos 350 engenheiros e técnicos treinados na Suécia, por períodos que variaram de 12 a 24 meses, desde 2015, já retornaram ao Brasil. Algumas empresas do programa, como a AEL Sistemas e a Saab Aeronáutica Montagens, foram incluídas na cadeia global de fornecedores da Saab.

Segundo o Major-Brigadeiro Malta, a transferência de tecnologia do programa está adiantada. O previsto para este momento era o cumprimento de 35% dos acordos, sendo que hoje o montante representa 40%. Do desenvolvimento total da aeronave, 40% tem envolvimento da indústria de defesa nacional.

A execução física está em 25% e a orçamentária em 42%.

Ao todo são quatro contratos principais assinados com a FAB: desenvolvimento, transferência de tecnologia, armamentos e de suporte logístico, este pelo prazo inicial de cinco anos contado a partir do final de 2021.

 

Uma sigla, infinitas possibilidades

O Major-Brigadeiro Malta comentou sobre o GDDN. A sigla remete para o nome em inglês, de Gripen Design and Development Network, ou Centro de Projetos e Desenvolvimento do Gripen.

O que acontece naquela instalação sediada em Gavião Peixoto (SP), construída exclusivamente para esse programa, na área da Embraer, é um dos pontos práticos da transferência de tecnologia.

O GDDN reúne profissionais brasileiros das empresas envolvidas no programa e suecos que trabalham no desenvolvimento do Gripen. Utilizando a infraestrutura existente do local e as suas ferramentas e simuladores de engenharia, além de um ambiente virtual seguro e 100% integrado com Linköping na Suécia, esse time apoia toda a área de engenharia, ensaios em voo, testes, integrações de sistemas além das futuras modernizações.

É no GDDN que serão integrados, na parte de engenharia, os armamentos e outros sistemas que de uso da FAB. No local a Embraer, em conjunto com a Saab, está desenvolvendo o Gripen F, de dois assentos. Ao final da entrega do último exemplar o Gripen, o GDDN continuará funcionando e participando das evoluções do programa, atualizações, modernizações, integração de novos sistemas e armas. Tudo o que é relativo ao desenvolvimento e ensaio do Gripen passa, necessariamente, pelo GDDN, e esse ativo do programa acompanhará o ciclo de vida da aeronave.

 

Filosofia sueca

Tradicionalmente, as aeronaves de caça permanecem muitas décadas em serviço. Muitas vezes, mais do que 30 anos. Nesse período, para que as Forças Aéreas continuem operando com um caça moderno, respondendo às atuais demandas, é preciso que se realize um processo de modernização, conhecido como mid-life upgrade (MLU). Usando a própria FAB como exemplo, aconteceu com a frota de F-5E/F e de A-1A/B.

Esses processos são sempre demorados e exigem grande trabalho de engenharia para montar o programa. Além dos custos que são elevados, o tempo de modernização pode se arrastar por alguns anos, fazendo com que a Força Aérea tenha que lidar um uma frota mista entre modelos modernizados e antigos. E quando finalmente esse processo é finalizado, o campo de batalha evoluiu e a plataforma pode se apresentar defasada frente às novas ameaças.

A filosofia sueca, como relembrou o Major-Brigadeiro Malta, parte por um outro aspecto.

Utilizando sistema com arquitetura aberta, além do software e do hardware são independentes entre si, a atualização de um ou a troca de outro não traz problemas ou necessidades de ajustes nos demais sistemas.

Em termos práticos, significa que a integração de um armamento ou sensor, por exemplo, é na maioria dos casos uma questão de atualização do software. Ou a melhoria no processamento de dados é a troca de um hardware.

Assim, a filosofia da Saab prevê que existam pequenas atualizações e evoluções na aeronave a cada dois ou três anos, mantendo a frota sempre moderna.

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Comentários

4 respostas

  1. Com 72 já seremos a grande potência regional. Não compensa ir muito além dessa quantidade, pois a inteligência artificial está mudando os conceitos de guerra aérea muito rapidamente.

  2. Acredito que a proposta de 108 unidades seja suficiente, Depois e só focar em aeronaves para apoia-los em caso de conflit como Awarcs e Tankers.

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