VBC Cav – As cartas estão na mesa

Hoje, dia 21 de setembro, às 12:00 hs (horário de Brasília), encerrou-se o prazo para a entrega, ao Comando Logístico (COLOG) do Exército Brasileiro (EB), das propostas (“request for proposal” – RFP) para a aquisição de 98 viaturas blindadas de combate de Cavalaria média sobre rodas (VBC CAV – MSR) 8X8, e fomos informados que cinco modelos foram ofertados, sendo estes (*):

  • Centauro II;
  • LAV 700;
  • ST-1BR;
  • Eitan; e
  • Kestrel.

 

CIO Centauro II

Imagem do CIO Centauro II em testes de tiro com a torre à 90º (Foto: CIO)

Desenvolvido pelo o Consórcio Iveco-Oto Melara (CIO), uma “joint venture” entre as italianas Iveco Defence Vehicles (IDV) e Leonardo Group, o Centauro II é considerado a referencia em blindado caça-tanques sobre rodas, pois é o único desenvolvido especificamente para este fim e não uma viatura blindada de transporte de pessoal adaptada. Já esta em produção seriada e operação pelo Exército Italiano.

A versão apresentada ao EB é a mesma que está entrando em operação no Exército Italiano, com as melhorias da versão 3.0, um peso aproximado de 30 toneladas e equipado com uma torre Leonardo HITFACT MkII de segunda geração, armada com um canhão de 120mm/L45. Esta mesma torre foi ofertada para a modernização das VBC CC Leopard 1A5 BR, cujo programa já foi aprovado.

Um dos trunfos é o fato de a IDV contar com uma unidade fabril no Brasil, na cidade de Sete Lagoas (MG), com capacidade comprovada de suporte logístico, assim como nacionalizar diversos componentes, padronizando-os com as viaturas da família Guarani.

 

GDLS-C / John Cockerill LAV 700

Concepção artistica da versão do LAV 700 AG do EB (Imagem: GDLS-C)

A General Dynamics Land Systems – Canada (GDLS-C), do grupo General Dynamics Defense (empresa proponente), em parceria com a empresa franco-belga John Cockerill (empresa subcontratada), está oferecendo o LAV 700. Desenvolvido, a partir do LAV 6.0 do Exército Canadense, é equipado com um motor mais potente, de 711 HP, e outras melhorias, para a Arábia Saudita que adquiriu 742 exemplares de diferentes versões para a Guarda Real Saudita.

Com praticamente as mesmas características dos blindados Stryker, utilizados pelo Exército dos Estados Unidos (US Army), o LAV 700 é um veículo moderno robusto e que possui, dentre outras coisas, proteção balística escalonável, casco duplo em “V” (para proteção contra explosões vindas da parte de baixo, como minas e artefatos explosivos improvisados), assentos que absorvem energia e sistema de alerta a laser.

A versão oferecida é a LAV 700 Assault Gun, a mesma que os sauditas já encomendaram 119 viaturas e que se encontra em serviço operacional, está equipada com a torre John Cockerill 3105, dotada de um canhão de 105mm/L53, e com um ângulo de elevação de 42o permite engajamento contra alvos em altas elevações como aqueles situados em topos de edifícios, eficientes em teatros de operações urbanas ou  montanhosas, além de poder fornecer apoio de fogo à Infantaria, com tiros indiretos. Esta torre também está sendo oferecida para a modernização dos Leopard 1A5 BR.

NORINCO ST1-BR

O ST-1 Advantage mostrando a elevação de seu tubo (Foto: NORINCO)

A empresa chinesa North Industries Group Corp (NORINCO) apresentou o ST1-BR, versão customizada para os requisitos do EB do ST1 Advantage, que inicialmente foi chamado de ST-3, uma evolução do blindado ST1 105mm 8X8 Wheeled Tank Destroying Vehicle, modelo de exportação do ZBL-09 utilizado pelo Exército Chinês.

Essa viatura tem peso de combate de 24 toneladas, é a única com capacidade anfíbia dentre os candidatos e possui uma nova torre dotada de um canhão de 105mm/L52, versão chinesa da série L7 da Royal Ordnance, que também tem como diferencial uma grande capacidade de elevação de seu tubo.

Pertencente a família VN1, em operação em Forças armadas de cinco países, incluindo a Marinha da Venezuela e participando da concorrência VCBR da Argentina, a versão ST1 está em uso nos exércitos da China e da Nigéria, sendo que neste último tem participado ativamente em ações de combate contra o grupo terrorista Boko Haram.

 

Elbit / MANTAK Eitan

Concepção artística do Eitan com torre Elbit 105/120 (Imagem: Elbit)

A Elbit Systems, de Israel, através de sua subsidiária brasileira, a Ares Aeroespacial e Defesa, surpreendeu ao propor o Eitan, um blindado desenvolvido pelo MANTAK (“Merkava Tank Office”), como uma espécie de “Merkava sobre rodas”, graças ao alto grau de proteção blindada.

O EITAN MERKAVA WHEELED AV foi desenvolvido pela MANTAK, empresa ligada ao Ministério da Defesa de Israel e criada para o desenvolvimento da família de blindados Merkava,  que se basearam nas tecnologias, metodologias e “know how” acumulado em 50 anos de experiência em desenvolvimento de blindados. Sua fase de projeto do veículo foi concluída em 2020 e os primeiros exemplares foram entregues às Forças de Defesa de Israel (IDF) em 2021, com mais de 300 viaturas encomendadas.

A versão proposta para o EB é a equipada com a nova torre Elbit 105/120, equipada com canhão de 105mm/L52, mas que poderá receber o canhão de 120mm/L45, para dois ocupantes e com carregamento automático, sendo que a empresa informou que também a torre entrou em produção e que já foi vendida para outros clientes, como as Filipinas, que deverá receber seus primeiros blindados este ano.

A torre Elbit 105/120 foi apresentada na Eurosatory 2022, montada em um GDELS Ascod II, na solução chamada de “Sabra Light” (Foto: Paulo Bastos)

De acordo com a empresa, tanto a viatura quanto a torre estão em produção seriada, mas ela não informou se o mesmo ocorre com a versão proposta.

 

Tata Kestrel

Outra grande surpresa apresentada foi o modelo Kestrel, da empresa indiana Tata Advanced Systems. Também conhecido como WhAP (Wheeled Armored Platform), trata-se de integrante de uma  família de veículos blindados desenvolvida pela empresa com a DRDO (Defence Research and Development Organisation), principal agência de pesquisa e desenvolvimento do Ministério da Defesa indiano, para substituir os antigos blindados da era soviética. Até o momento foram apresentados versões armadas apenas com canhões de 30mm, com as torres Elbit UT30 Mk2 e a do blindado russo BMP-2.

Um dos protótipos do Tata Kestrel, equipado com torre Elbit UT30 Mk2 (Foto: DRDO )

A empresa participou do refinamento da Consulta Pública, mas sem incluir uma torre, e ainda não foram divulgadas informações da versão proposta ao EB.

 

Compensações e os próximos passos

Outro fato a se destacar é que todas as propostas trataram da produção local da munição de seu armamento principal (105 ou 120mm) como parte do pacote de “offset”, o que irá beneficiar não só a Força, mas também a base industrial de defesa do Brasil, em particular a IMBEL, além de outras, notadamente as produtoras de componentes de eletrônica embarcada e automotivos, com a nacionalização destes itens.

O COLOG terá até o próximo dia 07 de outubro para a análise das propostas e divulgação do “short list”, sendo que, até o dia 30 de setembro, as empresas desclassificadas em decorrência de alguma “não-conformidade” (caso ocorra) deverão ser notificadas.

A previsão para definição do vencedor é dia 25 de novembro deste ano e a assinatura do contrato nos dias 28 ou 29 de novembro.

 

Façam suas apostas!

 

(*) CORREÇÃO: A empresa CLS Automotive Technologies LLC, dos Emirados Árabes Unidos, também apresentou proposta, oferecendo o Wahash FSV, equipado com um canhão de 105 mm.

 

 

Copyright © 2022 todos os direitos reservados

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou transmitida em qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônica ou mecanicamente, exceto nos termos permitidos pela lei, sem a autorização prévia e expressa do titular do direito de autor.

COMPARTILHE

Respostas de 38

  1. Vale lembrar que as torres das propostas para o centauro, eitan e tb lav-700 todas já foram integradas ao Ascod que seria um forte candidato a futuro carro de combate medio padronizando o treinamento e a logística…não é só a escolha vbc cav que “pode” estar em jogo e sim o futuro da arma de cavalaria.

  2. Opa, teremos munições nacionais para o vbc cav e ccs. A apresentação dos veículos israelenses e indianos são muito interessantes, a sorte está lançada.

  3. Interessante ver a Elbit se impondo como principal concorrente ao centauro. Seria correto Bastos, no caso, “se” o Eitan levasse essa, pensar no merkava Barak como uns dos finalistas favoritos para o programa de MBT devido a similaridade de peças e sistemas desses veículos?

  4. Pelas informações até então divulgadas somente o CIO Centauro II, GDLS-C / John Cockerill LAV 700 e NORINCO ST1-BR atendem os requisitos básicos. Elbit / MANTAK Eitan e Tata Kestrel não informou ou não possuem o veiculo com a torre 105/120mm integrada e em produção.

    1. a escolha do modelo chines validaria para os argentinos a compra do mesmo em vez de Guarani e duvido que aja desconto por causa dos BRICS’s o “desconto” seria para entra no mercado latino-americano

    2. o centauro 2 com canhão 120mm seria bom pois já temos fábrica aqui no Brasil e bom porque trás mas mão de obra vamos ver mas acho que o centauro 2 tem mas chance já o chinês fico em dúvida ese eles tem equipamentos bom para brasil já Israel e bom deve ser ums dos melhores.

    3. José, o BRICS é somente uma comunidade que visa o desenvolvimento econômico dos países emergentes e não uma aliança militar. Não haveria desconto algum para nós; veríamos ou podemos ver (caso ela vença) a NORINCO entrando com força no mercado militar em nossa região, algo que é muito desejado por eles. Não é atoa que surpreenderam com a proposta. Apesar do ST1-BR estar nessa fase final e que apresenta os requisitos impostos pelo RFI, do EB, é difícil, pelo menos para mim, ver a NORINCO vencendo. Minha aposta eu já coloquei aqui, é no Centauro II, porém, com a proposta da israelense, confesso que me interessei bem mais e é uma proposta muito boa.

  5. O Eitan seria na manha opinião, o carro mais confiável, pois já esteve em combate. podermos ver que a grande necessidade dos veículos terem um sistema de auto proteção, como está acontecendo com os veículos russos .

    1. as forças armadas criaram os obos que são os objetivos básicos operacionais e pontuam de zero a dez por exemplo cada obo.ser anfíbio seria um obo relevante para um carro de combate ? responder corretamente a esta e outras perguntas é a chave para o sucesso.os obos poderiam ser divididos m essenciais e desejáveis ?

  6. O Israelense e o Italiano, ao meu ver tem boas chances, ambos tem histórico de projetos em conjunto com o EB e isso é muito importante, agora é esperar pra ver.
    Temos também os canhões auto propulsados de 155 mm que o EB está avaliando que podem, disse podem, participar do jogo, principalmente pelo lado Israelense.

  7. Centauro II e LAV 700 brigam na frente pelo que apresentam. Talvez Eitan possa surpreender no final.

    Se optarem pelo Eitan o próximo MBT pode ser a vir o merkava ?
    Dessa forma ficaria padronizado a fabricante dos blindados, o que você acha Paulo ?

  8. Pelo conjunto da obra vai vencer o Centauro !!!!
    O NORINCO é excelente carro,mais só vencerá se o preço for imbatível aos concorrentes (governo chines com financiamento de pai pra filho) para ajudar exporta os produtos chineses !!!
    Nao duvido isso acontecer !!!

  9. Lembro laaaaaaa no passado, quando o Guarani era só um papel da idéia do mesmo ter uma versão 8×8 não anfíbia com a Hitfact. Era algum documento interno.

    Essa ideia morreu?

  10. Boa a matéria, mas p mim a escolha certa, teria q ter dois finalistas, diferentes, p não haver embargos de peças no futuro, e pelo alto padrão tecnológicos dos candidatos. O israelence é o italiano seriam ideais p armar o exército e de graça a marinha também. Interessante e saber aproveitar as oportunidades e fazer escolhas sabeis…, abraços.

  11. Eu fico imaginando que nos anos 80 (se nao me engano) tivemos o desenvolvimento de um veículo 6×6 com torre de 105 e 120mm, e pra variar, nao evoluiu e perdemos mais uma oportunidade de produzir algo em nosso solo.

  12. No meu entender os indianos não tem chance alguma.
    Os chineses tem vantagens de preços, blindado leve o kc390 levaria a mais lugares e rápido, e é anfíbio. Mas mesmo assim não ganha de nenhuma forma porque atrapalharia o Guarani na Argentina e só ajudaria a China na região.
    O Eitan corre por fora tem Israel do seu lado e a Elbit nossa tem influência forte no Brasil.
    Os Canadenses tem um equipamento mais que provado com diversas forças utilizando e milhares vendidos a exércitos do mundo todo com certeza ficará na final, e pode levar. Porém não tem fabricantes no Brasil.
    Os Italianos tem muita vantagem, fabricante no Brasil, único feito apenas pra isso a possível torre dos futuros Leo 1a5BRm e possível torre dos futuros carros de combate além disso tudo ótima relação com o Brasil por fim o preço desse carro foi no bolso. Não sei se vem ganhar mas é o preferido da maioria com certeza é.

  13. Centauro 2 , zero por cento de dúvidas. Lógico que vão aproveitar a infraestrutura de construção da Iveco, que já ESTÁ ativamente em parceria com o EB !!

  14. O problema do Centauro 2 é o preço.
    Já li em sites italianos que os 150 Centauro 2 desejados pelo exército italiano custarão cerca de 2 bilhões de euros, ou seja, cerca de 13,3 mi de euros cada.
    O Lav700 também é caro. O contrato para a Arábia Saudita saiu mais de U$ 11 mi cada unidade e apenas 119 eram da versão AG Assault Gun com canhão 105 mm, portanto da para imaginar um valor maior ainda para esta versão.

    Já o Eitan tem custo divulgado como sendo de cerca de U$ 3 mi para versão sem o canhão de 105 ou 120.
    Se os valores forem realmente esses e os israelenses conseguirem oferecer o Eitan com canhão de 105 ou 120 por um valor próximo do preço base de U$ 3 mi, acho que vencem a licitação.

    Mesmo que o valor aumente por causa da torre de 105 ou 120, acho que eles devem conseguir manter um valor próximo de U$ 5 mi. Parece existir uma diferença de preço considerável. Mas só saberemos se divulgarem os valores das propostas…

    1. O Eitan pode ser desclassificado por não ter uma versão com canhão 105/120mm em produção no momento.
      De qualquer forma, acho muito difícil dois concorrentes terem uma diferença de preço tão grande. Provavelmente o Eitan com canhão seja mais caro que US$ 3 mi e os contratos do Centauro e Lav700 incluíam peças sobressalentes e manutenção.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *