UT30BR renova seu valor no Exército

Após uma série de estudos dentro do Programa Estratégico do Exército (Pgr EE) GUARANI, visando atender as demandas da nova doutrina de Infantaria Mecanizada que estava sendo criada, o Exército Brasileiro (EB) decidiu equipar alguns de suas viaturas blindadas de transporte de pessoal – média sobre rodas (VBTP-MSR) 6X6 Guarani com um sistema de armas remotamente controlado (SARC) dotado de um canhão de tiro rápido e calibre intermediário (30×173 mm) e a escolha recaiu em uma versão nacionalizada da israelense UT30, da Elbit Systems e já bastante consolidada no mercado, surgindo a versão UT30BR.

Montado no país, utilizando componentes nacionais e (principalmente) garantido todo o suporte logístico dentro de nosso território, este sistema de armas, juntamente com o SARC REMAX (este totalmente desenvolvido no Brasil), representou um enorme avanço a capacidade operacional da Força, além de um enorme desafio em termos logísticos, principalmente em capacitação de seus operadores e em sua manutenção, devido aos seus avanços tecnológicos.

A previsão era de uma aquisição inicial de 214 desses sistemas (conforme publicado no Diário Oficial da União de 31 de dezembro de 2010), que seriam utilizados nas viaturas Guarani e proporcionariam o apoio as tropas mecanizadas. No entanto, devido a uma série de fatores, como readequação das prioridades da Força frente às dificuldades orçamentárias, este programa ainda não pode ser finalizado e somente 13 sistemas foram adquiridos.

O SARC UT30BR está equipado com um canhão automático 30×173 mm ATK Bushmaster MK44, uma metralhadora coaxial 7,62×51 mm e oito tubos lançadores de granada fumígena de 76 mm.

Devido a esta pequena quantidade e a diminuição da prioridade do EB a este sistema, houve um grande atraso no processo de integração deste sistema de armas com sua plataforma, bem como em uma criação da doutrina operacional para sua utilização, o que acabou gerando diversos problemas com a formação de operadores, manutenção destes sistemas e desatualização de alguns de seus equipamentos, que gerou uma baixa operacionalidade e especulações equivocadas (principalmente por parte de alguns integrantes da mídia que não acompanhavam o projeto), que este estava para ser cancelado. Todavia, mesmo com estas dificuldades, ele prosperou e se espera que finalmente seja implantado.

Os testes

Qualquer equipamento precisa de manutenção periódica, para se manter operacional, principalmente um sistema que se propõem a estar no “estado da arte”, e buscando manter ativos os sistemas em uso no EB, empresa ARES Aeroespacial e Defesa realizou, no período de um ano (entre março de 2021 e março deste ano) a manutenção, reparo e testes dinâmicos com os SARC UT30BR, com os números de série #04 e #12, como parte do esforço da empresa, com recursos próprios, para comprovar ao Exército Brasileiro que o sistema é seguro e confiável.

Após isso, a Diretoria de Fabricação (DF), realizou uma série de testes no Centro de Avaliação do Exército (CAEx), utilizando viaturas Guarani pertencentes ao 33º Batalhão de Infantaria Mecanizado (33º BI Mec), de Cascavel (PR), e com apoio do Arsenal de Guerra do Rio (AGR), Centro de Instrução de Blindados (CIBld) e das empresas ARES e IVECO Veículos de Defesa, para avaliar submeter o sistema o limite e verificar sua robustez.

Nestes testes foram simulados diversos cenários de operação e usou o critério de quantidade média de disparos entre falhas (“mean rounds between failure” – MRBF), com disparos em operações ofensivas de marcha de combate (de 50 a 60 km/h), movimento regressivo e estático, sendo monitorados os seguintes parâmetros:

  • Balanço energético do sistema;
  • Falhas na torre e armamento;
  • Movimentos involuntários;
  • Falhas de monitores durante disparo; e
  • Integração elétrica do sistema de Armas.

Sendo executados quase 1.200 tiros durante quatro dias, com a obtenção de MRBF muito melhor que o esperado, considerando o equipamento plenamente apto para estar em operação.

Com este resultado a ARES, ciente das novas necessidades e possibilidades do EB, aguarda para breve sua homologação e pretende negociar o fornecimento de cerca de mais 30 UT30BR, devidamente atualizadas tecnologicamente, e a atualização das em operação, garantindo a Força a mesma equivalência tecnológica dos mais modernos exércitos do planeta.

Ao final do testes, os dois sistemas Guarani UT30BR se mostraram totalmente operacionais. Missão cumprida.

Imagens: CAEx, ARES e sargento Evaldo Fialho (AGR)

 

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Comentários

28 respostas

  1. Boa noite Paulo Bastos!!

    O resultado do 8×8 não ia sair no fim de abril? Tem alguma informação exclusiva de bastidor quando vai nascer essa criança? Abraço e excelente matéria

  2. Devido ao atraso na integração deste sistemá, e tendo em vista a baixa quantidade de unidades adquiridas, não seria mais logico adotar a UT30 II? que tem comunidade de peças com a versão I, sendo a II de perfil mais baixo e que possui as mesmas capacidades e mais refinamento, assim mantendo o EB o mais atualizado possível

    1. “Com este resultado a ARES, ciente das novas necessidades e possibilidades do EB, aguarda para breve sua homologação e pretende negociar com a Força o fornecimento de cerca de mais 30 UT30BR, devidamente atualizadas tecnologicamente, e a atualização das em operação…”

      1. valeu por abri meu olhos mestre Paulo, “devidamente atualizadas tecnologicamente”…. eitaaa o segredo ta nos detalhes

  3. Olá Paulo, boa noite.

    Podes dizer o que aconteceu com o projeto da torre TORC30 e se a Ares abriu mão do seu desenvolvimento totalmente ou se foi o EB, e qual a razão para a sua descontinuidade em se tratando, supostamente, de uma torre bem mais avançada que a UT30BR.

    1. Ao que me fui informado, este programa foi paralisado em função de mudanças de prioridades do EB.
      Mudanças essas que impactaram muito o projeto UT30BR, o que gerou seu atraso.

      1. Ok, obrigado Paulo. Esperemos que as coisas melhores em tempos futuros dado que vejo na TORC30 perspectivas muito boas de desenvolvimento e aplicação. Mas o tempo dirá se ela ainda tem chances de vir à luz ou se passa para a historiografia de projetos fracassados.

  4. Excelente noticia! eu era um dos que achava que o projeto da UT 30, tinha “chafurdado”. Que bom que ainda esta prosseguindo!

    1. São torres para finalidades diferentes.
      O sistema Guarani UT30BR é para apoio às tropas de Infantaria Mecanizada.

      1. Boa noite Paulo Bastos, obrigado pela resposta! Então a aquisição da Torc30 não seria melhor justamente por isso? Devido a capacidade de emprego dual contra alvos terrestres e aéreos?

        1. Quando eu disse que são torres para finalidades diferentes, deveria ter sido mais explicito, desculpe.
          O UT30BR é um SARC não intrusiva, ou seja, é totalmente instalada na parte externa da viatura e mantendo sua capacidade como VBTP, que é a de transportar um grupo de combate (GC). A arma então, assim como o REMAX, é um elemento do GC, porem com um armamento mais poderoso, podendo cumprir o papel do Cascavel no apoio a esta fração de tropa.
          Já a torre TORC30, mesmo que não seja tripulada, é uma torre intrusiva, ou seja, tem uma parte interna a viatura, fazendo que ela perca sua função de VBTP e a transformando em uma VBC (viatura blindada de combate), como o Cascavel.
          A TORC30 tem como principais vantagens uma cadencia de tiro variável, que vai dos 200 TPM (como a UT30) a 600 TPM, que aliado a um maior ângulo de inclinação do tubo do canhão, permite também alcançar alvos voo de baixa velocidade e baixa altitude(além dos alvos terrestres).
          Acontece que pelo fato de não possuir nenhum sistema de guiagem que não seja óptico, tem enorme dificuldades de localizar, identificar, traquear e derrubar alvos voando à grande velocidade (aviões) ou de pequeno tamanho (drones), sendo efetivas apenas para helicópteros, porem seu alcance efetivo é menor do que os mísseis lançados por estes.
          Esses fatos, mais o seu custo (que é mais que o dobro da UT30BR), além de criar uma cadeia logística diferente e ainda mais complexa que a da UT30, pesaram para que este projeto fosse paralisado.
          Ou seja, nem sempre o melhor sistema é o melhor para uma determinada função 😉
          Espero ter ajudado.

          1. Caro Bastos, esse seu comentário já seria uma bela base p/ uma matéria ‘diferenças entre a TORC30 e a UT30’ pois o que mais se lê em comentários nos blogs e sites de Defesa é essa confusão e reclamação pela compra da última em detrimento da TORC30, além dos ‘intindidos’ chamarem a UT-30 de trambolho por ficar alta no Guarani sem saber o motivo de sua montagem desta forma. Muito obrigado por seus esclarecimentos e fica a dica da matéria, ok? Abs.

  5. Com certeza o canhão de 30mm é essencial no combate moderno, o maior poder destrutivo aliado à uma maior penetração de blindagem fazem com que ele seja mais versátil do que metralhadoras, sendo complementado por essas.

  6. “…considerando o equipamento plenamente apto para estar em operação…”

    Está é a resposta que os outros meios não deram. Que boa notícia. Obrigado Bastos. Sendo homologado, acredito que a prioridades seja a aplicação da doutrina, disseminando o conhecimento de manutenção e uso.

    Me esforço mas não consigo estender como existem pessoas contra projetos como o REMAX e o UT-30BR.

  7. Paulo Bastos, boa tarde!

    Excelente noticia e esclarecimento sobre a diferença básica entre as torretas UT-30BR e TORC-30 no comentário acima.

    Um dúvida, com a aquisição de um lote de misseis Spike para uso da infantaria, tem algum interesse do EB em equipar as torretas UT-30BR com estes misseis, visto que a versão israelense dela tem eles integrados?

        1. Isso depende do objetivo da viatura.
          Mais prático serem integrados aos Guepards, que são nossas viaturas VBC AAe.
          Sem contar que o peso dos misseis poderia comprometer a estrutura da UT-30BR, exigindo reprojeto. E ela já está homologada.

          1. Como o Douglas disse, o Spike é míssil Superfície-Superfície. Você provavelmente confundiu com o RBS 70 (Superfície-Ar). Quanto ao comprometimento da estrutura não teria problema, a versão padrão vem com os lançadores caso o cliente queira, há alguns vídeos promocionais dela no youtube.

          2. Mais do que certo ambos.
            Da tanta discussão que o assunto de defesa AA levanta nos últimos tempos, o nome do míssil comentado pelo Ary passou batido.

  8. Ele é top, mas o ideal seria se ele fosse um pouquinho mais baixo pra n ficar muito exposto rsrs.

    Se pelo menos 400 Guaranis fossem equipados com o UT30BR, seria sensacional!!!

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