“O fim é inevitável, Maverick. A sua raça será extinta”. Em “Top Gun – Maverick”, o diálogo entre Pete “Maverick” Mitchell e o Contra-Almirante Chester Cain, após o personagem estrelado por Tom Cruise ter se acidentado com o Dark Star, o avião experimental hipersônico de dezenas (ou centenas) de milhões de dólares, expõe a dura realidade em que a US Navy está vivendo na atualidade.
Enquanto no filme a ameaça à existência dos pilotos de caça está no surgimento de novas tecnologias que propõe a substituição do homem pela máquina, fora de Hollywood a realidade é menos glamurosa e o problema é puramente devido às restrições orçamentárias, cada vez maiores.
Para o ano de 2024, a US Navy projeta voar algo em torno de 891 mil horas de voo. Embora esse número seja expressivo ao lado de quase a totalidade das forças aéreas no mundo, a quantidade será menor comparada com 2023, que foi de 969 mil horas de voo.
Mesmo para a maior potência militar do mundo, a redução nos orçamentos de defesa impacta diretamente na disponibilidade dos seus meios de combate com as aeronaves voando menos e apresentando índices cada vez mais baixos de disponibilidade. Nesse sentido, a US Navy acelerou a retirada de serviço de aeronaves mais antigas, como os F/A-18C/D, que saíram de operação em fevereiro de 2019. O custo de hora de voo e estava cada vez mais alto e a manutenção mais complexa e demorada.
Além disso, a US Navy esbarra em outro problema: a falta de recursos humanos.
Com salários baixos comparado com a quantidade de horas trabalhadas, destacamentos de longos períodos no mar e a feroz concorrência com as companhias aéreas, que oferecem salários mais altos com jornadas de trabalho mais saudáveis e maior tempo perto da família, a falta de pilotos também é um entrave.
Alguns esquadrões estão operando com 50% do quadro de pilotos, porém mantendo ou aumentando o número de missões realizadas. Isso faz com que muitos estejam trabalhando além do limite e extrapolando a fadiga das jornadas de trabalho.
Em alguns casos, na média, durante todo o ano, os pilotos chegam a ficar de 15 a 20 dias fora de casa. Houve casos de destacamentos previstos para durarem cinco meses terem sido expandidos para 10 meses no mar, impactando na vida pessoal dos pilotos que deixam, em terra, mulher e filhos.
Neste cenário, as companhias aéreas pagam mais e oferecem maior estabilidade nas escalas de voo, o que estimula a transição dos pilotos do serviço ativo para o privado, que chega a pagar até três vezes mais.
Essa concorrência se dá pelo fato de que as companhias aéreas terão que absorver, em termos globais, algo em torno de 206 mil pilotos nos próximos 20 anos, contra 75 mil no serviço militar.
Na aviação dos Fuzileiros Navais (Marines), de 2006 a 2017, a taxa de saída quadruplicou, passando de 6% par 24%. Na US Navy, a saída dos pilotos após o primeiro tour destacados à bordo dos porta-aviões saltou de 12% para 26%, de 2013 a 2017.
Dentre as medidas que estão sendo tomadas, a principal delas inclui o pagamento de bônus de acordo com o modelo de aeronave voada e o prazo de extensão dos contratos.
Para tipos como o F-35 Lightning II, MV-22 Osprey, AV-8B Harrier e F/A-18 Super Hornet, os pagamentos chegam a US$ 40 mil. Em alguns casos, o valor pode atingir US$ 200 mil. Em torno de 78% dos pilotos aderiram ao bônus, reduzindo as perdas de recursos humanos na US Navy.
Vale ressaltar que o programa de formação, treinamento e conversão operacional de um piloto de caça em aeronaves mais modernas é extremamente caro. Para se ter um panorama, um piloto básico de F-22 custa em torno de USD 10,9 milhões, e USD 10,17 milhões para o F-35A. Assim, é mais barato pagar bônus e manter os pilotos no serviço ativo do que perder essa massa para as companhias aéreas e formar novos talentos.
Respostas de 2
Isso sim é valorizar o investimento na formação da mão de obra especializadíssima que são os pilotos.
TECNOLOGIA & DEFESA tangencia o círculo da boa informação e penetra na esfera da excelência dos últimos “up grade” tecnológicos. Vida longa a T & D. ✈️✈️✈️✈️✈️