Um substituto para o navio-tanque Gastão Motta (G-23).

Para realizar navegações por grandes distâncias sem a perspectiva de acessar portos de reabastecimento em rota, ou em situações de combate onde a logística é vital para a vitória no mar, a Marinha do Brasil depende de um único navio tanque com 28 anos de idade, o G-23 Gastão Motta.

Esse navio-tanque é considerado parcialmente obsoleto pelo fato de seu projeto utilizar casco simples, em desacordo com várias regulações ambientais atuais, o que limita as áreas onde ele pode navegar legalmente em tempos de paz.

O navio-tanque G-23 Almirante Gastão Motta reabastece a fragata Type 22 F-49 Rademaker (imagem: Roberto Caiafa)

Navios tanques devem ser construídos na atualidade usando a técnica de duplo casco, o que impede desastres ambientais como o do superpetroleiro Exxon Valdez, que ganhou notoriedade em 24 de março de 1989 ao derramar 120 000 m³ de petróleo ao mar.

O acidente aconteceu na costa do Alasca e foi o segundo maior derramamento de petróleo da história dos Estados Unidos. Na época, o navio pertencia à ExxonMobil.

O navio-tanque G-23 Almirante Gastão Motta naveja junto ao G-23 Almirante Sabóia (imagem: Roberto Caiafa)

O Navio Tanque Almirante Gastão Motta (G-23), primeiro navio a ostentar esse nome na Marinha do Brasil, foi construído no Rio de Janeiro pelo estaleiro Ishikawajima do Brasil S/A (ISHIBRAS).

Teve sua quilha batida em 11 de dezembro de 1989, sendo lançado ao mar e batizado em 1º de junho de 1990. (O G-23 foi um dos últimos navios do tipo construídos ainda sem a regulamentação obrigatória de casco duplo).

O navio tem como lema “Nós fazemos a Esquadra ir mais longe” (We take the fleet farther) e seu apelido na frota é “São Bernardo” (The Saint Bernard), em alusão ao cão de salvamento suíço que carrega sempre um reservatório com “líquidos preciosos” em seu pescoço.

O navio-tanque G-23 Almirante Gastão Motta (imagem: Roberto Caiafa)

O G-23 tem 135 m de comprimento, 19 m de largura e 10.320 toneladas de deslocamento (carregado), sendo operado por 121 tripulantes.

Um substituto de casco duplo

Além da idade do G-23 e o fato de seu casco simples ser uma limitação operacional e de segurança, outros aspectos evidenciam a necessidade da complementação/substituição do navio por outro de casco duplo e mais capaz em termos de tonelagem e flexibilidade de emprego, algo que foi especificado pela Marinha do Brasil na concorrência PROSUPER e acabou não vingando, pois a mesma foi abandonada.

Na falta de um programa industrial nativo em parceria com alguma nação amiga detentora de know how para construir esse tipo de navio localmente, e com as deficiências detectadas na operação do G-23 após o seu retorno de um longo Período Geral de Manutenção (PGM), a Marinha do Brasil viu-se obrigada a lançar um olhar sobre as compras de oportunidade existentes no mercado para atender a recomplementação da frota.

Os dois convoos escalonados do G-40 Bahia ficam evidentes nessa tomada área do navio. (Imagem: Roberto Caiafa)

Com a aquisição do NDM G-40 Bahia, e seu posterior emprego em comissões de longa duração como a Aspirantex (que envolve navegação em águas internacionais) ficou evidente a dificuldade do G-23 em apoiar por longas distâncias um grupo tarefa composto por duas fragatas Type 22, uma corveta, um navio de desembarque de carros de combate e um navio patrulha oceânico, como observado na Aspirantex 2017, acompanhada pelo autor.

O Ex-HMS Ocean (Imagem: Royal Navy).

Com a chegada do novo flagship Porta-Helicópteros P 140 Atlântico (Ex-Hms Ocean), prevista para agosto próximo, ocorrerá uma sobrecarga na insuficiente capacidade operacional do G-23 Gastão Motta de atender um grupo tarefa expedicionário com muitos navios em uma extensa derrota.

Será preciso maior volume na capacidade de transportar combustíveis (incluindo de aviação), lubrificantes, suprimentos, ferramental, equipamento de apoio e engenharia, víveres, munições, componentes de reposição, etc.

O G-23 navega junto a corveta V-33 (Imagem: Marinha do Brasil)

Os guindastes e gruas necessariamente terão de lidar com pesos e tolerâncias maiores, e as fainas de reabastecimento deverão ser realizadas com eficiência tanto de dia quanto a noite.

Uma Oportunidade Real

Segundo fontes de T&D ligadas a Royal Navy, e de acordo com informações preliminares do Ministério da Defesa britânico (MoD) em comunicados diplomáticos enviados a seus pares brasileiros no MD, a Real Marinha Britânica estaria planejando a desativação de um (de dois construídos) navio-tanque Classe Wave, bem mais capaz que o G-23 com seus 196,5 m de comprimento e 31.500 toneladas de deslocamento carregado (o triplo do peso carregado do G-23), permitindo apoiar logisticamente diferentes tipos de operações navais.

Imagem: Royal Fleet Auxiliary
Imagem: Royal Fleet Auxiliary

Projetados com a tecnologia construtiva de casco duplo, que diminui o risco de vazamentos, os dois Classe Wave da RN tem como missão fornecer combustível a frota destacada para cumprir missões a longas distâncias como anti-pirataria ou combate ao tráfico de drogas, apoiando, entre outros navios, o HMS Ocean, agora redenominado P-140 Atlântico.

Cada Wave transporta até 616.000 m3 de líquidos e 500 m3 de material sólido. Equipamentos de osmose reversa produzem até 100 m3 de água potável ao dia (aguada).

Considerando o altíssimo valor de um navio desse tipo, e o consequente desastre que a sua perda significaria para a Royal Navy, esta tratou de instalar dois sistemas de armas de defesa de ponto Close In Weapons System CIWS Phalanx em cada unidade, além de dois canhões de fogo rápido de 30 mm.

Imagem: Royal Fleet Auxiliary

Como verificado no recente caso da venda do HMS Ocean ao Brasil, é certo que esses armamentos serão removidos da unidade a ser vendida.

Deve-se ressaltar que a compra, caso se concretize, não significará a aposentadoria do G-23 Gastão Motta na Marinha do Brasil, o mesmo deverá ser redirecionado para cumprir tarefas de apoio a instrução/treinamento do Corpo de Fuzileiros Navais e apoio complementar em operações/exercícios de grande monta da Força de Superfície da Esquadra.

Imagem: Royal Fleet Auxiliary

A unidade Classe Wave em oferta ainda não foi revelada, dentre as duas existentes, o RFA Wave Knight e RFA Wave Ruler.

Caso a oportunidade de compra desse navio se concretize, após a formulação de uma proposta e sua posterior aceitação pela Marinha do Brasil, estará garantida a capacidade expedicionária / humanitária que o P 140 Atlântico possui.

Imagem: Royal Fleet Auxiliary

Adicionalmente, não será necessária qualquer modificação ou mudança de procedimentos durante a faina de ressuprir o P 140 Atlântico, a Classe Wave é 100% compatível com a frota de navios capazes de missões com longo alcance na Marinha do Brasil.

A Classe Wave pode atingir 18 nós de velocidade com alcance de 8.000 milhas náuticas. Cada navio transporta 16.000 toneladas de combustíveis, 380 m³ de água fresca e 160 toneladas de víveres mantidos em oito camaras frigoríficas especiais de 20 toneladas cada.

O Sistema Integrado de Navegação, do tipo IBNS, fornecido pela Kelvin Hughes, compreende um Sistema de Comunicação Interna Primária Programável Digital (DPPICS) e um Sistema Integrado de Gerenciamento de Plataforma (IPMS) incluindo o controle e vigilância de maquinaria, vigilância e controle de danos, controle e gerenciamento de energia elétrica e reabastecimento.

 

Imagem: Royal Fleet Auxiliary

O conjunto de comunicações abrange MF / HF e V / UHF, com conexões militares e civis externas e um sistema civil de comunicações via satélite (SATCOM).

O sistema de propulsão diesel-elétrico do navio é baseado em um motor de acionamento elétrico AC bidirecional de velocidade variável da ALSTOM (14MW), controlado por um conversor sincronizado CEGELEC.

Quatro geradores, fornecidos pela ALSTOM entregam 4.69MW, e são movidos por motores a diesel Wartsila V12 VASA32 (Lox Nox).

Os motores acionam uma única hélice e eixo de passo fixo. Um propulsor elétrico de proa tem capacidade de 18 toneladas e outro similar na popa tem capacidade de 12 toneladas.

O motor diesel auxiliar do navio fornece 1,6 MW de energia.

Imagem: Royal Fleet Auxiliary

O convoo localizado na popa é homologado para operações com mar na condição seis (6), sendo capaz de receber helicópteros de médio/pequeno porte com todas as facilidades de hangaragem, apoio e reabastecimento/manutenção de linha.

O substituto da Classe Wave

O primeiro de uma nova classe de navios de apoio da Real Marinha britânica entrou em serviço com a Royal Fleet Auxiliary ao final de 2017.

O RFA Tidespring é o primeiro de quatro petroleiros da Classe Tide.

https://www.youtube.com/watch?v=5TltVupIDVw

Ele e seus três irmãos serão fundamentais para as operações do novo FlagShip da Royal Navy, o HMS Queen Elizabeth, e o 2º navio-aeródromo do tipo, o HMS Prince of Wales.

O RFA Tidespring desloca 39.000 toneladas e será dedicado a fornecer aos dois novos porta-aviões, junto com seus três irmãos planejados, toda a comida, água fresca, combustível e demais itens logísticos demandados a bordo.

Esse navio-tanque de última geração foi projetado no Reino Unido e construído na Coréia do Sul.

O RFA Tidespring opera baseado em Portsmouth, base naval / porto que deverá receber os outros três navios-tanque da Classe Tide.

Roberto Caiafa

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