Hengelo, nos Países Baixos, reúne modernas instalações da Thales Netherlands especializadas em sistemas navais. A cidade foi o ponto de partida do Press Tour pela Holanda e França que T&D vai publicar em partes, a começar por este artigo. Uma detalhada apresentação de abertura mostrou a evolução dos sistemas projetados e construídos ao longo das últimas cinco décadas. Na atualidade, a Thales Netherlands alinha uma carteira de clientes globalizada, com acesso ao estado da arte em sistemas navais. A empresa vem mantendo-se a frente no quesito inovação reinvestindo 20% do faturamento em pesquisa e desenvolvimento de sistemas capazes de enfrentar ameaças assimétricas em cenários de disputas de zonas econômicas exclusivas (como a indústria do óleo e gás), sem, no entanto, descuidar das ameaças aéreas, de superfície e submarinas tradicionais.
De fato, o portfólio Thales de sistemas escaláveis alcançam desde as necessidades de uma guarda costeira até as complexas demandas de uma esquadra, e 52 países optaram pelas soluções da empresa em sensores, armamentos e sistemas, além de usufruírem do reconhecido expertise Thales na integração de múltiplas tecnologias estipuladas com base em requerimentos específicos, a capacitação de recursos humanos através de transferência tecnológica prevista em contrato, o estabelecimento de parcerias industriais e o treinamento do usuário final.
Sonares
O Thales Captas, sonar de profundidade variável rebocado, oferece a modularidade e flexibilidade para atender a pequenos barcos patrulhas (Captas-1), escoltas de médio porte (Captas-2) e grandes navios como as fragatas FREMM (Captas-4). Sua operação é facilitada por nova interface homem máquina, e no caso do Captas-1, ele pode ser utilizado na forma de container modular, indo a bordo do navio somente quando for necessário. No campo dos sonares de mergulho aerotransportados, o Thales Compact Flash permite que a Aviação Naval de asas rotativas de muitas Marinhas incrementem enormemente sua capacidade de guerra antissubmarina com baixo custo de operação e menor peso do conjunto. O sistema está disponível para uso em helicópteros Lynx 300 e AW159, nesse último, utilizando o novo Compact Flash Sonic, capaz de também receber e processar informações colhidas por sonobóias. No campo de contramedidas anti-minas, o SeeMapper inova ao oferecer um sonar de alta resolução, capaz de “fotografar” o fundo do mar em áreas sensíveis como a entrada e saída de portos e bases navais, mantendo uma enorme área livre de qualquer ameaça ou sensor não autorizado, tanto na versão tradicional rebocada por navios quanto acoplados a dispositivos submersíveis autônomos USV. (Nota do autor: O Captas está na proposta da Thales para o PROSUPER, concorrência aberta pela Marinha do Brasil para a compra de cinco escoltas de 6.000 toneladas, cinco navios patrulha oceânicos de 2.000 toneladas, e um navio de apoio logístico de 22.000 toneladas de deslocamento. O Compact Flash pode ser integrado aos Super Lynx da Marinha do Brasil, atualmente em processo de modernização, e o SeeMapper está sendo oferecido para atuar como defesa submarina da Base e Estaleiro Naval de Itaguaí, Rio de Janeiro).
Radares
A Thales desenvolve em Hengelo modernos radares de emprego naval nas bandas L, S e X, trabalhando em todos os alcances previstos na detecção e enfrentamento de qualquer tipo de alvo naval ou aéreo. São sistemas 2D e 3D multibanda, com processamento inteligente de sinais, grande versatilidade de uso em montagens fixas (phased array) ou rotativas, caso do Smart-S MK2 3D, utilizado para vigilância de superfície e aérea, e operando na banda E\F. Sua versão de alerta antecipado Smart-L EWC, com 2.000 Km de alcance, pode detectar mísseis balísticos e alvos stealth. O APAR é um radar naval de tecnologia AESA (antena fixa) que permite a defesa antiaérea de 360º num raio de 150 km em torno do navio que o utiliza, efetuando a detecção e o guiamento de mísseis contra 40 alvos aéreos, simultaneamente. O APAR também detecta alvos de superfície até a linha do horizonte, sendo especialmente eficaz contra mísseis antinavio de perfil de voo ultra-baixo (sea skimmer). Tanto o Smart quanto o APAR são radares destinados a navios de grande porte como as fragatas da Classe De Zeven Provinciën operadas pela Real Marinha Holandesa. Em navios de menor porte, operando em águas litorâneas repletas de múltiplos alvos assimétricos, a tecnologia AESA do Sea Master 400 pode maximizar de forma dramática as possibilidades operacionais de um patrulha oceânico ou corveta, ampliando enormemente sua consciência situacional no engajamento de furtivos alvos de superfície e aéreos. (Nota do autor: O Smart e o APAR tem claras implicações no PROSUPER, tratam-se de sensores típicos de fragatas, enquanto o Sea Master 400 pode ser uma alternativa para os navios patrulha oceânicos da mesma concorrência).
O Sistema de Gerenciamento de Combate Thales Tacticos foi concebido para atender a vários perfis de missão, equipando diversos tipos de navios. Todas as soluções de missão Thales, e mesmo sistemas de outros fornecedores, podem ser integrados de forma eficiente pelo Tacticos, seja em plataformas do tipo Guarda Costeira ou Agência de Segurança Marítima, e navios de Marinhas de Guerra. O Tacticos garante a fiabilidade e interoperabilidade de todos os equipamentos, sensores e armamentos a bordo, compartilhando informação através de uma avançada interface homem-máquina, como permite a interoperabilidade de missão entre forças aliadas ao prover alta conectividade usando rede Ip segura para compartilhar dados, voz, vídeo entre navios da frota. Tacticos aumenta a consciência situacional, seus consoles apresentando de forma clara e eficiente uma ampla fusão de dados coletados em diferentes sensores e sistemas, e designando os parâmetros de ação da plataforma. Tacticos apresenta grande reserva de crescimento, podendo incorporar quaisquer avanços em software e hardware requeridos ao longo do seu ciclo de vida. Vinte e duas marinhas usam diferentes versões do Tacticos na atualidade. (Nota do autor: O Tacticos pode complementar e ampliar a capacidade de sistemas brasileiros como o SICONTA, usado em boa parte dos navios da Marinha do Brasil, além de competir no PROSUPER para equipar os 11 navios previstos).
Roberto Caiafa