Super Cobra para o Brasil: anatomia de uma oferta FMS

O interesse pelo helicóptero AH-1W Super Cobra, por parte do Exército Brasileiro (EB), despertou vários questionamentos entre os leitores de T&D e profissionais da área.

Como o artigo original focou a descrição detalhada da oferta de venda dos helicópteros, para alguns teria faltado uma explanação ampla do processo. Vamos a ela.

O AH-1W Helicopter Industry Day é um evento do Governo dos Estados Unidos, aos cuidados do Department of the Navy, através do escritório Naval Air Systems Command. Essa estrutura tem sua sede no Naval Air Warfare Center Aircraft Division Pax River.

Estoques do AMARG: pelo menos duas dezenas de helicópteros AH-1W Super Cobra disponíveis.

No dia 24 de janeiro último, o Southern Maryland Higher Education Center recebeu o evento AH-1W Helicopter Industry Day, e na ocasião, esse equipamento militar considerado como “surplus” (excedente) foi oferecido a nações estrangeiras “amigas” dentro das especificações EDA (Excess Defense Articles).

Essa oportunidade de negócios foi publicada no Federal Bussiness Oportunities (Fedbizops.gov) e abrangia desde a necessidade de treinamento de voo e manutenção, mantenimento e reposição de “Whiskey Cobras“, até novas atualizações de aviônica e upgrades de sensores.

Essas opções tornaram-se comercialmente disponíveis em preparação para transferências a forças estrangeiras a partir de 2018.

O enorme HUD do AH-1W Super Cobra: cockpit analógico e poder de fogo brutal.

A ideia é que uma “nação amiga” autorizada possa comprar as células e retorná-las a condição de voo, e também receber suporte contratado disponível para fazer da venda uma operação “ganha-ganha” devido aos custos envolvidos serem consideravelmente menores que a aquisição de material novo.

Qualquer empresa norte-americana capacitada que esteja buscando apoiar a iniciativa com seus serviços e produtos, e que esteja cadastrada no Fedbizops.gov pode participar.

Assim que a oferta se torna pública (nos EUA), clientes FMS manifestam seu interesse via Adido Militar, Embaixada, Emissário Especial ou Comitiva de Militares. Isso ocorreu com o Brasil (Exército), que manifestou interesse em oito células, peças, partes e componentes e mais 17 motores (um de giro).

A oferta inclui como “set de armas” de cada exemplar um canhão de 20 mm M197, foguetes de dois calibres e mísseis guiados ATGM AGM-114 Hellfire (high config) ou TOW II Improved (Low config), acessórios e material de manutenção e mantenimento dessas armas.

Significativo dizer que, para um helicóptero dos anos de 1990, esse poder de fogo não encontra correlato no Brasil, exceto por alguns poucos AH-2 Sabre da Força Aérea Brasileira baseados em Porto Velho, Rondônia.

O cockpit do AH-1W é antiquado pelos padrões de hoje, incorporando indicadores de “reloginhos”, escopos de segmentação óptica e até mesmo um monitor heads-up (HUD) para o piloto que parece ter sido arrancado de um PC desktop da década de 1980.

Um novo cockpit “digitalizado” aumentaria substancialmente sua letalidade. A oferta afirma que qualquer nova configuração do cockpit terá que funcionar com as armas existentes da aeronave. Mas mesmo que seu sistema não seja de ponta, o Super Cobra continua brutalmente eficaz em seu trabalho.

O Exército dos EUA anteriormente desativou sua frota de modelos AH-1 de motor único, menos capazes, e que foram retirados do serviço no início dos anos 2000, um processo que terminou em 2010.

O NTSU ainda é um sensor EO/IR que atende com sobras as necessidades de detecção e marcação de alvos para os Super Cobra.

Originalmente, o programa AH-1Z pretendia remanufaturar células existentes AH-1W, mas isso mudou rapidamente à medida que o programa ganhou impulso. A diferença de preço entre helicópteros novos e remanufaturados encolheu drasticamente, então realmente não fazia sentido passar por todo o esforço e logística de reutilização de células dos antigos AH-1W.

No final, apenas 37 AH-1Ws foram reconstruídos como “novos” AH-1Zs, e esse esforço terminou em 2014.

Como resultado indireto dessa situação, ocorreu a disponibilidade de uma grande frota de Whisky Cobras que poderia ser vendida como excedente para um comprador estrangeiro ou doada via Foreign Military Sales. Claro que qualquer venda teria que ser aprovada pelo Departamento de Estado dos EUA.

Na categoria de “nações amigas” autorizadas a negociar, caso tenham interesse, figuram os Estados Bálticos (que já compraram o OH-58D Kiowa Warrior), Jordânia, Filipinas, Nigéria (depende da remoção de restrições impostas pela Casa Branca), Tunísia, Thailândia, Brasil, Iraque e Afeganistão.

Um “cliente” que não consta de nenhuma lista oficial, mas demonstra interesse, é a PMCBlackwater International’s”, que ambiciona criar uma frota aérea “de aluguel” para operações em regime de “contrato”, especialmente no Afeganistão.

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