Philippe Corino Mello (*)
A concepção da arte da guerra é uma eterna evolução dos meios e métodos empregados pelas tropas a fim de fazer valer sua força perante o inimigo. Com o desenvolvimento de novos equipamentos e materiais, surgem dispositivos que combatem esta nova ferramenta e assim equilibram novamente o cenário do Teatro de Operações.
A Primeira Guerra Mundial foi um cenário de exposição dos primeiros blindados nos campos de batalha, os quais conseguiam romper dispositivos através de sua proteção blindada, penetrando nas defesas de trincheiras e assim ganhando terreno para o restante da tropa (DW, 2014).
Já na Segunda Guerra Mundial, vimos despontar a Blitzkrieg, técnica que, conforme Júnior (2010), empregava estas plataformas num conjunto com outros meios em alta velocidade a fim de alcançar a retaguarda inimiga e, desta forma, cercar estas tropas, cortando seu contato com o escalão superior.
Mais recentemente, pode-se observar a invasão russa sobre o território ucraniano e os embates entre Israel e organizações terroristas, os quais expuseram toda uma sistemática de incursões com as Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARP), sendo empregadas para os mais variados fins.
Neste míster, os drones são os grandes atores nos campos de batalha nesta década, sendo vetores para a observação aérea e ataques de oportunidade com granadas improvisadas. Com essas características, causam pesadas baixas aos beligerantes, principalmente em suas plataformas blindadas, dificultando o avanço das tropas pelo terreno.
Dito isso, ao observar os atuais embates em escala global, necessita-se um novo olhar sobre os meios de proteção necessários às plataformas blindados a fim de aumentar a sua segurança e, desta forma, utilizar a ação de choque com a maior efetividade possível.
O CENÁRIO DO CAMPO DE BATALHA
Os primeiros aparecimentos do uso de ARP (Aeronave Remotamente Pilotada) em conflitos foi registrado a partir dos anos 80, quando foram utilizados pela Força Aérea Israelense na Guerra do Líbano. Os judeus coordenaram o uso de VANTs (Veículos Aéreos Não Tripulados) no campo de batalha ao lado de aeronaves tripuladas para causar baixas com perdas mínimas (VULEJ, 2016).
Entretanto, foi na atual guerra da Rússia contra a Ucrânia que se observou seu uso maciço no Teatro de Operações, sendo empregados amplamente por ambos os lados. Com versáteis capacidades apresentadas até agora, estes equipamentos tem se mostrado uma arma capaz de causar prejuízos consideráveis e até mesmo abalar psicologicamente a tropa desdobrada pelo terreno.
Diante deste cenário, foram projetadas adaptações em blindados e aparelhos capazes de impedir o uso de drones contra as plataformas de combate. Com isso, procura-se prolongar seu emprego na área de operações, principalmente a fim de economizar recursos humanos e financeiros.
OS DRONES COMO FERRAMENTAS DE COMBATE
Ao iniciar os comentários sobre essas ferramentas, deve-se compreender como o drone é visto pela tropa que a emprega e como o adversário encara o material no campo de batalha. Diante disto, pode-se elencar alguns pontos importantes já observados, como a capacidade de acoplar granadas nas ARP a fim agregar capacidade explosiva às mesmas.
Para isso, observa-se que especialistas desenvolvem meios de prender projéteis à estrutura do drone, liberando-os quando a aeronave estiver sobre algum alvo compensador, como algum blindado ou instalação estratégica.
“Quase 28 meses desde o início da guerra, a utilização de drones por ambos os lados se intensificou muito no campo de batalha, dificultando o avanço das tropas” (CNN Brasil, 2024).
Caso ainda seja necessário, pode-se fixar o artefato à aeronave, impondo a destruição mútua do material e tornando-a uma arma kamikaze. Tendo em vista a 3 diferença de valores entre o aparato e o alvo almejado, constata-se a grande vantagem financeira imposta pelo uso de VANTs.

Na vertente da vigilância, é possível retomar os objetivos dos primeiros drones que estavam voltados ao foco da observação e registros aéreos. Atualmente, esses equipamentos contam com uma autonomia significativa, além de um alcance considerável, fornecendo capacidades de reconhecimento de longa profundidade ao seu detentor.
Com o posicionamento de alvos altamente compensadores, tais como postos de comando e áreas de trens, é viável repassar as coordenadas para peças de artilharia e, desta forma, causar danos substanciais sem arriscar tropas. Essa economia de recursos humanos é um ponto a ser estudado, visto a crescente escassez de recursos humanos disponíveis para recrutamento (CNN Brasil, 2024).
Diante dessas possibilidades apresentadas até agora, compreende-se o rol de capacidades dessas aeronaves, as quais estabeleceram uma apreensão nas tropas em combate. Conforme ESTADÃO (2023), foram divulgados vídeos de soldados russos se rendendo a drones que os seguiam pelas trincheiras dos campos de batalha, demonstrando a reputação que estes equipamentos estão ganhando no Teatro de Operações.
Ao assimilar todo o contexto de emprego dos drones, é possível concluir que o panorama é crescentemente desfavorável para o emprego massivo das plataformas blindadas, as quais sofrem para impor sua ação de choque e romper, desta forma, os dispositivos inimigos, movimentando o Teatro de Operações.

SISTEMAS DE PROTEÇÃO EM BLINDADOS CONTRA DRONES
Como comentado no início desta pesquisa, o campo de batalha é uma eterna evolução do confronto entre a espada e o escudo e, neste sentido, já estão em testes os primeiros protótipos de proteção contra este vetor aéreo no próprio cerne da guerra.
Baseado nesta afirmação, a fim de aumentar a vida útil das plataformas blindadas nas áreas de operações, economizando recursos financeiros e humanos, alguns projetos e adaptações estão em fase de testes com o propósito de avaliar qual seria a melhor linha de ação a ser adotada contra os drones. Para isso, já estamos vendo no campo de batalha alguns desses esboços, como gaiolas suspensas na torre de blindados e sistemas de supressão da frequência das ARP.
1. Armadura COPE CAGE
Uma concepção básica de todo blindado é a necessidade de proteger a sua estrutura, principalmente sua torre, visto a concentração da guarnição e possivelmente a presença do paiol da viatura, o qual pode ser impactado e causar danos internos à plataforma.
Dito isso, ao observar o lançamento de artefatos por meio de drones, foi vislumbrado a possibilidade de acoplar uma gaiola suspensa a fim de percutir a granada antes do impacto à viatura. Este acessório já foi utilizado para proteger o chassi de alguns blindados para impedir o emprego de armas anticarro, visto que tem por objetivo alterar o ângulo de incidência do impacto inimigo ou forçar o acionamento prematuro da munição (KLUNCK, 2019).

Conforme THE WARZONE (2023), os militares russos foram os primeiros a empregar este tipo de armadura adicional, muitas vezes chamada de “gaiolas de proteção”, em tanques e outros veículos blindados. Essa opção tornou-se agora uma presença constante em ambos os lados do conflito na Ucrânia, principalmente para fornecer proteção extra contra drones, uma das muitas ameaças que as forças de Israel também enfrentam em Gaza.
À luz da revista digital THE WARZONE (2022), o aparecimento de telas de armadura adicionais, também comumente chamadas de “Cope Cage”, em Merkavas e outros veículos blindados israelenses a partir do ano passado, é uma resposta à ameaça cada vez maior representada pelos drones dentro e fora dos campos de batalha tradicionais.
2.Sistemas de supressão
Por meio de avanços tecnológicos já utilizados para outros fins, como bloqueadores de telefone, foram concebidos sistemas que conseguem suprimir a ligação entre o operador do drone e a aeronave. Segundo SPUTINIK (2024), estes equipamentos ainda se encontram em fase de testes, no entanto, já se vislumbram possibilidades quanto a seu uso ao redor de veículos para a proteção contra as ameaças aéreas, como vê-se abaixo.

Conforme Prensa Latina (2024), a configuração deste tipo de material pode ser alterada rapidamente, adicionando módulos para reprimir as novas frequências que o inimigo comece a usar, formando um campo de proteção com diâmetro de pelo menos 300 metros.
Um outro meio de atingir esta finalidade, porém com outros dispositivos, é o emprego de armamentos que utilizam laser de pontaria direta para isolar o receptor da aeronave de seu operador. O ponto negativo a ser destacado neste material é o tempo necessário para abater o drone e a capacidade de focar somente em um alvo por vez.
Diante deste panorama de sistemas antidrones, observa-se uma variada gama de possibilidades para combater este novo vetor aéreo do campo de batalha, porém é necessário acompanhar o desenrolar dos atuais conflitos para se concluir qual seria a opção mais eficiente contra estas aeronaves.

3. Sistemas de Armas
Uma outra vertente que está iniciando sua fase de testes são sistemas de armas direcionados para abate de ARPs, contando com radares de busca, mecanismos óticos capazes de acompanhar a movimentação da aeronave e um canhão de calibre médio capaz de alvejar o alvo em tempo hábil.
Conforme a revista eletrônica Asas (2023), o governo da Austrália aprovou o envio para a Ucrânia de dez conjuntos antidrones Slinger, produzidos pela Electro Optic Systems (EOS). A expectativa é ajudar no combate às aeronaves remotamente pilotadas, ao mesmo tempo em que será feita uma avaliação prática do equipamento desenvolvido para abater drones a um custo mais baixo.
Ao receber este tipo de armamento, deve-se analisar que tipo de preceito seria utilizado para melhor manusear o material visto que seriam necessárias adaptações físicas nas estruturas para acoplar esta arma às plataformas. Entretanto, caso fossem utilizadas em viaturas exclusivas, as evoluções doutrinárias precisariam ser revistas a fim de compatibilizar seu manuseio dentro de uma fração blindada.
Dessa forma, mesmo que o mecanismo Slinger obtenha bons resultados no conflito do leste europeu, é preciso uma análise do conjunto em que foi utilizado para se chegar a uma conclusão factível de sua aplicação, principalmente prevendo possíveis aquisições similares.

PROJEÇÕES PARA A FORÇA TERRESTRE
Diante deste panorama de sistemas antidrones, o Brasil se adiantou e publicou no Diário Oficial da União um despacho do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, envolvendo a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e a empresa brasileira Ares Aeroespacial e Defesa, versando sobre assinatura de um contrato de outorga para a execução do Projeto Sistema de Defesa Anti-ARP (BRASIL, 2024).
Conforme a revista eletrônica Tecnologia e Defesa (2024), o projeto ainda está em sua fase conceitual, mas, na proposta atual, o sistema possuirá uma série de pequenos radares de aquisição de alvos de curto alcance, novo sistema de comando e controle (C2), com datalink e conexões para integração com os sistemas de defesa aérea disponíveis, além da instalação de um dispositivo que permita o disparo de munições de explosão programável do tipo ABM (“airburst ammunition”), fazendo com que um canhão de baixa cadência (200 TPM) possa engajar e destruir a atual geração de aeronaves e munições remotamente pilotadas.
Ainda segundo a mesma revista, a integração da UT30BR2 nas viaturas blindadas de transporte de pessoal (VBTP) 6X6 Guarani, que já possui 13 da versão UT30BR em operação (em processo de conversão para BR2) e planeja adquirir pelo menos mais 22, aumentará em muito a capacidade das forças mecanizadas que, quando entrar em operação, será o mais sofisticado da América Latina.

CONCLUSÃO
Ao concluir este trabalho, pode-se observar que as ARPs contam com uma grande capacidade de danos, impondo a necessidade do desenvolvimento de meios de proteção simples e eficazes, a fim de adaptar os meios blindados para esse novo elemento no campo de batalha.
Vislumbrando os protótipos que estão sendo testados, constata-se as variadas vertentes possíveis para o combate aos drones. A análise de eficiência é um ponto a ser observado pelos interessados, porém cabe ressaltar que um ponto importante é o gasto para atingir esses fins.
A atual conjuntura das nações prioriza o controle financeiro em campanha, principalmente pela diminuição de mão de obra disponível e as custosas aquisições de Meios de Emprego Militar (MEM). Como citado por Hecht (2015), o combate se desenvolve também na frente financeira, pois ninguém ignora que o dinheiro é o nervo da guerra e que é necessário, por conseguinte, drenar a poupança dos povos para os bônus da defesa nacional e os empréstimos de guerra. Desta forma, se torna imprescindível um equilíbrio financeiro entre o propósito vislumbrado e o orçamento deste, buscando sempre o melhor rendimento pela menor despesa.
Neste cenário, mesmo que desafiador, deve-se buscar métodos eficazes para combater este vetor aéreo e retomar o uso da ação de choque dos blindados em conflitos. O recente ataque iraniano lançado contra o território de Israel, onde dezenas de drones foram abatidos por armamento cinético e interferência eletromagnética (G1, 2024), comprovam que existem maneiras para enfrentar este novo protagonista no campo de batalha, sendo necessário uma coordenação de sistemas e plataformas.
Como já comentado, com o passo primário já tomado pela Força Terrestre, resta moldar esta nova perspectiva às capacidades da nossa 11 instituição, pois as evoluções doutrinárias devem ser antevistas e discutidas desde o âmbito das frações, a fim de preparar a tropa para os novos desafios que despontam no Teatro de Operações.
REFERÊNCIAS
BASTOS, Paulo. UT30BR2 e sistema antidrone, a evolução do SARC. 29 nov. 2024. Disponível em: < https://tecnodefesa.com.br/ut30br2-e-sistema-antidrone-a-evolucao-do-sarc/>. Acesso em: 10 mar. 2025.
BRASIL. Extrato de Contrato, de 11 de abril de 2024. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2024, n° 72, 15 abril 2024. Seção 3, p. 12.
CNN BRASIL. Sem homens e sem armas, novo chefe do exército da Ucrânia enfrenta desafios. 10 fev. 2024. Disponível em: < https://www.cnnbrasil.com.br/ internacional/sem-homens-e-sem-armas-novo-chefe-do-exercito-da-ucrania-enfrentadesafios/ >. Acesso em: 03 jul. 2024.
ESTADÃO. Soldado russo se rende a drone ucraniano e deixa tropas russas guiado por equipamento. 16 maio 2024. Disponível em: < https:// www.estadao.com.br/internacional/soldado-russo-rendicao-ucrania-nprei/ >. Acesso em: 04 jul. 2024.
G1. Israel afirma ter interceptado 99% dos mísseis e drones lançados pelo Irã. 14 abr. 2024. Disponível em: < https://g1.globo.com/mundo/noticia/2024/04/14/israel-dizter-interceptado-99percent-dos-misseis-e-drones-lancados-pelo-ira.ghtml# > . Acesso em: 08 jul. 2024.
HECHT, Emmanuel. O Século de Sangue. São Paulo: Editora Contexto, 2015.
JÚNIOR, Athayr Araujo Pereira. A Blietzkrieg alemã e a evolução da arte da guerra. Universidade do Sul de Santa Catarina. Palhoça – SC, 2010.
KLUNCK, Gabriel. A utilização de sistemas de proteção nos pelotões de carros de combate. Academia Militar das Agulhas Negras. Resende, 2019. 13
O GLOBO. Ucranianos usam drone kamikaze para destruir tanque russo com soldados em cima. 24 abr. 2022. Disponível em: < https://oglobo.globo.com/mundo/ noticia/2022/05/video-ucranianos-usam-drone-kamikaze-para-destruir-tanque-russo-comsoldados-em-cima.ghtml >. Acesso em: 03 jul. 2024.
REVISTA DW. 1916: Primeiro tanque de guerra em ação. 15 set. 2014. Disponível: < https://www.dw.com/pt-br/1916-primeiro-tanque-de-guerra-em-ação/a-319497 >. Acesso em: 04 jul. 2024.
REVISTA EXAME. Ucrânia aposta em drones terrestres para mudar os rumos da guerra contra Rússia. 23 mar. 2024. Disponível em: <https://exame.com/mundo/ ucrania-aposta-em-drones-terrestres-para-mudar-os-rumos-da-guerra-contra-russia/>. Acesso em: 03 jul. 2024.
SPUTINIK. Novo sistema de supressão de drones FPV começa a ser usado em tanques russos no campo de batalha. 14 jan.2024. Disponível em: < https:// noticiabrasil.net.br/20240114/sistemas-de-supressao-de-drones-fpv-comeca-a-ser-usadosem-tanques-russos-no-campo-de-batalha-32525309.html >. Acesso em: 14 jul. 2024.
THE WAR ZONE. Israeli Merkava Tanks Appear With ‘Cope Cage’ Armor. 16 out. 2023. Disponível em: < https://www.twz.com/israeli-merkava-tanks-appear-with-cope-cage-armor >. Acesso em: 04 jul. 2024.
THE WAR ZONE. Israeli Merkava Tanks Get Improved Anti-Drone. 22 jan. 2024. Disponível em: < https://www.twz.com/israeli-merkava-tanks-get-improved-anti-dronemagnet-bomb-defenses >. Acesso em: 04 jul. 2024.
QUIRINO, Carla. Ucrânia e Rússia concentradas em combates aéreos com drones. RTP Notícias. 22 jan. 2024. Disponível em: < https://www.rtp.pt/noticias/ 14 guerra-na-ucrania/ucrania-e-russia-concentradas-em-combates-aereos-com-drones_n1545057>. Acesso em: 03 jul. 2024.
VULEJ, Rafael. Drones em operações militares. Marinha do Brasil. Rio de Janeiro, 2016.

Philippe Corino Mello (*) é capitão de Cavalaria (AMAN/2015, EsAO/2024), pós-graduado em Ciências Militares, e atualmente é o comandante de SU do 14° Regimento de Cavalaria Mecanizado