Aconteceu, durante a semana passada, o Seminário Internacional de Compósitos, promovido pela Associação Latino-Americana de Materiais Compósitos e pelo JEC Group. O evento foi planejado para reunir empresas e profissionais, entre outras qualificações, com objetivo de apresentar as últimas novidades dessa área, incluindo meios de produção e seus últimos avanços, bem como promover intercambio e disseminar novas aplicações desses materiais.
Uma mostra foi montada no salão de exposições do Hall E do Transamérica, que incluiu conceitos básicos de emprego dos materiais compósitos em aeronaves, automóveis, embarcações, geradores de eletricidade através de turbinas eólicas, acessórios para a construção civil, entre outros.
Especificamente na área de transporte, os palestrantes destacaram os últimos avanços verificados nos meios e métodos de produção de peças, cujo foco ficou concentrado na crescente automatização dessa atividade (robotização), e nas refinadas soluções de desenho e controle de qualidade de peças com auxilio de sofisticados softwares, passando pela evolução dos compósitos a nível macroscópico (geometria, por exemplo) e microscópico (composição e combinação química, bem como disposição de fibras, entre outras características).
É interessante destacar que a tecnologia tridimensional (3D) para analise e conformação de peças está cada vez mais presente no setor, abrindo portas para a concepção de estruturas antes impossíveis por força dos métodos de projeto e produção mais antigos até pouco tempo empregados.
Durante as palestras, ficou claro que, basicamente, o crescente emprego de materiais compósitos nos meios de transporte esta coligado ao principio de se construir automóveis, caminhões, ônibus, embarcações e aviões, cada vez mais leves com ganhos em resistência e avanço no design estrutural, proporcionando meios de transporte mais confortáveis, duráveis e que consumam menos combustível, resultando, neste último caso, em menor emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.
Vale lembrar que materiais compósitos são também amplamente empregados com outras finalidades, como por exemplo, na área de Defesa. Capacetes, partes de armamentos, blindagens mais leves e tão ou mais resistentes do que as convencionais, casco de lanchas rápidas dotados de hidrodinâmica mais eficiente e estruturas de aviões de combate de geração avançada para torna-los menos perceptíveis aos radares, entre outras possibilidades, é apenas uma pequena parte do que esses materiais podem fazer em nome da eficiência militar e da segurança. Entre os compósitos mais empregados nesses itens destaca-se o Kevlar e as fibras de carbono (CFRP conforme sigla em inglês).
Um dos destaques do primeiro dia do seminário ficou por conta de Fabio Santos da Silva, engenheiro de desenvolvimento de produto da EMBRAER. Sua palestra girou em torno do tema “Desafios e Tendências Tecnológicas no Futuro Aeronáutico do Compósitos”. De acordo com ele, a indústria aeroespacial e de Defesa são as que mais empregam esses materiais. Atualmente, em termos globais, essas indústrias absorvem 30% do volume produzido e a tendência é para que essa quantidade cresça 10% ao ano até 2020. A taxa de materiais compósitos, por exemplo, existente nos novos aviões comerciais Airbus A350 e Boeing 767 gira em torno de 50%.
O engenheiro Silva apresentou também um quadro das tendências relativas ao futuro dos aviões comerciais, executivos e de Defesa. Para os comerciais, destacou a eficiência, segurança e “ambientalmente amigo”. Para os executivos, encabeçam a lista o conforto, alcance e avançadas características de voo. Para as aeronaves militares, prevalecerão requisitos de capacidade de cumprir missões na futura arena de combate, performances superiores, furtividade e maior capacidade de carga útil. Em todos esses casos, o emprego de compósitos será um fator importante.
De acordo com Silva, já estão em estudos novos conceitos para os aviões comerciais do futuro. Entre eles, durabilidade, segurança operacional, sistemas integrados na própria estrutura da aeronave (antenas, condutores de eletricidade e sistema de climatização, por exemplo) e novos meios de geração, armazenagem e gerenciamento de energia (instalando, por exemplo, células fotovoltaicas nas superfícies externas das aeronaves), tudo graças a criação de meios de produção inovadores onde os compósitos estarão presentes em considerável proporção. Considera-se também o aproveitamento da nanotecnologia para aperfeiçoar os métodos de conformação de partes e peças dessas e de outros tipos de aeronaves, optimizando suas características e criando novas funcionalidades. Neste ponto é interessante comentar que é possível construir sistemas de degelo e controle de temperatura com a aplicação da nanotecnologia em determinadas partes da aeronave formadas por estruturas de compósitos.
Outra previsão inovadora apresentada pelo engenheiro diz respeito às asas que mudam de forma durante o voo para modular as forças de sustentação, característica só possível com o emprego de estruturas flexíveis construídas com materiais compósitos.
De acordo com Silva, para que essa evolução seja exequível, há de se considerar o aperfeiçoamento dos materiais compósitos, desenvolvendo novas combinações com outros componentes (incluindo inorgânicos como os metais), processos de deposição de fibra mais avançados e cura do material.
A evolução prognosticada por Silva, se dará também no campo do monitoramento da “saúde” estrutural das aeronaves. Para isso devem ser integrados sistemas de sensores permanentes conectados a computadores que detectarão e acusarão eventuais falhas estruturais como fissuras, pontos de corrosão, danos acidentais, delaminação ou descolamento de partes conformadas com materiais compósitos.
Ivan Plavetz
*Texto e imagens