SARC REMAX – Integração no VBTP Guarani

De 27/04 a 03/07/2020, foi realizado no 4º Depósito de Suprimento (4º D Sup) as etapas finais da integração e validação de 31 (trinta e um) SARC REMAX nas VBTP-MSR 6×6 Guarani, em 4 quatro) etapas, e Tecnologia & Defesa esteve lá, acompanhando os últimos dias desse processo.

Paulo Roberto Bastos Jr. e Vandeir Alves dos Santos

 

O REMAX (Reparo de Metralhadora Automatizada X) é um Sistema de Armas Remotamente Controlado (SARC), totalmente desenvolvido no Brasil, cujo projeto iniciou-se em 2006 e foi adotado dez anos depois. Em dezembro de 2016, o Exército Brasileiro (EB) assinou o contrato para a produção do primeiro lote de produção seriada, composto de 215 unidades, já da versão REMAX 3, com validade inicial de 5 anos, e que seria atendido conforme dotação orçamentária. As armas instaladas nesse lote pertencem a esse contrato.

O SARC REMAX foi concebido para dar mais suporte de fogo às unidades mecanizadas brasileiras ao mesmo tempo que garantiria a proteção de seu atirador, que é considerado um ponto crítico na guerra moderna, substituindo os reparos manuais de metralhadoras 7,62 mm e .50’ nas VBTP-MSR 6×6 Guarani e, como tal, suportando esses dois armamentos.

Porém esse sistema de armas está se mostrando tão versátil e eficiente que também será utilizada na VBTM-LR 4×4 LMV-BR, recém adotada pelo EB, e já existem estudos para sua utilização nas VBTP-SL M113BR, na modernização da VBC-CC Leopard 1A5 e também em seu sucessor, essas ultimas pertencendo as forças blindadas, além da Lanchas Blindadas DGS 999 Raptor utilizadas pelo EB na Amazônia.

Sistema Optrônico SARC REMAX com a grade de proteção fechada e aberta

 

Processo de integração

O processo de entrega das REMAX é composto por 4 (Quatro) etapas:

  • O Teste de Aceitação de Fábrica (TAF), onde o sistema é testado estático (fora do veículo), na fábrica da ARES Aeroespacial e Defesa, antes da entrega ao EB;
  • A Instalação na VBTP-MR Guarani, onde o SARC é instalado no Guarani, nas instalações do 4º D Sup por técnicos da IVECO. Atualmente o tempo médio para a instalação do SARC REMAX no Guarani é de 16 horas/homem;
  • A Certificação da Instalação, onde o REMAX é inspecionado, configurado e testado pela ARES após a instalação na Viatura Guarani.
  • O Teste de Aceitação em Campo (TAC), também é executado no 4º D Sup, por técnicos da ARES.

Sendo que todos esses processos são acompanhados de perto por militares da unidade.

O processo final, acompanhado por Tecnologia & Defesa, é a etapa mais crítica, pois todo o sistema é testado, com as duas armas, antes da entrega final, à Organização Militar (OM) destinatária. É importante destacar que o sistema é composto pelo veículo Guarani, o SARC REMAX e as metralhadoras 7,62 mm e .50’, sendo que o processo é feito individualmente com cada arma.

Por se tratar de uma etapa muito detalhada, vamos descreve-las, de forma resumida, seus passos:

1º. Checagem de Rearme (carregamento) e Disparo, sem munição: metralhadora é instalada no SARC, e todas as tolerâncias da arma são verificadas cuidadosamente com a utilização de um calibrador específico, que está na maleta de ferramentas de cada viatura. Após isso é efetuado o disparo “em seco”, onde é aferido se o percussor foi acionado corretamente, de acordo com os parâmetros estabelecidos em seu manual;

2º. Instalação do Colimador: é utilizado o colimador digital, da empresa israelense Men At Work. Essa ferramenta tem como objetivo identificar um ponto de intercessão entre o sistema óptico (linha de visada) com o cano das metralhadoras (linha de tiro).

3º. A Calibração do Colimador: o colimador é girado em 180º e são calculadas as diferenças entre as imagens e ajustadas. Após essa etapa, os parâmetros são gravados no computador de tiro para que a linha de tiro esteja ajustada corretamente com o colimador;

4º. Colimação e Ajuste das Câmeras: é checado, em diversos ângulos, se a arma e os equipamentos Optrônicos (Diurno e Termal) estão corretamente alinhados, para que os disparos efetuados tenham precisão, atingindo o alvo no mesmo lugar que é apontado pelo retículo do REMAX;

5º. Tiro de Aquecimento e Correção em Zero: a arma é alimentada com munição e são efetuados alguns disparos, em um estande de tiro de cerca de 100 metros, cuja distância é aferida com a utilização do telêmetro a laser do sistema, e verificados a posição dos impactos dos projéteis no alvo. Caso exista alguma diferença, são efetuados cálculos do ponto médio de impacto para a realização da correção, é efetuada uma nova série de tiros para a validação, e os parâmetros são novamente inseridos no computador balístico;

6º. Tiro Operacional, Intermitente e Rajada: efetua-se uma nova série de tiros, incluindo as rajadas, em potência, ou seja, com o sistema de estabilização desligado, para verificar se o sistema se comporta como deveria;

7º. Tiro Operacional, Rajada com Estabilização: são efetuadas algumas rajadas com o sistema de estabilização da torre ligado e o resultado é avaliado. Nessa etapa e na anterior, caso os tiros não estejam dentro das concentrações e do agrupamento definido para o sistema, volta-se a etapa de Correção em Zero.

Paulo Bastos aferindo o alvo após seus disparos de REMAX com metralhadora .50′

 

Todo o processo é repetido com a outra metralhadora (não importa a ordem).

A metralhadora .50′ é substituída pela 7,62 mm 

 


O disparo do REMAX, com a metralhadora 7,62mm, em um angulo nunca visto

 

Após essas etapas o computador de tiro é finalmente gravado com todos os parâmetros colhidos durante o TAC, e o armamento está pronto e devidamente aprovado para ser entregue a OM destino.

Ao final do teste tivemos uma apresentação prática da utilização do REMAX, com metralhadora .50′, em modo manual, como um plano de contingência para alguma emergência que impeça seu disparo de dentro da viatura. Poucas SARC’s possuem esse modo, o que mostra mais uma vez as qualidades do produto brasileiro.

Uma observação que deve ser destacada é o fato do EB não possuir Colimadores digitais, mas sim apenas alguns poucos colimadores ópticos, da marca Graflex, que além de aumentarem muito o tempo dos ajustes armamento/optrônico, não garante a mesma acuracidade. É fundamental que todas as OM que possuam o REMAX tenham ao menos um desses equipamentos, para que possam elas mesmas fazerem o TAC quando necessitarem substituir alguma das metralhadoras do sistema.

O armamento

O SARC REMAX 3 pode utilizar dois tipos de armas, que são entregues como partes do sistema, e são elas a metralhadora .50’ Browning M2A1HB-QCB e a 7,62 mm M240B.

A Browning M2A1HB-QCB é uma das versões mais modernas da metralhadora pesada, de calibre .50 BMG (12,7×99 mm), criada pelo projetista John Moses Browning, como uma arma antiaérea no final da Primeira Guerra Mundial, e sua principal diferença em relação à versão HB, que é amplamente utilizada pelo EB, é a utilização do kit QCB (Quick Change Barrel), da belga FN Herstal, que permite a rápida troca do cano. Essa versão também é conhecida como M2A1HQCB.

Nessa foto pode-se observar a conexão de encaixe rápido do cano

A M240B é uma versão mais moderna da metralhadora MAG (Mitrailleuse d’Appui General), da FN Herstal, calibre 7,62×51 mm, fabricada pela estadunidense U.S. Ordnance e suas principais diferenças em relação as MAG M971, padrão do EB, são o quebra-chama mais eficiente, alavanca de manejo mais ergonômica, mesa de alimentação bastante modificada (e menos suscetível à falhas) e os elos da fita de munição são destacáveis, sendo que essas fitas não são intercambiáveis.

Nos protótipos experimental e operacional do REMAX, chamados de REMAX 1 e REMAX 2, a metralhadora 7,62 mm utilizada era a MAG M971, mas a versão de produção, o REMAX 3, já foi projetada para utilizar a M240B.

O EB adquiriu essas armas exclusivamente para serem operadas no SARC REMAX.

 

As OM’s que utilizarão os Guarani REMAX

Os 31 sistemas Guarani REMAX entregues nesse lote serão destinadas as seguintes OM’s:

OM Destino

Quantidade

Num. Fabricação Guarani Num. Fabricação REMAX
19º RC Mec
(Santa Rosa/RS)

7

357 LP156
358 LP156
359 LP161
360 LP158
361 LP155
362 LP142
363 LP111
5º RC Mec
(Quaraí/RS)

9

364 LP109
365 LP108
366 LP122
367 LP117
368 LP145
369 LP151
370 LP162
371 LP163
372 LP171

8º RC Mec
(Uruguaiana/RS)

9

373 LP164
374 LP165
375 LP166
376 LP167
377 LP168
378 LP169
379 LP170
380 LP172
381 LP173

3º RC Mec
(Bagé/RS)

6

382 LP174
383 LP175
384 LP176
385 LP177
386 LP178
387 LP179

 

Quase os Guarani REMAX desse lote, já foram entregues, sendo que na última sexta-feira, dia 03/07, foram entregues as duas primeiras do 8º RC Mec, que já recebeu 6 até o momento, devendo o restante ser entregues nos próximos dias. Já o 3º RC Mec deverá as receber suas viaturas no decorrer das próximas semanas.

Além desses sistemas entregues, está estocado na 2ª Companhia do 4º D Sup mais 21 (vinte um) REMAX encaixotados, que deverão ser integradas nos próximos meses, garantindo ao EB um maior poder de fogo para sua Força Mecanizada.

Durante os testes haviam 6 Guarani REMAX prontos e mais 21 SARC’s encaixotadas

O 4º Depósito de Suprimento (4º D Sup)

O 4º Depósito de Suprimento (4º D Sup), localizado em Juiz de Fora(MG), é a OM provedora do Programa Estratégico do Exército Guarani (Prg EE Guarani), sendo responsáveis pelo recebimento e distribuição para as OM’s destinatárias de todas as viaturas da família Guarani, assim como seus componentes, como o SARC REMAX e o sistema de comunicação, com os rádios táticos Harris Falcon III, que são montado no Arsenal de Guerra do Rio (AGR).

É de sua responsabilidade o recebimento dos equipamentos nas fábricas, transporte ao 4º D Sup, instalação dos equipamentos, validação do sistema, transporte a OM destinatária e acompanhamento da validação de todo o equipamento no destino. Somente após o aceite da OM destinatária, que o sistema sai de responsabilidade do 4º D Sup.

A unidade foi escolhida por dois motivos principais. O primeiro é a proximidade da OM com a fábrica da IVECO Veículos de Defesa, em Sete Lagos/MG, e a fábrica da ARES e o AGR, no Rio de Janeiro/RJ, facilitando a logística.

O segundo motivo, destacado com orgulho pelo Coronel THIAGO, Chefe do 4º D Sup, é o “rigor e profissionalismo de seus integrantes na conferência de seus recebimentos e acompanhamento dos testes de integração e validação”.

A belíssima arquitetura do prédio do 4º D Sup, tombado pelo Município de Juiz de Fora, e seu comandante, o Coronel Thiago

 

A equipe de T&D e os técnicos da ARES

 

Fotos: Os autores, Sd Luigi e Leonardo Degethoff

Nota da redação

Tecnologia & Defesa e os autores registram seus agradecimentos a valiosa colaboração para conclusão desse trabalho a todos os militares do 4º D Sup e a empresa ARES Aeroespacial e Defesa, porém, algumas dessas pessoas devem ser citadas nominalmente pela maior proximidade com os trabalhos efetuados:

  • General de Brigada Eng Mil TALES Eduardo Areco VILLELA, Diretor da Diretoria de Fabricação (DF);
  • Coronel Sv Int Luiz Eduardo Soares THIAGO, Chefe do 4º D Sup;
  • Major QMB Rodolfo CESAR Barbosa, Comandante da 2ª Cia do 4º D Sup;
  • Soldado LUIGI Franchesco Lima e Caravelli, 1ª Cia do 4º D Sup;
  • Frederico Medella, Diretor de Marketing da ARES;
  • Leonardo Degethoff, Especialista em Suporte Logístico Integrado (SLI) e instrutor de Torres e Sistemas de Arma da ARES;
  • Eduardo Machado e Vinicius Ventura, Técnicos em Suporte Logístico Integrado da ARES;
  • Alexandro de Sá, Técnico de Manutenção da IVECO Veículos de Defesa;

 

Veja também

ESPECIAL TECNOLOGIA NACIONAL: SARC REMAX

O SARC UT30BR NÃO FOI REPROVADO PELO EB, veja o que de fato ocorreu

 

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Comentários

9 respostas

  1. Excelente matéria,como sempre ,caro Bastos!!!
    A Sarc Remax tem tudo pra evoluir ainda mais com incremento de calibres maiores e ,quem sabe, a colocação de lançadores de ATGM. Agora,rs,fora do tópico,notícias da Torc-30 ???

  2. Parabéns pela matéria !

    Bastos, me permita uma sugestão:
    Até hoje não sei se efetivamente a suspensão “Boomerang” foi eficiente, inovadora ou mesmo adequada para o Cascavel.
    Pode fazer uma matéria sobre o assunto? Se o tópico não estiver no seu radar, qual a avaliação que os especialistas da área tem sobre este tipo de suspensão?

    Obrigado !

    1. Obrigado pela sugestão Flavio, Ja tratei dessa dessa suspensão de forma superficial e devo voltar em artigos futuros.
      Mas deve-se ter em mente que a Suspensão ENGESA BUMERANGUE foi uma evolução da ENGESA TT (Tração Total, também conhecida como Boggie), para atender as necessidades dos programas CRM e CRTA, que deram origem ao CASCAVEL e URUTU, respectivamente.
      Era uma solução intermediária (melhor dizendo, paliativa), devido ao fato de no Brasil existir, na época, não existir tecnologia para a confecção de uma suspensão independente para veículos com aquela tonelagem.
      Era boa em situações QT (Qualquer Terreno), mas era muito instável quando se trafegava em estradas e em velocidades mais altas, tanto que no ultimo projeto de blindados sobre rodas da empresa, o EE-18 Sucuri II, e nos estudos da familia que deveria substituir os Cascavel e Urutu, optou-se pela suspensão independente.

      1. Bastos, pegando carona na questão Urutu e Cascavel, vc, como especialista, é a favor da modernização, a la Equitron, dos Cascaveis???Gostaria de saber tbm sua visão positiva ou negativa na continuidade do uso do Cascavel pelo EB levando em conta o fato de haverem nações mundo afora o utilizando ainda e em combate até.

        1. Digamos que, devido aos problemas logísticos e limitações operacionais caudados pela idade dos Cascavel, alem da demora na definição da aquisição da VBC-AC, é meio que inevitável a modernização desses carros.

  3. Não sei se me perdi, mas com relação às MAG’s, o quê tem a ver com a nova tampa com trilho e os anéis da fita??? Por favor, poderias me dar uma explanação, pois ainda não vi esse projeto e as nossas velhas, mas ÓTIMAS MAG’s mereciam sim serem mantidas e terem um upgrade inclusive na tropa. Agradeço desde já e fico no agd de um retorno.
    Fiquem com Deus

    1. Arthur, a M240B é mais indicada para ser utilizada em uma SARC por conta do sistema de alimentação ser mais confiável.
      No caso da fita, o fato dela não ser destacável, pode embolar e emperrar o sistema, obrigando que um militar saia do carro para fazer a liberação, que o exporia ao fogo inimigo.
      O Trilho Picatinny é uma constante nas armas modernas, permitindo a instalação rápida de diversos acessórios, mas é indiferente para sua utilização na SARC, tanto que nem cito esse fato.
      A tropa continuará com as MAG M971, que é uma excelente metralhadora.

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