Através do Boletim do Exército Nº 48/2017, o Estado Maior do Exército (EME) aprovou portaria determinando a Iniciação do Projeto de Obtenção da Viatura Blindada de Reconhecimento – Média Sobre Rodas, 6×6 (VBR-MSR, 6×6) a partir da evolução de plataforma já existente.
Na atualidade, o EB opera três plataformas 6×6, sendo dois blindados produzidos pela extinta ENGESA (Urutu e Cascavel) e o moderno Guarani da Iveco Veículos de Defesa, fabricado em Sete Lagoas (MG).
Segundo o documento, e na visão do Exército Brasileiro (EB), o atual cenário político-econômico é de restrição orçamentária e deve prolongar-se pelos próximos anos, justificando a obtenção de uma Viatura Blindada de Reconhecimento – Média Sobre Rodas, 6×6, a partir da evolução de plataforma já existente, em detrimento da obtenção da Viatura Blindada de Reconhecimento – Média Sobre Rodas, 8×8 que acarretaria em custos mais elevados.
O EB testou, há alguns anos, um exemplar do VBR 8×8 Iveco Centauro cedido pelo Exército Italiano. Segundo divulgado a época, o blindado teve excelente desempenho, apresentando alta mobilidade, velocidade e poder de choque conferido pelo armamento principal superior. Em anos mais recentes, o EB caminhava na direção do desenvolvimento de uma plataforma 8×8, mas a realidade orçamentária e as dificuldades encontradas na execução do Programa Guarani tornaram esse caminho, ao menos por enquanto, improvável se não inviável.
Segundo o documento, o Exército avalia que as VBR atualmente em uso apresentam várias limitações para o cumprimento das operações de guerra previstas pela Doutrina Militar Terrestre.
Apesar das limitações quanto aos aspectos técnicos apresentados por essas viaturas, as mesmas possuem características, como robustez, fácil manutenção, mecânica simples e boa velocidade em estrada, constituindo-se numa excelente linha de ação a evolução da sua plataforma como base para a obtenção da VBR-MSR 6×6, visando a adequação dos aspectos técnicos às necessidades impostas pela previsão doutrinária de emprego em operações.
O Cascavel é um carro de reconhecimento ligeiro 6×6 armado com canhão de 90 mm bastante simples. O sistema de tiro (óptico) e o mecanismo de estabilização do armamento (mecânico) utilizam os mesmos princípios dos carros de combate empregados durante a 2ª Guerra Mundial.
O Cascavel comumente encontrado nas unidades do EB é incapaz de reconhecer/confrontar o inimigo com eficácia a noite, pois é desprovido de sensores optrônicos/detectores de calor para encontrar alvos e assim defender-se/evadir-se. Seu canhão de 90 mm não é preciso e seu alcance é pequeno para os padrões atuais. O fogo noturno em movimento é uma impossibilidade.
Missões de reconhecimento, na atualidade, acontecem prioritariamente a noite, com amplo emprego de sensores optrônicos/termais com alcance prático de identificação do inimigo na faixa de 3 km ou mais. Blindados sobre quatro rodas armados com lançadores de ATGM (e equipados com os sensores citados) seriam reconhecedores muito mais eficazes e com um custo menor. O Exército Argentino, para citar um País vizinho, usa essa solução.
O mercado brasileiro oferece programas de modernização do Cascavel que pretendem reduzir o GAP tecnológico desses carros, tornando-os capazes de operar H-24 com maior letalidade, através da introdução de melhorias como novo powertrain (motor e transmissão), sistema elétrico e hidráulico modernos, e integração de sensores de visão noturna/termal, sistema de controle de tiro integrado com telêmetro laser, redução da assinatura termal, instalação de ar-condicionado, etc.
Opções mais ambiciosas incluem a troca do armamento original por um novo canhão de 90 mm de projeto recente (torre remodelada) e mesmo a instalação de lançadores de mísseis antitanque guiados (ATGM).
Muitas dessas propostas são embrionárias, e focam mais nas melhorias “automobilísticas” do carro. Uma surpreendente movimentação focada no binômio de sensores + sistema de controle de tiro/armamento ocorreu recentemente durante o 3º SEMINDE, realizado em Santa Maria.
Durante a apresentação da empresa ARES Aeroespacial, foi revelada uma proposta de conversão de blindados 6×6 Cascavel do EB para empregarem a torre TORC30, em desenvolvimento pela empresa!
Em que pese qual o significado disso para o desenvolvimento do Programa Guarani (que prevê uma versão do veículo armado com a mesma torre), o fato é que um Cascavel com a TORC30 (e um pacote de sensores optrônicos completo) é uma proposta que se enquadra na questão menor custo. Não se conhecem detalhes das modificações mecânicas/estruturais necessárias para viabilizar essa versão, até o momento.
O Urutu é um 6×6 talhado para cumprir tarefas como transportador de tropas, e como tal, esse autor não o considera como opção para a obtenção de uma VBR-MSR 6×6.
Os projetos existentes no mercado para a sua modernização incluem, se o cliente puder pagar, a instalação de uma estação remotamente controlada de armamento até 12,7 mm, modificações no casco para prover maior proteção balística contra armas leves e IED (dispositivo explosivo improvisado) e outras intervenções mecânicas.
Aqui, o dilema que se apresenta ao Exército é muito claro, modernizar um carros antigo, mas disponível, ou investir em exemplares novos do 6×6 Guarani, já que os valores seriam semelhantes?
Esse novo cenário parece ser bastante favorável ao carro 6×6 da Iveco, mesmo por que, o proprietário intelectual do projeto Guarani é o Exército Brasileiro.
Seja armado com canhão de 30 mm (TORC30), ou novos canhões de 90 mm de diversos fabricantes, ou mesmo equipado com estações de lançamento de ATGM e respectivos sensores associados, o Guarani desponta, independente de outras opções, como favorito para atender o Projeto de Obtenção da Viatura Blindada de Reconhecimento – Média Sobre Rodas, 6×6 (VBR-MSR, 6×6).