Tecnologia & Defesa foi a primeira publicação latino-americana autorizada a voar na mais moderna aeronave de patrulha marítima da US Navy
Kaiser David Konrad
Reportagem publicada em 2015 na edição impressa de Tecnologia & Defesa
A participação da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) na 56ª Operação UNITAS trouxe uma grande novidade ao Brasil: a presença de um avião de patrulha marítima P-8A Poseidon, o “estado-da-arte” em aeronaves para missões especiais.
A partir da Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, operou como Posto Diretor Aerotático no Ar, uma tarefa específica de comando e controle sendo responsável pela coordenação aérea das missões antissubmarino, cuja ameaça era representada pelo submarino Tapajó (S33), que fez o papel de um lobo solitário, estrategicamente posicionado em algum ponto do litoral norte de Santa Catarina, de tocaia, à espera da aproximação da Força-Tarefa UNITAS.
Para esta missão, o Poseidon contou com o apoio tático dos aviões P-3AM, do 1º/7º GAv da Força Aérea Brasileira (FAB) e de helicópteros confi gurados para guerra antissubmarino (ASW), que foram os meios utilizados para empreender a caça ao submarino.
O avião norte-americano pertencia ao Patrol Squadron Eight (VP-8), baseado na Naval Air Station Jacksonville, Florida, unidade responsável por conduzir missões de patrulha marítima, guerra antissubmarino, inteligência, vigilância e reconhecimento (ISR) na Costa Leste e ilhas do Caribe.
O VP-8 é tradicional na US Navy, e na célebre Batalha do Atlântico, na Segunda Guerra Mundial, lutou contra submarinos. Vinte anos depois, tornou- se o primeiro esquadrão da Marinha a ser equipado com os modernos P-3A Orion, o que veio acontecer em outubro de 1962, pouco antes da Crise dos Mísseis de Cuba, fazendo seu debut operacional em missões de detecção, localização e rastreamento dos submarinos soviéticos que navegavam na região.
Na unidade, os P-3 Orion em suas diferentes versões escreveram uma história de 50 anos de sucesso, conduzindo desde missões ordinárias de patrulha marítima, vigilância e ASW, durante o período da Guerra Fria, até operações especiais de ISR e combate contra alvos navais em diversos desdobramentos no exterior, incluindo a participação em importantes crises humanitárias e conflitos, com destaque para as operações Desert Storm (1991) e Iraqi Freedom (2003).
Em fevereiro deste ano, o VP-8 recebeu seu primeiro P-8A Poseidon, sendo um dos seis esquadrões da Marinha Americana a utilizar a aeronave de patrulha da nova geração, sendo que, até 2019, todos os 12 deverão estar equipados com o modelo.
Uma nova plataforma
Em junho de 2004, a Marinha selecionou o Boeing Multimission Maritime Aircraft (MMA), projeto baseado na plataforma do jato comercial 737-800ERX, com asas da versão 900 fabricadas com pontos duros para carregar mísseis ar-superfície.
Esse desenvolvimento originaria o novo avião de patrulha marítima da US Navy, cujo contrato prevêa aquisição de um total de 109 unidades que irão substituir gradualmente a frota de 196 P-3C Orion em uso.
O fato de ser movido a jato, e não turboélice como seu antecessor, gerou debate e ceticismo devido ao maior consumo de combustível e uma menor autonomia de voo. Ainda se entendia ser necessária uma aeronave mais lenta para melhor investigar uma determina área, uma característica das missões ASW. Neste quesito, o motor a jato possibilitou ao MMA chegar mais rápido e alcançar uma área de patrulha mais distante, e os modernos sensores possibilitaram que a missão fosse otimizada e abrangesse uma área maior.
Um exemplo disso foi o fato de um P-8A do Esquadrão VP-16 ter sido uma das primeiras aeronaves a chegar na área de buscas ao voo MH 370, da Malaysia Airlines, que desapareceu em março de 2014 numa região próxima à Costa Oeste da Austrália.
O primeiro P-8A de série alçou voo em julho de 2011 e, até o momento, já foram entregues 21, montados na linha de produção da Boeing, em Renton, no Estado de Washington.
Tão logo foi colocado no mercado, alcançou sucesso imediato, e isso se deveu ao fato do rápido avanço no desenvolvimento de tecnologias destinadas à ASW e de contramedidas para ela, e também pelo crescente envelhecimento das frotas de aeronaves de patrulha marítima em diversos países, como foi o caso das marinhas da Índia e Austrália que o selecionaram para substituir seus antigos vetores.
No caso da versão indiana, chamada de P-8I, é totalmente customizada de acordo com as necessidades operacionais e industriais do país.
Armamentos e sensores
O P-8A pode lançar uma variedade de armas para missões ASW e antissuperfície (ASuW). Na baia interna carrega bombas de queda livre, cargas de profundidade e a nova versão do torpedo Raytheon Mk. 54, que pode ser lançado à grande altitude. Nas asas, pode transportar os mísseis AGM-84 Harpoon e sua moderna variante, o AGM-84H/K SLAM-ER (Standoff Land Attack Missile-Expanded Response), podendo ser também equipado com o AGM-114 Hellfire, contra pequenas embarcações de patrulha costeira.
A cabine de missão é composta por cinco estações táticas e pode ser ampliada para mais de sete. Cada uma é composta por um console que tem uma função específica e que gerencia alguns dos mais sofisticados sensores ativos e passivos destinados a tarefas de inteligência de sinais, comunicações e de imagens, detecção e rastreamento de alvos de superfície e submarinos.
Equipado com uma torreta eletro-óptica com sensor infravermelho multiespectral, possui sete sensores embutidos, incluindo infravermelho, CCDTV, intensificador de imagem, telêmetro e iluminador laser. Hoje em dia não se concebe operar um Maritime Patrol Aircraft (MPA) sem a utilização de sensores eletro-ópticos.
Está dotado com um radar de vigilância marítima APS-137D(V)5 e um radar de abertura sintética AN/APY-10 que, no modo SAR, pode imagear, detectar, classificar e identificar navios e pequenas embarcações costeiras que estejam estacionados. No modo ISAR, pode fazer o mesmo, com o diferencial de acompanhar submarinos na superfície e lanchas de patrulha rápidas.
O sistema fornece imagens e mapas com múltipla resolução para identificação de alvos e seus armamentos, e prover informações precisas para avaliação de danos. A suíte eletrônica tem um sistema de posicionamento global de alta precisão, com IFF integrado, data link e sistema de transmissão de informações e de comunicação UHF seguras via satélite.
Para missões ASW, o P-8A conta com uma série de sensores especiais para operações em alta altitude e carrega três diferentes lançadores múltiplos de sonobóias com ejeção pneumática, cada um contendo 10 e mais três individuais, contabilizando 33 sonobóias que podem ser lançadas com precisão tão logo a aeronave alcance a aérea a ser investigada, sendo que nessas ocasiões pode voar a uma altitude superior a 10 mil pés, diferente dos 2 mil do P-3C.
A suíte de autoproteção e guerra eletrônica é uma informação classificada, mas é integrada por sistema de alerta-radar, dispensador de contramedidas e um dispositivo de contramedida a laser direcionável (DIRCM).
No exterior
O P-8A Poseidon foi desenvolvido para enfrentar as ameaças navais do século 21 e em qualquer condição meteorológica. Além de ser uma aeronave para cumprir as missões clássicas da aviação de patrulha, leva uma plataforma de sensores que o habilita a missões de inteligência, e já é conhecido como novo avião-espião da US Navy.
Recentemente, começou a ser empregado no Mar do Sul da China, a partir da Clark Air Base, nas Filipinas, fazendo patrulhas e voos de reconhecimento em espaço aéreo internacional sobre as ilhas artificiais que estão sendo construídas pelos chineses naquilo que se vê como uma forma de guerra híbrida naval conduzida por Pequim numa zona marítima que é disputada também pelos vizinhos Vietnã, Malásia, Indonésia e Brunei.
A serviço da 7ª Frota, o desdobramento do Poseidon para a região foi a primeira medida da administração Obama para demonstrar sua preocupação com a situação local e seus desdobramentos, depois que a China começou a reivindicar aquele território marítimo.
Os voos do P-8A na Operação UNITAS, em território brasileiro, serviram para demonstrar aos seus parceiros as suas capacidades, e foram importantes para intercambiar experiências e procedimentos operacionais conjuntos com a Marinha do Brasil e a FAB, sendo mais um exemplo da relação de confiança entre as Forças Armadas do Brasil e dos Estados Unidos.
Oficiais aviadores do 1º/7º Grupo de Aviação, de patrulha marítima, e do Primeiro Esquadrão de Helicópteros Anti-Submarino, da Marinha do Brasil, inclusive o próprio comandante da Força Aeronaval, contra-almirante Sérgio Goldstein, tiveram a oportunidade de voar no “Rei dos Mares” e acompanhar uma missão de patrulha durante o exercício multinacional, o que representou uma oportunidade ímpar para ampliar a cooperação e conhecimento das novas tecnologias e seu emprego operacional no teatro de operações marítimo.
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Deus dos mares… 😉
Devíamos comprar dois pra completar nossas forças p3