A Odebrecht Defesa e Tecnologia (ODT) decidiu vender 40% da Mectron, uma das principais empresas brasileiras do setor de defesa e organização de alta tecnologia fabricante de mísseis, sistemas de comunicação e equipamentos espaciais. O presidente da ODT, André Amaro, disse que a companhia busca um parceiro internacional para entrar no capital e manter a sua característica de empresa estratégica de defesa (EED), com 60% de capital nacional, de acordo com exigência da Lei 12.598.
Amaro disse que o processo foi iniciado na semana passada com uma comunicação formal da ODT para as empresas com as quais o grupo já mantém algum tipo de relacionamento. A expectativa do executivo é que as negociações sejam concluídas em 120 dias. De acordo com a fonte da notícia, o grupo russo Rosoboronexport é um dos interessados, mas a Mectron também está sendo avaliada por empresas do setor de defesa da China, Estados Unidos e Europa. Alguns parceiros que a ODT tem para desenvolver projetos específicos, como a alemã Atlas Elektronik, do grupo Thyssen Krupp, que desenvolve conjuntamente um torpedo pesado para a Marinha do Brasil, também aparecem como potenciais interessados.
A francesa DCNS é parceira da ODT no programa PROSUB, através do qual, submarinos estão sendo desenvolvidos e construídos para a Marinha. Juntas, elas controlam a Itaguaí Construções Navais (ICN), que está construindo dois estaleiros e uma base naval no município de Itaguaí, a 69 quilômetros da cidade do Rio de Janeiro.
As restrições orçamentárias do governo, segundo Amaro, impactaram os principais projetos da Mectron, que na semana passada precisou fazer um novo ajuste e dispensar mais 40 funcionários. Em maio deste ano, a empresa encerrou suas atividades no segmento espacial e dispensou 32 empregados.
O contrato de desenvolvimento das redes elétricas do Veículo Lançador de Satélites (VLS), da Aeronáutica, foi descontinuado. A Mectron chegou a ter 550 empregados. Hoje, conta com 320. A empresa, segundo o presidente da ODT, tem uma dívida total de R$ 261 milhões, sendo R$ 150 milhões com a FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) e R$ 111 milhões com o acionista. Desde sua aquisição, em 2010, a ODT investiu R$ 350 milhões na Mectron. No ano passado, sua receita líquida foi de R$ 103 milhões e a previsão para este ano é de R$ 150 milhões. A companhia de defesa fechou 2014 com prejuízo de R$ 22 milhões.
Amaro disse que a Mectron conta hoje com uma carteira de pedidos de R$ 800 milhões. Alguns projetos, apesar da redução da disponibilidade orçamentária do governo, ainda estão com os pagamentos em dia, embora abaixo do valor previsto originalmente no contrato. É o caso do projeto Link BR-2, um sistema de comunicação segura por enlace de dados (data link) para a Força Aérea Brasileira (FAB). Em 2014, o projeto recebeu R$ 36 milhões, mas tinha previsão orçamentária de R$ 56 milhões. Este ano o projeto recebeu R$ 15 milhões, de um orçamento inicial de R$ 44,4 milhões. Entre os programas mais impactados pelas restrições orçamentárias, estão os mísseis MAA1-B (míssil ar-ar de quarta geração) e MAR (antiradiação, para supressão de baterias antiaéreas inimigas).
A definição de um parceiro e acionista, segundo Amaro, ajudará a Mectron a ter acesso a novas tecnologias e na sua inserção no mercado global. “Com a Mectron fortalecida e capitalizada, a ODT estará mais preparada para atender às demandas do mercado brasileiro quando houver um novo ciclo de aquisições no âmbito da Estratégia Nacional de Defesa (END)”, afirmou o executivo.
A Mectron também é uma das parceiras da SAAB no programa de desenvolvimento dos caças Gripen NG para a Força Aérea Brasileira (FAB). Participará da integração dos armamentos da aeronave e do fornecimento do sistema de data link do caça. A empresa também está participando do desenvolvimento do míssil A-Darter, feito em conjunto com a África do Sul. As dificuldades enfrentadas pela Mectron, já preocupam a SAAB, que teme comprometer o cronograma de desenvolvimento do projeto.
Ivan Plavetz
Fonte: Valor Econômico