O Gripen no Alerta de Reação Rápida

A atividade russa no mar Báltico tem deixado os suecos e os países vizinhos bastante ocupados, e ativos os Gripen, o principal meio de dissuasão e combate do país escandinavo.

Artigo publicado originalmente em 2015 em Tecnologia & Defesa

                                                                         Por Kaiser David Konrad

As unidades de caça da primeira linha de defesa aérea sueca estão localizadas nas Bases Aéreas de Luleå (F 21 – Norrbottens Flygflottilj), ao norte, e Ronneby (F 17 – Blekinge Flygflottilj), ao sul, sendo cada ala aérea formada por dois esquadrões reforçados (cerca de 20 aeronaves) de JAS 39 Gripen C/D. Estas duas unidades treinam diuturnamente missões de combate e participam constantemente de exercícios e operações internacionais. Atualmente, a principal tarefa é o policiamento do espaço aéreo, visando interceptar e identificar aviões desconhecidos ou não autorizados que se aproximem ou ameacem a segurança do território sueco, ou que coloquem em risco o tráfego aéreo civil.

As informações relativas às operações das aeronaves do Alerta de Reação Rápida (QRA) são guardadas em segredo, não havendo dados públicos sobre os níveis de alerta ou o tempo necessário para acionar e lançar interceptadores, mas não deve ser muito diferente do procedimento padrão utilizado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e outras nações. Devido à localização geográfica de Ronneby, com a base próxima ao litoral do Báltico, a maior parte dessas missões é executada pelos Esquadrões 171º e 172º, da F 17. O sigilo tornou-se fundamental devido ao clima de tensão que paira na região. Oficialmente, a Força Aérea da Suécia não comenta sobre o aumento do nível de alerta, mas sabe-se que a situação, que já vinha se deteriorando desde os conflitos entre os russos e a Geórgia, em 2008, atingiu níveis alarmantes com a invasão e a anexação da Criméia, e a imputada responsabilidade de Moscou na guerra na Ucrânia. Tais acontecimentos provocaram uma dura resposta política e econômica por parte da União Europeia e dos Estados Unidos.

Se antes da crise os Gripen do QRA decolavam armados apenas com o canhão Mauser BK-27, de 27 mm, o cenário agora exige muito mais precaução, fazendo com que partam para as missões carregando uma poderosa suíte de armas como uma clara demonstração de força, um elemento dissuasório. Isso pôde ser comprovado por Tecnologia & Defesa ao acompanhar em voo simulado uma missão a partir de Såtenäs, com a Skaraborgs Flygflottilj. Mesmo sendo a F 7 destinada prioritariamente à instrução e formação, é também parte do sistema de defesa aeroespacial e conta com experientes pilotos e aeronaves armadas e abastecidas em condição de prontidão permanente. Conforme averiguado, para essas missões, os Gripen C/D voam em pares, numa configuração de armamento composta por dois mísseis guiados por infravermelho IRIS-T ou do modelo Sidewinder, de curta distância, instalados na ponta das asas, e outros quatros mísseis BVR guiados por radar AIM-120 AMRAAM sob as asas. Tal configuração torna o Gripen capaz de engajar qualquer alvo em condições de superioridade.

Após interceptar e identificar visualmente o alvo seguindo procedimentos conhecidos e padronizados internacionalmente, as duas aeronaves interceptadoras se aproximam pelo lado esquerdo e, enquanto uma faz voo de acompanhamento na ala e bem próxima, estando visível ao piloto interceptado, a outra realiza manobras com a intenção de mostrar o armamento carregado sob as asas. Segundo informações obtidas, isso é feito para enviar uma mensagem, no sentido de que estão armadas e prontas para medidas coercitivas, embora pouco prováveis de serem tomadas. Tal modo de ação, no entanto, não é exclusividade dos suecos e é comum em relação às aeronaves da OTAN que patrulham a região e também aos pilotos russos.

A atividade militar russa no Báltico, além de testar o tempo de resposta e os procedimentos das unidades de defesa aérea dos países limítrofes, assumiu uma postura notadamente provocativa, muitas vezes similar àquelas dos momentos de crise do período da Guerra Fria. Ter a Rússia como vizinha, já é considerado por lá um sinal de preocupação, ainda mais quando existem interesses estratégicos antagônicos, políticas às vezes conflitantes e um passado de guerras. E, ter uma fronteira e uma área de responsabilidade comum a se patrulhar é sinônimo de ameaça constante. A zona do Báltico tem-se mostrado de tensão e com um potencial de conflito elevado.

Em 2014, em várias oportunidades, aeronaves interceptadoras da Patrulha Aérea do Báltico – força componente da missão de Policiamento Aéreo da OTAN para garantir a segurança do espaço aéreo dos Países Bálticos (Letônia, Estônia e Lituânia) – foram lançadas para interceptar, identificar e acompanhar aeronaves militares da Federão Russa, que voavam com transponder desligado, sem plano de voo ou sem efetuar ou responder o contato rádio em espaço aéreo internacional. Esses voos não são proibidos, mas a forma como são realizados, desprezando normas e procedimentos e sem comunicação ou coordenação com os órgãos de controle representam uma séria ameaça à segurança do tráfego aéreo.

Um incidente muito emblemático se deu na manhã do dia 24 de março deste ano, quando o Centro de Operações Combinadas, em Uedem, Alemanha deu o alerta para o acionamento de caças para interceptar e identificar uma formação de dois bombardeiros Tu-22M Backfire escoltados por dois Su-27 Flanker, da Força Aérea Russa. Dois F-2000 (Typhoon) da Aeronautica Militare, que lidera no momento a Patrulha Aérea do Báltico, decolaram de Siauliau, na Lituânia. A formação voava sem plano de voo e com transponder desligado e em alta velocidade. Os dois caças italianos foram ao encontro em voo supersônico, quando os bombardeiros russos fizeram o mesmo, seguindo em direção à Dinamarca e Escandinávia. Neste instante, a defesa aérea sueca, que já acompanhava a situação pelos seus radares, acionou dois Gripen para uma perseguição aérea que ocorreu em velocidades supersônicas. O caso evidenciou o quanto é sensível a situação e qualquer erro das tripulações envolvidas pode desaguar numa crise militar sem precedentes.

Alguns analistas disseram que o ato foi uma provocação de Moscou e uma mensagem à Dinamarca, avisando que se ela se integrasse ao Escudo de Mísseis da OTAN, sua Marinha se tornaria um alvo legítimo dos mísseis nucleares. Outra questão que levantou um debate entre as autoridades militares foi o fato de ter sido a primeira vez, depois de muitos anos, que um bombardeiro com capacidade nuclear Tu-22M Backfire foi detectado sobre as águas do Báltico e com um perfil de voo extremamente agressivo. A maior parte das aeronaves russas vem ou vão para Kaliningrado, um enclave situado entre a Polônia e a Lituânia, onde estão as Bases Aéreas de Chkalovsk e Chernyakhovsk, equipadas com Su-27 Flanker, e capacitadas a receber um grande número de aeronaves militares, e um tradicional ponto de parada para reabastecimento de unidades de patrulha marítima, bombardeiros de longo alcance ou que realizam coleta de inteligência nas fronteiras com a OTAN.

Os suecos têm observado com atenção ao aumento dessas atividades. No ano passado, a Marinha empreendeu uma verdadeira caçada a um submarino desconhecido que foi detectado operando em águas jurisdicionais e, inclusive, até um ataque aéreo simulado dos russos teria sido ensaiado contra o país. O JAS 39 Gripen C/D é o principal elemento de defesa da Suécia, especialmente desenvolvido para assegurar a soberania do espaço aéreo, assim como garantir à Força Aérea poder cumprir sua missão dissuadindo ou combatendo qualquer tipo de ameaça naquele altamente complexo teatro de operações aéreas. A futura versão do Gripen, a E/F, será a espinha dorsal da defesa do país nos próximos 30 anos, e a instabilidade na região foi fator preponderante para que a Força Aérea anunciasse a aquisição de 60 aeronaves da nova geração.

  1. da R.: o repórter especial de T&D Kaiser David Konrad foi o único jornalista brasileiro, e um dos poucos no mundo, autorizado a voar o JAS 39 Gripen D nas duas Alas Aéreas de combate da Força Aérea da Suécia, respectivamente as F 17, em Ronneby (2010) e F 21, em Luleå (2011). Ele também voou o SK-60 na F7 em Sätenas.

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