O futuro dos navios-varredores da Marinha do Brasil

A Saab vai participar do 2º Congresso Internacional de Contramedidas de Minagem que acontece hoje e amanhã em Salvador (BA), onde vai aproveitar a ocasião para reforçar a sua proposta de venda dos dois navios-varredores e os objetivos numa parceria estratégica de longo prazo.

São 7.491km de extensão, o que faz do Brasil o 16º maior em litoral de todo o mundo. Dos 26 estados, 17 são costeiros e por onde são exportados 95% do seu comércio exterior. Desse litoral são extraídos 85% do petróleo nacional, 75% do gás natural e 45% do pescado.

O Brasil possui o direito de explorar uma área marítima de 5,7 milhões de km2, o que em termos comparativos é mais da metade do seu próprio território. Batizada de Amazônia Azul, devido à sua importância estratégica, econômica, natural e turística, a sua vigilância, monitoramento e proteção cabe à Marinha do Brasil, que tem buscado se equipar com novos meios, capacidades e, ao mesmo tempo, modernizar o arsenal existente. Uma das mais urgentes necessidades nesse sentido é para os navios-varredores, do qual existem hoje quatro em operação da Classe Aratu.

Comissionados no início dos anos 1970 e subordinados à Força de Minagem e Varredura, esses navios possuem casco em madeira e demais estrutura em metal magnético para permitir que façam, em segurança, a busca e neutralização de minas submarinas. Entretanto, apesar dos serviços prestados ao longo dessas décadas, já não estão mais em condições de continuar cumprindo a sua missão frente aos desafios do novo século e a sua aposentadoria é prevista para acontecer até 2024. Para que esse cronograma seja cumprido, é preciso que uma decisão sobre a sua substituição seja tomada até 2020.

No século passado, as minas submarinas foram as que mais causaram danos em navios mercantes e de guerra.

Na US Navy, por exemplo, foram 14 casos desde a guerra da Coreia at. o início dos anos 1990. Esse tipo de artefato explosivo é barato, fácil de se obter e de lançar ao mar. Por essa flexibilidade, é o tipo mais simples também para negar o mar a uma força naval ou frota mercante.

Atualmente, pequenas embarcações são capazes de espalhar artefatos em diferentes locais sem chamar a atenção.

Assim, as navegações podem ser comprometidas dando prejuízos de milhões de dólares ao impactar no tráfego naval.

A Marinha do Brasil possui um programa para aquisição de novos navios de contramedidas de minagens e, uma das principais opções nesse sentido, est. para a aquisição de dois navios suecos Saab Kockums MCMV 47 (Mine Countermeasures Vessels) da Classe Koster. Ao todo, sete navios foram construídos a partir de 1982 para a Marinha Sueca que planeja operar essas embarcações até pelo menos 2035. Mas dois navios foram colocados à venda e podem facilmente atender às necessidades operacionais do Brasil, uma vez modernizados para navios MCM de última geração.

Ambos passarão por um extenso programa de modernização recebendo novo sonar; subsistemas autônomos de busca, localização, classificação e destruição de minas; motores; e sistema de comando e controle, além de outros itens.

Sendo a segunda geração de navios-caçadores e varredores, os seus cascos são feitos de material composto, sendo um sanduíche de duas camadas de fibra de vidro reforçada e uma espuma rugida central. Além de serem mais leves, mais resistentes a impactos e corrosão, com baixa necessidade de manutenção e facilidade na realização de qualquer tipo de reparo, têm baixa assinatura magnética, acústica, elétrica, infravermelha e de pressão.

O conceito do MCMV 47 é de uma “caixa de ferramentas”, onde através dos seus variados sistemas é possível fazer buscas e neutralizar uma variada gama de minas submarinas.

O seu principal sistema é o sonar de casco alemão Atlas Elektronik HMS-12M, que equipa nove Classes de navios-varredores em seis países. O sonar trabalha em três frequências (LF, HF e VHF), 100, 200 e 400 kHz com múltiplas e simultâneas detecções e classificações de minas. A transmissão horizontal atua em ângulos de 15 a 90º, enquanto a transmissão vertical de 3,2 a 32º.

Em termos práticos, o casco permanecerá o mesmo, mas o navio como um todo ser. novo. O casco, construído com material composto, não envelhece como aço e outros metais de construção e pode ser utilizado facilmente por mais de 30 anos.

Tendo deslocamento de 400 toneladas, 47,5 metros de comprimento, tripulação de 28 militares e quatro motores de 300kw, são equipados com veículo operado remotamente (ROV) Double-Eagle MkII. Esse sistema dispõe de sonar, câmera, braço articulado, luzes e dispositivo para neutralização de minas. Depois de localizar a mina, o ROV lança a carga explosiva para eliminar a ameaça. Há ainda a possibilidade de se utilizar um ROV de autodestruição e um sistema de varredura mecânica de minas.

Os navios-varredores da Saab também podem realizar outras tarefas, como missões hidrográficas, de patrulha e antissubmarino, basta que a tripulação seja treinada para cada necessidade.

A Saab espera realizar uma parceria com a Marinha do Brasil nos mesmos moldes do que já foi feito com os caças Gripen E/F no âmbito do programa F-X2. Assim, além da proposta da venda e suporte logístico, assistência técnica e treinamento para operação dos dois MCMV 47, está previsto um programa em que as necessidades adicionais de navios MCM possam ser satisfeitas com a construção local no Brasil, envolvendo a indústria nacional. Nesse caso, haveria a transferência de tecnologia em várias áreas de interesse e não se restringiria apenas aos navios-varredores, mas incluiria os de patrulha, por exemplo, e outros meios que a Marinha necessitar, mesmo com exportações feitas pelo Brasil, que não estão fora de questão.

Além do próprio Brasil, a Saab possui outros casos de sucesso de transferência de tecnologia, como Cingapura e Japão. Nesse último, foi oferecido suporte no projeto, desenvolvimento e infraestrutura de produção, sendo que atualmente o país é independente para a obtenção desse tipo de navio.

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