O Brasil e o IFF nacional

O Brasil está cada vez mais próximo de certificar e se preparar para a industrialização do CM4-B, o criptocomputador que, em cenários operacionais, alerta se a presença de uma aeronave militar é amiga ou inimiga. Esse sistema é popularmente conhecido como “Identification Friend or Foe” (IFF).

Por meio deste equipamento compacto, que pesa em torno de 500g, cabe na palma da mão e emite algoritmos criptografados, é possível que uma aeronave militar, radar, navio ou sistema de defesa antiaérea identifique se determinada aeronave em voo em um espaço aéreo é aliada ou inimiga. Além de aumentar a consciência situacional e reduzir o tempo de resposta, o sistema minimiza as chances de fratricídio.

Embora amplamente utilizado no mundo, especialmente pelos países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), apenas um seleto grupo de menos de dez países possui a capacidade de desenvolver seu próprio IFF.

O Brasil deu os primeiros passos para alcançar independência nesse setor em 2008, quando o Estado-Maior da Aeronáutica atribuiu essa missão ao Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), em parceria com o Centro de Computação da Aeronáutica de São José dos Campos. Foi iniciado, então, o programa IFFM4BR, que ao longo dos anos evoluiu em três etapas.

Foto: João Paulo Moralez

O desenvolvimento começou com a criação da prova de conceito, dos algoritmos e do transponder, além da integração com o SABER S200 – um radar secundário nacional com alcance de 370 km e operação criptográfica no modo 4. Essa fase inicial contou com a participação da Orbisat e do Centro Tecnológico do Exército. Em 2019, o programa avançou significativamente com o desenvolvimento do criptocomputador CM4-B, do adaptador para instalação AM4-L, do gerador e inseridor de chaves criptográficas KM4 “keyloader”, além de aplicativos e requisitos do servidor. Nesse momento, a Kryptus, uma Empresa Estratégica de Defesa (EED) 100% nacional, passou a integrar o programa.

Em 2024 foram concluídos o desenvolvimento do software, a fabricação de seis criptocomputadores para radares terrestres e os ensaios do sistema. O caça F-39E Gripen será a primeira plataforma a receber o CM4-B. Uma unidade do criptocomputador já foi entregue ao Centro de Projetos e Desenvolvimento do Gripen, da Saab, em Gavião Peixoto (SP), para integração ao s-rig, o simulador de desenvolvimento e engenharia do Gripen instalado no Brasil.

O programa segue avançando. Em fevereiro de 2025, está previsto o início da qualificação com a entrega de protótipos do CM4-B e do KM4 para ensaios em voo. O desenvolvimento do aplicativo deverá ser concluído em agosto do mesmo ano, com a certificação do criptocomputador esperada para novembro. Em seguida, o IFFM4BR entrará na fase de industrialização, integração nas plataformas e implantação, seguida pela avaliação operacional.

Com o avanço desse projeto, o Brasil consolida sua posição como um dos poucos países capazes de desenvolver tecnologia própria para sistemas IFF, garantindo maior autonomia e segurança em suas operações militares.

COMPARTILHE

Respostas de 6

  1. Ótima notícia. Um IFF nacional garante segurança, autonomia e domínio tecnológico em uma área estrategicamente sensível.
    Muitas vezes, a montagem local do vetor é que chama a atenção do público mas são em conquistas em sistemas embarcados como esse que conseguimos o diferencial estratégico para garantir nossa superioridade no campo de batalha.

  2. Brasil, ainda que extremamente lento a capacitação tecnológica e estratégica do sistema de Defesa Brasileiro vai avançando! Parabéns aos decisores e aos envolvidos nesta conquista.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *