Quem visita o Museu da Força Aérea Americana de Pima, Arizona, mal sabe a quantidade de histórias que há por trás de cada avião ali exposto.
Uma das mais curiosas é, sem dúvidas, a do singelo P-51 com nome “Bad Angel” (anjo mau), que descansa em seu inventário, após anos difíceis nos céus do Pacífico.
A história começa com seu piloto, Louis Curdes, que, ainda jovem, foi enviado para o Teatro de Operações da Europa, para combater os nazistas.
A bordo de um caça P-38, Curdes derrubou cinco aeronaves BF-109 alemãs, rapidamente concorrendo ao título de às dos céus.
Suas vitórias só foram aumentando e, até uma aeronave italiana, um Macchi C.202, foi abatida por seu caça.
Tudo ia bem até que, em 27 de agosto de 1943, sob os céus de Salerno, na Itália, um caça alemão atingiu o P-38 de Curdes de maneira severa, derrubando-o.
Após chegar ao solo, Curdes foi capturado sem ferimentos pelos italianos e enviado para um campo de prisioneiros próximo a Roma.
Para sua sorte, poucos dias depois, os italianos se renderam e os pilotos americanos presos neste campo conseguiram fugir, antes que os nazistas chegassem para assumir a guarda do local.
De volta à ativa, Curdes foi enviado para as Filipinas, onde passou a utlizar um P-51 Mustang em suas missões e, logo nos primeiros confrontos, já derrubou um caça Mitsubishi, tornando-se um dos raros pilotos americanos a derrubar inimigos das três potências do Eixo.
Então, veio a parte bizarra da história.
Num voo de ataque à ilha de Bataan, completamente ocupada pelos japoneses, o piloto ala de Curdes foi abatido e caiu no mar, sobrevivendo.
Curdes, imediatamente, passou a circular a área para garantir proteção ao seu ala e para guiar o resgate para o local, quando, subitamente, avistou um grande avião, com trem de pouso baixado, preparando-se para pousar na pista de Bataan.
Vendo a possibilidade de mais uma vitória contra um inimigo japonês, Curdes se aproximou da aeronave e, para sua surpresa,percebeu que se tratava de um Douglas C-47 americano que, inadvertidamente, rumava para uma pista inimiga, pensando estar pousando em ambiente amigo.
Ao notar a situação, o piloto americano tentou contato pelo rádio e, sem obter sucesso, decidiu realizar manobras na frente do avião, também não sendo efetivo. O mau tempo e uma falha grave no sistema de rádio do C-47 deixara o piloto completamente perdido e sem comunicação.
Curdes tinha a certeza de que, se o C-47 pousasse na pista japonesa, rapidamente seus tripulantes seriam capturados e mortos, já que os japoneses não costumavam fazer prisioneiros naquele local.
Ao ver que não lhe restava opção, Curdes alinhou seu avião na traseira do C-47 e efetuou disparos direcionados aos motores, levando o piloto do C-47 a pousar na água, parando a poucos metros do local onde o piloto ala de Curdes estava.
Sem combustível, Curdes retornou para a sua base.
No outro dia, o piloto americano teve notícias de que um PBY Catalina teria feito o resgate do seu amigo e de todos que estavam a bordo do avião que ele derrubara: piloto, co-piloto e 10 passageiros, sendo duas enfermeiras.
Um fato curioso é que Curdes pôde conhecer os sobreviventes do C-47 e, para sua supresa, uma das enfermeiras que estavam a bordo era a garota com quem ele flertara na noite anterior.
A estória acabou em casamento entre os dois.
Curdes sempre bricava com os amigos:
– “Derrubei alemães, japoneses e italianos, mas o mais complicado foi derrubar minha namorada!”
Por essa ação de bravura, Louis Curdes foi condecorado pela Força Aérea Americana e, claro, pintou a bandeira americana entre suas “kill marks” (pinturas na fuselagem, das aeronaves abatidas).