Novo diretor do INPE quer mais autonomia para o setor espacial brasileiro

Com o desafio de atrair mais recursos em infraestrutura e mão de obra, o novo diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Ricardo Magnus Osório Galvão, quer também garantir avanços e definir objetivos de longo prazo para o programa espacial brasileiro.

O físico assumiu o cargo no fim de setembro em substituição a Leonel Perondi, que ocupou a direção de 2012 a 2016. Galvão é professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), formado em engenharia de telecomunicações. O pesquisador já passou por institutos como o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro.

Além de buscar mais estrutura, o novo diretor do INPE também terá a missão de conseguir a compra de um novo supercomputador para o Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC). O equipamento vai substituir o “Tupã”, que opera no limite da vida útil.

Em entrevista ao G1, o pesquisador comentou quais os principais desafios frente ao órgão, como a captação de recursos e os planos de um INPE aberto à comunidade.

Pesquisador Ricardo Osório quer garantir avanços e definir objetivos a longo prazo para o Brasil (Imagem MCTI)
Pesquisador Ricardo Osório quer garantir avanços e definir objetivos a longo prazo para o Brasil (Imagem: MCTI)

Déficit de pessoal e recursos orçamentários

“O nosso déficit maior não é por equipamento, por exemplo, mas por servidor. O gargalo do INPE está na administração, a carreira de gestão. Não acredito que serão abertos concursos para o próximo ano e nós temos atendido às demandas por contratos de terceirização, mas depende de mais orçamento. Ainda assim existem atividades fins que por lei precisam ser feitas pelo funcionalismo público. Nós estamos envolvidos com o CBERS [satélite desenvolvido em parceria com a China] e tem uma lei que permite que as instituições de pesquisa contratem pessoal para esse pacote de serviços. Mas ainda é para alguns cargos. Essa é uma bandeira da minha gestão. Nós entendemos o problema da crise que passamos agora e dependendo da reposição, a instituição vai ter que rever metas e isso traz sérios prejuízos para as pesquisas. Teríamos que mudar prazos, por exemplo”.

Aquisição de novo supercomputador

“Nós precisamos do supercomputador para a unidade do INPE em Cachoeira Paulista. Na gestão anterior, já começaram junto ao deputado Eduardo Cury para conseguir uma emenda para comprar isso. Vamos retomar essa ação para comprar esse equipamento, que custaria cerca de R$ 70 milhões. Isso é essencial porque o centro de previsão do tempo, ele prevê informações para todo o país e isso depende deste equipamento. No passado, o Cury fez uma emenda, que não foi aprovada. Mas ele já nos procurou de novo porque ele está na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara e já se dispôs a resgatar essa emenda e propô-la”.

Parceria com a China

A parceria com a China foi importante para a capacitação brasileira. Quero estimular mais a parceria científica. A participação brasileira do ponto de vista técnico foi de 50%. E alguns elementos cruciais o Brasil não domina, como posicionamento de satélite. Essa parceria não permitiu que a gente buscasse isso. Tanto que os novos satélites, o Amazônia, o sistema de controle estamos importando. Precisamos caminhar para dominar toda essa tecnologia. Esse é meu sonho no programa espacial. A marca da minha gestão é trazer domínio para a nosso plano espacial”.

Objetivos do Programa Espacial Brasileiro

“O Plano Nacional de Atividades Espaciais tem um defeito grande: ele não coloca qual [é] o objetivo a longo prazo. Ou seja, queremos simplesmente colocar satélites ou queremos um programa audacioso como a China? O objetivo a longo prazo não está definido e qualquer coisa que se faça precisa ter algo a longo prazo, para saber em que direção nós vamos. O INPE tem desenvolvido satélites, mas na minha visão tem que ser de pesquisas espaciais e aí definir a nossa missão para atuar próximo a comunidade cientifica, trazer mais resultados. Fortalecer o desenvolvimento de instrumentação científica. Tudo o que se produz aqui é feito com equipamentos que vem comprado do exterior. Nenhum país que tenha feito grandes descobertas e evoluções científicas o fez sem desenvolver equipamento de ponta. Tem muita coisa que já se faz, mas eu gostaria que atuasse mais como laboratório, que isso fosse mais forte. A produção própria é almejável, esse deve ser o nosso objetivo. Qualquer país que entra em tecnologias de ponta e não a domina, ele é vulnerável. E aí os outros países podem negar fornecer algo que inviabiliza essa produção. Nessa década, a atividade espacial, a nano e a biotecnologia vão mudar o mundo. E ainda temos que evoluir muito nisso, é uma preocupação nossa”.

Fonte: G1

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