Em maio último, o ministro da Defesa do Brasil, Raul Jungmann, recebeu em Brasília a comitiva de seu par dos Emirados Àrabes Unidos, o ministro Mohamed Albawardi Alfalasi.
Na ocasião, Alfalasi declarou “Temos interesse em participar de projetos no Brasil em todas áreas, seja militar ou comercial”, afirmou o ministro. De fato, foi anunciado naquela ocasião, com grande repercussão, o interesse de empresas dos Emirados Árabes Unidos em investir no Brasil, especialmente no setor de defesa.
Essa tendência, confirmada com a vinda da fabricante de armas Caracal LLC para o Brasil (subsidiária da Emirates Defence Industrie Company) foi reforçada com o anúncio do interesse pelos Emirados no projeto das Corvetas Classe Tamandaré.
Tal fato repercutiu na imprensa local, assim como um manifesto interesse no jato de transporte militar KC390 da Embraer Defesa & Segurança. Os Emirados Árabes são um dos dez maiores compradores de produtos de defesa do mundo. No Congresso Nacional do Brasil tramita um acordo de proteção das informações militares, algo que poderá ampliar ainda mais a cooperação entre os dois países.
Mas o que a maioria dos analistas deixou passar foi um trecho da nota veiculada pelo Ministério da Defesa, onde se lê “Os Emirados Árabes, por intermédio da empresa Calidus, desenvolvem em parceria com a brasileira Novaer, a aeronave B250, que se encontra atualmente em fase de certificação“.
Novaer/Calidus B250, o game changer projetado no Brasil
O Dubai Air Show 2017, a ser realizado entre os dias 12 a 16 de novembro, assistirá o lançamento oficial do Novaer/Calidus B250, na forma do protótipo exibido em exposição estática no estande da Calidus (estandes A34 e A35).
No final de junho último foi realizado o primeiro giro de motor do protótipo #1 nas instalações da Novaer em São José dos Campos. A partir daí, uma série de pequenas peças do quebra cabeças foram se encaixando para formar um cenário surpreendente.
A Calidus é uma empresa focada no desenvolvimento de novas tecnologias com sede em Abu Dhabi. Atua através de parcerias com empresas inovadoras no campo da aviação visando fornecer soluções de ponta, orientadas para a missão e econômicas para seus clientes. Exatamente onde a Novaer se encaixou com seu expertise em compósitos e projetos aeronáuticos inovadores.
A aeronave de ataque leve B-250, um programa de desenvolvimento das empresas Calidus/Novaer, é um avião construído em fibra de carbono e projetado para atuar na guerra assimétrica e enfrentamento a ameaças modernas. Certamente, seu projeto recebeu todos os inputs do desenvolvimento da família T-Xc, mas a Novaer foi além.
Profunda conhecedora das aeronaves T-27 Tucano e A-29 Super Tucano, não resta dúvidas que a Novaer usou esses dois modelos como ponto de partida. No projeto do novo avião, que é maior e mais capaz que o A-29, respostas para questões como potência e confiabilidade do motor e sua instalação, durabilidade e resistência a fadiga das asas, payload de cargas ampliado com oito hard-points de fixação do armamento e/ou tanque extras de combustível, integração de armamento inteligente e sistemas defensivos ativos/passivos estado da arte, de acordo com a as necessidades dos clientes, foram amplamente estudadas e respondidas com soluções eficazes e atuais.
O novo modelo oferece cockpit confortável equipado com aviônica Rockwell Collins, permitindo aos pilotos realizarem longas missões de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (ISR), Close Air Support (CAS) e/ou treinamento, com grande economia de recursos e mantendo performance superlativa, tudo graças a um design moderno e com grande manobrabilidade.
As grandes asas “molhadas” possuem no total oitos pontos duros para a instalação de armamento, e segundo os dados preliminares a que o autor teve acesso, o desempenho do B250 deverá colocá-lo claramente numa categoria de desempenho superior ao A-29 Super Tucano, e por grande margem, já que o avião poderá disparar um amplo leque de armamentos inteligentes com muito maior poder de destruição, entre mísseis e bombas guiadas.
Na atualidade, aeronaves do tipo COIN, na qual o B250 se enquadra (light attack airplane) são procuradas no mercado por nações da região do Golfo Pérsico, África e Oriente Médio. Nos Estados Unidos da América, a concorrência OA-x deverá escolher o substituto do veterano A-10A Thunderbolt II dentro da iniciativa “Light Attack Experiment“, avaliando entre outros, o A-29 Super Tucano fabricado em Jacksonville, o AT-6 Wolwerine da Beechcraft e o Textron Scorpion.
Todos os aviões dessa categoria, exceto o Scorpion, usam os motores da família PT-6A turboprop, mas a reportagem ainda não logrou apurar qual é a motorização do B250.
Ainda não está definido se a fabricação seriada acontecerá no Brasil ou nos Emirados, mas muitos observadores interessados no avião apontam para uma solução binacional.
O B250, se aprovado pelas Forças Militares dos Emirados Árabes Unidos após a finalização de sua campanha de voos de certificação, deverá ser adotado pela sua Força Aérea e oferecido em condições vantajosas aos aliados dos Emirados Árabes Unidos no Golfo Pérsico e Oriente Médio.
O avião tem despertado grande interesse da Força Aérea Brasileira, pois poderia, em último caso, substituir o próprio A-29 Super Tucano como aeronave de ataque leve e treinamento avançado da FAB, abrindo caminho para a adoção da família T-Xc como os novos treinadores primários/intermediários/acrobáticos da Academia da Força Aérea Brasileira, dentre outras possibilidades.
Roberto Caiafa