Quando consultou o Brasil sobre seu interesse em participar da Missão de Paz na República Centro Africana (MINUSCA), o secretário geral da Organização das Nações Unidas, Antonio Guterres, estabeleceu o dia 15 de dezembro como data limite para uma resposta do Governo Brasileiro, o que não aconteceu.
A essa falta de resposta oficial somou-se um fato novo.
Segundo fontes no Quartel General do Exército (QGEx) em Brasília, um impasse teria se estabelecido nas últimas semanas, pois enquanto o Estado Maior do Exército e o Comando de Operações Terrestres (COTER) seriam favoráveis ao envio das tropas, o Gabinete do Comando teria se posicionado contra a empreitada. Segundo essas mesmas fontes, existiria muita resistência a participação brasileira em alguns setores do Itamaraty.
Outro óbice a ser considerado é o equipamento disponível ao Exército, Fuzileiros Navais e Força Aérea. Começando pela última, é imperativo que os A-29 Super Tucano enviados recebam telêmetro laser (designação de alvos para armas guiadas) e blindagem (semelhante a instalada nos aviões afegãos).
No quesito sistemas defensivos, tanto os EMB-314 quanto o C-105 Amazonas (mais os Blackhawk) receberão contramedidas na forma de chaff, flares e sensores RWR atualizados.
No Corpo de Fuzileiros Navais, a falta de viaturas blindadas leves deverá ser sanada com a entrega do mesmo veículo selecionado e adquirido pelo Exército Brasileiro.
Já está confirmado o IVECO LMV (a opção Hummer/Humvee foi descartada), porém, ainda está em negociação a possível entrega de um lote desses veículos usados (ex-Exército Italiano), de modo a agilizar o embarque da tropa com equipamento homologado. Estudos do Centro de Instrução de Blindados que avaliaram o material necessário para atuar na MINUSCA recomendaram peremptoriamente o emprego de Tropa Blindada ou Mecanizada com alto nível de proteção.
Explicando o impasse
O pedido de 750 militares brasileiros treinados e capacitados para atuarem na República Centro-Africana seria dividido entre o Exército (maior efetivo), Corpo de Fuzileiros Navais (representando a Marinha do Brasil) e a Força Aérea Brasileira, que deverá contar com um pequeno efetivo de aviões e helicópteros.
Segundo o general Ajax Porto Pinheiro, que liderou (force commander) a ex-missão da ONU no Haiti entre 2015 até o seu recente encerramento (MINUSTAH), o Exército estaria pronto para responder a um pedido de reforço da ONU no país africano.
Isso exigiria primeiro a aprovação oficial do Governo Federal através do Congresso Nacional, algo que não aconteceu, ao menos publicamente, até o dia 15 de dezembro, data limite estipulada.
De acordo com o general Ajax, haveria um interesse na participação do Brasil na MINUSCA desde 2014 “Numa reunião da ONU, eu disse que gostaria de ver militares brasileiros na República Centro Africana. Teríamos um treinamento e modus operandi diferente (Imposição da Paz), mais voltado para segurança de comboios e com uso de diversas novas tecnologias. O desafio seria maior e a missão seria mais perigosa do que no Haiti. Convém observar que não falei em nome do Governo Brasileiro na ONU, dei apenas a minha avaliação profissional como oficial general”.
Em 13 anos, cerca de 37.500 militares brasileiros participaram da MINUSTAH. “A possibilidade de intervir na África Central vem sendo estudada em profundidade desde maio último”, afirmou. De fato, visitas de inspeção em aeronaves da Força Aérea Brasileira já estavam acontecendo em abril.
As Nações Unidas votaram em novembro por um aumento de efetivos na República Centro-Africana de 900 capacetes azuis. O Conselho de Segurança daquela instituição estabeleceu um novo teto em 11.650 tropas, e um adicional de 2.080 policiais estão autorizados a servir como forças de paz.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, que advertiu o risco de limpeza étnica na República Centro-Africana, pressionou pelo reforço dizendo ter atingido seu limite para lidar com a crescente violência.
Como Portugal assumirá a liderança da MINUSCA em janeiro, o Brasil naturalmente se encaixaria muito bem no esforço pela facilidade de língua e cultura.