José Múcio sobre o Gripen: exemplares para a Colômbia e segundo lote para o Brasil

Em entrevista para Felipe Salles, do canal Base Militar Vídeo Magazine, durante o International Paris Airshow, que acontece na França de 16 a 19 de junho, o ministro da Defesa do Brasil, José Múcio Monteiro Filho, comentou sobre a aquisição dos caças Saab Gripen E/F pela Colômbia e o segundo lote do F-39 para o Brasil.

“Nós tivemos problemas de liquidez para acertar a finalização deste contrato, que já era para ter sido encerrado. Eu vou estar com o presidente da Saab aqui na feira para conversar. Nesses próximos 15 dias, a Colômbia está comprando 18 Gripen e nós temos interesse que esses aviões sejam construídos no Brasil. Na teoria, isso já está acertado e nós estamos trabalhando para que isso seja efetivado. Surgiu a ideia de a Colômbia fabricar, mas nós temos a nossa base para treinamento, o cockpit para treinamento, treinamos pilotos e mecânicos, e tudo isso é uma coisa importantíssima, e eu acho que vamos chegar a um bom termo.”

De fato, a infraestrutura construída no país para o Gripen, por meio do maior acordo de transferência de tecnologia já celebrado com a Força Aérea Brasileira (FAB), criou as bases para que o país construa aeroestruturas e até caças completos em território nacional.

Na fábrica de São Bernardo do Campo, a Saab produz a fuselagem dianteira e traseira, o cone de cauda e o freio aerodinâmico do Gripen, aeroestruturas essas de alta complexidade e que exigiram o treinamento de brasileiros na Suécia por períodos de até dois anos com total transferência de tecnologia. Hoje, esses profissionais possuem experiência e conhecimentos para treinar outros brasileiros, caso exista a necessidade de se expandir a mão de obra local.

Também em São Bernardo do Campo está instalada a capacidade de manutenção do radar e de sistemas de guerra eletrônica do Gripen, aumentando a independência do Brasil sobre o mantenimento de componentes altamente tecnológicos e complexos, reduzindo os custos por não haver a necessidade de se contratar empresas de fora do Brasil e diminuindo o tempo que esse material vai ficar indisponível para o voo. Da mesma forma, essa estrutura pode ser usada para dar suporte para os sistemas do Gripen de outros países.

Em Gavião Peixoto (SP), a Embraer já está fazendo a montagem final dos primeiros de 15 caças produzidos no país, e o local tem infraestrutura para receber mais pedidos, seja de um segundo lote da própria FAB ou de outros clientes que optarem pelo Gripen.
Além dos caças da Colômbia, o Brasil tem condições de apoiar outros contratos da Saab que estão sendo estabelecidos em torno do Gripen E/F, como a Tailândia, que anunciou a aquisição de 12 aeronaves em três lotes por um período aproximado de 10 anos. Apesar de não haver uma definição nesse sentido, a participação brasileira poderia ser por meio da fabricação das aeroestruturas.

No contexto da América Latina, além da Colômbia, o Peru está avaliando o Gripen como o seu próximo vetor de defesa aérea e, dependendo dos acordos firmados, o Brasil pode ser incluído na cadeia logística de fornecimento desses caças, fortalecendo a Base Industrial de Defesa (BID) e criando um ambiente com maior geração de empregos.

No âmbito da BID, vale um destaque especial. A empresa brasileira AEL Sistemas, que mantém sua sede em Porto Alegre (RS), é uma fornecedora global natural das soluções de Interface Homem-Máquina (HMI, Human-Machine Interface) para todos os caças Gripen de nova geração vendidos no mundo. Não apenas para os exemplares do Brasil, mas também para os da Suécia, da Tailândia, da Colômbia e de futuros compradores.

Esse sistema aviônico é composto pela tela panorâmica de alta resolução (Wide Area Display – WAD), de 48×20 cm, que conta com dispositivos redundantes, ampliando sua confiabilidade e resistência a falhas, mesmo em situações críticas; o mostrador digital de amplo campo de visão (Head-Up Display – HUD), instalado sobre o painel de instrumentos, que fornece todas as informações críticas de voo e táticas de missão; e o capacete com mira montada (Helmet-Mounted Display – HMD), designado Targo, que projeta as informações do HUD na viseira do capacete. O HMD é integrado ao sistema de armas, proporcionando uma vantagem tática significativa no combate.

Caso esse cenário se confirme, fica evidente a visão estratégica e de longo prazo daqueles que planejaram e concretizaram o acordo de transferência de tecnologia em torno do Gripen. Eles, naquela oportunidade, enxergaram que o Brasil poderia ir muito além da renovação da sua Aviação de Caça com um vetor de estado da arte, mas reforçar a posição de liderança do Brasil no continente e projetar mundialmente sua imagem e a da sua BID como um ator de relevância. Em pouco mais de 10 anos desde a efetivação do contrato, a colheita da segunda safra dos bons frutos da parceria estratégica Brasil-Suécia começa a ficar mais próxima.

Sobre a possibilidade de um segundo lote de caças Gripen atrelado à venda do KC-390 para a Suécia, o ministro comentou que essa conversa existiu, “mas terminou não acontecendo esse atrelamento. Há uma promessa, um interesse e uma boa vontade, mas não tem acontecido”. Infelizmente, como o próprio ministro ressaltou na entrevista, há um problema de liquidez, ou seja, o programa tem sido afetado por cortes de verbas que impactaram especialmente nas entregas do Gripen para a FAB.

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Respostas de 14

  1. Ou seja, dá pra entender que ainda vai demorar pra esse segundo lote ser assinado (se um dia for…). É notório que ele fala que “já foi quase assinado”, num ar de um horizonte que quase ocorreu e que estamos hoje longe desse acontecimento… A não ser que esse pressentimento foi passado de forma proposital pelo Ministro pra esconder negociações atuais, mas acho improvável. Ele acabou de falar que hoje não há liquidez..

  2. Muito mais importante que vendas do Gripen E/F para Colômbia, Peru ou outro país, é a compra de exemplares adicionais aos míseros 36 contratados até agora para a FAB. E isso, como o próprio ministro disse, é algo muito distante e improvável. Logo, não vejo motivo algum para comemorar nada!!

  3. Necessitamos de um segundo e até um terceiro lote (IMPROVÁVEL) lote do F39, OU o terceiro lote (complemento) do modelo C.
    Mas essa coisa de “atrelar” pode atrapalhar o verdadeiro interesse que é manter a FAB com meios adequados e aí se tivermos uma outra aeronave será mais custo de adequação só por politicagem. O KC390 está indo de “vento em popa” e NÃO serão as 5 unidades da Suécia que farão a diferença

  4. Sejamos sinceros, enquanto o governo não focar nessa aquisição, ou seja concluindo o que ainda falta, 26 aviões, não podemos pensar em novas aquisisiçoes, mas é fato que necessitamos delas, tanto já foi feito, para chegarmos até aqui e não concluírmos por falta de liquidez,

  5. O principal é fazer os pagamentos para recebermos os Gripens dentro do cronograma, o que não vem acontecendo.
    Se formos fornecedores de peças para os Gripens da Colômbia ou Peru, ótimo, pois gera empregos e impostos no país e evita o fechamento das fábricas e demissão dos empregados. Montagem acho muito improvável, pois a venda foi feita pela SAAB e pela Suécia que não devem abrir mão da montagem.
    Quanto a um segundo lote, hoje é apenas um sonho, pois nem o primeiro lote estamos pagando e recebendo. Melhor não perder tempo com sonhos.

  6. O Governo Federal do Brasil, e o Congresso Nacional tem que fazer esforços de destinar percentual significante dos Royalties, para o Ministério da Defesa, e para as 3 Forças Armadas, a fim de que não fiquem suscetível a cortes no orçamento, atrasando os planos, aquisições e renovação dos meios que envolve as AAs, como faturas aquisições.
    O Chile, por décadas manteve percentual no seu orçamento destinado a suas Forças Armadas, o que permitiu a ter a melhor Força Aérea, Marinha e Exército da América do Sul.
    Cabe a nós, seguir o exemplo do Chile.

  7. O que nos deixa indignados é o fato de faltar recursos para um programa de defesa dessa magnitude, mas não falta dinheiro público para emendas obscuras de parlamentares, não falta recurso para pagar retroativo de 10 anos do judiciário… E assim vão as elites saqueando as riquezas desse país
    .

  8. e este problema de liquidez ainda existe e assim será por um tempo….levamos 10 anos ara receber 10 caças ….quantos anos serão necessários para receber o restante????
    Os F5 não aguentam mais.
    a Saab não irá fechar um acordo novo, sem que o antigo ainda não foi pago….

  9. Lembro que na época da compra se falava que o contrato seria financiado por um banco sueco e que o Brasil teria dois anos de carência antes de iniciar os pagamentos que seriam realizados a longo prazo (não lembro exatamente de quanto era esse prazo mas diziam que o Brasil terminaria de pagar pelos caças X anos após a entrega de todos os caças…. ) e por tudo isso se dizia que o programa não sofreria atrasos pois os recursos estavam assegurados pelos próprios suecos…. Inclusive esta negociação do financiamento foi um fator que atrasou em quase um ano a assinatura do contrato pela Dilma que negociou diretamente uma redução na taxa de juros com o governo Sueco)
    O que aconteceu que mudou todo este planejamento, houve alterações no contrato original….

    1. O contrato de financiamento não foi divulgado na íntegra, então só podemos especular a respeito.
      Mas eu acho provável que tenha alguma cláusula prevendo que se o Brasil atrasar X parcelas a velocidade de entrega é reduzida ou pode até parar de entregar.
      O banco sueco não é bobo de continuar pagando a SAAB por tempo indeterminado se não receber os pagamentos do Brasil.

  10. É incrível como políticos têm essa percepção de que o érario público pertence a eles, se passaram ’10 anos’ e nem metade dessas aeronaves foi entregue, isso demonstra um completo descaso dessa maldita classe política neste país, reequipar as FA nunca foi prioridade para eles, desde a democratização, todos eles sem exceção negligenciaram as necessidades de Defesa da pátria.
    As condições geopolíticas atuais, e o interesses das superpotência nunca estiveram tão obscuros quanto hoje, é preciso estar preparado para dissuadir, nós temos tudo que as grandes super potências querem, quando começarem a ter suas necessidades de recursos como alimentação, minério, água aumentadas e a sua capacidade de produção escassa, acha que eles vão pedir, ou tomar a força? O povo precisa acordar, votar em candidatos comprometidos com os projetos de Defesa do país, que se dane Carnaval, Lei Rouanet, futebol. Precisamos é de investimentos em infraestrutura, Indústria de ponta e meios de defesa na mesma envergadura do Brasil, o resto é só narrativa de político que só se preocupa com seu curral eleitoral e meios de manipular as massas!

  11. temos que pensar também,numa defesa ante aeria,de longo alcance e mísseis anti navios hipersonicos,para defesa da costa.

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