Janelas para modernização do KMW Leopard 1A5 BR

COMO FAZER UM Mid-life update NO MAIS MODERNO DOS LEOPARD 1

Por Adriano Santiago Garcia

RESUMO

Legitimo filho do mundo bipolar da guerra fria o carro de combate Leopard 1 foi à continuidade dos grandes felinos que o anteviram, como o Tiger e o Panther. O ousado projeto que iniciou chamado como Eurotank, de maneira a padronizar uma plataforma para todas as forças a oeste da “cortina de ferro”, e acabar com dependência de material Norte Americano o Leopard 1 foi singular em sua concepção e ainda é a espinha dorsal de diversas forças blindadas.

Sua capacidade de mudar e adaptar-se o tornou um dos mais versáteis plataformas blindadas, permitindo a existência de diversas versões e modernizações, tanto do CC, quanto de seus coirmãos.

O quarto pacote de modernização, desenvolvido e estudado pelo Exército da República Federal da Alemanha e empresas de material de defesa durante os anos 80 do século passado, tinha a principal preocupação fazer frente a grande massa de tanks soviéticos T-64 e T-72 além de poder manter o Leopard 1 em condições de combate até o próximo século.

De 1986 a 1992 foram convertidos 1225 CC, dos primeiro ao quarto lotes de fabricação, para a versão A5, com um sistema de controle de tiro (SCT) similar ao do Leopard 2, o EMES-18, da Krupp-Atlas, um novo modulo de estabilização e outras melhorias.

Com o modelo A5 em plena produção duas ideias paralelas porem divergentes aparecem no cenário para modificar ainda mais o Leopard 1 com a adição do canhão L-44 120mm,

Tanto as versões 1A6 quanto a 1A5 120 mm não ganham força no cenário comercial e essas tentativas são abandonadas e esquecidas.

Em junho do corrente ano o Exército Brasileiro (EB) expede uma portaria em que determina o estudo de possível modernização de sua frota de CC Leopard 1 A5 BR trazendo a tona à questão: quais são as janelas para modernizar o mais moderno Leopard 1?

INTRODUÇÃO

O Leopard 1 é sem dúvidas um marco na breve, mas já rica historia dos “Land Ships”, nome antecessor da maquina que se consagrou como Tank, pois o projeto soube habilmente conciliar o trinômio da construção e combate: poder de fogo, mobilidade e proteção blindada.

O colapso da União Soviética e consequentemente fim da Guerra Fria pareceu sinalizar que vastas forças blindadas não seriam mais necessárias e os mais pessimistas já a viam como desperdício de recursos.

Os conflitos que se seguiram, especialmente na região dos Bálcãs e nos Estados Árabes no norte da África e Oriente Médio corroboraram que as forças blindadas ainda são protagonistas em campos de batalhas, hoje chamados de irregulares ou difusos.

A tecnologia digital, e de novos armamentos veio diretamente ao encontro das necessidades dos novos cenários de conflito ampliando os “olhos” e “garras” das forças com aumento ainda dos conceitos de consciência situacional, que é o entendimento dos comandantes do ambiente do conflito, e de letalidade seletiva, empregando o poder de fogo adequado e minimizando os efeitos colaterais.

Tais conceitos parecem até divagação quando se olha um CC, contudo as Forças Armadas (FFAA) do mundo buscam agora a obtenção de capacidades e tal objetivo só será alcançado quando seus meios de combate o puderem fazer.

Logo não se pode mais analisar tanks linearmente como “cartas de um baralho” deve-se antes entender qual o contexto de emprego, missão e capacidades este material deve cumprir para, a partir dai, se determinar sua adequabilidade.

Consubstanciando tal raciocínio o Exército Argentino buscou realizar um (MLU) em seus TAM (Tanque Argentino Mediano), pois, apesar de todas as deficiências em uma comparação linear com os “Titãs de Aço” do panorama atual, a plataforma TAM passou por vários testes em seu desenvolvimento e sua adequabilidade a aquela Força, em suas hipóteses de emprego, tornaram a modernização melhor solução frente à aquisição de outro material.

Em 2006 o Comando do Exercito Brasileiro adquire do Ministério da Defesa da Alemanha 250 CC Leopard 1A5, sob a justificativa da existência de um excedente de materiais de emprego militar (MEM) na Europa, particularmente membros da OTAN, e o fato de o Leopard 1A5 ser a variante mais moderna desse carro somado ao enorme “gap” devido à utilização de CC M-41C, ainda no serviço ativo a época.

Nesse período houve a assinatura de dois contratos de suporte logístico com a empresa Krauss Maffei Wegmann (KMW), o último ainda em vigor, de maneira a fornecer consumíveis e componentes para manutenção da disponibilidade da frota.

Após quase 10 anos desde sua chegada ao Brasil o Leopard 1A5, variante BR, se tornou o elo mais forte da corrente da tropa blindada nacional que possui hoje pessoal capacitado a operação e manutenção do CC abrindo as portas à participação de reuniões internacionais de especialistas em tropa blindada.

Os boatos de vastas doações de materiais militares norte americanos soam como o “canto da sereia” para uma total remodelação das atuais estruturas. Há de se pensar, contudo, até que ponto a troca de todo conhecimento adquirido até hoje nesta plataforma por um material completamente desconhecido.

Neste artigo discorrer-se-á sobre as características do tank Leopard 1A5 BR e as possíveis janelas reais de melhorar tal plataforma. Fatores de custo não serão alvo deste artigo posto que o orçamento das FFAA brasileiras seja sujeita a contingenciamentos tornando-se impossível estudar tal variável.

Figura 01- Recebimento do Leopard no porto de Rio Grande (Arquivo do Autor)

 

O LEOPARD 1A5 BR

As letras finais após, a versão do CC, no caso 1A5 “BR”, representam o país que fez alguma solicitação de mudança ou adaptação dos componentes originais distinguindo-os dos demais existentes.

As modificações solicitadas pelo Brasil nos Leopard 1A5 foram as seguintes:

  • retirada do sistema de rádio original da tank bem como adaptação para receber o rádio digital;
  • modificação do sistema de vedação, responsável por fechar pneumaticamente os orifícios do chassis em caso de transposição de curso de agua ou de ocorrência de incêndio no compartimento do conjunto de força (motor e transmissão);
  • troca do gás de extinção de incêndio do “Halon”, tóxico, cancerígeno e já proibido em diversos países, por nitrogênio; e
  • instalação de um relê que deliga o sistema de giro da torre caso a escotilha do motorista seja destravada.

Será discorrido a seguir os principais sistemas e subsistemas do tank de maneira a se estudar a possibilidade de melhoria com materiais ou soluções disponíveis no mercado ou já adotadas por outros programas de modernização.

Sistema de Controle de Tiro

O SCT foi uma das principais melhorias implementadas na versão 1A5 pois possibilitou a instalação do, já citado, EMES-18, versão de componentes iguais e/ou simulares aos do EMES-15, dos Leopard 2, adotado de maneira homogeneizar componentes de torre e facilitar à logística.

Cabe salientar que as munições de carro de combate não possuem qualquer sistema de busca e travamento de alvos, tais como mísseis, dependendo exclusivamente do local em que o SCT aponta o canhão, realizando todas as compensações inseridas e programadas pelos operadores da torre, Comandante de carro (Cmt CC) e Atirador (Atdr), para que após o disparo realizem voo livre até o impacto.

O atual SCT é capaz de suportar até 07 (sete) cartas balísticas de munições, sendo 06 (seis) para o canhão principal e 01 (uma) para a metralhadora coaxial.

SCT EMES – 18, Leopard 1A5, e EMES – 15, Leopard 2, respectivamente (Fonte: https://www.artstation.com/artwork/KPNDW)

No tocante as munições a principal melhora foi a capacidade de tiros com granadas tipo Armor Piercing Fin Stabilized Discarding Sabot – Tracer (APFSDS-T) que por tradução literária seria penetrador de blindagem de estabilização vertical traçante, ou SUPERFLECHA, em detrimento das Armor Piercing Discarding Sabot – Tracer (APDS-T).

Computador de tiro

A munição APFSDS – T é a mais eficiente hoje para o combate entre blindados sendo composta por materiais de núcleo muito denso, tais como tungstênio, e possuem grande velocidade inicial.

Contudo as tabelas balísticas do computador de tiro são extremamente rústicas (EPROM – “erasable programmable read-only memory” – memória programável apagável somente de leitura) logo é possível haver uma reprogramação para tipos ou modelos de munições mais modernas ou versáteis.

Dessa maneira é possível reconfigurar o SCT do carro para poder disparar munições mais modernas ou até novos tipos de munição que estão sendo lançadas tais como munição de múltiplos balotes (CANISTER) ou de detonação sobre tropa (AIRBUST).

Existe ainda a possibilidade de disparo de misseis guiados pelo tubo do canhão 105 mm, a exemplo da tecnologia da IAI com o míssil LAHAT, capaz, segundo dados da empresa, de engajar com ou sem linha de vidada a uma distancia de 8 Km.

Míssil LAHAT, calibre 120 mm e 105mm (Fonte: https://www.quora.com/Since-the-beginning-guns-have-always-been-the-main-armament-of-a-tank-Why-are-there-no-Missile-tanks)

Optrônicos

EMES–18
O EMES um modulo de visualização com 02 (duas) janelas de observação, sendo um periscópio que reflete a imagem de um espelho polido com um retículo padrão OTAN, para engajamento de alvos e a segunda produz os termogramas gerados pelo sistema de imagem termal, chamados respectivamente de canal diurno e canal termal.

Peça de reposição, modulo de visualização do EMES, canal termal e diurno (Arquivo do Autor)

O espelho do canal diurno é também por onde ocorre a telemetria laser, tanto emissão quanto recepção, operação fundamental no aumento da precisão dos tiros, pois é através desta telemetria que os dados de distância do alvo são inseridos diretamente no computador de tiro para o correto posicionamento da pontaria ou do canhão, quando estabilização ligada.

O canal diurno propicia observação com um aumento de 12x fixo, dando ao Atdr uma percepção de um cone de visão de apenas 05º, estando sua visão intrínseca com o movimento do canhão.

Uma deficiência é o fato de não existir alguma indicação de referencia da posição da torre em relação ao chassi, quando o Atdr está observando pela ocular fato que traz grande desorientação aos operadores da torre.

A necessidade de o Atdr ter que parar a busca de alvos para poder se orientar com relação à direção de pontaria abre espaço para uma ameaça engajar o blindado sem que este possa se defender.

O equipamento termal do CC é de fabricação da “Carl Zeiss” sendo considerado de primeira geração e pode buscar alvos tanto de dia quanto de noite, sendo facilitado quando há maior contraste térmico do ambiente.

Imagem gerada pelo sistema termal do CC (Arquivo do Autor)

O sistema necessita ser resfriado, a -196ºC, fato que demanda uma grande quantidade de eletricidade além de um desconforto sonoro interno devido ao barulho do sistema quando em funcionamento.

Uma das grandes vantagens desse sistema é possuir dois campos de visão comutáveis, podendo o Atdr trabalhar com um aumento de 4x, aproximadamente 14º de cone de visão e os mesmos 12x do canal diurno.

O termal possibilita uma visão de aproximadamente 02 km de profundidade com clareza para haver identificação sendo que em distancias maiores há detecção de silhuetas ou assinaturas termais, mas é dificultada a confirmação da natureza do alvo.

Logo é notório que um novo módulo de visão termal, de 2ª ou 3ª geração seria de grande vantagem para um pacote de MLU aumentando a capacidade de detecção, identificação e engajamento até no mínimo o alcance útil do armamento.

Sistemas secundários de tiro e observação

Em caso de degradação total ou parcial, principalmente no módulo de visualização, o Atdr possuí uma luneta que se movimenta na mesma direção e elevação do tubo.

A TZF 2A é uma luneta que possui escalas de distancias para os diferentes tipos de munição, não permite o disparo em movimento e não tem nenhum módulo eletrônico de suporte ao tiro fato que diminui a precisão e aumenta o tempo de engajamento, caso haja uma total falência do EMES.

Visão da luneta TZF, com escalas das distâncias nas laterais (Arquivo do Autor)

O último instrumento disponível para observação e condução de tiro é o periscópio TRP 5A, instrumento utilizado exclusivamente pelo Cmt CC, e não permite a utilização com o CC em movimento estabilizado além de não contar com módulos eletrônicos de intensificação de luz residual ou termal independente para o Cmt CC.

O periscópio TRP 5A não foi alvo de qualquer modernização e muito se assemelha aos dos que equiparam as primeiras unidades fabricadas do Leopard 1.

Portanto é notório que um programa MLU deve ter em seus primeiros itens a contemplação de substituição de tal equipamento por versões mais modernas ou diferentes sistemas.

Ao contrario do que acontece com os blindados M – 113 que o Brasil já possui uma plena capacidade de realizar modificações até seccionando a blindagem o mesmo não acontece com o Leopard.

É economicamente mais realista que qualquer programa de modernização procure utilizar os espaços já disponíveis no CC sem que seja necessário haver modificação da couraça da torre ou do chassi.

Ao encontro da situação supracitada as tecnologias “plug and play” podem ser exploradas para diminuir custos e aumentar capacidades dos meios substituídos.

Os dispositivos de observação baseados em imagens geradas por câmeras, ao invés de espelhos, sinalizam ser substitutas excelentes para o periscópio TRP 5A uma vez que o instrumento ótico é facilmente removido deixando o espaço e conexões disponíveis para uso.

Algumas FFAA, como Singapura e Polônia, estão com programas de MLU, nos CC Leopard 2, em que se contempla a substituição dos periscópios PERI R-17, instrumento ótico de grande eficácia e testado em combate, por sistemas de câmeras e “telas touch” screen para o Cmt CC.

Comparação do Leopard 2 de Singapura com o Leopard 2A4 (Fonte: http://tanknutdave.com/the-german-leopard-2-series/)

A substituição do sistema de busca e observação do Cmt CC viabilizará ainda a instalação do sistema de transferência automática da linha de visada do Cmt CC para o Atdr, conhecido como “hunter-killer”, hoje existente apenas no sistema UT-30.

Poder de fogo

Canhão Principal
Ponto das principais críticas ao Leopard 1 é o seu armamento de dotação principal que se constitui no canhão “Royal Ordnance 105 mm L7A3 britânico, de 28 raias a direita, criado na década de 50 do século passado.

Quando o projeto de upgrade para a versão 1A5 estava em pleno vapor foram feitos estudos para integração do canhão L44 Rheinmettal 120 mm, de alma lisa equiparando assim o poder de fogo com os demais carros padrão OTAN.

As linhas para se criar uma versão 1A5 120 mm, ou até 1A6 foram levadas a cabo não apenas pela Alemanha como os Belgas tiveram interesse em desenvolver uma solução “home made” para esse carro.

Protótipo Leopard 1A6 Belga com canhão 105 mm (Arquivo do Autor)

Como a linha de escolha acerca do armamento principal estava indefinida e carente de testes a equipe de modernização optou por manter-se os canhões 105 mm, contudo possibilitar para a troca do L44 120 mm.

Torre Leopard 1 com canhão L44 120 mm (Fonte: https://www.reddit.com/r/Warthunder/comments/9b55qc/some_information_about_the_1a6/)

A frota de carros adquirida da Alemanha possui uma condição bastante heterogênea em relação a vida útil dos tubos tendo alguns já próximos da condição de descarte como outros ainda em boas ou muito boas condições.

A aquisição de canhões L44 é uma possibilidade que demandaria não apenas a instalação do tubo propriamente como ainda a reconfiguração dos suportes de munição internos e a obrigatória reprogramação do SCT

Os Tanks mais modernos da família Leopard 2 são equipados com o canhão L55 120 mm, também da Rheinmettal, que possuem cerca de pouco mais de um metro de comprimento que a versão L44.

Tal aumento foi necessário para um incremento na velocidade inicial das munições e, por consequência, poder de penetração de blindagens, o qual era insuficiente para os CC russos T-80 e T-90.

Portanto a discussão acerca do armamento principal dos carros estará intimamente ligada aos planos de melhoria do SCT e ao orçamento que tal projeto vai receber.

Armamentos Secundários

Diferente de muitos tanks, em especial da Escola Americana, o Leopard não possui metralhadoras (Mtr) 12,7mm em seu arsenal contando com duas Mtr 7,62 mm, modelo MG3, derivada da MG42 da Segunda Guerra.

Uma das metralhadoras é instalada para funcional com disparo elétrico, sob o comando do Atdr ou Cmt CC, fator que garante boa precisão de tal armamento até cerca de 800 m de distancia.

A outra metralhadora é instalada em suporte em uma das duas escotilhas de acesso da torre sendo necessário o operador se expor e realizar a pontaria manualmente do armamento.

Os conflitos em áreas humanizadas trouxeram a necessidades de diversos sensores e equipamentos de maneira a eliminar ao máximo “pontos cegos” ao redor do CC evitando ao máximo que a guarnição tenha de sair de suas estações.

Uma das soluções foi a integração de “Remote Weapon Station” (RWS) na parte de cima das torres dos tanks posto que tais sistemas, em linhas gerais, recebem armamentos 12,7 ou 7,62 mm, podendo até ser ambos, como o reparo automatizado de Mtr X (REMAX), e possuem módulos eletrônicos de observação e tiro para tais armas com visão diurna e termal.

Sistema “Protector” integrado a um CC Abrams (Fonte: https://www.monch.com/mpg/news/land/4167-crows3.html)

O Brasil já possuí o sistema REMAX, desenvolvido em parceria público privada, que pode vir a atender a está janela de melhoria e já se encontra plenamente funcional nos blindados Guarani.

A integração de RWS pode vir a atender também a deficiência de observação do Cmt CC, lacuna existente devido ao periscópio TRP 5A, é uma possibilidade que contudo deve buscar a possibilidade de integração do sistema de tiro do RWS com o EMES – 18 para que assim capacidades como a hunter-killer possam ser obtidas.

Outros equipamentos de torre

Ao se analisar numericamente as grandezas envolvidas com tanks via de regra os números são vultosos e pelos, desconhecidos, até considerados exagerados.

O fato é que a torre do Leopard 1 A5 BR poder ser colocada em pleno funcionamento sem que o motor do carro seja ligado apenas fazendo uso de suas 08 (oito) baterias de 12V e 100Ah cada.

Tal operação irá com certeza consumir as baterias que poderão não ter força para dar a partida no motor ou até sofrer degradação parcial por esse tipo de uso.

A instalação de uma unidade de força auxiliar (APU), que resumidamente é um motor menor com vias a alimentar sistemas do CC e preservar as baterias, é parte do pacote de MLU do TAM 2C, e pode também vir ao encontro dessa necessidade.

Outros quesitos como a instalação de um sistema de desumidificação de ar-condicionado e substituição do sistema de giro eletro hidráulico por um motor puramente elétrico são demandas que soam como desprezíveis mas irão aumentar a vida útil do material bem como preservar os seus operadores.

CHASSIS

Transmissão

A relação peso/potência do Leopard 1 é uma de suas mais notadas características pois o conjunto de força, motor MTU 832 CAM 500 ligado a transmissão ZF 4HPE 250, entrega 830 Hp ao tank.

Tal conjunto possui um histórico de confiabilidade equipando o Leopard 1 desde os primeiros modelos que deixaram as linhas de produção.

A transmissão, diferente dos carros de passeio comuns, é elétrica, automática e selecionável, logo o carro não possuí um pedal de embreagem cabendo ao operador do chassi selecionar a marcha que, eletricamente, acopla a marcha escolhida.

Transmissão ZF 4HPE 250 (Arquivo do Autor)

Apesar de confiável, como já mencionado, a transmissão apresenta a situação de ser de grande complexidade e não possuir pessoal especializado em manutenções corretivas internas do componente.

A linha de ação adotada quando o sistema supracitado apresenta problemas, atualmente, é a substituição completa do mesmo por componentes oriundos de carros descomissionados não sendo uma solução de longo prazo.

Outro aspecto a ser observado é que o motor foi desenvolvido na segunda metade do século passado logo sua adequabilidade de funcionamento com os mais modernos tipos de combustível, tais como biodiesel, carecem de estudos se a opção for por manter o atual trem de força.

Condução do CC

Para a segura condução do carro é imperativo que o motorista esteja sempre fechado em seu compartimento para permitir assim o livre giro da torre sem que aconteça ferimentos ou até a decapitação do condutor.

Os materiais integrados ao Leopard 1 são três periscópios óticos que fornecem uma visão restrita mas com tudo suficiente para os deslocamentos e um periscópio de intensificação de luz residual e infravermelho.

Estação do operador do chassi, os periscópios óticos cobertos com capa preta (Arquivo do Autor)

Diversos projetos de MLU estão adotando a solução já existente em modelos de carros de passeio mais equipados que é o uso de câmeras para melhorar a visão do motorista e aumentar a segurança.

A Elbit Systems de Israel recentemente desenvolveu o sistema “Iron Vision”, que se trata de diversas câmeras que transmitem a uma viseira no capacete uma imagem de 180º do mundo exterior fazendo que como se a blindagem se tornasse “transparente” ao operador do sistema.

Tal sistema está no rol da proposta para atualização do blindado Cascavel, oferecida pela ARES, junto com a integração da torre TORC30.

PROTEÇÃO

Blindagem

Outro assunto bastante polemico nas discussões acerca do Leopard 1 está em sua proteção blindada que é por muitos julgada insuficiente para sua efetiva proteção.

O segundo pacote de modernização do tank, executado nos anos 70 do século passado, contemplou um aumento na couraça da torre através da instalação da blindagem espaçada com vias a pé acionar carga explosivas antes de atingir a blindagem principal, sendo a empresa “Blohm und Voss” encarregada do projeto.

Torre com a placa de blindagem adicional removida e, na sequencia, instalada (Fonte: Leopard Trilogy, p.100 e 102, 2003)

Existem diversos kits e soluções para incremento da blindagem, até placas reativas, mas é necessário considerar que o conjunto de força terá um impacto inversamente proporcional a cada peso a mais que for adicionado ao CC.

Logo uma solução que busque aproveitar as modificações já feitas pela “Blohm und Voss” parece a de maior facilidade de ser colocadas em pratica buscando uma placa que incremente e substitua as placas já existentes.

O Exército do Canada realizou a maior modificação dos CC Leopard 1, com vias a preparo o carro para operações no Afeganistão que apesar de ter obtido sucesso se mostraram por demais custosas a ser continuadas.

Leopard 1 C2, Exército Canadense, em operações na cidade de Kandahar (fonte: http://www.military-today.com/tanks/leopard_c2.htm)

Sistemas de apoio de defesa

Os sistemas de defesa ativa e passiva, “softkill” e “hard-kill”, são tecnologias impressionantes que estão sendo integrados a blindados principalmente em cenários de operações em áreas humanizadas.

Tais componentes também são produtos de prateleira de diversas empresas de defesas que podem atender a demandas especificadas com o tipo de missão a ser cumprida pelos meios.

Os detectores de emissão laser, são também outro Potosí nas conversas do estado da arte da guerra blindada.

Tais detectores dão o aviso a guarnição que o blindado recebeu algum tipo de emissão laser, seja de outro carro de combate ou míssil, de maneira a subsidiar a guarnição a tomar medidas para se pré defender da ameaça em potencial.

As torres UT-30, integradas ao Guarani, são novamente o único MEM em uso na Força Terrestre a contar com esse tipo de sistema.

SARC UT30BR com sistema de alerta laser próximo aos lançadores de fumígenos (Fonte: http://www.ares.ind.br/new/pt/sistemas-terrestres/ut30br.php)

CONCLUSÕES

A adoção do Leopard 1A5 pelo EB foi um dos maiores projetos de blindados levados a cargo pela Força pois contemplou a aquisição dos CC além dos ferramentais de manutenção, simuladores, cursos de especialização, consumíveis e peças de reposição.

Em seus quase 10 (dez) anos em território nacional é notório um salto qualitativo nas estruturas existentes fator que já associa o carro a maioria das propagandas institucionais.

O mundo passa também por uma tendência de reaproveitamento e continuidade de uso de diversos materiais e o itens de defesa divergem deste contexto.

O já, muito mencionado, TAM 2C e o M-60 recentemente modificado pela empresa Raytheon oferecidos a Turquia, são provas cabais que se deve buscar ao máximo explorar as plataformas blindadas existentes tanto para manter na atividade originalmente destinada ou para cumprir outras tarefas fora da linha de frente.

Portanto envidar esforços e estudos coerentes economicamente, com uma clara lista de prioridades bem como com um prazo de expectativa de tempo bem determinada de duração dos serviços, são de extrema importância para equipar a Força com meios suficientemente mínimos ao cumprimento de suas doutrinas.

M-60 Raytheon e TAM 2C (Fonte: https://aw.my.com/us / http://www.tanks-encyclopedia.com/coldwar/Argentina/TAM-2c-main-battle-tank)

 

REFERÊNCIAS

BRASIL. Exército. Manual Técnico 1240/010-13 Periscópio do comandante TRP1A/2A com suporte de periscópio 2A e sistema de transferência de ângulos TEW1A (Carro de Combate Leopard). 1. ed. Alemanha, 1972.

______. ______. IP 17-82: A Viatura Blindada de Combate – Carro de Combate Leopard 1A1. 1. ed. Brasília, DF, 2000.

______. ______. Portaria Nº201 EME. Brasília, DF, 2006.

______. ______. Portaria Nº088 EME. Brasília, DF, 2007.

______. ______. EB20-C-07.001: Catálogo de Capacidades do Exército (2015 – 2035) . 1. ed. Brasília, DF, 2015

______. ______. Diretriz Estratégica para Formulação Conceitual dos Meios Blindados do Exército Brasileiro. 1. ed. Brasília, DF, 2019.

CHILE. EJÉRCITO. Cartilla Operación del tanque Leopard 2A4. 1. ed. Santiago, 2014.

DEFESA. Ministério. MD 33-M-02 : Manual de Abreviaturas, Siglas, Símbolos e Convenções Cartográficas das Forças Armadas. 1. ed. Brasília, DF, 2008.

JERCHEL, Michel. Leopard 1 Main Battle Tank 1965 – 1995. 1. Ed. Osprey Military, New Vanguard 16, 1995.

JANE’S, Michel. Technology of Tanks 1. 1. Ed . Jane’s Group Information, Reino Unido , 1991.

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IAI. LAHAT. Empresa de Material de Defesa. Israel.

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