A Itaipu Binacional e a empresa ACS Aviation, de São José dos Campos (SP), colocaram no ar, na última terça-feira (23), o primeiro avião elétrico tripulado da América Latina. O voo inaugural e a apresentação oficial da aeronave, batizada de Sora-e, ocorreram na pista do aeroporto da binacional, localizada na margem paraguaia da usina, no município de Hernandarias.
O engenheiro Alexandre Zaramella, sócio-diretor da ACS Aviation, foi o piloto responsável pelo voo histórico, de apenas cinco minutos de duração, o suficiente para situar o Brasil e o Paraguai na vanguarda do desenvolvimento tecnológico de aeronaves tripuladas com propulsão elétrica.
A apresentação foi acompanhada do diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge Samek; pela diretora financeira executiva da Binacional, Margaret Groff; pelo diretor técnico executivo, Aírton Dipp; e pelo coordenador brasileiro do Programa Veículo Elétrico (VE), Celso Novais. O Sora-e decolou exatamente às 14h28 (horário de Brasília) e sobrevoou o entorno do reservatório da usina Itaipu. Às 14h33, tocava novamente a pista do aeroporto, exatamente como previsto no plano de voo.
Itaipu já é referência na área de mobilidade elétrica sustentável, com carros, ônibus e caminhões elétricos, e também no desenvolvimento de sistemas inteligentes de armazenamento de energia e de monitoramento de frotas. Agora, torna-se referência no setor aeronáutico. O avião representa mais um passo no desenvolvimento de protótipos elétricos, uma inovação na América Latina. Todo esse trabalho servirá de base para as pesquisas, especialmente no desenvolvimento de componentes para a indústria, fortalecendo a indústria nacional na área de mobilidade e outros setores importantes como Defesa.
Desenvolvido pelas equipes técnicas de Itaipu e da ACS, o Sora-e está equipado com dois propulsores Enrax, de 35 Kw cada um, fabricados na Eslovênia, e seis packs de baterias de lítio íon polímero, totalizando 400 volts. O modelo pode levar duas pessoas (piloto e passageiro) e tem autonomia de 45 minutos de voo, expansível para uma hora e meia, com velocidade de cruzeiro de 190 Km/h e velocidade máxima de 340 Km/h. A estrutura é de fibra de carbono e a hélice foi fabricada nos Estados Unidos, pela empresa Craig Catto, atendendo as especificações do projeto. São 8 metros de envergadura (de uma ponta a outra da asa) e peso total de 650 quilos.
As pesquisas para desenvolver o Sora-e começaram em 2012, dentro do Programa VE de Itaipu, em parceria com própria ACS Aviation e a FINEP, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. A base do projeto foi o modelo esportivo acrobático ACS-100 SORA, com motor a combustão, produzido pela empresa paulista. Os testes de bancadas e simuladores foram feitos em agosto do ano passado no Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Montagem de Veículos Movidos a Eletricidade (CPDM-VE) de Itaipu. Já os ensaios em solo foram concluídos em dezembro, em São José dos Campos. O primeiro voo de avaliação técnica, fechado para a imprensa, ocorreu no dia 18 de maio, também em São José dos Campos, com a presença da equipe técnica de Itaipu. O modelo foi certificado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) na categoria Pesquisa e Desenvolvimento.
Materiais compostos
O interesse de Itaipu no projeto é aprofundar os estudos sobre materiais compostos usados no setor aeronáutico, considerados fundamentais para a redução do peso dos veículos elétricos. Quanto menor o peso, maior a autonomia. Para a ACS Aviation, um dos objetivos do projeto é viabilizar modelos elétricos comerciais e ajudar a impulsionar este mercado. O maior desafio do setor, hoje, é desenvolver baterias com maior densidade, para aumentar a autonomia dos modelos elétricos. A expectativa é que, em cinco ou dez anos, já existam baterias para aviões com até quatro ocupantes. As mesmas baterias poderão equipar ARPs (aeronaves remotamente pilotadas) usadas em missões de vigilância das fronteiras terrestres brasileiras.
O Sora-e é o novo integrante da família de elétricos de Itaipu, que desde 2006 desenvolve o Programa VE, em parceria com várias companhias do Brasil e do exterior. Neste período, a empresa já montou mais de 80 protótipos elétricos, a metade incorporada à própria frota e o restante destinado a parceiros do programa. As linhas de pesquisa do VE incluem carros de passeio, caminhão, utilitário e ônibus, todos equipados com motor elétrico. A empresa ainda mantém uma oficina para montagem dos compactos elétricos modelo Twizy, em parceria com a Renault, e trabalha no projeto da bateria de sódio nacional, com recursos da FINEP e parceria com o Parque Tecnológico Itaipu (PTI). Outro projeto é na área de armazenamento de energia, em conjunto com o Exército Brasileiro, com óbvias implicações de emprego na região amazônica, carente de infraestrutura e dependente, muitas vezes, de geradores movidos a combustível fóssil.
Roberto Caiafa