Na esteira do caminho aberto pela multinacional suíça RUAG, primeira empresa estrangeira fabricante de armas e munições a receber aval para se estabelecer no Brasil, chegou a vez da checa CZ e da austríaca Glock (popular entre forças policiais federais) aproveitarem a abertura do mercado brasileiro feita pelo Governo do presidente Michel Temer.
O aval para as conversações com estas duas fabricantes estrangeiras foi dado pela Casa Civil da Presidência, que recebeu a atribuição de aprovar a vinda de empresas do setor para o Brasil. A tarefa, até o ano passado, era atribuição do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
A instalação de um fabricante de armas em território brasileiro é deferida pela Casa Civil após parecer do Exército Brasileiro, elaborado em conjunto com o Ministério da Defesa (caso da RUAG).
Com autorização do governo desde setembro passado, os suíços se preparam para instalar uma fábrica de munições, segundo rumores, em Pernambuco, estado de origem do atual ministro da Defesa, Raul Jungmann.
A abertura do mercado ocorreu por uma necessidade de ter competitividade e mais qualidade para as forças de segurança, que se queixam de poucas opções no mercado interno, segundo declarações de militares do EB, que é responsável por fiscalizar todo o processo.
A Glock é fornecedora antiga, por exemplo, da Polícia Federal. Polícias militares se ressentem da dificuldade de obter autorização para comprar arma no mercado internacional, entrave causado por uma regra ainda em vigor, mas que poderá ser modificada em breve, segundo a qual só é possível importar armas se não houver uma similar na indústria nacional.
A chegada das empresas estrangeiras também atende a um pleito dos civis que têm posse ou porte de arma (e também daqueles que desejam possuir uma boa arma de qualidade). A dificuldade de obter modelos de marcas internacionais é uma reclamação histórica por parte desse grupo.
Segundo declarou a imprensa o general Ivan Neiva, diretor do Departamento de Produtos Controlados do Exército “Existem mecanismos ‘mais inteligentes’ de proteger e incentivar a indústria nacional do que simplesmente fechar o mercado – Podemos pensar em margem de preferência para produtos nacionais, financiamento diferenciado, investimento em pesquisas” afirmou Neiva. E o general continua “Além disso, as empresas que vierem não poderão ser meras montadoras de produtos aqui. Elas terão que desenvolver fornecedores locais, gerar conhecimento, criar empregos”, concluiu.
Para a Associação Nacional da Indústria de Armas e Munições “a concorrência não preocupa, mas a ANIAM ressalta a necessidade de assegurar isonomia de tratamento, algo que atualmente não existe, pois a carga tributária e as restrições sobre o produto brasileiro são muito superiores às do produto importado, prejudicando a indústria nacional e gerando desequilíbrio na concorrência, o que não é aceitável”.
Obs do Autor: A ANIAM é formada por três empresas associadas que juntas dominam praticamente todo o mercado brasileiro de armamentos, a saber, a CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos), a Taurus e a Rossi Esporte e Lazer, que é na verdade uma marca da Taurus. Funciona assim, a Taurus adquiriu a linha de produtos e o nome Rossi em meados de 2008, e a CBC adquiriu a Taurus em meados de 2014.
Significativo também a ausência do nome da Caracal LLC entre as empresas estrangeiras que entraram com pedido de autorização para instalação de fábrica no Brasil, algo anunciado publicamente pelo Grupo Tawazun (Emirados Árabes Unidos), proprietário da marca Caracal, e pelo Governo do Estado de Goiás (administração Marconi Perillo), em 2016 e reconfirmado algumas vezes posteriormente.
Atualmente, o assunto encontra-se na “geladeira”, a julgar pelo silêncio de ambos, a empresa Caracal e o Governo do Estado de Goiás…