Segundo divulgou o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP) no início desta semana, a Embraer pretende transferir a produção do jato executivo Phenom da unidade localizada no estado de São Paulo para a fábrica em Melbourne, na Flórida (Estados Unidos), até meados de 2016.
A decisão foi anunciada após controversa reunião entre dirigentes sindicalistas e a própria Embraer na última sexta-feira (08/05).
Para os sindicalistas, a Embraer afirma que a transferência é parte de uma estratégia de mercado e faz da ampliação do espaço físico da matriz da fábrica, no interior do estado. Cerca de 1.500 trabalhadores (diretos e indiretos) estão ligados à montagem do avião e, com a mudança, esses empregos estão seriamente ameaçados. Só na Embraer o número de funcionários que estão diretamente envolvidos na linha produção gira ao redor de 650.
Para especialistas ouvidos pela imprensa local, a Embraer tende a reforçar a atuação global visando competir em um mercado internacionalizado. A tradução é simples. É mais competitivo e rentável fabricar a família Phenom nos Estados Unidos, mesmo com maiores custos em recursos humanos, do que sofrer com a burocracia e alta tributação praticada pelo governo brasileiro. Além do mais, produzir os jatos executivos nos Estados Unidos permite a venda para qualquer orgão governamental dentro daquele país, um mercado bastante atrativo.
A postura surpreendente da Embraer desnuda a incoerência de um Governo que, nos últimos anos, onerou o setor industrial brasileiro com impostos abusivos. Quanto aos clientes no mercado nacional, estes poderiam pagar menos por uma aeronave “importada” da Flórida do que por um jato análogo, fabricado em São José dos Campos.
Outro ponto crítico; a interrupção no repasse de recursos para os programas militares contratados a Embraer Defesa & Segurança continua sem solução no curto prazo. De fato, a EDS, após voar o protótipo inaugural do transporte KC-390 com sucesso em fevereiro deste ano, acusou publicamente o não pagamento de valores que alcançam mais de R$ 850 milhões, somando-se os cortes de repasses para a modernização dos jatos de ataque A-1 AMX da FAB e AF-1 Falcão da Marinha, dentre outros programas onde a EDS e as subsidiárias atuam.
O montante de valores a receber pela Embraer pode superar R$ 2,44 bilhões, refletindo assim o alongamento dos ciclos de pagamento de alguns clientes, principalmente no segmento de defesa e segurança.
Roberto Caiafa