A Força Aérea Brasileira (FAB) finalizou ontem mais uma etapa da preparação para os Jogos Olímpicos 2016. Faltando pouco mais de três meses para o início do evento esportivo, foi a vez de certificar os trajes utilizados por pilotos e tripulação de voo em casos de ameaças químicas, biológicas, radiológicas e nucleares, conhecidas pela sigla QBRN. A ação ocorreu na Base Aérea dos Afonsos (BAAF), no Rio de Janeiro (RJ).
O traje especial é fabricado na Alemanha e tem características de isolamento para proteção dos militares. É composto por luvas, sobrebute (proteção que vai acima do calçado), macacão e máscara. Essa última possui um microfone para facilitar a comunicação através da fonia do avião.
Os equipamentos foram utilizados por pilotos e engenheiros de prova do Instituto de Pesquisas e Ensaios em Voo (IPEV). A função deles é checar todos os movimentos operacionais realizados pelo piloto da aeronave e ver se o traje não vai atrapalhar durante as operações. São realizados diversos movimentos, que vão desde inspeção externa da aeronave até a movimentação da cabeça na cabine em casos de voo em ambiente noturno.
De acordo com o major-engenheiro Alvimar de Lucena, um dos elementos do traje, o macacão, é mais consistente e pesado comparado ao tradicional. Segundo ele, a equipe de ensaio tem a função de aprimorar a gestão de qualidade desses produtos. “O papel do piloto de prova é ver se há algum problema e relatá-lo da forma mais objetiva possível”, ressaltou sobre o processo que tem duração de praticamente quatro horas.
O oficial testou o traje nas aeronaves C-105 Amazonas, empregada para transporte de vítimas em âmbito nacional, e C-130 Hércules, utilizada para traslados internacionais durante os Jogos Olímpicos. “O macacão fica como uma armadura por cima da pele”, avaliou.
Já o major Alexandre Martins realizou os testes com o traje especial no helicóptero H-36 Caracal, do 3°/8° GAv, Esquadrão Puma. A aeronave será utilizada para transporte regional, apenas no estado do Rio de Janeiro, de pacientes vítimas de ameaças QBRN durante o evento esportivo. “Fizemos a verificação de acessibilidade à cabine, para detectar se o traje impede a execução de algum procedimento na hora do voo”, destacou.
Certificação
O processo de certificação dos trajes ainda não foi concluído e deve passar por novas fases, uma vez que envolve outras unidades militares. O objetivo é que todos os critérios de certificação sejam avaliados e reavaliados para garantir a segurança da tripulação.
Após o momento inicial, as avaliações dos pilotos de prova são repassadas ao Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI), que é o organismo responsável por certificar os equipamentos. De acordo com coordenador do evento de testes, coronel de Infantaria Alexandre Okada, o IFI vai homologar o uso dos equipamentos utilizados dentro da aeronave.
“O que é avaliado no processo de certificação são diversas situações. Por exemplo, o que pode acontecer se algum equipamento cair, esbarrar e atrapalhar o voo ou se a proteção radiológica será suficiente. Se o piloto corre risco ou não, entre outros”, ressaltou o coronel Okada.
A certificação tem também a finalidade de avaliar o uso de equipamentos de proteção individual, o tempo de resposta de cada ação já que todas serão cronometradas, as normas adotadas no preparo da aeronave e da equipe, bem como as possíveis complicações que trajes e cápsulas possam trazer para o transporte do paciente.
“Estamos definindo procedimentos, verificando na prática as orientações que foram determinadas”, complementou o coronel Okada.
Além dos profissionais do IPEV, participaram da certificação tripulantes dos Esquadrões e os militares do Instituto de Medicina Aeroespacial (IMAE), destinados a fazer a Evacuação Aeromédica. O objetivo foi verificar se a utilização do material, ou seja, trajes, cápsulas, entre outros, restringe a operacionalidade da tripulação em voo. Também participou o Instituto de Estudos Avançados (IEAv).
“O IEAv atua em dois cenários, oferecendo suporte técnico científico ao IMAE em detalhes de equipamentos e no planejamento técnico da missão”, disse o professor Cláudio Federico, pesquisador do Instituto.
Todas essas observações comporão um relatório e devem ser afinadas até o próximo evento que ocorre no final de abril e deve reunir profissionais de todas as Forças, além de órgãos de saúde e segurança do País.
Ivan Plavetz