Exército vai elevar mais 150 M113B para o padrão M113BR

No Boletim do Exército nº 30/2021, de 30 de julho, foi publicado o despacho decisório C Ex Nº 367 que autoriza a assinatura da carta de oferta e aceitação referente ao 8º Termo Aditivo (AMENDMENT 8) à linha de fornecimento BR-B-UUG (Letter Offer And Acceptance BR-B-UUG), para a recuperação e atualização de mais 150 viaturas blindadas de transporte de pessoal (VBTP) M113B para a versão M113BR (M113A2 MK.1), por meio do programa do programa Foreign Military Sales (FMS), do Governo dos Estados Unidos da América.

A solicitação deste processo foi feita pelo Comando Logístico do Exército (COLOG), por intermédio da Diretoria de Material (DMat), utilizando-se do acordo militar entre o Brasil e os Estados Unidos, assinado em 2 de junho de 2000.

Histórico do programa

Adquiridos em sucessivos lotes a partir do começo dos anos de 1960, e até meados da década seguinte, nada menos que 584 M113 foram recebidos pelo Exército Brasileiro (EB), que os distribuiu principalmente nos regimentos de cavalaria blindada (RCB), e nos batalhões de infantaria blindada (BIB). Embora existissem modelos mais modernos deste veículo naquela época, os comprados para o EB eram dos mais primitivos (também chamados de M113A0) e equipados com motor à gasolina.

Uma foto rara: o recebimento de um lote de M113 pelo 2º Regimento de Obuses 105, de Itu/SP, em 1972. Os blindados ainda tinham as marcações do US Army (Foto do acervo do capitão Sergio Rodrigues Gonzalez)

Em 1982, devido aos contínuos aumentos do preço do petróleo, a maioria dos veículos adotados pelo EB passaram a ser equipados com motor a diesel, incluindo os M113, que foram modernizados pela Moto Peças Transmissões S/A, recebendo o motor Mercedes OM-352A, de fabricação nacional, sendo renomeados como M113B.

Mesmo ganhando maior autonomia, com a exigência de ser equipado com um motor de fabricação nacional para facilitar a logística, não foi possível o uso de motor ideal, pois não havia um disponível. Isso comprometeu a agilidade do veículo, notadamente em condição “qualquer terreno” (QT). De qualquer modo, os M113B prestaram excelentes serviços à Força. Entretanto, depois de quase 30 anos passados, o índice de disponibilidade vinha caindo de forma acentuada.

Sua obsolescência ficou mais evidente com a introdução dos carros de combate (CC) Leopard 1BE (também chamados de Leopard 1A1) nos regimentos de carros de combate (RCC) e RCB, quando se verificou que os M113B não conseguiam acompanhar os CC numa força tarefa.

Com efeito, estava se passando da relação peso potência de 66,7 kg/CV, dos CC M41C Caxias, para os 49,8 kg/CV dos CC Leopard 1BE, enquanto que os M113B permaneciam com relação de 62,8 kg/CV.

Um M113B do 20º RCB, em 2008 (Foto de Helio Higuchi)

Em 2003, algumas unidades do EB, começaram, de forma independente, a testar opções de modernização, desde a troca do motor por unidades mais possantes, até a troca de componentes da suspensão, porém carecendo de um estudo mais aprofundado, especialmente, da cadeia logística necessária para uma eventual modificação em série, o que acabou restringindo essas alterações a meras experiências.

Em janeiro de 2008, o EB publicou uma nova portaria contendo o Requisito Operacional Básico (ROB) para a modernização dos M113B. Este ROB contemplava principalmente a modernização na parte mecânica e de desempenho, capacitando o M113 a acompanhar os recém-adquiridos CC Leopard 1A5 em ambiente QT, e nada menos que 19 empresas apresentaram propostas. Dessas, a BAE Systems, que ofereceu um kit que elevaria o carro ao padrão M113A2 Mk.1 (M113BR), e utilizava a linha de crédito do programa FMS, venceu a concorrência para modernizar um lote inicial de 150 veículos no valor de US$ 41,9 milhões, sendo que os trabalhos seriam realizados no Parque Regional de Manutenção da 5ª Região Militar (PqRMnt/5), de Curitiba (PR). Esta fase foi concluída em dezembro de 2015.

Nesse mesmo período foi assinado com a Engemotors Veículos e Peças Ltda a recuperação de 208 M113B, que não seriam elevados ao padrão M113BR, mas que sairiam como novos de fábrica. Porém, com a falência da empresa, e com apenas um protótipo para avaliação concluído, os planos foram remanejados, tornando necessário modernizar um número adicional de M113B pelo PqRMnt/5.

Em meados de 2015, um novo contrato foi assinado com a BAE Systems, no valor de US$ 54,66 milhões, para a modernização de mais 236 veículos para o padrão BR. Este foi concluído em 2020.

Existia à época uma expectativa para que o restante da frota de M113B (198 carros) também passem pelo mesmo processo, e a assinatura desse novo contrato demonstra que isso deve se concluir. Além disso, a partir de 2015, o EB recebeu a doação (via FMS), de mais 12 M113A2 e  94 M577A2, versão posto de comando da família M113, que também poderão passar por um processo semelhante no futuro.

As ultimas VBPT M113BR, do segundo contrato da BAE Systems, foram entregues pelo PqRMnt/5 em 19 de agosto de 2020 (Foto do sub-tenente Emerson Strovonchowski)

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Comentários

18 respostas

  1. Muito Bom! O EB recebeu 584 + 12 M-113 = 596
    Foram modernizados até agora, 386 unidades. Somando os 150 desse novo contrato, teremos 536 M-113 modernizados. Então, ficarão 60 unidades do M-113 e mais os 94 M577 = 154 viaturas para serem modernizada….já daria um lote para um último contrato.

    1. Flanker, o que acho bacana é que após esta modernização o veículo fica zero bala e nisso o chassi pode ser usado num futuro projeto tornando o M-113 em um IFV como o fizeram, se não me engano, os filipinos.

      1. Bom dia, o EB perdeu uma enorme oportunidade para pegar os Marder I quando a Alemanha os estava cortando no maçarico para sucatear. Era quase de graça! Mas, dentro da elevada “doutrina” do EB o Marder não cabia, pois não conseguia transportar a família toda mais a sogra e o cachorro. Mas, para os criadores do conceito da Infantaria Blindada funcionava. Agora, é tarde demais. E já que o EB adora esta geringonça obsoleta, que é o M-113, ele deveria pelo menos adquirir algumas dúzias da versão ACV 15, dos turcos. Para dar ao pessoal pelo menos uma oportunidade de treinar com algo parecido com um IFV. Quando coloquei isto em outro post tive o desprazer de ler o comentário de alguém “de dentro” dizendo que o EB já dominava a doutrina do uso, apenas não tinha os meios!? Vai entender essa gente, né?

  2. Se não houver incremento de sistemas de armas nestes veículos é inútil essa modernização.
    Aí neste contexto cairia muito bem a TORC-30 mm, o sistema de armas do “Casca Turbo” da Equitron com mísseis MSS, a própria Remax, um sistema AAe nacional (quem sabe uma evolução do conceito antigo nacional utilizando mísseis AIM, porém com mísseis A-darter/MAA) etc.

    1. Cara não viaja, como vc pode dizer que algo é inútil só olhando por cima e pronto? O m113 é um APC e não um IFV para receber esse tanto equipamento que vc citou.

    2. Eu concordo plenamente que o M113 tem blindagem insuficiente, mas vamos pensar: existem 596 viaturas dessas, mais 94 do M577, o que dá 690 unidades. Vão fazer o que? Desmanchar pra virar panela ou modernizar, com uma reconstrução total, remotorização e tudo o mais, tornando esses veículos como se fossem zero e os capacitando a operar por muito mais tempo? Uns 200 ou 300 Bradley ou Marder ou algum outro semelhante seriam bem melhores, com certeza. Mas, com a modernização de todos os M113 e M577 serão gastos menos de 200 milhões de dólares. E com esse dinheiro, quantas unidades dos veículos que usei como exemplo poderiam ser adquiridos?

    3. Creio que poderemos ver o M-113BR com a Remax em breve e tbm sou favorável a este incremento de capacidade.

    4. Mesmo com as atualizações no conjunto de força com a versão BR, não é possível incluir o torc30, principalmente devido ao peso.
      Lembrando que o veículo passou por melhorias para poder acompanhar os Leo1.
      Se incluir equipamentos muito pesados, ele perde a mobilidade.

  3. +Breno, uma vez eu li em várias páginas na internet fora do Brasil, que os filipinos fizeram uma modernização nos seus m113, que os transformaram em verdadeiros IFV’S, no caso em questão, estes foram equipados com torres (não me lembro se eram remotas ou tripuladas) Armadas com canhões automáticos de 25mm, além de modernos sistemas eletrônicos de visão noturna, visão térmica e sistema computadorizado de tiro.
    Eu sei que o orçamento no Brasil é apertado (infelizmente…poís se gasta dinheiro apenas com que não presta..) mas a idéia que o amigo acima de você escreveu, não é tão ruim assim, aliás..muito pelo contrário!

  4. Caro Brenno, não é viagem.
    Mesmo sendo um APC ele precisa oferecer proteção a sua tripulação, caso contrário será um ótimo alvo.
    O mundo da guerra mudou muito do Vietnã (época de fabricação destes veículos) para cá.
    Um simples infante com lança granadas de 40 mm se torna uma enorme ameaça aos M-113.
    Ainda mais porque o casco do mesmo é feito de alumínio.

  5. As pessoas acham que estamos no T.O. Europeu ! Onde as ameaças a um APC são infinitamente maiores que na américa do sul. Aqui para nossas “ameaças” ele está muito bem servido sim. Eu particularmente não investiria um centavo mais em M113, porém não tenho os dados que a cúpula do EB tem e eles não são os idiotas que muitos aqui pensam ! Seria melhor investir em melhorias para os Guaranis e principalmente em uma versão 8×8 dele. Mas ficar dando palpites sem conhecer os fatos, é muito fácil !

  6. É, pelo andamento da carruagem, tão cedo o EB nao pensa em um substituto para o venerável M 113, e mostra que a solução para o problema chamado Leo 1 A5 pode seguir o mesmo caminho.

  7. Não sou especialista, mas acompanho os sites especializado e o Paulo Bastos é um dos melhores para falar da arma blindada.

    Penso que a Primeira coisa que devemos perguntar é a função e posição do Veículo em questão no campo de Batalha.
    Os M113 Ficam em qual posicionamento no Teatro de operação?
    Este Veiculo fica na linha de frente ou retaguarda?
    Este veículo é para dar mobilidade a tropa ou é uma unidade de poder de fogo?

    O Brasil é enorme e precisa de mobilidade da sua força terrestre ,quanto mais veículos reduz o tempo de deslocamento a pé.

  8. Habilitei-me motorista de M113 (e também do obuseiro M108) em 1976, no Grupo Mallet, Santa Maria, RS. A destinação do M113 é transporte de pessoal, portanto não se trata de um “tanque de guerra” cheio de canhões, mísseis ou outro armamento muito pesado, como querem alguns. A arma de dotação era a metralhadora. 50.

  9. O Brasil é obrigado a utilizar a modernização dos EUA no M113? já usamos um motor nacional antes, e pelo que vejo, alêm de importado, o motor no m113 é bem mais fraco que o do Guarani. Não teria sido mais inteligente manter usando motores nacionais e ainda assim melhoraria a relação peso/potência e reduziria o custo/logistica da manutenção?

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