Tecnologia & Defesa entrevistou o capitão de fragata (FN) Igor Montero Esteves, comandante do 1º Esquadrão de Helicópteros de Instrução (HI-1) sobre os novos Airbus Helicopters AS350B3 Esquilo que estão sendo pela Aviação Naval da Marinha do Brasil.
Ao todo, 15 helicópteros serão incorporados dentro do TH-X, um programa conjunto entre a MB e a Força Aérea Brasileira (FAB), liderado pelo Ministério da Defesa, para uma aeronave dedicada para a formação e instrução dos futuros pilotos militares de asas rotativas das forças.
O IH-18 já está em processo de introdução e transição para substituir os antigos e obsoletos IH-6B (Bell Jet Ranger III), tendo feito a primeira missão de treinamento da tripulação do próprio HI-1 em 1º de agosto, na Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia (RJ).
Tecnologia & Defesa – Quais são as principais diferenças desses helicópteros para o UH-12? Poderia detalhar as diferenças mencionando os sistemas e aviônicos?
CF (FN) Igor Montero Esteves – O IH-18 (H125) representa um salto tecnológico em relação ao UH-12 (AS350BA), especialmente nos aspectos de propulsão e aviônicos embarcados. No campo da motorização, incorpora o moderno Arriel 2D da Safran Helicopter Engines, com controle digital Full Authority Digital Engine Control (FADEC) e unidade de backup (Emergency Backup Control Ancillary Unit) EBCAU, substituindo a motorização de menor potência e controle analógico do UH-12. Já no que diz respeito aos aviônicos, o IH-18 é equipado com cockpit digital Garmin G500H TXi, sistema de gerenciamento de motor “Vehicle & Engine Multifunction Display” (VEMD), piloto automático GFC 600H com múltiplos modos de voo assistido, e alerta de tráfego com “Automatic Dependent Surveillance-Broadcast” (ADS-B) integrado — conjunto que eleva substancialmente a segurança e a consciência situacional do piloto.
O motor Arriel 2D é dotado de um avançado sistema de controle eletrônico de dois canais – o FADEC – capaz de realizar a partida automática do motor. O sistema conta ainda com um terceiro canal de backup independente para emergências, o EBCAU. O FADEC, além de calcular a dosagem ideal de combustível, gerencia o sistema automático de partida, controla os limites primários do motor e realiza o cálculo de ciclos da turbina. Caso um dos canais do FADEC falhe, o EBCAU é acionado automaticamente, isentando o piloto de qualquer intervenção manual na dosagem de combustível, mesmo em situação de emergência.
O cockpit do IH-18 conta com duas telas Garmin G500H TXi de 10,6 polegadas sensíveis ao toque. Cada unidade pode ser configurada como PFD (“Primary Flight Display”) ou MFD (“Multi-Function Display”). Na função MFD, é possível exibir mapas, cartas aeronáuticas, dados de “waypoints” e o plano de voo, graças à integração com o sistema GPS GTN 650Xi.
Além disso, a aeronave dispõe do VEMD, composto por duas telas LCD que permitem o monitoramento rápido dos principais parâmetros da aeronave e do motor. O sistema apresenta uma interface intuitiva, substituindo os instrumentos analógicos por indicadores digitais otimizados, e oferece funcionalidades adicionais como cálculo do “First Limit Indicator” (FLI), verificação de potência, contagem de ciclos e registro de extrapolação de limites.
O piloto automático GFC 600H pode ser engajado em três eixos – “pitch”, “roll” e “yaw” – e oferece diversos recursos de segurança específicos para helicópteros, como proteção contra velocidades excessivas ou insuficientes, modo de recuperação de nível (LVL), estabilização assistida, tecnologia Garmin Helicopter – “Electronic Stability and Protection Garmin” (H-ESP) e assistência ao voo pairado (“hover assist”).
O sistema de alerta de tráfego TAS GTS-800 é integrado ao transponder GTX 345R, permitindo a exibição de tráfego tanto no GTN 650Xi quanto no G500H TXi. O transponder possui ainda capacidade de transmissão e recepção de dados via ADS-B.


Tecnologia & Defesa – Quais serão as suas designações na Aviação Naval?
CF (FN) Igor Montero Esteves – De acordo com a publicação que estabelece o sistema de designação das aeronaves da Marinha do Brasil, o novo helicóptero H125 será designado como IH-18 quando empregado em atividades de instrução e como UH-18 quando destinado a missões utilitárias de apoio geral.
A sigla segue uma lógica padronizada:
– a letra “H” indica que se trata de um helicóptero;
– a letra que a precede representa o emprego básico: “I” para instrução e “U” para uso geral; e
– o número “18” indica a ordem cronológica de incorporação deste modelo à frota da Marinha, no âmbito dos helicópteros.
Tecnologia & Defesa – Como será o processo de transição e adaptação dos instrutores e pilotos do IH-6B para o H125?
CF (FN) Igor Montero Esteves – O processo de transição tem sido conduzido de forma estruturada e gradual, com fases bem definidas que abrangem tanto a formação teórica quanto a prática. Como parte inicial do programa de qualificação, 15 pilotos do Esquadrão realizaram um curso de capacitação, conhecido como “Ground School”, conduzido pela Helibras. Esse curso contemplou os fundamentos técnicos do novo helicóptero IH-18, incluindo sistemas, aviônicos, procedimentos de emergência e voos na nova aeronave.
Além disso, o próprio Esquadrão estabeleceu estágios internos de qualificação, compostos por instruções teóricas e práticas, com o objetivo de capacitar progressivamente todos os seus pilotos para a transição segura e eficiente do IH-6B para o H125.
Tecnologia & Defesa – Da mesma forma, como será o processo de transição do “syllabus” do IH-6B para o UH-18?
CF (FN) Igor Montero Esteves – O currículo será revisado para refletir os novos sistemas e capacidades do IH-18. Isso inclui a introdução de tópicos como o gerenciamento automatizado do motor, o uso do VEMD, o emprego do piloto automático em múltiplos modos e a navegação baseada em cartas digitais.
Além disso, haverá ampliação do conteúdo prático, com voos assistidos por Óculos de Visão Noturna (OVN) e com incremento das instruções simuladas de voo por instrumentos (IFR), que passam a ser possíveis graças aos aviônicos embarcados mais modernos, mesmo em condições meteorológicas visuais. A familiarização dos alunos com os recursos do piloto automático (PA) será incorporada à formação básica, favorecendo o desenvolvimento da coordenação automatizada dos sistemas de bordo.
A introdução desses novos equipamentos e funcionalidades demanda uma reformulação dos objetivos de aprendizagem, dos cronogramas de voo e dos critérios de avaliação, garantindo uma formação mais moderna, alinhada à realidade dos meios operativos da Força Aeronaval e às exigências das missões contemporâneas.
Tecnologia & Defesa – Com as capacidades adicionais do H125, haverá mudanças na doutrina de instrução da Aviação Naval?
CF (FN) Igor Montero Esteves – Sem dúvida. O IH-18 viabiliza uma nova abordagem doutrinária, com a possibilidade de introdução precoce de conceitos antes restritos à fase operacional, como uso do cockpit digital, emprego do OVN e piloto automático. Isso permitirá formar pilotos com maior consciência situacional, familiaridade com recursos tecnológicos e transição mais fluida para as outras aeronaves do Comando da Força Aeronaval. Além disso, a capacidade de carga e a nova motorização da aeronave favorecem a introdução de novas manobras e estágios de voo, elevando o nível de complexidade e realismo da instrução.
Tecnologia & Defesa – Quais avanços logísticos e de manutenção o H125 traz em relação ao IH-6B?
CF (FN) Igor Montero Esteves – O IH-18 traz importantes avanços em termos de manutenção preditiva e logística integrada. O motor Arriel 2D possui ciclos de manutenção mais espaçados e oferece maior confiabilidade. O VEMD permite o monitoramento digital de parâmetros da aeronave, registro automático de eventos e ciclos da turbina, facilitando o planejamento logístico e reduzindo o risco de falhas inesperadas. Além disso, o contrato com a Airbus Helicopters/Helibras contempla fornecimento inicial de sobressalentes e ferramentas específicas, além de treinamento técnico para mecânicos e operadores, o que otimiza a curva de aprendizagem da equipe de manutenção.
Tecnologia & Defesa – Quais benefícios trará para a instrução em termos de novas missões a serem treinadas ou retomar treinamentos que não eram executados devido à obsolescência dos IH-6B?
CF (FN) Igor Montero Esteves – A obsolescência do IH-6B impunha limitações consideráveis à instrução aérea, especialmente no que se refere à carga útil e, de forma ainda mais relevante, à ausência de aviônicos modernos — fator que restringia a realização de treinamentos IFR. Com a introdução do IH-18, torna-se possível retomar práticas anteriormente inviabilizadas, como operações com guincho, transporte de carga externa com gancho e, sobretudo, os voos noturnos assistidos por OVN, o que representa um marco inédito na formação de pilotos no âmbito do Esquadrão.
Um dos principais diferenciais do IH-18 reside justamente em sua aptidão para operação com OVN: todos os equipamentos e luzes do interior da cabine são compatíveis com dispositivos da classe B e as luzes externas podem ser configuradas para o modo infravermelho. Adicionalmente, os sistemas embarcados no IH-18 permitirão um incremento significativo na instrução de procedimentos IFR proporcionando aos alunos do Curso de Aperfeiçoamento de Aviação para Oficiais (CAAVO) um contato mais precoce com conceitos avançados de navegação e no domínio de sistemas digitais de voo.
Tecnologia & Defesa – Na instrução, o IH-18 será usado em missões armadas?
CF (FN) Igor Montero Esteves – Na versão do IH-18 adquirida pela Marinha do Brasil não está prevista a instalação de armamento. A aeronave foi incorporada com foco exclusivo na instrução aérea básica e no emprego utilitário, sem configuração física para suportes de armamento axial ou lateral.
Tecnologia & Defesa – Os sistemas embarcados no H125 se assemelham aos do Fennec AVEX?
CF (FN) Igor Montero Esteves – Em partes, sim. O Fennec AVEX da Aviação do Exército (AvEx) já conta com cockpit digital do tipo PFD, piloto automático de dois eixos, compatibilidade interna e externa com OVN e o mesmo GPS GTN 650, também presente no IH-18.
No entanto, apesar dos aviônicos serem similares em função da base comum da plataforma Esquilo, a arquitetura dos sistemas do Fennec é mais antiga e apresenta menor nível de integração entre os componentes. O H125 incorporado pela Marinha traz um conjunto de aviônicos mais moderno, com destaque para o Garmin G500H TXi, o VEMD, piloto automático GFC 600H de três eixos e maior capacidade de gerenciamento de voo e sistemas.
Tecnologia & Defesa – A Aviação Naval deverá receber um simulador de voo para esses novos helicópteros?
CF (FN) Igor Montero Esteves – Está previsto, como parte da modernização da instrução, o recebimento de simulador específicos para o IH-18. A introdução do treinamento sintético reduzirá custos operacionais, ampliará a segurança dos voos de instrução e permitirá práticas de emergência em ambiente controlado. Essa ferramenta será essencial na consolidação do novo modelo de formação.
Tecnologia & Defesa – O senhor pode comentar a respeito do cronograma de recebimento?
CF (FN) Igor Montero Esteves – O contrato com a Airbus/Helibras prevê a entrega de 15 aeronaves para a Marinha do Brasil. A primeira unidade foi recebida em JUL/2025 e a incorporação plena deverá ocorrer progressivamente, respeitando o cronograma estipulado no Projeto TH-X.
Tecnologia & Defesa – A chegada do IH-18 vai marcar a desativação do IH-6B? Há uma previsão para a desativação?
CF (FN) Igor Montero Esteves – Sim. A chegada do IH-18 inaugura um processo de transição planejado para a retirada gradual dos IH-6B da linha de voo. A previsão é que, ao final da incorporação total dos novos vetores, os antigos ‘Garças’ sejam definitivamente desativados, após mais de quatro décadas de inestimável contribuição à formação dos Aviadores Navais.

Uma resposta
Excelente aquisição feita pela Marinha! O EsqdHI-1 cumpre uma missão muito importante, que é a formação de novos pilotos e estava precisando muito dessa renovação.
Desejo muito sucesso nessa nova fase e reconheço o valoroso papel desempenhado pelos Bell Jet Ranger. Parabéns!!